Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) TEATRO COMO FORMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EM SAÚDE
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Teatro como forma de educação ambiental e em saúde

 

Keyt Braz TeixeiraI, Paula Gabriela Melges de MoraisII, Camyla Alves LeonelIII, Lissa Araújo SoaresIV, Gioconda Gambogi ForestiV, Fabiana de Carvalho SoutoVI, Stênio Nunes AlvesVII

 

IAcadêmica de Graduação em Bioquímica da UFSJ. Bolsista PET 2010-2012. Minas Gerais, Brasil. E-mail: keyt_teixeira@hotmail.com

IIAcadêmica de Graduação em Enfermagem da UFSJ. Bolsista PET 2010-2012. Minas Gerais, Brasil. E-mail: paulagmorais@hotmail.com

IIIAcadêmica de Graduação em Farmácia da UFSJ. Bolsista PET 2010-2012. Minas Gerais, Brasil. E-mail: ca-leonel@hotmail.com

IVAcadêmica de Graduação em Medicina da UFSJ. Bolsista FAPEMIG 2011-2012. Minas Gerais, Brasil. E-mail: lissoka@hotmail.com

VEspecialista em Saúde Pública. Servidora da Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis. Minas Gerais, Brasil. E-mail:

VIEspecialista em Saúde Pública. Servidora da Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis. Minas Gerais, Brasil. E-mail:

VIIDoutor em Ciências. Docente do Campus Centro-Oeste Dona Lindu da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSj). Minas Gerais, Brasil. E-mail: stenioalves@ufsj.edu.br

 

 

 

Correspondência:

Stênio Nunes Alves

Campus Centro-Oeste Dona Lindu

Universidade Federal de São João del-Rei,

Av. Sebastiao Goncalves Coelho 400

35501-296 – Divinopolis

MG, Brasil

E-mail: stenioalves@ufsj.edu.br

 

 

 

RESUMO

O presente relato de experiência objetiva-se por mostrar o desenvolvimento e apresentação da peça de teatro “Gnomos de Gnu” adaptada do texto de mesmo nome de Umberto Eco, à comunidade do município de Divinópolis, como forma de educação ambiental e em saúde. Alunos de quatro cursos da UFSJ, duas preceptoras vinculadas à Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis e um tutor professor da universidade elaboraram uma peça teatral com o tema lixo e vetores de doenças. Os membros da peça confeccionaram figurinos e objetos de cena com material reciclável e paralelo ao tempo de confecção realizaram a preparação e ensaio da peça. Os participantes deste relato efetuaram apresentações da produção à população em praças e escolas públicas no sentido de orientar e educá-la com o tema proposto. O teatro mostrou-se uma alternativa capaz de entreter, comunicar e educar de forma lúdica e prazerosa a respeito dos temas abordados. Esta forma de abordagem possibilitou ainda a utilização de uma linguagem clara, facilitando o entendimento e compreensão dos temas tratados, proporcionando uma troca de saberes entre a população e os membros da peça.

 

Palavras-chaves: Lixo. Vetores. Teatro.

 

 

INTRODUÇÃO

O lixo é um problema social, econômico, sanitário e ambiental e um componente importante do perfil epidemiológico de uma comunidade, exercendo influência sobre a incidência de doenças juntamente com outros fatores (CATAPRETA & HELLER, 1999). O destino incorreto do lixo causa sérios danos ao homem e ao meio, sendo a poluição da água o problema mais comum devido à decomposição dos detritos. Também ocorre a poluição do solo, acarretando a desertificação pelo uso de tecnologias inadequadas, queimadas e a destruição de mata/vegetação. Além disso, a poluição do ar ocasiona danos à saúde e desequilíbrios dos ecossistemas pela emissão de dióxido de enxofre, monóxido de carbono, fuligem, fumaça e poeira. Entretanto, não se pode afirmar que o lixo seja a causa direta de doenças, porém está comprovado o seu papel na transmissão destas provocadas por macro e microrganismos que vivem ou são atraídos pelo lixo. Assim, há diversas doenças relacionadas ao lixo doméstico como a cisticercose, cólera, disenteria, febre tifoide, giardíase, leishmaniose, leptospirose, salmonelose e toxoplasmose (ABREU, 1990), podendo-se dizer que atualmente a dengue também está relacionada com o lixo.

