Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PARATICANDO A PEDAGOGIA DOS 3 R’s
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PARATICANDO A PEDAGOGIA DOS 3 R’s.

 

Nathália Carina dos Santos Silva¹, Eni Carvalho Alves dos Santos¹, Patrícia Domingos²

¹ Licenciadas em Ciências Biológicas, Escola de Ciências da Saúde, Campus Duque de Caxias, UNIGRANRIO. E-mail: nathaliacarina@yahoo.com.br

² Professora Doutora da Escola de Ciências da Saúde, Campus Duque de Caxias, UNIGRANRIO.

Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 - 25 de Agosto - Duque de Caxias – RJ. CEP: 25071-202

 

RESUMO

Estamos enfrentando graves problemas ambientais, em resposta às atividades humanas ao longo dos anos, decorrentes “de uma ordem econômica mundial, caracterizada pela produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos recursos naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes” (NAÇÕES UNIDAS, 1997). Com o objetivo de amenizar os impactos ambientais causados pela atuação antrópica, principalmente através da exploração desenfreada dos recursos naturais, surgem algumas propostas de superação desta lógica consumista e de geração de lucro a qualquer custo, destacando-se a proposição do chamado desenvolvimento sustentável, ou seja, uma ação mais consciente e responsável do ser humano no planeta. Entretanto, uma contribuição essencial para promover a mudança de pensamentos e de atitudes deve considerar a estratégia privilegiada da Educação Ambiental, que deve ser tratada de forma interdisciplinar. Nesse contexto, este trabalho apresenta e discute a aplicação de um projeto, que aborda o consumo de papel oficio nas escolas, ou seja, a relação consumo/desperdício no âmbito da Educação Ambiental e suas conseqüências ambientais e socioeconômicas, através da Pedagogia dos 3 R’s.

Palavras-chave: Educação ambiental, sustentabilidade, pedagogia dos 3 R’s.

 

INTRODUÇÃO

Estamos enfrentando graves problemas ambientais, em resposta às atividades humanas ao longo dos anos.  O Fórum Global de 1992 e Agenda 21 ressaltam: “Os mais sérios problemas globais de desenvolvimento e meio ambiente que o mundo enfrenta decorrem de uma ordem econômica mundial, caracterizada pela produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos recursos naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes” (NAÇÕES UNIDAS, 1997).

Os anos 20 marcaram o início da explosão no consumo. A sociedade sofreu uma metamorfose da cultura produtora para a cultura do consumo, onde desempenhar o papel de consumidor passou a ser regra, não formalmente declarada. Essa transformação pode estar associada à propagação do crédito ao consumidor, à criação das lojas de departamento, à venda por correspondência e à redução da jornada de trabalho.  Além disso, o aumento do consumo está intimamente relacionado com a formação do campo publicitário, que desfaz a idéia de que as compras correspondem a necessidades práticas.  “A promessa da publicidade para cada indivíduo é escapar à condição comum, tornando-se um privilegiado que pode oferecer a si mesmo um novo bem, mais raro, melhor, mais distinto” (DIAS & MOURA, 2007).

As embalagens, que no inicio eram destinadas à proteção do produto, hoje adquiriram o papel de estimularem o consumo, e os descartáveis ocupam o lugar dos bens duráveis e retornáveis. O resultado é um planeta com menos recursos naturais e com mais lixo. Somos invadidos a todo o momento pelo desejo de consumir mais e mais supérfluos, e que, rapidamente viram lixo. Além de poluição, lixo também significa muito desperdício de recursos naturais e energéticos para produzir “bens” de consumo (ABREU, 2001).

