Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Trabalhos Enviados
31/05/2013 (Nº 44) PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA COMUNIDADE PESQUEIRA DO MUNICÍPIO DE RAPOSA – MARANHÃO
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UTILIZAÇÃO DE COLEÇÕES ENTOMOLÓGICAS EM AULAS PRÁTICAS NO ENSINO MÉDIO

Percepção socioambiental da comunidade pesqueira do município de Raposa – Maranhão.

 

 

 

Luana Fontoura Gostinski1, Rafaela de Souza Cavalcante2

 

 

1Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Departamento de Biologia, Laboratório de Estudos Sobre Abelhas - LEA

Email: gostinskilf@hotmail.com

2 Universidade CEUMA, Departamento de Biologia

 


 

Percepção socioambiental da comunidade pesqueira do município de Raposa – Maranhão

 

 

Luana Fontoura Gostinski1, Rafaela de Souza Cavalcante2

 

1Msc. Biodiversidade e Conservação - Universidade Federal do Maranhão – UFMA; Av dos Portugueses, s/n, Bacanga, São Luís – MA, CEP 65080-805; Fone:+559833018544; Email: gostinskilf@hotmail.com

2Graduanda em Ciências Biológicas – Universidade CEUMA -  Rua Josué Montello, nº 1, Renascença II, São Luís-MA, CEP 65.075-120; Fone: +55983214 4190; Email: r.cavalvante24@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

A comunidade pesqueira do “Porto do 400” está inserida em uma área frágil e importante como a zona costeira. Foram aplicados questionários nos anos de 2007 e 2012 para a análise da qualidade de vida e percepção ambiental das famílias residentes. Bem como a observação das mudanças estruturais e comportamentais dos moradores entrevistados.

 

Palavras-chave: Saneamento básico, zona costeira, educação ambiental.

 

Introdução

 

O processo de urbanização no Brasil ocorre de forma rápida e desordenada, gerando a ocupação em áreas inadequadas para a moradia (Borelli, 2007), onde o Poder Público não consegue atender as demandas de saneamento básico. Levando assim, a baixa qualidade de vida dos que residem nestas áreas.

Os serviços de saneamento básicos necessários para a boa qualidade de vida humana são abastecimento de água de qualidade para consumo, esgotamento sanitário, drenagem urbana e limpeza e coleta de lixo. Tais serviços são considerados pela OMS como controladores do bem estar físico, mental e social do homem (Philippi Jr & Malheiros, 2005).

A comunidade residente nas áreas sem saneamento básico necessita de atenção e projetos sociais que juntamente com o Poder Público levem a assistência necessária os moradores. Surgindo assim, a Educação Ambiental, como processo de auxílio e conscientização, trazendo com ela a Percepção Ambiental, que nada mais seria que a tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo (Ferreira, 2001).

Nesse destarte, esse trabalho teve como objetivo analisar e compreender a percepção socioambiental dos moradores da comunidade pesqueira do “Porto do 400” quanto a qualidade de vida e meio ambiente, ressaltando os aspectos de saneamento, habitação e problemática ambiental.

 

Materiais e Métodos

Área de estudo

A comunidade pesqueira do “Porto do 400” está localizada no município de Raposa, na APA de Upaon–Açu /Miritiba /Alto Preguiças. Circundada por manguezal, dunas e rios, fica a beira da praia denominada “Olho de porco” (Figura 1).

Composta basicamente pela comunidade pesqueira da região, também agrega um pequeno comércio e algumas casas de veraneio. Totalizam 35 famílias residentes na área.

 

mapa local porto 400.jpg

Figura 1 – Mapa de localização da comunidade “Porto do 400”, município de Raposa – MA.

 

Amostragem de dados

Foram aplicados questionários nos anos de 2007 e 2012, para uma análise comparativa da situação socioambiental da comunidade. O questionário continha 11 perguntas objetivas, que pretendiam identificar a presença de sistema de esgoto, abastecimento de água, destino dos resíduos e conhecimento da população sobre problemas ambientais da área e qualidade de vida.

As respostas foram analisadas pelo cálculo da percentagem e pela análise de conteúdo temático citados em loco.

 

Resultados e Discussões

 

No ano de 2007, foram aplicados 34 questionários (um por família, em 07/09/2007), enquanto em 2012 somente 24 (em 05/08/2012). Tal fato ocorreu devido o crescimento do número de comércio (Figura 2) e casas fechadas, pois se tratavam de casas de veraneio, relata Lavinia, chefe comunitária.

Devido à extinção da aplicação dos questionários em casas com melhor infraestrutura sanitária (casas de veraneio), podemos observar que houve um decréscimo de famílias atendidas pelo serviço de esgotamento sanitário (Figura 3), onde inicialmente em 2007, 94% não possuía acesso ao serviço e atualmente todas as famílias não o têm.

 

Figura 2 – Atual comércio da comunidade e residência de uma família no “Porto do 400”, Município de Raposa- Ma.

 

Quanto ao abastecimento de água, atualmente somente uma família (que reside nas margens do manguezal) não possui. Porém, em todas as que possuem a água, ela tem origem em um poço artesiano sem nenhum tratamento prévio ao consumo.

