Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2011 (Nº 37) MONTAGEM DA COLEÇÃO BIOLÓGICA DIDÁTICA DE TUBARÕES E RAIAS COM OCORRÊNCIA NO LITORAL SERGIPANO PARA UTILIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE VISITAÇÃO E EXPOSIÇÃO
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MONTAGEM DA COLEÇÃO BIOLÓGICA DIDÁTICA DE TUBARÕES E RAIAS COM OCORRÊNCIA NO LITORAL SERGIPANO PARA UTILIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE VISITAÇÃO E EXPOSIÇÃO

MONTAGEM DA COLEÇÃO BIOLÓGICA DIDÁTICA DE TUBARÕES E RAIAS COM OCORRÊNCIA NO LITORAL SERGIPANO PARA UTILIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE VISITAÇÃO E EXPOSIÇÃO

 

 

Dismeire Vasco Oliveira Pereira, dismeire_vasco@yahoo.com.br, Pós-graduanda em Gestão Ambiental, Monitora Bolsista-Universidade Tiradentes; Doutoranda Celia Waylan Pereira, Orientadora e coordenadora geral do GEES, celiway@bol.com.br

 

 

RESUMO

 

            Esse trabalho teve como objetivo a montagem de uma coleção biológica didática de elasmobrânquios, com ocorrência no litoral sergipano, para utilização em visitação e educação ambiental. Para tanto, foram realizadas coletas de animais capturados, e que seriam descartados pelos pescadores, ao longo de 2009. Foram coletados 39 exemplares, sendo 15 raias e 4 tubarões incorporados por inteiro à coleção e os demais exemplares foram dissecados para obtenção dos órgãos internos. Esse material coletado foi incorporado ao acervo didático e catalogado em um banco de dados construído especificamente para esse fim. A coleção didática do GEES possui atualmente, 5 lotes formados por exemplares inteiros, órgãos diversos, como coração entre outros, dentículos dérmicos e embriões. As visitações ocorreram em 2010 após a montagem da coleção e durante as visitações os estudantes tiveram uma “mini-aula” sobre a biologia, pesca, aspectos culturais e curiosos dos elasmobrânquios, como também exposição do material e posteriormente aplicação de “mini-questionários” para avaliar o impacto das informações nos visitantes. Ações como essa são extremamente importantes, principalmente, com finalidade de educação ambiental, a fim de estimular o entendimento do caráter complexo do meio ambiente e desfazer a imagem negativa dos elasmobrânquios que foi ao longo dos anos fomentada pela mídia.

 

PALAVRAS-CHAVE

 Coleção Didática, educação ambiental, elasmobrânquios.

 

INTRODUÇÃO

A questão ambiental envolve a nossa própria vida e a vida do planeta, por isso é necessário um trabalho de conscientização para mudar a visão critica de jovens e adultos no que diz respeito aos elasmobrânquios.

A partir do século XVIII, o acelerado desenvolvimento industrial em todos os setores da sociedade acarretou grandes transformações, contribuindo significativamente para o acirramento da crise ambiental que perdura até hoje. Um dos instrumentos utilizados para minimizar essa realidade é a Educação Ambiental (EA), que de acordo com Medina:

 

[...] é um instrumento imprescindível para a consolidação dos novos modelos de desenvolvimento sustentável, com justiça social, visando à melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas, em seus aspectos formais e não-formais, como processo participativo através do qual o indivíduo e a comunidade constroem novos valores sociais e éticos, adquirem conhecimentos, atitudes, competências e habilidades voltadas para o cumprimento do direito a um ambiente ecologicamente equilibrado em prol do bem comum das gerações presentes e futuras (2002, p.52).

 

 

É de extrema necessidade construir uma sociedade mais consciente, em consonância com o manejo sustentável, que é segundo Boff,

 

Um desafio novo, uma nova situação da humanidade, da terra, obriga a uma nova atitude, um novo conhecimento, novas práticas. Se desejarmos preservar essa herança que recebemos ou se deixaremos que ela se degrade a ponto de atingir a nossa própria vida, nossa própria casa. Ao chegar a uma situação dessas o ser humano percebe a degradação da qualidade de vida e percebe a importância de ter uma relação boa com a natureza, não agressiva, não destruidora com o meio ambiente (2003, p.2).

 

A questão da biodiversidade tem recebido atenção crescente em todo mundo e, em especial no Brasil, desde a realização da Conferência Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992. Nesse contexto, as coleções biológicas passaram a adquirir importância crescente e neste particular, o Brasil, que hospeda cerca de 20% da biodiversidade do planeta, mas detém somente 1% do acervo biológico científico do mundo, tem um longo caminho a ser percorrido (KURY, 2006).

