Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Trabalhos Enviados
04/06/2011 (Nº 36) PROPOSTA DE CONSTRUÇÃO DE MINI REATOR DE BAIXO CUSTO PARA PROCESSO DE COMPOSTAGEM EM PEQUENA ESCALA
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1045 
  
PROPOSTA DE MINI REATOR DE BAIXO CUSTO PARA PROCESSO DE COMPOSTAGEM EM PEQUENA ESCALA

PROPOSTA DE CONSTRUÇÃO DE MINI REATOR DE BAIXO CUSTO PARA PROCESSO DE COMPOSTAGEM EM PEQUENA ESCALA

 

Carla Adriana Pizarro Schmidt1; Bruna Hinterholz2; Márcio Luis Pinheiro Gomes2

 

 

1 Docente Doutora em Agronomia Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Medianeira – Brasil e-mail: carlaschmidt@utfpr.edu.br

2 Tecnólogos em Gestão Ambiental Formados pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Medianeira – Brasil, e-mail: bruna.hinterholz@hotmail.com e biczone@hotmail.com

 

 

RESUMO

           

A educação ambiental, para ser efetiva, deve promover o desenvolvimento e a difusão de conhecimentos, visando facilitar a escolha por atitudes ambientalmente corretas necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental. O presente trabalho teve como objetivo divulgar uma proposta de mini reator de baixo custo para realização do processo de compostagem de maneira rápida em condições controladas. O equipamento mostrou-se capaz de compostar os resíduos provenientes da poda urbana adicionados de três diferentes fontes de esterco (bovino, suíno e aves). O processo ocorreu em curto tempo, em pequeno espaço, sem a emissão de odores desagradáveis ou contaminação do solo com chorume, livrando o composto do contato com águas de chuva e pragas, apresentando custo reduzido e facilidade de montagem.

 

Palavras - chave: Resíduos sólidos urbano, propostas ambientalmente sustentáveis, gestão ambiental.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O problema dos resíduos sólidos é mundial, todos os países independentemente de sua localização ou “status” internacional produzem toneladas diárias de resíduos, o que justifica a busca por mecanismos tanto para conscientização como para o desenvolvimento e implantação de tecnologias capazes de reverter esse quadro.

De acordo com Monteiro et al. (2001), muitos de nossos municípios se encontram tão fragilizados, tanto técnica como financeiramente, que não conseguem adotar alternativas adequadas de tratamento ou disposição para as inúmeras toneladas de resíduos sólidos que são geradas diariamente. Esse fato vem ocasionando um comprometimento da saúde da população, bem como dos recursos naturais como solos e água desses municípios.

Os dados mais recentes apresentados sobre o destino do lixo, foram divulgados pela ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2008) e seus dados revelam que nosso país gera aproximadamente 150 mil toneladas diárias de resíduos.

De acordo com Ferreira (2009) o resíduo sólido domiciliar brasileiro possui grande quantidade de matéria orgânica, apresentando geralmente valores maiores que 50% do lixo, ou seja, mais de 75 mil toneladas de resíduos orgânicos diários em nosso país.

Uma técnica adequada de tratamento dessa parcela orgânica do lixo é a compostagem. Esta é uma forma de tratamento biológico da parcela orgânica dos resíduos sólidos, permitindo uma biodegradação e posterior redução de volume dos resíduos e a posterior transformação destes em composto orgânico que pode ser utilizado na adubação e recondicionamento dos solos.

A compostagem realizada em reatores oferece segundo Fernandes e Silva (1999), a possibilidade de maior controle sobre todos os parâmetros importantes para o processo. Esse tipo de compostagem reduz a geração de odores, é mais eficiente no controle de patógenos, necessita de menores áreas, independe de agentes climáticos e tende a acelerar a velocidade de compostagem do material, mas geralmente tem como principal desvantagem o elevado custo, por causa da elevada tecnologia que geralmente é utilizada na confecção desses reatores. 

A comunicação científica é necessária para que a mudança de comportamento na sociedade possa acontecer, e esta possa caminhar em direção ao desenvolvimento sustentável. Nesse sentido objetivou-se nesse trabalho divulgar uma proposta de um mini reator de baixo custo, objetivando viabilizar a compostagem em pequenas propriedades agrícolas, escolas e até mesmo residências ou condomínios de maneira rápida e controlada, com todas as vantagens atribuídas à compostagem realizada em reatores.