Com o objetivo de amenizar os impactos ambientais causados pela atuação antrópica, principalmente através da exploração desenfreada dos recursos naturais, surgem algumas propostas de superação desta lógica consumista e de geração de lucro a qualquer custo, destacando-se a proposição do chamado desenvolvimento sustentável, ou seja, uma ação mais consciente e responsável do ser humano no planeta. Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem suas necessidades (ONU, 1991). Para alcançar esse objetivo deve haver um esforço das sociedades e governos de todo o mundo para a obtenção de recursos naturais da Terra sem desgastá-la ou poluí-la demais, combater o desperdício, promover a reciclagem de materiais aproveitáveis e o uso de fontes alternativas de energia e, principalmente, reduzir o consumo (CORDEIRO, 2008).

Mininni-medina (1997) afirma que “o sucesso do desenvolvimento sustentável vai depender do empenho político e da participação da sociedade, visto que o novo conceito de preservação não significa que a natureza seja intocável, mas que o ser humano saiba utilizar os recursos naturais de forma adequada e tenha consciência de que eles são esgotáveis.”

Deve-se buscar em cada consumidor o verdadeiro cidadão, comprometido com preocupações coletivas mesmo em seus espaços privados. Consumo e cidadania devem ser compreendidos de forma conjunta e inseparável, reconhecendo que ao se consumir se pensa, ou seja, se escolhe e se reelabora o sentido social, constituindo-se uma nova maneira de ser cidadão (CANCLINI, 1996; EIGENHEER, 1993).

Leff (2001), fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas, sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos.  O principal meio para promover a mudança de pensamentos e de atitudes é através da Educação Ambiental, seja ela em âmbito formal ou não formal.

 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Educação Ambiental surge a partir das preocupações da sociedade com o futuro e com a qualidade de vida das presentes e futuras gerações, sendo considerada uma alternativa que visa construir novas maneiras das pessoas se relacionarem com o meio ambiente (CARVALHO, 2004).

Segundo a conferencia de Tbilisi (Georgia/URSS-1977) meio ambiente é definido como “o conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem os homens e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência”. Dessa maneira a educação ambiental torna-se um exercício de cidadania, com o objetivo de desenvolver uma consciência crítica nas pessoas. Assim, devem ser abordadas problemáticas ambientais que se interrelacionem com os aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, legais e éticos (OLIVEIRA, 2006).    

            A Educação Ambiental pode ser realizada no âmbito formal, ou seja, onde os projetos são voltados para inserção das questões socioambientais nos currículos escolares, ou não-formal, que resulta na aplicação de projetos voltados para a sociedade civil, envolvendo instituições como ONGs e Áreas de Proteção Ambiental (Parques Naturais, por exemplo). 

            Na educação formal há uma forte tendência em se associar a educação ambiental ao ensino ou à defesa da ecologia, além disso, costuma-se considerá-la como um conteúdo interligado às ciências físicas e biológicas, sendo trabalhada num enfoque essencialmente naturalista. Por outro lado, muitas vezes, é organizada apenas como atividade enriquecedora de currículo, representada por atividades como campanhas, seminários e excursões, onde as atividades são dissociadas dos conteúdos básicos do programa escolar (OLIVEIRA, 2006).

Entretanto, a Educação Ambiental não deve ser tratada simplesmente como ensino do mundo natural e nem pontualmente através de atividades paralelas ao currículo escolar, ela deve ser tratada de forma interdisciplinar (DÍAZ, 2002). Segundo o Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global “(...) a Educação Ambiental deve basear-se num pensamento crítico e inovador; ter como propósito formar cidadãos com consciência local e planetária; ser um ato político, baseado em valores para transformação social; envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar; e deve estimular a solidariedade, o respeito aos direitos humanos e a equidade” (BRASIL, 2001 apud SILVA, 2007).

Uma das principais dificuldades de se trabalhar de maneira interdisciplinar a Educação Ambiental, está relacionada com a complexidade da problemática ambiental. É nesse cenário que se fundamenta a não criação de uma disciplina que trate das questões ambientais na educação formal, já que a mesma trata de fenômenos que abordam diferentes ciências. Sendo assim, uma das estratégias possíveis é o trabalho com situações – desafio no espaço escolar. Caracterizado por ser um trabalho de conquista, que exige clareza de definições e resultados concretos (OLIVEIRA, 2006).