As coleções científicas constituem, de fato, uma fonte crucial de informação para todos os que, por sua atividade, têm contato com seres vivos. Além disso, as coleções biológicas são arquivos que devem ser utilizados para o ensino e pesquisa, e possui importância como registro da diversidade biológica de uma determinada área, oferecendo diferentes tipos de informações técnico-científicas (KUNZ et. al., 2007).

Assim, toda a coleção biológica tem importância didática, uma vez que a sua utilização sempre implica em atualização e geração de conhecimento, no entanto, não é possível, manter uma coleção científica com finalidade didática devendo existir uma coleção específica para isso, em razão da possibilidade de perda de materiais de valor inestimável, pela manipulação inadequada de peças da coleção científica.                    

De forma que, diante da necessidade de se educar para o desenvolvimento sustentável, uma coleção didática pode servir como uma importante ferramenta para que visitantes possam aprender e transmitir conceitos relacionados aos elasmobrânquios (tubarões e raias), de maneira que, as pessoas compreendam o caráter complexo do meio ambiente. E nesse contexto, a apresentação formal das espécies, é um passo para o esclarecimento de informações equivocadas e preconceituosas sobre os elasmobrânquios, principalmente os tubarões (FRANCO, 2002).

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O trabalho de montagem da coleção didática foi iniciado em 9 de Fevereiro de 2009 e finalizou em 15 de dezembro de 2009. A partir de acompanhamento de desembarques pesqueiros os exemplares que seriam descartados pelos pescadores foram coletados. Após a coleta, os animais foram levados ao laboratório do GEES (Grupo de Estudo de Elasmobrânquios de Sergipe), onde foi processada a identificação segundo as chaves de identificação pertinentes, como se observa nas Figuras 1 e 2.

Os elasmobrânquios foram acondicionados em recipientes adequados e conservados em via úmida, por meio de imersão em solução conservante (formol a 10%), ou via seca. Os exemplares de maior porte receberam injeções de fixador nos músculos e cavidade abdominal para garantir a perfeita conservação e o líquido conservante utilizado na imersão é periodicamente renovado parcialmente ou totalmente (Pereira, et. al. 2009).

Etiquetas com os dados de identificação (espécie, nome popular, número de identificação, sexo, e comprimento total) e coleta (local e profundidade) foram confeccionadas e colocadas nos recipientes onde os peixes serão mantidos. Existe, ainda, a identificação individual de cada elasmobrânquio, que é fixado em cada exemplar, no qual, consta o acrônimo da coleção (GEES) e o número de identificação do animal.

            Todas as informações referentes aos animais depositados na coleção também foram registradas num livro de tombo, mantido no Laboratório do GEES. Para informatização da coleção foi utilizado um banco de dados desenvolvido no programa Microsoft Access que contém e registra todas as informações armazenadas no livro de tombo, de modo que, a informatização da coleção é total e os dados são de fácil acesso e pesquisa, pois, a partir do banco de dados é possível imprimir relatórios com os registros armazenados.

             Por fim, complementado os objetivos do projeto foi realizada a visitação com alunos do 3º ano do ensino médio onde durante a visitação foi ministrada uma mini-aula que abordou aspectos da biologia, pesca, aspectos culturais e curiosos dos elasmobrânquios. O processo de visitação foi organizado em parceria com o programa “UNIT de portas abertas” e durante a visita, os alunos puderam manusear os exemplares, utilizando os devidos equipamentos de biossegurança, ao mesmo tempo em que receberam orientações técnicas sobre os animais manuseados. Também foram distribuídos folders com informações pertinentes sobre os elasmobrânquios. Todos os participantes da visitação receberam ao final um mini-questionário com algumas perguntas para avaliarmos o sucesso do processo de conscientização.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            Após a conclusão do projeto, o acervo da coleção didática do GEES totaliza 39 exemplares, incluindo 15 raias, 4 tubarões e vários órgãos internos desses animais, de forma que o acervo é formado por exemplares inteiros de tubarões e raias, como também exemplares menores e alguns órgãos como o coração, fígado, estômago, assim como dentículos dérmicos e embriões (Figuras 1 e 2).

 

 

Figura 1: Estante com as amostras da Coleção Didática, incluindo desde exemplares inteiros até órgãos menores.

Fonte: Autores, 2009.

