Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) A EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE E SEU PAPEL TRANSFORMADOR PARA OS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA
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A educação para a sustentabilidade e seu papel transformador para os trabalhadores da indústria

 

Joseane Machado de Oliveira1, Clarissa de Oliveira Arend2, Gabriela Malgarin de Lima3, Lara de Oliveira Bierei4, Luciano Braga Souto5

 

1 Engenheira Química. Mestre em Gestão Ambiental. Coordenadora do Núcleo Tecnológico de Informação, Capacitação e Projetos do Centro Nacional de Tecnologias Limpas - SENAI/UNIDO/UNEP (joseane.oliveira@senairs.org.br)

2 Tecnóloga em Gestão Ambiental. Mestranda em Strategic Leadership towards Sustainability. (cntl.tecnologias@senairs.org.br)

3 Graduanda em Gestão Ambiental. (cntl.informacao@senairs.org.br)

4 Engenheira Ambiental. (lara.bierei@senairs.org.br)

5 Engenheiro de Produção. (luciano.souto@senairs.org.br)

 

Resumo

 

Este trabalho provém de uma iniciativa do Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Sul (SESI/RS), de desenvolver, no âmbito do seu Programa de Educação Continuada, um curso de sustentabilidade ambiental capaz de sensibilizar e capacitar os trabalhadores da indústria, a evoluírem diante de suas práticas cotidianas. Como parceiro deste projeto, está o Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI/UNIDO/UNEP (CNTL), que auxiliou na parte técnica e prática, elaborando o material didático e ministrando os cursos. O trabalho iniciou com o Projeto Piloto do Curso de Sustentabilidade Ambiental, em uma empresa calçadista do estado do Rio Grande do Sul, onde foram definidos seis temas cruciais, relacionados com sustentabilidade.

 

Palavras-chave: Educação ambiental. Indústria.

 

Abstract

 

This paper results from an initiative of Social Service of Industry –SESI of Rio Grande do Sul (SESI/RS), to create an environmental sustainability training program for industry workers, aiming at raising awareness and knowledge, in their daily practices. As a partner in this project, the National Cleaner Production Center SENAI/UNIDO/UNEP (CNTL) provided technical and practical assistance, elaborating the training material and teaching the courses. The work started with a pilot project in a shoemaking industry in Rio Grande do Sul. The trainings are divided in six priority sustainability themes.

 

Key words: Environmental education. Industry.

 


 

1    Introdução

 

O presente trabalho provém de uma iniciativa do Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Sul (SESI/RS), de desenvolver um curso de sustentabilidade ambiental que não demandasse carga horária extensiva, mas capaz de sensibilizar e capacitar os trabalhadores da indústria a evoluírem diante de suas práticas cotidianas. Como realizador deste projeto, está a Unidade Estratégica de Resultados de Educação do SESI/RS, como parceiro o Centro Nacional de Tecnologias Limpas SENAI/UNIDO/UNEP (CNTL) e com o apoio do SESI Departamento Nacional e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). O CNTL auxiliou na parte técnica e prática, elaborando o material didático e ministrando os cursos para as empresas.

Este trabalho começou a partir do desenvolvimento do Projeto Piloto para o Curso de Sustentabilidade Ambiental em uma empresa do setor calçadista do estado do Rio Grande do Sul. A partir do levantamento de dados e visitas na empresa, fez-se um diagnóstico ambiental, sendo possível direcionar o curso conforme o perfil da empresa e dos funcionários.

Para viabilidade do curso, dividiram-se os assuntos em seis módulos, com os temas relacionados à sustentabilidade e baseados nas principais necessidades identificadas na indústria. A temática é abordada de forma transversal, abrangendo além do ambiente de trabalho, com informações e práticas para o cotidiano dos educandos.

A sustentabilidade ambiental é um tema latente na sociedade, pois relaciona diretamente a qualidade de vida dos seres vivos ao zelo e cuidados à natureza. A partir do estreitamento da legislação e dos impactos já percebidos pela população, as empresas são o foco inicial das exigências de adequação e sensibilização à problemática ambiental.

A educação ambiental é uma ferramenta que auxilia na transmissão do conhecimento e na ampliação da percepção em relação aos impactos que podemos causar na natureza e, portanto, a nós mesmos. Segundo Barbieri (2007), a educação ambiental funciona como um instrumento de política pública, que tem como objetivo preparar o ser humano para viver em harmonia com o meio ambiente e o desenvolver uma população mundial consciente, que atue individual, ou coletivamente, na busca por soluções e na prevenção dos problemas ambientais.