Nesse contexto, este trabalho reflete a aplicação de um projeto, que aborda o consumo de papel oficio nas escolas, ou seja, a relação consumo/desperdício no âmbito formal da Educação Ambiental e suas conseqüências ambientais e socioeconômicas, através da Pedagogia dos 3 R’s.

 

O CONSUMO DE PAPEL E A PEDAGOGIA DOS 3 R’s

A discussão sobre o uso e reuso de papel nas escolas é uma excelente estratégia para o trabalho com o tema consumo/desperdício. Sabe-se que é um local com alto índice de consumo deste material, tanto por professores quanto por alunos e, conseqüentemente, há uma grande geração de resíduos deste material. Nos aterros, quando não há contato suficiente com o ar e a água, o papel se degrada lentamente. Nos Estados Unidos foram encontrados em aterros jornais da década de 50 ainda em condição de serem lidos (CEMPRE, 2009).

Cerca de 95% dos papéis é feito a partir do tronco de árvores cultivadas.  No Brasil o Eucalipto é o mais utilizado. Para produzir uma tonelada de papel são utilizadas aproximadamente 20 árvores. Além disso, a indústria de papel é muito poluente, pois utiliza grande quantidade de produtos químicos principalmente para o clareamento da massa, gerando contaminação da água utilizada nos processos de lavagem (CIÊNCIA A MÃO, 2009).

Nas escolas há pouco incentivo para diminuição da utilização de papéis, sendo desperdiçados grandes números. É necessária uma conscientização plena envolvendo os alunos para contribuírem com a diminuição do consumo de papéis, pois para cada tonelada de papel poupado significa deixar de serem cortados grandes números de eucaliptos e pinos. Toda vez que se reutiliza um material, e, portanto reduz-se uma etapa industrial estamos reduzindo consumo de energia e o lançamento de resíduos da etapa industrial.

Dentro da Educação Ambiental, uma das formas de se enfocar a diminuição do consumo e da geração de lixo que se instalou no mundo nos últimos anos é através da pedagogia do 3R’s. Segundo as resoluções da Agenda 21 de 1992, o princípio dos “3R’s” é apontado como a solução ou minimização dos problemas relacionados aos resíduos sólidos; redução ao mínimo dos resíduos; aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos (AGENDA 21, 1996).

Nesta concepção, cada um dos R’s representa uma mudança de postura em relação ao consumo, sendo o primeiro – Reduzir – o que representa o principal foco desta pedagogia, pois enfatiza a redução do consumo.  Dos 3R’s este é o mais difícil de ser realizado, pois exige um alto grau de consciência; o segundo – Reutilizar - propõe a reutilização dos mesmos objetos, antes de descartar ou reciclar os produtos, usá-los de uma forma diferente e criativa; e por fim o terceiro – Reciclar – Representa a reinserção do produto no processo produtivo, substituindo matérias-primas virgens, completando seu ciclo quando o produto volta ao mercado. É uma alternativa somente quando não é mais possível reduzir, nem reutilizar (ZACARIAS, 2000).

O projeto aqui apresentado teve como objetivo principal a discussão do tema consumo/desperdício, geração de resíduos sólidos e suas conseqüências ambientais e sociais através da perspectiva da pedagogia dos 3R’s.

  

DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

            O trabalho foi desenvolvido ao longo dos meses de Setembro a Novembro de 2009, simultaneamente, em duas escolas. A escola 1pertence à Rede Pública de Educação Municipal de Belford Roxo, e a Escola 2 pertencente à  Rede Privada, localizando-se no município de Duque de Caxias, ambas no estado do Rio de Janeiro. O público alvo foi formado por alunos do 2º ano do Ensino Fundamental (com faixa etária entre 7 e 9 anos de idade).

