Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2012 (Nº 41) RESPONSABILIDADE AMBIENTAL: UM ESTUDO DAS PRÁTICAS NAS INDÚSTRIAS DE PAPEL E CELULOSE
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EDUCAÇÃO COMO FATOR CRÍTICO PARA O SUCESSO RUMO AO DESENVOLVIMENTO COM SUSTENTABILIDADE: UM ENFOQUE ESTRATÉGICO

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL: UM ESTUDO DAS PRÁTICAS NAS INDÚSTRIAS DE PAPEL E CELULOSE

 

Jacques Gimenes

Pós-Graduando em Gestão Estratégica de Pessoas

 UNICENTRO. 2012

jacques.eq@gmail.com

ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

 

João Francisco Morozini, Dr.

Doutor em Administração de Empresas - MACKENZIE

Mestrado em Ciências Contábeis - FURB

Professor DECIC - UNICENTRO

jmorozini@uol.com.br

RESUMO
 
A responsabilidade ambiental nas indústrias tornou-se uma exigência da atual sociedade. O meio ambiente passou a figurar junto aos pilares econômico e social.  Este artigo busca fazer um estudo descritivo das ações no setor de celulose e papel que favorecem o meio ambiente. A partir de um levantamento dessas práticas sustentáveis, foi feita uma comparação com as ações que eram realizadas em uma empresa fabricante de papel. Para avaliar o conhecimento dessas práticas pelas pessoas, foi desenvolvido e aplicado a 24 funcionários da área de Utilidades um questionário de 25 questões, a respeito das ações da empresa alinhadas com o meio ambiente. De acordo com o percentual de acertos nas questões, pode-se observar que o conhecimento e percepção das pessoas quanto às práticas ambientais são influenciadas por: área de atuação, tempo de empresa, escolaridade e cargo, em ordem decrescente de importância. Dentre as 15 ações pró meio ambiente encontradas na literatura, 11 puderam ser evidenciadas na empresa avaliada. A importância da responsabilidade ambiental nas empresas exige práticas de gestão ambiental, que favoreçam o meio ambiente, necessitando do apoio e compreensão dos trabalhadores.

 

Palavras-chave: Responsabilidade ambiental nas empresas e gestão ambiental

 

 

1        INTRODUÇÃO

 

As pressões em favor da preservação do meio ambiente iniciaram no meio científico e foram ganhando importância perante a sociedade. Atualmente esta é uma preocupação de grande parte da sociedade, uma vez que está inserida no rol de assuntos de nível mundial, inclusive encabeçado pela Organização das Nações Unidas. As empresas, em particular as indústrias, estão alinhando suas estratégias com as necessidades ambientais do planeta (BRUNSTEIN e BUZZINI, 1999). No entanto, para que esta estratégia ambiental seja eficiente é necessário que seja assimilada pelos indivíduos que compõe a organização.

De acordo com Piotto (2003, p. 4), apesar de desde os primórdios do desenvolvimento da civilização humana haver impactos no meio-ambiente, a degradação ambiental só foi percebida na segunda metade do século XX. Ainda de acordo com a autora, foi a partir da década de 60 do século XX que se viu a necessidade de integrar os diversos segmentos da sociedade em prol da preservação ambiental. O desenvolvimento sustentável se tornou o grande desafio do diversos segmentos da sociedade no presente século, com especial relevância para o setor industrial.

De acordo com Barbosa et al (2004, p. 6) a participação dos funcionários na gestão ambiental é fundamental para seu sucesso. Entende-se que, além de práticas coerentes com o meio ambiente, as pessoas são fundamentais para o sucesso de uma organização, inclusive na questão da responsabilidade ambiental. Nesse cenário a comunicação a comunicação é um mecanismo que partilha importância do “sucesso ambiental” do sucesso ambiental da empresa junto aos stakeholders (SANCHES, 2000).