         O acúmulo de água e lixo pela população de maneira incorreta, tornam-se incompatíveis com a vida humana, porém compatíveis com a criação de reservatórios de vetores. Desta forma, a influência do manejo inadequado do lixo sobre a saúde humana tem despertado a atenção de diversas entidades e profissionais ligados ao saneamento, face à presença nas cidades de inúmeros locais de acúmulo de lixo que propiciam um triste quadro de degradação social e ambiental. O lixo mal acondicionado significa poluição ambiental e risco à segurança da população (ABREU, 1990).

         No município de Divinópolis, MG, atualmente cerca de 130 toneladas diárias de lixo são jogadas no aterro controlado. Moscas, pássaros, ratos, entre outros animais, passeiam em meio aos dejetos a céu aberto. Entretanto, a coleta seletiva no município é regulamentada pela Lei Nº 4738 de 02 de maio de 2000, mas somente cerca de 8 bairros, de mais de uma centena existentes no município, tem algum tipo de coleta seletiva.

         Uma maior informação da população poderia ajudar o município a fazer com que as leis fossem cumpridas. Assim, a educação tem importante estratégia de promoção da saúde. Para a OPAS (1995), a educação é vista como o processo de transformação do sujeito, que ao transformar-se, modifica seu entorno e vice-versa. A transformação dos sistemas sociais só é possível mediante a transformação dos seres humanos que os configuram. O entendimento da comunidade e a participação na vida social são considerados ações importantes para a transformação da realidade.

         Assim, um projeto desenvolvido para o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - Vigilância em Saúde (PET-Saúde/Vigilância em Saúde) associado com outro vinculado ao edital de extensão em interface com a pesquisa da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) teve como objetivo educar e interagir com a comunidade temas relacionados com o manejo do lixo, a proliferação de vetores e as doenças a eles relacionadas numa perspectiva de educar ambientalmente. Assim, foram criados vários artifícios para esta educação, entre elas uma peça teatral.

            A escolha da peça para a abordagem do tema foi dada por acreditar-se que essa forma lúdica de aprendizagem é um enorme facilitador. De acordo com Brum e Pereira (1996), a educação lúdica contribui e influencia a formação de crianças e adolescentes, possibilitando assim crescimento e enriquecimento saudável, constante e integrado a prática democrática numa produção séria de conhecimento. Associado a isto, é importante citar que a arte, área na qual incluímos o teatro, tem como função essencial causar transformações na sociedade e assemelhar-se a uma “lupa social”, esclarecendo e estimulando ações dos que a vêem (COSTA, 2004). Neste sentido, considera-se que a apresentação teatral sobre problemas ambientais possa gerar esclarecimentos e incitar atitudes pelos seus espectadores.

         Soares et al. (2011) num  relato de experiência aborda que o teatro como estratégia lúdica para o trabalho educativo com as equipes de Saúde da Família vislumbra estratégia pedagógica eficaz para a aquisição de conceitos de saúde, recurso de lazer e espaço de convivência, além de poder servir de estímulo para adoção de diferentes estratégicas sobre educação em saúde da população.

         Assim, o presente relato de experiência objetiva-se por mostrar o desenvolvimento e apresentação da peça de teatro “Gnomos de Gnu” adaptada do texto de mesmo nome de Umberto Eco, à comunidade do município de Divinópolis, como forma de educação ambiental e em saúde.

 

METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência realizado por quatro alunas, cada uma de um curso (bioquímica, enfermagem, farmácia e medicina) do Campus Centro-Oeste Dona Lindu da Universidade Federal de São João del-Rei (CCO/UFSJ), duas preceptoras vinculadas à Secretaria Municipal de Saúde de Divinópolis (SEMUSA), um tutor professor da UFSJ e colaboradores externos como maquiador, fotógrafo e figurinista, a partir do desenvolvimento de dois projetos de extensão no município de Divinópolis-MG. Os projetos foram desenvolvidos na intensão de promover ações de caráter educativo, dentre elas uma atividade lúdica, que procurou suprir a carência de informações para a promoção e prevenção de doenças neste contexto.