No início do trabalho foram colocadas em ambas as salas de aulas três caixas de papelão, intituladas respectivamente de Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Na primeira caixa (Reduzir) foi colocada uma quantidade de folhas oficio em branco (600 no total), com o objetivo de consumi-las com os alunos de forma consciente, evitando o desperdício, promovendo a redução do consumo e da quantidade de lixo produzida ao longo do projeto. A cada 15 dias, esta caixa era examinada e as folhas eram contadas para verificar a quantidade de folhas que estavam sendo utilizadas.  A segunda caixa (Reutilizar) foi destinada a abrigar folhas utilizadas de apenas um lado. Na medida em que as folhas em branco eram utilizadas na caixa anterior, eram depositadas nesta caixa, possibilitando a reutilização do papel pelos alunos. A terceira caixa (Reciclar) guardava os papéis utilizados dos dois lados, que posteriormente seriam encaminhados para a reciclagem (Figura 1).

Metodologia semelhante foi utilizada no âmbito de escolas públicas do município do Rio de Janeiro em trabalho de Educação Ambiental realizado pelo CEAMP – Centro de Educação Ambiental do Parque Nacional da Tijuca, com a participação da terceira autora (Domingos, com. pess.)

 

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Figura 1: Caixas colocadas em sala de aula correspondentes a reduzir, reutilizar e reciclar o papel. A esquerda na Escola 1 e a direita na escola 2.

 

O mesmo procedimento foi realizado nas duas escolas. Num primeiro momento os alunos foram reunidos para participarem de uma discussão acerca dos temas que seriam abordados: consumo, desperdício e poluição. Em seguida, foram questionados sobre as maneiras como cada um poderia contribuir para a preservação ambiental e, a partir das articulações dos mesmos, estes foram apresentados ao projeto. Foram feitos acordos com os alunos, de práticas que deveriam ser seguidas dali em diante para que os objetivos do projeto pudessem ser alcançados, tais como:

- diminuição da utilização indevida de folhas ofício;

- utilização dos dois lados das folhas para confecção de desenhos e impressão de atividades;

- doação do papel utilizado para cooperativas de reciclagem, como alternativa para o lançamento no lixo comum.

Ao longo do desenvolvimento do projeto, na medida em que as folhas foram sendo utilizadas e acumuladas na caixa Reutilizar, foram desenvolvidas atividades artesanais como, por exemplo, a confecção de um caderno criativo (adaptado de RECICLOTECA, 2009).

Para a confecção do caderno criativo foram utilizadas folhas com apenas um lado usado, barbante; borracha; cola bastão cola branca; encartes coloridos de jornais/revistas; estilete; furador de papel; lápis; caixa usada de papelão; pincel; tesoura.

Para cada caderno foram separados grupos de cerca de 10 folhas e dobradas ao meio para formar um vinco central, as folhas foram dobradas de cada lado, até vincos centrais, depois abertas novamente de modo a ficarem marcados dois vincos laterais, que serviram de referência para a furação das folhas. Com o furador foram feitos furos em ambos os vincos laterais e a folha marcada como base foi utilizada para furar as outras folhas que compõem o caderno.  Para a confecção da capa, foram utilizados dois pedaços de papelão com um tamanho um pouco maior que o das folhas do caderno. Os desenhos das capas foram confeccionados pelas próprias crianças, que formaram mosaicos utilizando recortes de revista. Para montagem, foram feitos furos na capa, tendo como referência as folhas já furadas, colocados um pedaço de cartolina ou papelão em baixo e um (a capa) em cima das folhas e costurados utilizando o barbante.