O objetivo do artigo é fazer um levantamento das práticas de responsabilidade ambiental as empresas, com foco no Setor de Celulose e Papel. O estudo busca avaliar a empresa do estudo de caso quanto à execução destas práticas. Outra questão importante: Quais fatores interferem no conhecimento e percepção das práticas de responsabilidade ambiental por parte dos trabalhadores? Esta questão o trabalho busca responder, especificamente para o caso da empresa em estudo.


2         RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

2.1      Aspectos conceituais

            Sanches (2000) salienta a importâncias das empresas industriais terem novas posturas frente à causa ambiental, agindo de forma a terem uma gestão ambiental proativa. Dessa forma, as empresas terão melhores condições de competir e sobreviver no atual cenário de negócios. Ainda segunda a autora, as empresas precisam de mecanismos de autorregulação, “desenvolvendo novas formas de lidar com os problemas ambientais”.

Brunstein e Buzzini (1999) sintetizaram de forma clara a importância da estratégia das empresas (finanças, marketing, produção, distribuição, entre outras) estarem alinhadas com as estratégias ambientais, como pode ser visto a seguir:

 

As estratégias ambientais (eco estratégias) são necessárias não só para a obtenção da vantagem competitiva, mas também para a busca da excelência, seja em nível de performance, lucratividade e crescimento; questões como segurança, meio ambiente, saúde, devem fazer parte de um posicionamento e responsabilidade ético-ambiental e as empresas que a estes novos direcionadores se posicionaram, estarão, pois, criando um novo paradigma de negócios (PODUSKA, FORBES e BOBER, 1992 apud BRUNSTEIN e BUZZINI 1999, p. 2).

 

Gladwin et al (1995 apud BARBOSA et al 2004) credita ao sustencentrismo, movimento em favor desenvolvimento sustentável, o atual interesse da sociedade pela gestão levando em conta as questões ambientais. O conceito do sustencentrismo substitui definitivamente no mundo contemporâneo o antropocentrismo, no qual o homem teria poder sobre a natureza, cujos recursos seriam abundantes e inesgotáveis (GLADWIN et al 1995 apud BARBOSA et al 2004, p. 3).

Com a constatação dos problemas modernos, superpopulação, crescimento econômico não sustentado, ocorrência de diversos acidentes ambientais, destruição da camada de ozônio e aumento de geração de resíduos sólidos começou um movimento por parte da sociedade de cobrar maior responsabilidade das empresas com relação ao meio ambiente (BARBOSA, HOURNEAUX e KATZ, 2004, p. 3).

Em uma publicação de 1996, Hart apud Barbosa et al (2004, p. 3) defende que a sustentabilidade necessita de três pilares fundamentais:

·           Prevenção da poluição (controle e prevenção da geração de poluentes);

·           Zeladoria de produtos, otimizando as variáveis que impactam no ciclo de vida (reuso, facilidade de reciclagem, durabilidade, etc.); e

·           Utilização de tecnologias limpas, seja no processo ou no uso dos produtos.

Dessa forma, de acordo com o conceito citado acima as empresas que buscam ser ambientalmente sustentáveis, ou que buscam ter responsabilidade ambiental, devem ter práticas que atendam a estes três requisitos.

Nesta mesma linha de raciocínio, Donaire (1999 apud LOPES 2010, p. 2) diz que a atual responsabilidade ambiental nas empresas, uma exigência da sociedade, passa por três níveis: a) Controle de saída; b) Integração do controle ambiental nas práticas e nos processos ambientais; e c) Integração do controle ambiental na gestão administrativa.

De acordo com Donaire (1999 apud LOPES 2010) as empresas brasileiras estavam em geral na transição do primeiro para o segundo nível. Atualmente, com as atuais exigências ambientais e o avanço das empresas nesta questão, pode-se afirmar que muitas organizações estão buscando o terceiro nível, ainda que, eventualmente, tenham dificuldades nos dois primeiros níveis. De acordo com Piotto (2003, p. 22) a maior parte das empresas ainda está voltada ao atendimento das exigências legais e a gestão reativa.