Para a estratégica metodológica utilizada, contou-se com a participação ativa das alunas e preceptoras na elaboração do texto “Gnomos de Gnu”, adaptação do escrito de mesmo nome de autoria de Umberto Eco. A produção foi composta apenas de figurino e alguns materiais acessórios como uma nave, um telescópio, um mapa com os continentes do nosso planeta e um animal de pelúcia. A peça também contou com efeitos soros e músicas.

Todos os acessórios e figurinos foram confeccionados pelos atores com materiais coletados do lixo encontrado nas ruas e estabelecimentos comerciais do município.

A peça foi constituída por cinco personagens: Gnomo, Exploradora Galáctica (EG), Imperatriz, Ministra e Narradora, além de uma sonoplasta. Ela foi apresentada em praças e instituições de ensino públicas do município durante o período de maio de 2011 a junho de 2012.

 

O TEXTO

O planejamento da atividade educativa iniciou-se através de reuniões do professor tutor e coordenador do projetos (PET-Saúde/ Vigilância em Saúde e Extensão da FAPEMIG) com as alunas bolsistas (PET-Saúde/Vigilância Ambiental e FAPEMIG) e preceptoras (PET-Saúde/Vigilância Ambiental). Tal planejamento foi dimensionado a partir da vivência das preceptoras, que realizam trabalhos educativos através da Vigilância em Saúde no município.

A partir de então foi construído um texto englobando o lixo e vetores de doenças de uma forma lúdica e atraente para a população. Assim, “Gnomos de Gnu”, serviu como base para a construção do texto e por conseguinte da peça teatral que apresentou cinco personagens.

O texto relacionou aspectos ambientais vividos nesse planeta, bem como vetores de doenças e o lixo produzido através de um contexto interplanetário, com ênfase em   mostrar à plateia temas do cotidiano das pessoas, além de informar sobre questões  sócio-econômicas, cuidados e destruição do meio ambiente, objetivando o envolvimento com alegria, ludicidade, beleza, agradabilidade e criatividade para a construção de conceitos da questão ambiental como proposto por Philippi Jr. & Pelicioni (2005), além de questões em saúde.

Assim, o texto estaria de acordo com WHO (1978), relatando que os indivíduos deveriam conhecer melhor suas próprias condições de saúde, de modo que a partir disto, pudessem se transformar em agentes interessados em promover seu próprio desenvolvimento, em vez de representarem apenas meros receptores passivos da ajuda veiculada por outros, muitas vezes até desnecessária. 

 

O FIGURINO, OS SONS E OS ENSAIOS

Em paralelo aos ensaios, foi realizada a confecção dos figurinos (Figura 1) utilizando-se materiais recicláveis como anéis de latas de alumínio no manto da Imperatriz. Personagem esta que foi inspirada no imperialismo Chinês que está assombrando nosso mundo atual com sua economia, população e poluição. O óculos da Ministra, foi achado no lixo e depois de limpo colocou-se uma lente de vidro. Seu figurino foi inspirado nos mandarins chineses. Utilizou-se também a papietagem com embalagens de alumínio para confeccionar o capacete e a nave intergaláctica da personagem EG, dando um aspecto mais fictício. Assim como, tubos de retrós de linha para a confecção do seu telescópio.

O figurino do Gnomo de Gnu foi inspirado nos gnomos do Tirol, região entre Áustria e Itália e apresentava-se com um chapéu verde. Já a Narradora, foi inspirada nos personagens da Commedia Dell'arte e foi composta além da roupa, por uma boina confeccionada de retalhos de pano e por uma máscara.