Ao final do trabalho, as folhas colocadas na caixa Reduzir foram contadas, e verificou-se a quantidade de folhas poupadas pelo desenvolvimento do projeto. Na perspectiva de que para se produzir papel é necessário a derrubada de árvores, foi estipulado um número simbólico de folhas que, ao deixarem de ser utilizadas, representavam uma árvore a menos que foi retirada da natureza. Para ilustrar essa idéia, os alunos confeccionaram uma maquete denominada “a floresta que queremos”, que representava o numero simbólico de árvores que foram poupadas através da redução no consumo de papel na escola.

As árvores da maquete foram confeccionadas com o uso de papel machê, feito pelos próprios alunos. A confecção de papel machê é muito simples. Foram utilizados papel (em média meio balde), água, bacia, peneira ou escorredor de macarrão, 200 g de cola branca, 2 1/colheres de sopa de gesso de secagem lenta, 1 colher de sopa de gesso comum, 2 colheres de sopa de farinha de trigo e 1 tampa de vinagre.

Os papéis (jornais velhos) foram picados pelos alunos em pequenos pedaços e despejados em um recipiente com água, onde permaneceram de molho por um período de 24 horas. No dia seguinte, o papel molhado foi amassado até formar uma massa homogênea. Logo após, a água foi escorrida e o excesso de água retirado com o auxilio de um pano de prato. Já seco o papel foi esfarelado, e depositado em uma bacia, onde foram adicionados a cola branca, o vinagre, o gesso de secagem lenta e o gesso de secagem comum. Por último foi adicionada a essa massa 2 colheres de farinha de trigo para que não ficasse partindo. E então foram confeccionadas as árvores da maquete.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este projeto permitiu a observação de três situações importantes em relação ao tema consumo/desperdício de papeis nas escolas. A primeira foi a demonstração de que é possível diminuir a quantidade de papel utilizado nas instituições de ensino ao longo do ano letivo através de medidas simples e eficazes, que podem ser adotadas tanto por professores quanto por alunos. A segunda representou as consequências do que o consumo desordenado traz, não apenas para o meio ambiente, mas também, para a questão econômica da escola. E por fim, a terceira representa a participação e o interesse dos alunos, que se mostraram altamente participativos, receptivos e preocupados com a questão ambiental proposta através das atividades do projeto.

 

O reflexo da pedagogia dos 3R’s no consumo de papel das escolas

Ao longo do desenvolvimento do projeto as turmas de ambas as escolas demonstraram uma progressiva diminuição no consumo de folhas em branco. Em ambas as escolas, no início do mês de setembro, foram colocadas 600 folhas de papel ofício em branco na caixa reduzir. Na escola 1, ao fim da 1ª quinzena do mês, foram utilizadas 42% do total de folhas colocadas na caixa. Na segunda quinzena o consumo caiu para 21% do total de folhas que restaram na caixa reduzir.  Na primeira e segunda quinzena de outubro foram utilizadas apenas 14% das folhas restantes na 1ª caixa (Figura 2).

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Figura 2: Consumo de papel ofício entre os meses de setembro e outubro de 2009 na ESCOLA 1.

 

Na escola 2, o consumo de papel na turma trabalhada já não era muito elevado, mas mesmo assim, entre o início e o fim do projeto, a quantidade de folhas utilizadas foi reduzida pela metade (Figura 3). Na primeira quinzena de setembro o consumo foi de 12% e na ultima quinzena de outubro o consumo chegou a 6%.  A exceção foi registrada na primeira quinzena de outubro, onde foram consumidas 60% das folhas contidas na caixa reduzir.  Nesta semana, a escola estava em período de provas, e as provas e atividades são xerocadas na própria escola, utilizando as folhas pertencentes a cada sala de aula. Entretanto, com exceção da sala do 2º ano, onde o projeto estava sendo realizado, todas as outras salas não tinham número suficiente de folhas para suprir a demanda de provas. Conseqüentemente, recorreram às folhas armazenadas na caixa reduzir na sala do 2º ano, pois era a única onde ainda havia um bom numero de folhas oficio.