Sanches (2000, p. 5) faz um apanhado das principais vantagens e ganhos da empresa ambientalmente proativa:

·           Menor utilização de energia nos processos produtivos;

·           Menor utilização de matérias primas devido minimização de perdas;

·           Vantagem competitiva advinda do desenvolvimento de tecnologias mais limpas (inclusive transferência de tecnologia);

·           Desenvolvimento de novos produto e criação de novos mercados;

·           Melhoria da imagem frente à opinião pública e órgãos governamentais.

Nesse contexto vale ressaltar a importância do comprometimento de todo o staff (SANCHES, 2000, p. 5), assim como os stakeholders de maneira geral, com os objetivos e metas de caráter ambiental.

2.2      Práticas de responsabilidade ambiental no Setor de Celulose e Papel

Um estudo conduzido por Brunstein e Buzzini (1999), chegou à conclusão que o Setor de Celulose e Papel estava no grupo de empresas que possuíam uma atitude proativa em relação às questões ambientais. Este grupo não só busca a prevenção e reciclagem, além de evitar multas e sanções, como busca alinhar sua estratégia administrativa com suas práticas de responsabilidade ambiental. Dessa forma a problemática ambiental está alinhada com o planejamento estratégico destas empresas, interferindo em metas, planos de ação, políticas, entre outros.

                        De acordo com dados da BRACELPA (2011, p. 4) o Brasil no ano de 2010 teve faturamento R$ 33.949.847,00 (1% do PIB do país), empregando diretamente um total de 69.441 pessoas. A produção total de celulose foi de 14.164.000 ton e de papel 9.844.000 ton, o que caracteriza o país como o 9° maior em produção de papel e o 4° em produção de celulose. A percentual em relação ao consumo aparente de papel em 2010 que foi reciclado é de 43,5%, o que mostra um alinhamento com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

 De acordo com Piotto (2003, p. 237), Os principais impactos ambientais causados por indústrias de papel referem-se a “geração de águas residuárias e ao consumo de energia e de produtos químicos”. Além disso, são gerados resíduos sólidos e emissões gasosas, principalmente resultados da queima de biomassa, ou combustível fóssil, para geração de energia.

            Com relação às práticas encontradas no Setor de C & P que afirmam o compromisso com o meio ambiente, destacam-se algumas que serão apresentadas a no decorrer dos próximos parágrafos.

Uma prática geralmente executada pelas empresas é o atendimento de requisitos legais (BARBOSA, HOURNEAUX e KATZ, 2004 p. 6) tais como padrões de emissões de gases, matéria orgânica e produtos tóxicos em rios, entre outros. A seguir são apresentados exemplos de práticas de atendimentos legais:

· Tratamento de efluentes acondicionando os resíduos líquidos às condições do corpo hídrico;

· Programa de Gestão de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10);

· Coleta Seletiva ligada ao PGRS;

· Destinação de resíduos em Aterro Sanitário;

· Auto monitoramento das emissões atmosféricas;

· Sistema de redução de material particulado nas emissões gasosas;

· Sistema de tratamento ou acondicionamento de gases.

 

Sanches (2000) apresenta algumas práticas de responsabilidade ambiental:

·                    Autorregulação, que “representa iniciativas tomadas pelas empresas ou por setores da indústria para empreender e disseminar práticas ambientais (...), mediante a adoção de padrões, monitorações, metas de redução da poluição e assim por diante.” (SANCHES, 2000 p. 77);

·           O domínio de poluições acidentais através do estudo de riscos, implementação de planos de emergência e treinamento dos funcionários (SANCHES, 2000 p. 85);

·           Treinamento ambiental dos funcionários (SANCHES, 2000, p. 86).