 

 

Figura 1: Personagens da peça Gnomos de Gnu (da esquerda para direita: Gnomo, Narradora, Ministra, Exploradora Galáctica e Imperatriz)

 

A sonoplasta, uma das preceptoras, foi a responsável por criar os efeitos sonoros de água, fogo, raios entre outros. E as músicas selecionadas foram todas da trilha sonora do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” dirigido por Jean-Pierre Jeunet.

Os ensaios ocorreram durante três meses com a supervisão das preceptoras e o auxilio de um figurinista, maquiador e fotógrafo, todos ligados a grupos de arte no município, tendo o propósito de se atingir a perfeição de peças teatrais profissionais. Dessa forma, o figurinista passou a ser o diretor de figurino e diretor geral da peça e foram feitas filmagens e fotografias dos ensaios na tentativa de se corrigir os erros. Ao término dos ensaios, ocorreram as apresentações em dias agendados conforme disponibilidade das instituições ou através da solicitação de associações de bairros.

 

A PEÇA

            Toda a história se passa no fictício planeta de Gnu, onde a EG aterrissa sua nave após uma viagem em busca de um novo planeta para a Imperatriz civilizar. Ao chegar em Gnu, EG fica impressionada com a beleza e preservação do lugar:

            “Espere aí! O que é aquilo que estou vendo? Um pequeno planeta azul e lindo, com florestas de um verde que dá gosto só de olhar e animais de tantas raças que eu nem conheço... E os homens! Pequeniníssimos... Podam as árvores, dão comida aos passarinhos, nadam em rios e cachoeiras de água tão limpinha que dá pra ver no fundo os peixinhos...”

O Gnomo, então, entra em cena, e após um período de estranhamento entre os dois personagens, começam a conversar. Na conversa, EG relata ao Gnomo que está ali para descobrir e civilizar aquele planeta e, para que o Gnomo entenda o que é a civilização, EG, orgulhosamente, mostra o planeta Terra a ele por meio de um telescópio. Contudo, o Gnomo apenas vê fumaça, mares poluídos, florestas desmatadas, pessoas doentes, congestionamentos, acidentes automobilísticos, entre outros infortúitos:

“Mas o que é aquela superfície cinza com aquelas coisas esbranquiçadas em cima, sem árvores e toda cheia de latas vazias?” – Gnomo

“São os nossos campos... Admito que cortamos árvores um pouco demais, e depois as pessoas tem o péssimo costume de jogar fora em qualquer lugar saquinhos de supermercado, pacotes de biscoito, latinhas de alumínio, garrafas de refrigerantes, etc., etc.” – EG

“Você está vendo aquela criança cheia de pintinhas vermelhas e tomando soro na veia? Então, ela está com uma doença chamada Dengue, porque foi picada por um mosquito que vive na água parada do lixo  que os humanos jogam... Vocês têm isso aqui em Gnu?” – EG

Após várias constatações negativas sobre a civilização terrestre, o Gnomo relata à EG que não seria uma boa ideia eles levarem a civilização para o planeta Gnu e propõe a ela que os Gnomos de Gnu fossem ao planeta Terra para “descobri-los”. EG acha uma excelente ideia, já que em Gnu tudo é tão bonito, preservado e as pessoas vivem tranquilamente, sem prejudicar o ambiente e sem colaborarem para a proliferação de doenças. Ela volta ao seu planeta para contar sobre o que encontrou em sua viagem e sobre a proposta do Gnomo à sua Imperatriz e à  Ministra, mas a Ministra rapidamente questiona a sugestão da EG:

“Quanto a deixar esses Gnomos de Gnu virem aqui, é melhor pensar EG. É necessário que eles tenham passaporte, que paguem a taxa de imigração, o visto de entrada e depois é preciso autorização da polícia, dos guardas florestais e da capitania dos portos, a vacina da febre amarela, da H1N1... Pensando bem, nem pensar EG, nem pensar!” – Ministra

Ao final, a narradora da peça deixa um recado para os espectadores incitando-os a fazerem o que teriam feito os Gnomos de Gnu se tivessem deixado de ir para a Terra.

Além disso, após o término das apresentações as atrizes se identificam como alunas da UFSJ e preceptora da SEMUSA e promovem uma interação entre os espectadores para esclarecimento das questões relativas ao tema abordado.