Gráfico 2.jpg

Figura 3: Consumo de papel ofício entre os meses de setembro a outubro de 2009 na ESCOLA 2.

 

Ao total, em ambas as escolas, o consumo de papel foi reduzido pelo menos à metade, apenas com a utilização dos dois lados da folha. Isso demonstra que, mesmo em uma escola onde a utilização de papel é necessária e geralmente alta, existe a possibilidade de haver uma redução de consumo, produzindo uma educação de qualidade sem desperdiçar os recursos naturais.

O fato ocorrido na escola 2, onde a turma que participava do projeto supriu a necessidade de folhas das outras turmas,  nos permitiu demonstrar o quanto se torna importante, não apenas no âmbito ambiental, como também no econômico, a redução do consumo e a reutilização de materiais. Neste caso, além de utilizar grande parte das folhas armazenadas pelo segundo ano, a escola teve que fazer um investimento financeiro em folhas ofício para garantir o estoque até o fim do ano letivo. Enquanto que na turma onde o projeto estava sendo desenvolvido ainda estavam sendo utilizadas as folhas entregues pelos alunos no início do ano (por se tratar de uma escola particular, o material usado na escola é entregue pelos pais dos alunos no inicio do ano letivo e a professora fica responsável pelo manejo do material até o fim do mesmo).

O projeto teve uma duração de apenas três meses, e proporcionou a redução do consumo de folhas ofício pela metade, demonstrando a importância da utilização de estratégias que estimulem o uso sustentável de recursos e redução do consumo em geral. Foi exatamente o que a pedagogia dos 3 R’s permitiu aos alunos e também aos professores e funcionários. A partir destes resultados pode-se sugerir que, se tais atitudes fossem adotadas pelas instituições de ensino ao longo de todo o ano letivo, haveria um benefício mútuo para escola e para o meio ambiente.

Grande parte dos programas de educação ambiental acaba destacando a reciclagem em relação aos dois primeiros "erres" (reduzir e reutilizar). Assim, busca-se apenas atender à "consciência ecológica individual", iludida ao acreditar que, consumindo produtos recicláveis, estes serão necessariamente reciclados. Entretanto, como foi observado, os dois primeiros R's (Reduzir e Reutilizar) fazem parte de um processo educativo, que tem por objetivo uma mudança de hábitos no cotidiano dos cidadãos, e devem ser priorizados em relação à reciclagem. A questão-chave é levar o cidadão a repensar seus valores e práticas, reduzindo o consumo exagerado e o desperdício.

 Além disso, o processo de reciclagem também resulta em algum tipo de poluição, além de consumir recursos como água e energia. Sendo assim, a reciclagem deve ser entendida como um complemento aos processos de redução e reutilização e não servir para ocultar as causas reais do problema: o desperdício, o incentivo ao consumo desenfreado e o desgaste dos locais de onde são extraídas as matérias-primas (ECOVIVER, 2010).

 

O reflexo das atividades

Durante todo o desenvolvimento do projeto os alunos se mostraram bastante interessados e dispostos a participar de todas as atividades. A confecção do caderno criativo (Figura 4) teve seu enfoque em priorizar a redução do consumo e o reaproveitamento de materiais em relação a sua própria reciclagem, através do reuso das folhas utilizadas de apenas um lado. Para isso, como o número de folhas na caixa Reutilizar era pequeno em relação ao número de alunos, este se encarregaram de recolher folhas “reutilizáveis” nas outras turmas, se tornando multiplicadores. Assim, entravam nas outras salas de aula, explicando o objetivo do projeto e recolhendo um maior numero de folhas para serem reutilizadas. Dessa maneira, houve uma contribuição maior para a diminuição do desperdício de papel e, ao mesmo tempo, foi possível ampliar a abrangência do tema realizado envolvendo outras turmas.