 

A utilização racional dos recursos naturais preservando o meio ambiente e minimizando a geração de resíduos é uma importante ferramenta de gestão ambiental, de acordo com Barbosa et al (2004, p. 6), Sanches (2000, p.77) e Piotto (2003, p. 21). São atividades comumente encontradas nas empresas:

·           Conservação de energia, insumos e matérias primas;

·           Eliminação de insumos tóxicos;

·           Redução da quantidade e toxicidade dos resíduos e das emissões;

·           Controle adequado das perdas, evitando e minimizando vazamentos e transbordos;

·           Fechamento de circuito de água;

·           Monitoramento on line do lançamento de poluentes atmosféricos.

 

Barbosa, Hourneaux e Katz apresentam algumas importantes ferramentas de gestão ambiental que estão sendo utilizadas pelas empresas (2004, p.6):

·           Utilização do conceito de análise do Ciclo de Vida na otimização do desempenho global dos produtos;

·           O desenvolvimento de alternativas autossustentáveis para reciclagem.

Para balizar e padronizar as ações ambientais das empresas e instituições a Associação Brasileiro de Normas Técnicas (ABNT) formulou a ISO Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14.001) que é bastante aplicada no setor de papel e celulose.

A Destinação de resíduos para fabricação de produtos alternativos (reciclagem e reutilização) tem sido utilizada nos diversos segmentos da indústria de transformação. Seguem alguns exemplos destas práticas:

·           Compostagem com lodos de tratamento de efluentes e cinzas de caldeira;

·           Utilização de cinzas (resíduos de queima) de Caldeira em áreas agricultáveis para melhorar a qualidade do solo.

A Cogeração de energia elétrica a partir de biomassa de reflorestamento nos últimos anos tem desenvolvido com grande força no Brasil, especialmente com os incentivos dos créditos de carbono.

De acordo com Piotto (2003, p. 11), a Contabilidade ambiental tem sido utilizada como ferramenta de gestão.

As parcerias junto à comunidade para criação de programas de responsabilidade ambiental têm sido frequentes entre as empresas (BARBOSA, HOURNEAUX e KATZ, 2004 p. 6).

A Educação ambiental, com foco em ações junto aos funcionários e comunidade tem sido utilizada em diversos setores da indústria, com o objetivo principalmente de melhorar a gestão socioambiental das empresas (BARBOSA et al, 2004, p. 6). Entre as ações que são desenvolvidas estão:

·           Cartilhas educativas para economia de água e energia tanto na empresa quanto em casa;

·           Realização de palestras junto à comunidade, principalmente nas escolas.

Um conceito muito importante para comparar o desempenho do ponto de vista ambiental de um segmento é o Best Avaliable Technologies (BAT). O conceito de BAT (Best Avaliable Technologies – Melhores Técnicas Disponíveis) é apresentado por Piotto (2003, p. 30). Segue a definição:

Define-se BAT como as técnicas mais eficientes e avançadas disponíveis para execução de atividades, aplicáveis a processos específicos, de forma a evitar emissões e os impactos ambientais adversos, ou quando isso não for possível, pelo menos reduzi-los.

Para avaliação da empresa do estudo de caso segue uma tabela com os valores BAT de acordo com o IPPC (2000 apud PIOTTO 2003, p.238).

 

Tabela 01 - Emissões e Consumo - BAT (Produção de Papel)

Parâmetros

Valores

Vazão específica de efluentes (m³/ton papel)

10 - 15

Consumo energia elétrica (GJ/ton)

7 - 7,5

Consumo energia térmica (MWh/ton)

0,6 - 0,7

Fonte: Adaptação dos valores encontrados em Piotto (2003, p.238 e 239).


3        METODOLOGIA

A técnica utilizada neste estudo foi a pesquisa descritiva. De acordo com Borges Filho (2011, p. 2), a Pesquisa Descritiva “visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”, envolvendo coleta de dados por questionário. Para realização do estudo foram também utilizadas técnicas de pesquisa exploratória, que é comumente utilizada em estudos de caso (BORGES FILHO, 2011) incluindo o levantamento bibliográfico das práticas de responsabilidade ambiental no Setor de Celulose e Papel.

A estratégia de pesquisa foi o estudo de caso. De acordo com Campomar (1991 apud BARBOSA et al 2004, p. 4) “o método de estudo de casos implica numa análise aprofundada de uma ou mais situações”. Dessa forma, este método de pesquisa possibilita estudar de forma eficaz o problema proposto neste estudo.

            Para obtenção dos resultados, resposta das questões propostas e formulação de hipóteses, foi realizado um levantamento junto às referências bibliográficas apresentadas a respeito de responsabilidade ambiental nas indústrias, com ênfase no Setor de Celulose e Papel, e também questionário específico para a empresa do Estudo de Caso.

O questionário aplicado foi de construção do próprio autor devido à necessidade de compreender aspectos específicos que pudessem mensurar o conhecimento das práticas de responsabilidade ambiental que estão sendo utilizadas na empresa. O questionário foi aplicado aos funcionários da área produtiva mais ligada a meio ambiente (Utilidades). As questões são específicas para a empresa do “estudo de caso”. As particularidades dessas questões são de fundamental importância para que os aspectos ambientais na empresa sejam respeitados.

A área em que foi aplicado o questionário possui 27 funcionários, sendo que 02 estavam em férias na ocasião da aplicação do questionário e o outro funcionário é o responsável pelo artigo, não fazendo sentido que participasse das respostas. Dessa forma, um total de 24 funcionários respondeu ao questionário. Ao todo foram 25 questões, divididas em 10 categorias.

Para análise dos dados foi utilizada a correlação de Pearson, devido ao trabalho possuir uma abordagem quantitativa. O Coeficiente Linear da Correlação de Pearson (r) é interpretado como um indicador que descreve a interdependência entra as variáveis X e Y, onde Y = a.X + b, sendo a e b constantes (LIRA, 2004 p. 41). No caso de r ser 1 ou -1 a correlação é linear perfeita, sendo que se o valor de r for 0 não há correlação. Na prática r pode ter infinitos valores, entre -1 e 1.

Segundo Callegari e Jacques (2003, p. 90 apud LIRA 2004) o coeficiente r pode ser avaliado qualitativamente da seguinte forma:

Se 0,00 < | r | < 0,30 , existe fraca correlação linear

Se 0,30 < | r | < 0,60 , existe moderada correlação linear

Se 0,60 < | r | < 0,90 , existe forte correlação linear

Se 0,90 < | r | < 1,00 , existe correlação linear muito forte

4         RESULTADOS E ANÁLISE

Os resultados obtidos no estudo estão são principalmente de caráter qualitativo, no entanto buscou-se fornecer alguns dados quantitativos para contribuir na análise. O item 4.1 compara as práticas de responsabilidade ambiental da empresa frente ao Setor. Já o item 4.2 apresenta a condição de conhecimento e percepção dos funcionários do setor produtivo com relação às práticas de responsabilidade ambiental utilizadas pela empresa.

4.1      Comparações entre as práticas do Setor e as práticas encontradas na empresa

             Como a condição da fabricação de papel possui como principal impacto ambiental a geração de águas residuárias e o consumo de energia elétrica e térmica, segue a tabela comparativa entre os resultados da empresa e os valores BATs:

Tabela 02 - Emissões e Consumo - BAT (Comparação empresa x Setor)

Parâmetros

BAT

Empresa

Vazão específica de efluentes (m³/ton papel)

10 - 15

18

Consumo energia elétrica (GJ/ton)

7 - 7,5

5,6

Consumo energia térmica (MWh/ton)

0,6 - 0,7

0,6

Fonte: Adaptação dos valores encontrados em Piotto (2003, p.238 e 239). Resultados da empresa foram coletados pelo autor.

           De acordo com a tabela 02, a empresa do estudo de caso apresenta resultados satisfatórios. Apesar dos valores de geração de efluentes estarem acima da faixa definidas como BAT, 20% superior, não é um valor ruim para a condição do Setor. Lembrando que estes são os valores para os mais modernos equipamentos. Os valores de consumo de energia (elétrica e térmica) estão com valores melhores que os definidos como BAT.

 

           Com relação às práticas de responsabilidade ambiental do Setor de Celulose e Papel, foram constatadas ações em diversos campos do que foi abordado no item 2.2:

 

a)    Garantia o atendimento de requisitos legais:

·           Tratamento de efluentes por Lodos Ativados;

·           Programa de Gestão de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10);

·           Coleta Seletiva ligada ao PGRS;

·           Destinação de resíduos em Aterro Sanitário;

·           Auto monitoramento das emissões atmosféricas;

·           Multiciclones para controle de material particulado;

·           Sistema de tratamento ou acondicionamento de gases;

·           Recuperação de áreas degradadas

b)    Autorregulação: Definição de parâmetros internos, não de exigência legal, de controle de perdas que poderiam gerar resíduos, por exemplo, fibras celulósicas.

c)    Domínio de poluições acidentais através do estudo de riscos, implementação de planos de emergência e treinamento dos funcionários: Kits de emergência ambiental, bacias de contenção, entre outras práticas.

d)    Treinamento ambiental dos funcionários: os funcionários são treinados nos aspectos de operação e manutenção, segurança e meio ambiente.

e)    Utilização racional dos recursos naturais preservando o meio ambiente e minimizando a geração de resíduos:

·           Times de melhoria (KAISEN) para solução de problemas de impactos no meio ambiente e de redução de consumo de água e energia;

·           Comitê Interno de Conservação de Energia, Utilidades e Fibras, cujo objetivo é buscar soluções para que o consumo de recursos naturais e matéria prima sejam minimizados.

f)     Desenvolvimento de alternativas autossustentáveis para reciclagem: a empresa possui Estação de Reciclagem onde é armazenado todo o material reciclável para venda posterior.

g)    Destinação de resíduos para fabricação de produtos alternativos (reciclagem e reutilização):

·      Utilização de cinzas (resíduos de queima) de Caldeira em áreas agricultáveis para melhorar a qualidade do solo;

·      Segregação e venda de aparas brancas;

·      Destinação de lodo primário para confecção de caixas.

h)    Cogeração de energia a partir de biomassa de reflorestamento: cogeração de energia através do vapor que vai para a produção de papel (atendimento de 20% das necessidades de energia elétrica da fábrica).

i)     Educação ambiental: Ações junto aos funcionários e comunidade. Apresentação de maquetes e ensaios para conscientização sobre os recursos naturais. Além disso, anualmente é realizado um evento, denominado SIPATMA (Semana Interna de Prevenção de Acidentes e Meio Ambiente), onde é tratado de assuntos como Segurança no Trabalho e Meio Ambiente.

j)             Iniciativas que promovam a qualidade do meio ambiente, com ênfase na atividade de educação: Cartilhas educativas para economia de água e energia tanto na empresa quanto em casa.

k)    Parceria junto à comunidade para criação de programas de responsabilidade ambiental: Palestras de responsabilidade ambiental (economia de energia, racionalização no consumo de água, coleta seletiva, etc.) nas escolas.

As ações listadas acima mostram que grande parte das práticas de responsabilidade ambiental que são utilizadas no Setor de Celulose e Papel, apresentadas no item 2.2, são consideradas na empresa papeleira do Estudo de Caso.

4.2     Conhecimento e percepção dos trabalhadores quanto à responsabilidade ambiental na empresa

           A avaliação do conhecimento das práticas de responsabilidade ambiental utilizadas na empresa foi feitas através do questionário. O questionário foi respondido por 24 pessoas, todos funcionários da Área de Utilidades da empresa. Os principais resultados estão no quadro 01.