 

O PÚBLIO E OS PERSONAGENS

Através da participação ativa do público pôde-se evidenciar que a estratégia de educação ambiental e em saúde utilizando o teatro mostrou-se importante para a promoção dessas ações, visto que esta estratégia foi capaz de entreter, comunicar e educar de forma lúdica e prazerosa a respeito dos temas abordados. Esta forma de abordagem possibilitou ainda a utilização de uma linguagem clara, facilitando o entendimento e compreensão dos temas tratados, proporcionando uma troca de saberes entre a população e as acadêmicas, já que a comunicação entre ambas foi estimulada através do diálogo que ocorria de maneira descontraída permitindo ainda a orientação diante aos temas tratados.

Não foi somente o público que foi educado com a peça, mas os integrantes também aprenderam muito. Alguns relatos mostram a importância da participação nesta ludicidade teatral e na compreensão da educação para a população:

Apresentar a peça Gnomos de Gnu me encantou de várias maneiras: ao prepará-la tornei-me mais consciente acerca do nosso papel em proteger o meio ambiente; ao apresentá-la percebi que nós, do meio acadêmico, somos uma arma fundamental para despertar a consciência do próximo ao compartilharmos nossos conhecimentos; e, ao ver o sorriso e olhos atentos de cada criança, adolescente, adulto ou idoso durante as apresentações, senti que nosso empenho já gerava frutos, e isso me deixou muitíssimo feliz.” – EG.

A educação ambiental e em saúde de forma lúdica se mostrou uma ótima maneira para estabelecer comunicação com a população, sendo que os temas abordados foram transmitidos de forma clara e prazerosa para os que a receberam.” Ministra.

Presenciamos o empenho do governo federal em favor da educação de qualidade a todos os níveis de aprendizado e constatamos que a soma de esforços neste sentido foi de valor considerável aos bons profissionais que a sociedade precisa. Presenciamos também a preocupação com a formação do indivíduo que levará seus conhecimentos e seu trabalho para a comunidade na qual estará inserido.” Sonoplasta.

Segundo Gazzinelli et al. (2005), neste processo educativo pode-se constatar a troca de saberes entre aquele que educa e aquele que é educado. Assim, através da linguagem cênica, revela-se possibilidades de trabalho de assuntos concernentes à promoção da saúde, à prevenção de doenças (SOARES; SILVA; SILVA, 2011) e a educação ambiental.

Desta forma, neste trabalho voltado para a educação, ressalta-se ainda as palavras de Rubem Alves (2003):

 “ Eu acho, ao contrário, que o essencial na educação é a formação de pessoas mais sensíveis, mais abertas à beleza, mais preocupadas com o destino do mundo, mais desejosas de deixar um mundo melhor para as futuras gerações. Isso, estou convencido, não pode ser feito pela ciência. Minha esperança é de que a poesia possa fazê-lo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta atividade foi de grande relevância, tendo em vista que o trabalho através do teatro realizado permitiu a participação e colaboração de todos envolvidos, bem como a integração da academia com a comunidade. Demonstrou que o teatro é uma excelente ferramenta para o desenvolvimento de atividades de educação em saúde, uma vez que traz em cena os acontecimentos cotidianos, chamando atenção para temas importantes que muitas vezes passam despercebidos. Além disso, a realização destas atividades na comunidade avigora o conhecimento teórico da academia, proporcionando uma troca de saberes entre a população e as acadêmicas.

Além disso, segundo Catóia (2004) ao se educar crianças e adolescentes, possibilita-se a propagação do conhecimento dos alunos para a comunidade. Entretanto, ressalta-se que não somente esse grupo de educandos mas, também adultos, principalmente aqueles estudantes das Escolas de Jovens e Adultos.

Diante do exposto, percebe-se que a apresentação teatral como forma de promoção de educação em saúde pode ser importante instrumento para a população, independente da idade, gerando uma diversidade do conhecimento, principalmente quando há troca de informações, não só dos espectadores para com os integrantes da peça, mas também dos espectadores para com eles mesmos.