Justifica-se a importância da educação ambiental no ambiente de trabalho, pois é nele que boa parte da vida do trabalhador se desenrola, e sendo assim, a sua qualidade de vida depende da qualidade daquele ambiente (SILVA, 2000 apud SOARES, 2007).

Como nenhuma mudança de comportamento é alcançada sem conectar a educação e a inserção ao problema, as empresas apresentam grande potencial na promoção dos conceitos de sustentabilidade, já que podem unir esses dois pontos chaves, e assim, atingir a sociedade como um todo, de maneira mais eficiente. Nas empresas, as atividades dos trabalhadores podem ser utilizadas como exemplo do potencial humano de construir e, ao mesmo tempo, de destruir, dependendo do nível de engajamento ambiental.

Educar ambientalmente significa: a) reduzir os custos ambientais, à medida que a população atuará como guardiã do meio ambiente; b) efetivar o princípio da prevenção; c) fixar a ideia de consciência ecológica, que buscará sempre a utilização de tecnologias limpas; d) incentivar a realização do princípio da solidariedade, no exato sentido que perceberá que o meio ambiente é único, indivisível e de titulares indetermináveis, devendo ser justa e distributivamente acessível a todos; e) efetivar o princípio da participação, entre outras finalidades (FIORILLO, 2000 apud SOARES, 2007).

Contudo, vale lembrar que as técnicas de ensino-aprendizagem devem ser adaptadas de acordo com o público alvo, necessidade e interesse. A capacitação de um adulto deve se diferenciar de uma capacitação para uma criança, ou jovem, por exemplo. O conteúdo a ser apresentado para adultos geralmente fica direcionado para a adequação dos trabalhadores para determinadas funções, a fim de repassar informações referentes ao funcionamento de um sistema ou processo produtivo (RUSCHEINSKY, 2002).

Para que se busque a realização do direito a um ambiente ecologicamente equilibrado [...] é necessário também despertar nos indivíduos o desejo de participar na construção da sua cidadania, levando os indivíduos e grupos a perceberem a relevância de ação imediata para o encaminhamento das demandas relativas ao meio ambiente (RUSCHEINSKY, 2002).

 

2    Metodologia

 

Para a definição dos temas a serem abordados, foi realizado um diagnostico da situação atual da empresa piloto em relação a suas praticas de sustentabilidade. Foram feitas visitas às suas instalações, à central de triagem de resíduos e ao aterro industrial que recebe os resíduos da empresa, com a finalidade de:

 

·         Estabelecer um contato inicial com os colaboradores,

·         Entender o fluxo de processos,

·         Identificar os principais pontos de geração de resíduos,

·         Conhecer os principais resíduos gerados na produção,

·         Verificar as práticas de gestão ambiental da empresa,

·         Acompanhar o fluxo de resíduos fora da empresa (central de triagem – aterro industrial),

·         Conhecer a destinação final dos resíduos.

 

A partir dos diagnósticos realizados, juntamente com o conhecimento e experiência dos técnicos do CNTL, foram definidos seis módulos de capacitações, com os seguintes temas:

 

·         Módulo 1: Problemática Ambiental (Principais problemas ambientais globais);

·         Módulo 2: Resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas;

·         Módulo 3: Sistema de Gestão Ambiental (SGA);

·         Módulo 4: Legislação e meio ambiente;

·         Módulo 5: Desenvolvimento sustentável;

·         Módulo 6: Boas práticas e prevenção da poluição.

 

Antes do inicio das capacitações, verificou-se o nível de conhecimento e práticas de sustentabilidade dos participantes, a fim de se conhecer melhor o público com o qual seria trabalhado. Neste sentido, foram desenvolvidos questionários compostos de 12 questões (6 sobre o nível de práticas e 6 sobre o nível de conhecimentos), nas seguintes áreas: consumo de água, consumo de energia, consumo de materiais, resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos.

Os questionários foram aplicados antes e após realização das capacitações, com um intervalo de tempo de aproximadamente um mês. O objetivo foi identificar o conhecimento e as práticas dos trabalhadores com relação ao meio ambiente, revelar o perfil dos colaboradores da empresa quanto aos temas em questão e identificar principais lacunas de conhecimento e dificuldades de práticas sustentáveis, visando melhor direcionar os treinamentos.

As informações referentes aos conhecimentos dos participantes foram utilizadas como base para a elaboração do material didático confeccionado para as capacitações, que contém manuais, apresentações em power point e dinâmicas de grupo. Neste sentido, também foi considerado, para a elaboração dos treinamentos, o público-alvo desta capacitação, que são trabalhadores da indústria, em sua maioria do setor de produção e que possuem diferentes graus de instrução.

Desde a finalização desta etapa piloto, o projeto continua a ser desenvolvido pelo SESI/RS junto às empresas do Rio Grande do Sul. Para a realização das capacitações, as empresas entram em contato com o SESI/RS da região que agenda os atendimentos. Os módulos são individuais e podem ser aplicados em sequencia ou apenas aqueles que se aplicam melhor às necessidades da empresa. O técnico que fará o atendimento entra então em contato com a empresa para obter informações sobre o setor e processo produtivo, para que o conteúdo da capacitação possa ser customizado ao perfil e necessidades da empresa.

 

3    Resultados

 

O programa já capacitou mais de 2.210 pessoas em 75 empresas, dos mais diversos segmentos industriais, tais como: alimentos, higiene e beleza, construção civil, metal mecânica, borracha, limpeza, coureiro calçadista e etc. No gráfico apresentado na Figura 1, podemos visualizar os setores atendidos nos anos de 2010 e 2011.

 

Figura 1 - Setores atendidos pelo SESI/RS em parceria com o CNTL em 2010 e 2011

 

Além das capacitações realizadas diretamente nas empresas, outras também foram realizadas nos Centro de Atividades do SESI/RS, nos quais mais de 400 pessoas, dos mais diversos setores industriais, tiveram a oportunidade de participar. As capacitações são realizadas nos centros de atividades no caso de grupos ou empresas menores. Neste caso, juntam-se os pequenos grupos para viabilizar o atendimento.

O número de atendimentos vem crescendo significativamente a cada ano como mostra o gráfico a seguir (Figura 2), visto que a indústria tem percebido que estas capacitações são grandes oportunidades de conscientização na rotina de vida e trabalho dos colaboradores.

 

Figura 2 - Atendimentos realizados pelo SESI/RS em parceria com o CNTL em 2010 e 2011

 

As empresas atendidas têm demonstrado um alto grau de satisfação com os atendimentos e apontam diversas melhorias nas práticas da empresa e cultura organizacional, como pode ser visto no depoimento a seguir, da responsável pelo Sistema de Qualidade e Ambiental, da empresa JOMO Thermomolding:

Os cursos de Sustentabilidade Ambiental trouxeram muitas expectativas para a instituição que até então nos sentíamos um pouco sem apoio, ou seja, não sabíamos ou não tínhamos onde buscar conhecimentos para promover a melhoria da conscientização e práticas de sustentabilidade na indústria.

Recebemos informações riquíssimas que nos permitirá colaborar e participar do desenvolvimento da instituição de forma organizada em vários aspectos, desde a legalidade, aspectos jurídicos, pessoais, administrativo e funcional. Precisávamos dessa iniciativa e temos muito a agradecer a FIERGS, por nos propiciar oportunidade/conhecimento de desenvolver a sustentabilidade de forma organizada e com subsídios para promover a qualidade de vida do público alvo envolvido.” (JOMO THERMOMOLDING, 2011).

 

4    Conclusões

 

Os resultados do projeto piloto demonstram o êxito no atingimento das metas do programa, no que diz respeito à capacitação dos funcionários e desenvolvimento de conhecimentos e práticas de sustentabilidade ambiental. Os resultados dos questionários realizados na empresa piloto, de acordo com Souto (2010), demonstram um aumento de 53% nas competências avaliadas.

Dessa forma, percebe-se que a educação ambiental na indústria contribui para ampliação da visão e inserção da sociedade em geral nas questões ambientais, e assim favorece para o alcance do direito ao meio ambiente equilibrado e à sadia qualidade de vida.

Os depoimentos e comentários, tanto dos educandos como gestores das empresas atendidas, demonstram um alto grau de satisfação e contentamento, o que comprova o sucesso do programa. Além disto, conforme apresentado nos resultados, a demanda pelas capacitações vem crescendo aceleradamente, o que confirma a importância dos atendimentos para as indústrias.

Também observa-se, com a diversidade de setores atendidos, que a abrangência do programa vem crescendo, e já abrange diversas indústrias relevantes para a economia do estado.

 


 

Referências bibliográficas

 

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2007.

 

JOMO THERMOMOLDING. Depoimento. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por: em dez. 2011.

 

RUSCHEINSKY, Aloísio. Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

 

SOARES, Evanna. Educação ambiental no trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1505, 15 ago. 2007. Disponível em: . Acesso em: 19 jan. 2012.

 

SOUTO, Luciano Braga. Relatório final do projeto piloto para o curso de Sustentabilidade Ambiental. Porto Alegre, 2010. Apresentação em Power Point.

 

Ilustrações: Silvana Santos