QUADRO 01 – Resultados Gerais

Dados

Valores

Tempo de empresa (média, em anos)

13,1

Menor / maior tempo de empresa (anos)

0,5 / 28

Percentual de mulheres (%)

12,5

Média de acertos (%)

69,8

Desvio padrão (população)

0,097

Nota mínima / máxima (%)

40 / 84

Avaliação da responsabilidade ambiental da empresa (segundo os trabalhadores) - %

85

Fonte: Elaborado pelo autor

 

                       Após tratamento estatístico dos dados obtidos no questionário, algumas variáveis mostraram correlações com o percentual de acertos das questões. As variáveis com melhores correlações foram: (1) Tempo de empresa, (2) Escolaridade, (3) Área e (4) Cargo. Cada uma destas variáveis será apresentada a seguir.

4.2.1 Análise do tempo de empresa

O quadro 01 mostra que o tempo de empresa médio das pessoas avaliadas é relativamente alto: 13,1 anos. Não foi possível obter uma boa correlação entre o resultado do questionário e o tempo de empresa, resultando em coeficiente de Pearson de 0,45. De acordo com a teoria, conforme apresentada no item Metodologia, esta é uma correlação linear moderada. No gráfico 1 é apresentada uma relação de tempo de empresa com resultado no questionário.

 

Gráfico 1. Relação entre tempo de empresa e resultado no questionário.

Fonte: Elaborado pelo autor

O gráfico 1 mostra que o maior tempo de casa (nesse caso 66,7% das pessoas, com tempo maior que 5 anos) pode favorecer o conhecimento das práticas de responsabilidade ambiental.

4.2.2 Avaliação da influência da escolaridade

A escolaridade dos funcionários, a exemplo do tempo de empresa, também teve correlação moderada com o conhecimento em responsabilidade ambiental. A correlação linear do coeficiente de Pearson (r) ficou em 0,4. O gráfico 2 apresenta a relação entre conhecimento em práticas de responsabilidade ambiental e nível de escolaridade. No estudo o nível de escolaridade é dividido em (1) Ensino médio e (2) Curso técnico ou Curso Superior.

Gráfico 2. Relação entre escolaridade e resultado no questionário.

Fonte: Elaborado pelo autor

4.2.3 Avaliação da influência da área de trabalho

Dentro da população avaliada, área de Utilidades, os funcionários trabalham em três grandes áreas, denominadas 01, 02 e 03. Estas áreas têm características diferentes, no entanto os conhecimentos avaliados no Questionário são acessíveis a todos. A melhor correlação encontrada no estudo foi com relação à área de trabalho, onde o coeficiente r foi de 0,53. Este resultado é função da característica da área, sendo a Área 2 a área mais crítica quanto aos aspectos ambientais. Segue abaixo um detalhamento deste resultado:

·           Área 1: nesta área é realizado o tratamento certo tratamento onde a geração de resíduos é muito baixa, assim como a contaminação do ambiente.

·           Área 2: Existem duas grandes preocupações no tratamento realizado na Área 2, sendo (1) Contaminação de águas e (2) Contaminação do solo com material biológico. A questão ambiental é crítica para a Área 2, pois possui elevado potencial de contaminação do ambiente. Isto influencia na consciência ambiental da área.

·           Área 3: a grande preocupação dos funcionários desta área quanto à poluição ambiental são as emissões gasosas. Além disso, são geradas grandes quantidades de material sólido inerte, sendo alta a preocupação ambiental nesta área.

 

A figura 3 apresenta a relação entre conhecimento em responsabilidade ambiental em função da área de trabalho.

 

 

Gráfico 3. Relação entre área de trabalho e resultado no questionário.

Fonte: Elaborado pelo autor

4.2.4 Avaliação da influência do cargo

Os funcionários que responderam ao questionário foram separados em três grandes níveis de cargo: Ajudante, Operador e Liderança. O gráfico 4 mostra que o cargo de liderança (16,7% da população) obteve melhor média de notas que o restante. No entanto, fazendo correlação pelo método de Pearson o coeficiente r ficou em 0,24. De acordo ao material apresentado na metodologia, este valor de r é considerado uma baixa correlação linear. Dessa forma, pode-se verificar que em todos os cargos houve notas elevadas e notas inferiores, não sendo possível afirmar que o conhecimento em responsabilidade ambiental dependa de cargo ou função.

 

 

Gráfico 4. Relação entre o cargo e resultado no questionário.

Fonte: Elaborado pelo autor

5          CONCLUSÃO

A responsabilidade ambiental tornou-se condição crucial para o desenvolvimento das empresas. As organizações precisam crescer, no entanto o cuidado com o meio ambiente anda junto com o enfoque econômico e social. Dessa forma, as empresas tem sofrido pressão por parte da sociedade a adotar práticas sustentáveis, que venham ao encontro do meio ambiente. O setor industrial, em especial o setor de celulose e papel, tem procurado acompanhar estas necessidades, não somente atendendo aos requisitos legais, mas em diversas situações tomando uma postura proativa com o ambiente.

Dentre as ações, em prol do meio ambiente, que estão sendo praticadas pelas empresas do setor de celulose e papel, estão: a) Atendimento aos requisitos legais no que diz respeito aos limites de poluição, b) Utilização racional dos recursos naturais preservando o meio ambiente e minimizando a geração de resíduos, c) Utilização do conceito de análise do Ciclo de Vida na otimização do desempenho global dos produtos, d) Desenvolvimento de alternativas autossustentáveis para reciclagem, e) Sistema de Gestão Ambiental (SGA, ISO 14.001), f) Destinação de resíduos para fabricação de produtos alternativos (reciclagem e reutilização) e g) Educação ambiental.

Das ações listas acima, apenas a SGA não foi observado à ocorrência na empresa em estudo. No total das ações levantadas, um total de 15, quatro delas não foram verificadas na empresa em estudo. Dessa forma, mais de 70% das ações encontradas na literatura que as empresas do setor de celulose e papel estão desenvolvendo, a empresa em estudo possui alguma iniciativa similar.

Os valores de consumo de água (geração de efluentes) e energia térmica e elétrica obtidos na empresa foram similares às melhores tecnologias (BATs). A geração de efluentes ficou 20% maior, o consumo de energia térmica ficou 20% menor e o consumo de energia elétrica ficou na faixa dos valores encontrados nas melhores práticas.

Com relação à percepção e conhecimento dos trabalhadores quanto à responsabilidade ambiental da empresa, a avaliação da empresa ficou com média de 85%. A média dos valores obtidos no questionário foi de 69,8%, sendo a nota mínima 40% e a máxima 84%. As influências nos resultados ficaram por conta dos seguintes fatores: a) anos de empresa, b) escolaridade, c) área de trabalho e d) cargo. Com relação a variável Anos de empresa, esta teve correlação moderada (Pearson) com o resultado no questionário, 0,45, possivelmente devido maior conhecimento da área e da empresa. A Escolaridade teve resultado similar ao tempo de trabalho na empresa, 0,40, correlação linear moderada. A melhor correlação entre a nota no questionário foi com a Área de trabalho: correlacionando os 24 resultados dentro de 03 áreas, a correlação entre área e resultado no questionário foi de 0,53. A criticidade quanto à contaminação do meio ambiente pode ser um fator positivo para o envolvimento ambiental. Dessa forma, o maior envolvimento das pessoas pode levar a melhores resultados quanto à consciência ambiental. O Cargo (liderança, operador e ajudante) teve a correlação mais baixa dentre os parâmetros analisados, 0,24, mostrando que a consciência e conhecimento em responsabilidade ambiental é acessível a todos.

A responsabilidade ambiental é uma grande e necessária ferramenta para as empresas, sendo importante não só adotar práticas que venham ao encontro do meio ambiente, mas ter o apoio das pessoas na execução dessas práticas.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS         

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Ilustrações: Silvana Santos