 

2. MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi realizado na Chácara do Yanten, local onde são cultivadas plantas medicinais em sistema orgânico, localizado no bairro Parque Independência no município de Medianeira – PR.

            A cidade de Medianeira situa-se a 25º17’40’’, latitude sul e a 54º05’30’’, longitude oeste, localizado no oeste Paranaense. A população do município é de aproximadamente 39.857 habitantes (Estimativa da População 2009 – IBGE). Sua distância terrestre em relação à capital do Estado, Curitiba, é de 580 km; localiza-se a 402 metros acima do nível do mar. Ao norte, limita-se com o município de Missal, ao oeste faz fronteira com São Miguel do Iguaçu, ao sul com o município de Serranópolis do Iguaçu e ao leste com o município de Matelândia.

Foram utilizadas bombonas plásticas, cada uma com 1,05 metros de altura, 0,55 metros de largura e capacidade volumétrica de 200 litros, que foram utilizadas como mini reatores. Estes foram dispostos sobre uma tábua de pinus com 4,90 metros de comprimento e 0,5 metros de largura, para que ficassem sobre uma elevação do chão para a coleta do percolado. Para coletar o percolado foram acopladas torneiras plásticas em furos de 15 mm. A altura da torneira ao chão foi de 0,2 metros. Dentro dos mini reatores, para evitar o entupimento das torneiras plásticas, foi adicionada pedras brita n° 04 (entre 16 e 32 mm) com função de facilitar a drenagem do líquido gerado. Visando evitar a passagem de pequenos galhos, e o possível entupimento das torneiras, bolsas com telas mosquiteira foram dispostas próximas às aberturas, funcionando como um filtro (Figura 1).

        C:\Documents and Settings\Amd\Desktop\Fotos TCC\bru (195).jpg

      

Figura 01 - Disposição das bombonas utilizadas como mini reatores na tábua de pinus, colocação das torneira, da brita e da tela.

Foto: Bruna Hinterholz, 2010.

 

A aeração realizada foi do tipo forçada com ar comprimido, com auxilio de um compressor de ar o qual tinha sua saída direcionada dentro do tubo de PVC. Esses tubos de PVC de 32 mm (água fria soldável), com 0,65 metros de comprimento foram perfurados com broca 06mm, até a altura que seria feita a pilha de composto. Esse tubo foi disposto no centro do mini reator no sentido vertical (Figura 2). O composto elaborado para testar o funcionamento do mini reator foi aerando diariamente por dez minutos. 

 

Figura 02 - Disposição dos tubos de PVC no centro do mini reator.

Foto: Bruna Hinterholz, 2010.

 

Os materiais utilizados para a montagem da compostagem no interior dos mini reatores foram: triturado da poda das árvores da cidade de Medianeira/PR, e estercos (bovino, suíno e de aves) dispostos em camadas alternadas. Posteriormente foram aplicados inoculantes, microrganismos biocatalizadores do processo e fornecida água para manter a umidade necessária ao bom andamento do processo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A umidade foi controlada de maneira visual e de acordo com a temperatura conforme recomendado por Kiehl (2004), sendo que em cada mini reator foram adicionados 8 litros de água no período total de 40 dias de acompanhamento do processo. O percolado (chorume) que saia de cada reator pela torneira também foi utilizado para umedecimento do composto sendo que este foi re-circulado, evitando que esse produto se perdesse no solo, o que poderia contaminar o lençol freático.

Observou-se que a altura da pilha de compostagem foi se reduzindo com o passar dos dias. Para evitar a perda de ar do processo de aeração os furos que iam ficando abertos acima do nível do composto foram sendo fechados com fita isolante.

Apos 40 dias os compostos apresentaram temperaturas muito próximas às do meio ambiente e foram encaminhados para uma análise química (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Comparação da composição química dos três diferentes tipos de compostos obtidos em 40 dias de compostagem nos mini reatores, sob umidade e aeração controladas.