Ao serem questionados sobre a utilidade dos cadernos criativos, sugeriram que podem ser utilizados como caderno de desenhos, diário, agenda e caderno para brincar com os amigos.

Na escola 1, as folhas reutilizáveis e os resíduos, tais como revistas velhas e pedaços de papelão, que sobraram da confecção desta atividade, foram doadas para a sala de leitura para ser utilizados com as outras turmas da escola, ampliando assim o conhecimento do projeto e seu objetivo em relação ao desperdício de papel. Na Escola 2, todos os resíduos desta e de outras atividades, foram doados para uma cooperativa de catadores do município.

Figura 2.jpg

Figura 4: “Caderno Criativo” – caderno confeccionado pelos alunos com folhas reutilizáveis (usadas de apenas um lado)

 

Ao serem analisados, juntos com os alunos, os valores referentes à redução de consumo dos papeis que estavam contidos na caixa Reduzir, estes ficaram muito satisfeitos com o resultado de suas ações, pois um grande número de folhas deixou de ser utilizada. Como já foi mencionado anteriormente, uma quantidade simbólica de folhas poupadas representava uma árvore que a turma ajudou a salvar. Dessa maneira ao final do projeto os alunos confeccionaram uma maquete, no qual cada um produziu sua própria árvore feita de papel machê, simbolizando “a floresta que queremos” (Figura 5). A produção de papel machê foi vista como uma forma moderada de diminuir os problemas ambientais, causados pelos processos industriais de fabricação, além de reduzir o desperdício na utilização dos materiais. O trabalho com papel machê também é uma forma de reciclar. Dessa maneira, é possível trabalhar de forma lúdica e artística a consciência ambiental nos alunos. Este trabalho foi muito produtivo, pois proporcionou que os alunos visualizassem a transformação do papel em matéria prima para a realização de atividades artesanais.

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Figura 5: Esquerda: árvores feitas de papel machê. Direita: alunos confeccionando a massa de papel machê.

 

Paralelamente ao trabalho com as caixas dos 3R’s, a confecção do caderno criativo e das atividades com papel machê, foram realizadas atividades enfocando a minimização dos impactos dos resíduos sólidos gerados pela escola e pelos moradores do entorno sobre o meio ambiente. Como exemplo, destaca-se a implantação de coleta seletiva, separando lixo orgânico do lixo reciclável, onde este segundo foi doado para uma cooperativa de catadores do município de Duque de Caxias e atividades de produção de sabão a partir de óleo vegetal usado. Com essas atividades complementares foi possível promover um alto grau de sensibilização em todo o ambiente escolar em prol da preservação ambiental através da redução do consumo, reuso de materiais reaproveitáveis e reciclagem.

O ganho com o trabalho, para além da ação individual, tem relevância pela ação coletiva. A partir desta ação o grupo percebeu que sua organização em função de um desejo e objetivo comuns, resultou em intervenção positiva sobre a realidade. Trata-se de valorizar a percepção de conquista coletiva, a partir de uma ação conjunta, em prol de um grupo.

  

CONCLUSÕES

Mesmo o consumo de papel nas escolas sendo estritamente necessário e alto, devido ao número de alunos e atividades, este trabalho demonstrou que é possível reduzir o consumo de folhas através da adoção de atitudes simples e eficazes que, com tempo e prática, podem passar a fazer parte do cotidiano escolar. Além disso, o trabalho obteve grande aceitação pelos alunos que demonstraram interesse em ajudar a tornar possível a redução da geração de resíduos pela escola e a diminuir a utilização dos recursos naturais em geral. Através deste projeto os alunos obtiveram uma visão mais ampla sobre a problemática ambiental, percebendo a importância de contribuir para a preservação do meio ambiente, não só no ambiente escolar, mas também em casa.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ZACARIAS, R. Consumo, Lixo e Educação Ambiental, uma abordagem crítica, Juiz de Fora: Edições Feme, 2000.

 

Ilustrações: Silvana Santos