            Esses problemas, segundo Barroso (2002) é eminente da poluição, as estimativas mostram que 80% das doenças e mais de 1/3 da taxa de mortalidade em todo o mundo decorrem da má qualidade da água utilizada pela população ou falta de esgotamento sanitário adequado.

 

Figura 3 – Serviços de saneamento básico nos anos de 2007 e 2012, demonstrados em percentual da comunidade NÃO atendido.

 

            Já o recolhimento de resíduos se tornou frequente no ano de 2012 e os moradores melhoram sua conduta, passando a os armazenando em um local adequado para recolhimento pela rede municipal duas vezes por semana. Anteriormente, tanto resíduos orgânicos como inorgânicos eram queimados, enterrados no manguezal ou até mesmo jogados no canal de maré. Também se pode notar que os bares e os comércios são os principais geradores de resíduos e destino inadequado, como visualizado na figura 4.

 

Figura 4 – Poluição do manguezal gerada por materiais descartáveis.

 

Em 2012, cerca de 80% dos moradores demonstraram uma percepção ambiental e relataram que se incomodavam com alguns problemas ambientais, principalmente os que lhes afetavam diretamente, como a falta de estrutura sanitária local, que segundo eles, “trazia diversas doenças e degradava o ambiente”.

Outros problemas foram evidenciados pelos moradores, como: desmatamento de forma inadequada, grande quantidade de resíduos depositados no manguezal e levado pela maré, construções em locais indevidos (dunas da beira da praia), turismo desordenado, com passagem de veículos pela vegetação do mangue e restinga e ausência de um Posto de Saúde nas proximidades.

Observou-se também que boa parte da comunidade possui em grau de percepção ambiental, o que facilita a modificação das atitudes cotidianas no ambiente inserido e segundo Del Rio (1996), a percepção não é um processo passivo de recepção informativa, ela se dá pela interpretação dos estímulos antrópicos com o meio ambiente circundante.

Por fim, notou-se que pouco se modificou nos cinco anos que se passaram após a primeira análise de qualidade de vida. A não ser pela mudança de atitude da comunidade em relação a sua percepção do ambiente degradado em que se encontrava inserida.

 

Considerações Finais

 

            A comunidade do “Porto do 400” está inserida em uma área frágil e de grande importância ambiental, que é a zona costeira (composta de manguezais, dunas e restingas), responsável pela produção de 95% do alimento que o ser humano retira do mar (CPRH, 2006) e geologicamente, serve como zona de amortecimento da  faixa terrestre, evitando erosão de rios, absorção de impacto das marés bem como filtragem de sedimentos e poluentes (Coelho Jr & Novelli, 2000; Primark & Rodrigues, 2001).

Por está inserida nessa área, se faz importante a participação do Poder Público em relação à melhoria da infraestrutura e equipamentos urbanos, pois a atual não atende as condições necessárias da comunidade. Assim, orienta-se a implementação de tais serviços de saneamento básico, aliados a um programa de Educação Ambiental, visto que a comunidade já possui uma breve sensibilização para a preservação e conservação ambiental.

 

Referências bibliográficas

 

BARROSO, L.R. Saneamento básico: competências constitucionais da União, estados e municípios. Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, n. 13, abr./maio 2002.

BORELLI, E. Urbanização e Qualidade Ambiental: O Processo de Produção do Espaço da Costa Brasileira. Revista Internacional Interdisciplinar Interthesis. Florianópolis, v.4, n.1, jan./jun. 2007.

COELHO Jr, C. & NOVELLI, Y. Considerações teóricas e práticas sobre o impacto da carcinocultura nos ecossistemas costeiros brasileiros, com ênfase no ecossistema manguezal. In: MANGROVE 2000: Sustentabilidade de estuários e manguezais: Desafios e perspectivas, 2000, Recife. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2000.

CPRH. Ecossistema manguezal. Recife: Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - CPRH, 2006. Disponível em: <www.cprh.pe.gov.br/frme-indexsecao.asp? idsecao=208>. Acessado em: 06.12.12.

DEL RIO, V. “Cidade da Mente, Cidade Real. Percepção Ambiental e Revitalização na Área Portuária do Rio de Janeiro”. In: DEL RIO, V. & OLIVEIRA, L. (orgs.) Percepção Ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Universidade de São Carlos (SP). Studio Nobel, 1996.

FERREIRA, C. R. T. Avaliação da degradação ambiental urbana através da percepção ambiental: O caso do alto da bacia do limoeiro, presidente Prudente, SP. Dissertação de mestrado. Curso de Pós Graduação em Geociências. Universidade de Presidente Prudente. SP. 2001.

PHILIPPI JR, A.; MALHEIROS, T. F. Saneamento e saúde pública: integrando homem e meio ambiente. In: PHILIPPI JR, A. Saneamento saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005

PRIMARK, R. B. & RODRIGUES, E.  Biologia da Conservação. Londrina, 2001.

Ilustrações: Silvana Santos