Composto analisado

Poda urbana+

Esterco bovino

Poda urbana +

Esterco suíno

Poda urbana+

Esterco aves

pH em CaCl2

6,9

7,2

8,1

Potássio (cmolc/dm3)

7,92

9,36

14,94

Cálcio (cmolc/dm3)

8,9

9,9

9,9

Magnésio (cmolc/dm3)

3,80

5,5

4,0

Alumínio (cmolc/dm3)

0,00

0,00

0,00

CTC (cmolc/dm3)

23,42

27,25

30,48

V (%)

88,04

90,86

94,62

Carbono (%)

10,4

14,8

14,8

 

Os valores de pHs obtidos nos compostos produzidos neste estudo, após 40 dias do processo, encontram-se próximos da neutralidade. Esse resultado demonstrou que os compostos já sofreram a biodegradação dos compostos orgânicos, ou seja, já passaram pela fase ácida e que as bases liberadas da matéria em compostagem, estão elevando o pH do meio para índices próximos à neutralidade. Campos e Blundi (2010), observaram em seu trabalho que o pH dos produtos compostados inicialmente era de 6,7 e decresceu até valores próximos de 5,9 evoluindo posteriormente para 8,4 e permanecendo próximo a esse valor até o final do processo de compostagem.

O composto apresentou excelente qualidade química sendo que todos os valores de cátions se mostraram elevados e não se observou presença de alumínio em nenhum dos produtos resultantes. Os valores apresentados para os teores de Cálcio, Potássio, Magnésio, Alumínio, CTC, V% e Carbono estiveram muito semelhantes aos apresentados por Neto, Filho e Cardoso, (1997).

Observa-se que o produto poderia ser aplicado como fonte de nutrientes para as plantas, sendo que o mesmo atuaria como melhorador das características físico-químicas e biológica dos solos. Vale ressaltar que o produto final foi obtido a partir da mistura de dois tipos de resíduos que poderiam estar ocasionando transtornos ao meio ambiente se não fossem corretamente destinados e tratados.

4 CONCLUSÃO

O equipamento mostrou-se capaz de compostar os resíduos, apresentando custo reduzido, eficiência e facilidade de montagem. Conclui-se que tal equipamento poderia ser implantado visando facilitar a realização da compostagem em pequena escala sendo indicado principalmente para pequenas propriedades, escolas, residências ou condomínios.

 

5 AGRADECIMENTOS

 

A transferência dessa tecnologia desenvolvida durante a excussão do trabalho de diplomação dos alunos Bruna e Márcio sob supervisão da professora Carla deve a possibilidade de sua realização a algumas pessoas, órgãos públicos e empresas. Desta forma agradecemos à Prefeitura Municipal de Medianeira, em especial à Secretaria de Meio Ambiente pela disponibilização do triturado da poda das árvores da cidade, à Cooperativa FRIMESA que fez a doação das bombonas que foram utilizadas como mini reatores, aos agricultores Urbano Rafael Kampmann e Volnei Datein pela viabilização dos estercos e principalmente à empresa Yanten na pessoa do Sr. Antoninho Turcatel e todos os demais colaboradores da Chácara Yanten que gentilmente cederam um espaço para a implantação e excussão deste projeto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2008. Edição Eletrônica. Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2009.

FERNANDES, F; SILVA, S. M. C. P. Manual Prático para a Compostagem de Biossólidos. PROSAB - Programa de Pesquisa em Saneamento Básico. Universidade Estadual de Londrina. 1999. Disponível em: . Aceso em: 09 jun. 2010.

FERREIRA, D. R. Reciclando o mundo. Disponível em: . Acesso em: 29 nov. 2009.

KIEHL, E.J. Manual de Compostagem: Maturação e qualidade do composto. 4ª edição. Piracicaba, 2004.

MONTEIRO et al. Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República (SEDU). Rio de Janeiro: IBAM - INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, 2001.

NETO, J. T. P.; FILHO, S. S.; CARDOSO, I. M. Utilização de composto orgânico de lixo urbano na recuperação de áreas degradas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Anais... 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Disponível em: . Acesso em: 09 jun. 2010.

 

Ilustrações: Silvana Santos