Assim, projetos de extensão onde diferentes personagens, entre os quais alunos, preceptores e tutores possam atuar como agentes transformadores e multiplicadores na promoção de educação em saúde e educação ambiental são de grande importância à população. Estes tipos de atividades extensionistas fazem com que os próprios atores, no âmbito de seus conhecimentos possam interagir agindo numa multidisciplinaridade a partir da formação de cada um. Além disso, esses projetos levam conhecimento à população na tentativa de melhorar a qualidade de vida de cada cidadão e assim evitar problemas de saúde futuros.

Desta forma, é necessária a construção de processos educativos que incorporem a abordagem sócio-ambiental na análise dos problemas de vida e saúde, baseados numa pedagogia libertadora. A integração da educação em saúde e da educação ambiental relacionadas com o lixo e vetores de doenças poderão ser um dos suportes para a recomposição das práticas pedagógicas na atenção básica. A contribuição da educação ambiental, enquanto processo político/pedagógico para uma nova relação sociedade/ambiente, pode resultar em um posicionamento mais crítico da população e dos profissionais de saúde frente aos desafios para melhoria da qualidade de vida. 

Espera-se que outros trabalhos sejam desenvolvidos para aperfeiçoamento desta atividade e desenvolvimento de outras práticas lúdicas para a população que se faz carente de atividades recreativas com educação.

Trabalhar com educação em saúde e ambiente de forma lúdica amplia a consciência do real papel do cidadão no mundo, de maneira a encorajar as pessoas a mudarem seus hábitos por melhores condições de saúde e meio ambiente.” – Narradora.

 

 

AGRADECIMENTOS

À Vívian Lopes, figurinista; Paulo Salles, fotógrafo; Neli Marques de Souza diretor geral e de arte; FAPEMIG, Ministério da Educação e da Saúde pelos auxílios.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ALVES, R. Lições de Feitiçaria - Meditações Sobre a Poesia. São Paulo: Loyola Edições, 2003, 195p.

BRUM, Z.; PEREIRA, M.A. Educação em saúde enfocando higiene, sexualidade e drogadição junto aos meninos de rua na faixa etária de 11 a 14 anos. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 9, p. 333-342, 1996.

CANTÓIA, S. F. Educação Ambiental e Coleta Seletiva em Presidente Prudente-SP:Avaliando seus resultados no Conjunto Habitacional Ana Jacinta. In: Congresso de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável-ICTR 2004, 2004, Florianópolis-SC. Anais do Congresso de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável-ICTR 2004, 2004.

CATAPRETA, C.A.A.; HELLER, L. Associação entre coleta de resíduos sólidos domiciliares e saúde, Belo Horizonte (MG), Brasil. Revista Panamericana de Salud Publica, v. 5, p. 88-96, 1999.

COSTA, A.S. Teatro – educação e ludicidade: novas perspectivas em educação. Revista da FACED, v. 8, p. 95-108, 2004.

GAZZINELLI, M.F.; GAZZINELLI, A.; REIS, D.C.; PENNA, C.M.M. Educação em saúde: conhecimentos, representações sociais e experiências da doença. Cadernos de Saúde Pública, v. 21, p. 200-6, 2005.

OPAS. Pan American Health Organization. Dengue and dengue hemorrhagic fever in the Americas: guidelines for prevention and control. Washington DC: Pan American Health Organization; 1995. (Scientific Publication 548).

PHILIPPI JR., A.; MALHEIROS, T.F. Saneamento e saúde pública: integrando homem e meio ambiente. In: Philippi Jr., A. Saneamento saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005, 842 p.

SOARES, S. M.; SILVA, L. B. ; SILVA, P. A. B. S. O teatro em foco: estratégia lúdica para o trabalho educativo na saúde da família. Escola Anna Nery, v. 15, p. 818-824, 2011.

WHO. World Health Organization/UNICEF. 1978. Primary health cares: joint report. Geneva.

 

Ilustrações: Silvana Santos