 

 

Figura 2: Exemplar de cabeças de tubarão pertencente à Coleção Didática.

Fonte: Autores, 2009.

 

 

            Durante a visitação foi notável o interesse dos alunos em adquirir novos conhecimentos e tirar dúvidas junto à ministrante presente. Desta forma, uma coleção didática pode servir como uma importante ferramenta para que visitantes possam aprender e transmitir conceitos relacionados aos elasmobrânquios, de maneira que, se perceba o caráter complexo do meio ambiente e se desfaça a imagem negativa dos elasmobrânquios que foi ao longo dos anos fomentada pela mídia.

Para tanto, entende-se que os conhecimentos adquiridos ao longo de nossas vidas devem ser acrescidos e fomentados os relativos à Educação Ambiental em sentido amplo, para que esta possa permear todo o arcabouço social, com o fito principal de permitir a busca por uma visão holística do ambiente em que vivemos. Assim como explica Reigota:

 

A educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas (1998, p. 43).

 

 

 

Hoje, reconhece-se que os impactos ambientais decorrentes das mais variadas intervenções antrópicasno meio tendem a causar efeitos imprevisíveis e até mesmo possivelmente nocivos para a qualidade de vida das futuras gerações. Não é por outra razão que a mídia vem se ocupando dos assuntos relacionados às alterações climáticas, em contrapartida cometem erro ao fornecer informações equivocadas e preconceituosas sobre os elasmobrânquios, principalmente no que diz respeitos aos tubarões.

  A raiz desta crise está na maneira que o homem conhece e transforma a sua realidade, produto de uma ética funcional ou utilitarista, que não permite a reflexão das conseqüências dos atos humanos, mas que foi e continua sendo motivadora de uma progressiva desvalorização dos processos integrativos em prol de uma gritante racionalização decompositora de todos os processos subjetivos, sociais e naturais.

Em decorrência da concepção ingênua de meio ambiente, a educação ambiental poderá se restringir a aspectos estritamentes instrucionais, sendo caracterizada por um forte apelo aos aspectos ecológicos e naturais e desvinculada da dimensão política e democrática. Assim, por este viés, ela deixa de ser porta voz de uma educação ambiental libertária e promotora de uma sociedade mais equilibrada e justa (Brügger et. al., 2004).

 

 

 

DISMEIRE VASCO OLIVEIRA PEREIRA é pós-graduanda em Gestão Ambiental-Faculdade Pio Décimo. O presente trabalho foi originado a partir da monitora (bolsista da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Extensão – PAACE-Universidade Tiradentes), dismeire_vasco@yahoo.com.br; Doutoranda CELIA WAYLAN PEREIRA, Orientadora e coordenadora geral do GEES, celiway@bol.com.br.

 

  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOFF, L. Carta da Terra, II Fórum Mundial de Educação, janeiro 2003.

 

DIAS, G.D. Atividades Interdisciplinares de educação ambiental.Global:São Paulo,1994.

 

FRANCO, F.L. Coleções Zoológicas. In: P. Auricchio & M. G. Salomão. (ed.), Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. São Paulo: Instituto Pau Brasil. 350p., 2002.

 

HINKELAMMERT, F. A volta do sujeito reprimido frente a estratégia da globalização. Cadernos do IFAN. Universidade São Francisco. São Paulo: Bragança paulista, n.26, p.67-80, 2000.

 

KURY, A. B. ; ALEIXO, A. ; BONALDO, A. B. . Diretrizes e estratégias para a modernização de coleções biológicas brasileiras e a consolidação de sistemas integrados de informação sobre biodiversidade.. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos: MCT, 2006. v. 1. 324 p.

 

KUNZ, T.S.; GHIZONI-Jr., I.R.; SANTOS, W.L.A. dos; HARTMANN, P.A. Nota sobre a coleção herpetológica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Biotemas, 20 (3): p. 127-132, 2007.

MEDINA, N.M. Formação de multiplicadores para Educação Ambiental. In: O contrato social da Ciência: unindo saberes na Educação Ambiental. PEDRINI, A.G. (org.). Petrópolis: Vozes, 2002.

PEREIRA, C. W.; SANTOS, F. N.; MENESES, T. S.; SILVA, A. P.; SANTOS, S. M. dos. Inventário da Coleção Zoológica Científica do Grupo de Estudo de Elasmobrânquios de Sergipe. In: 2º Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, 2009, Búzios.

REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: CASCINO, F.; JACOBI, P.; OLIVEIRA, J. F. (orgs.) Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998, pp. 43-50.

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos