Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O USO DE AGROTÓXICOS: UMA ANÁLISE NA COMUNIDADE DO INDUAZINHO EM CAPITÃO POÇO – PA
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O USO DE AGROTÓXICOS: UMA ANÁLISE NA COMUNIDADE AGRÍCOLADO INDUAZINHO EM CAPITÃO POÇO – PA

José Darlon Nascimento Alves¹; Francisco Carlos Almeida de Souza²; Antonia Moraes Mota3; Raimundo Thiago Lima da Silva4

1Graduando do Curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus de Capitão Poço, e-mail:jose.darlon@hotmail.com

2Graduando do Curso de Agronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus de Castanhal, e-mail:agrocarlosifpa@hotmail.com.

3Graduanda do Curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus de Capitão Poço, e-mail:toi_inha_mota@hotmail.com

4Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola e Doutorando em Agronomia - Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará, e-mail: thiagoufra@hotmail.com.

 

RESUMO

O uso de agrotóxicos na citricultura visa o controle de pragas, doenças e plantas invasoras, proporcionando o aumento da produtividade da cultura. O objetivo do presente trabalho foi realizar um levantamento da utilização de agrotóxicos na citricultura, na comunidade do Induazinho, município de Capitão Poço/PA e analisar do ponto de vista ambiental os possíveis impactos desses produtos para o homem do campo. Foram utilizados 19 questionários para a coleta de dados junto aos produtores de laranjas da comunidade do Induazinho. As perguntas da pesquisa buscaram conhecer informações pessoais, sobre a utilização de agrotóxicos (tipos de agrotóxicos utilizados, conhecimento sobre os riscos que podem causar e conhecimento de problemas ambientais), o destino das embalagens após o uso e o recebimento de assistência técnica tanto na cultura da laranja como na utilização de agrotóxicos. Foi observado que todos os produtores utilizam agrotóxicos, sem ter a assistência técnica adequada. Além de não efetuarem o manejo adequado do destino dos recipientes e não conhecem os problemas ambientais decorrentes desses produtos. Sendo necessários investimentos em políticas públicas para maior fiscalização e em educação ambiental dos produtores da região.

 

Palavras – chave: Meio ambiente, agricultores, produtos fitossanitários.

 

INTRODUÇÃO

Os agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos utilizados nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, pastagens, proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais (MMA, 2012).

Os agrotóxicos começaram a se popularizar em plena Segunda Guerra Mundial, quando os sistemas agrários sofreram um profundo impacto no que diz respeito ao controle de pragas na agricultura: o DDT. Esse produto acabou sendo rotulado como de baixo custo e eficiente, e o descobridor das qualidades inseticidas do DDT, Paul Mueller, acabou ganhando o prêmio Nobel de Medicina em 1948 (PORTO; SOARES, 2002).

O uso de agrotóxicos na citricultura visa o controle de pragas, doenças e plantas invasoras, proporcionando o aumento da produtividade da cultura. Entretanto, observa-se a falta de assistência técnica especializada para atender a demanda dos produtores, devido à falta de investimento nessa área. Dessa forma, os produtores acabam utilizando esses produtos sem a assistência devida, podendo provocar problemas ambientais e de saúde pública.

Segundo o IBGE (2012) em 2010, a produção do município e Capitão Poço/PA foi 146.370 toneladas de laranja em uma área total de 8.610 hectares, o que correspondeu uma produtividade média de 17 ton ha-1. Em relação ao Estado o Pará, esta produção corresponde a aproximadamente 73% da produção total.

 A educação ambiental é um processo educativo, que se desenvolve com ações decorrentes da consciência da realidade do meio ambiente, tendo como meta a construção da aprendizagem e do conhecimento contínuo, pautados no respeito a todas as formas de vida, permitindo a inserção de valores e ações que contribuam de forma significativa para a transformação social, bem como a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e diversidade (AMORIM, 2005).

Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi realizar um levantamento da utilização de agrotóxicos na citricultura, na comunidade do Induazinho, município de Capitão Poço/PA e analisar do ponto de vista ambiental os possíveis impactos desses produtos para o homem do campo.

 

 

A UTILIZAÇÃO DE AGRÓTOXICOS NO CENÁRIO AGRÍCOLA

 

A utilização de agrotóxicos é uma das atividades mais praticadas pelos produtores rurais para tentar compensar a perda de produtividade provocada pela degradação do solo e controlar o aparecimento de doenças. Porém, muitas vezes, essa utilização de agrotóxicos é feita de forma inadequada, sem o conhecimento das reais necessidades do solo e das plantas (VEIGA, 2007).

De todas as atividades humanas, a agricultura é a que ocupa as maiores áreas terrestres e uma das que mais provoca modificações ao meio ambiente. Em muitos casos os piores impactos causados pela agricultura são invisíveis aos olhos da população, dos consumidores e dos próprios agricultores (LEITE e TORRES, 2008).

A utilização intensiva e extensiva de pesticidas na agricultura expõe a população aos resíduos tóxicos que poderão permanecer nos alimentos acima dos limites permitidos (DOMINGUES, et al., 2004).

A utilização dos agrotóxicos no meio rural brasileiro tem trazido uma série de conseqüências tanto para o ambiente como para a saúde do trabalhador rural. Em geral, essas conseqüências são condicionadas por fatores intrinsecamente relacionados, tais como o uso inadequado dessas substâncias, a pressão exercida pela indústria e o comércio para esta utilização, a alta toxicidade de certos produtos, a ausência de informações sobre saúde e segurança de fácil apropriação por parte deste grupo de trabalhadores e a precariedade dos mecanismos de vigilância. Esse quadro é agravado por uma série de determinantes de ordens cultural, social e econômica (PERES, et al., 2005).

O estudo sobre os impactos da agricultura convencional na saúde do trabalhador rural pelo uso de agrotóxicos é uma área de investigação de extrema importância e ainda incipiente no Brasil. Os estudos realizados neste campo indicam a respeito da subnotificação pelos órgãos de saúde quando se trata de intoxicações pelo uso inadequado e excessivo de agrotóxicos, com repercussões na saúde do trabalhador e do consumidor (LEITE & TORRES, 2008).

 

 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MEIO RURAL

 

O meio rural tradicionalmente conhecido por possuir de modo mais destacado alguns elementos ditos naturais tanto quanto o urbano está suscetível a impactos ambientais negativos em decorrência da ação de agentes externos sendo, geralmente, o homem sua principal ameaça (SOARES, 2007).      

A problemática da sustentabilidade assume neste novo século um papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que o impacto dos humanos sobre o meio ambiente tem tido conseqüências cada vez mais complexas, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos (JACOBI, 2003).

A Educação Ambiental nos últimos anos vem ganhando destaque no meio científico devido o aumento progressivo dos problemas ambientais. E uma das vertentes desses problemas está relacionada ao meio rural. Mas, segundo Zakrzevski (2004) apesar das inúmeras tentativas de incorporar a EA nos currículos escolares, hoje ainda são poucas as pesquisas e intervenções voltadas à população do campo, uma população marginalizada e esquecida, que vem sofrendo os impactos do modelo de desenvolvimento rural brasileiro gerador de inúmeros problemas econômicos, sociais e ecológicos  .

Esta realidade acaba contribuindo cada vez mais para o agravamento de problemáticas ligadas à produção agrícola, em que os produtores acabam desconhecendo os riscos ambientais de uma prática agrícola inadequada, em particular, o uso de defensivos agrícolas, que podem causar contaminação do solo e dos recursos hídricos.

 

 

A LEGISLAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DOS PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS

 

A Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, dispõe sobre pesquisa, experimentação, produção, embalagem e rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, propaganda comercial, utilização, importação, exportação, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, componentes e afins. A inspeção sobre o destino correto das embalagens vazias dos agrotóxicos cabe a União.

O MMA possui um sistema que agrega informações sobre agrotóxicos chamado de Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) que é um banco de dados para consulta pública sobre pragas, ingredientes ativos, produtos formulados, relatórios e componentes de fórmulas registrados no Ministério da Agricultura, com informações dos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente. O Agrofit oferece informações sobre o uso correto dos produtos registrados.

Os termos pesticidas, praguicidas, biocidas, fitossanitários, agrotóxicos, defensivos agrícolas, venenos, remédios expressam as várias denominações dadas a um mesmo grupo de substâncias químicas. Neste trabalho o termo adotado será "agrotóxico", definido segundo o decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamentou a lei nº 7.802/1989, como: produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias de produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (SILVA et al., 2005).

A ANVISA coordena as ações na área de toxicologia no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, com o objetivo de regulamentar, analisar, controlar e fiscalizar produtos e serviços que envolvam riscos à saúde – agrotóxicos, componentes e afins e outras substâncias químicas de interesse toxicológico.

A Agência realiza a avaliação toxicológica para fins de registro dos agrotóxicos, a reavaliação de moléculas já registradas e normatiza e elabora regulamentos técnicos e monografias dos ingredientes ativos dos agrotóxicos. Além disso, coordena o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos nos Alimentos (PARA) e a Rede Nacional de Centros de Informação Toxicológica (Renaciat) e promove capacitações em toxicologia. Segundo o PARA (2007) o tomate, morango e alface, nas amostras coletadas e analisadas foram os produtos agrícolas que possuíram maiores porcentagens insatisfatórias de uso de produtos inadequados para cultura e uso excedente do limite.

No Estado do Pará, o órgão responsável pela fiscalização e comércio de agrotóxicos, registro de estabelecimentos, cadastro de produtos, entre outros serviços é a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ). A Lei Estadual nº 6.119, de 29 de abril de 1998, dispõe sobre a produção, a comercialização e o uso dos agrotóxicos, seus componentes e afins no Estado do Pará e dá outras providências.

 

 

IMPACTOS AMBIENTAIS E DE SAUDE PÚBLICA ADVINDOS DA UTILIZAÇÃO INADEQUADA DE AGROTÓXICOS

 

O aumento considerável no volume de agrotóxicos aplicados tem propiciado uma série de transtornos e modificações para o ambiente, tanto pela contaminação das comunidades de seres vivos que o compõe, quanto pela sua acumulação nos segmentos bióticos e abióticos do ecossistema (biota, água, ar, solo, etc.) (RIBAS & MATSUMURA, 2009).

Estes produtos podem causar vários danos à saúde pública, de forma direta e indireta, principalmente durante a aplicação, contaminação de águas subterrâneas e do solo e até por meio de resíduos aderidos aos produtos provenientes da agricultura.

Em relação à saúde pública existem duas formas de sintomatologia devido à exposição dos defensivos agrícolas: o efeito agudo, em linhas gerais, o quadro agudo varia de intensidade, desde leve até grave, podendo ser caracterizado por náusea, vômito, cefaléia, tontura, desorientação, hiperexcitabilidade, parestesias, irritação de pele e mucosas, fasciculação muscular, dificuldade respiratória, hemorragia, convulsões, coma e morte (SILVA et al., 2005).

Já os efeitos crônicos que estão relacionados com exposições por longos períodos e em baixas concentrações, são de reconhecimento clínico bem mais difícil, principalmente quando há exposição a múltiplos contaminantes, situação bastante comum no trabalho agrícola. Podendo ocasionar alterações imunológicas, genéticas, malformações congênitas, câncer, efeitos deletérios sobre os sistemas nervosos, hematopoético, respiratório, cardiovascular, geniturinário, trato gastrintestinal, hepático, reprodutivo, endócrino, pele e olhos, além de reações alérgicas a estas drogas, alterações comportamentais etc. (ALAVANJA et al., 2004; BRASIL, 1997; COLOSSO et al., 2003, GARCIA, 1996; SILVA et al., 1999; SILVA, 2000 apud SILVA et al., 2005).

Em se tratando a contaminação de mananciais, a maioria dos contaminantes químicos presentes em águas subterrâneas e superficiais está relacionada às fontes industriais e agrícolas. A variedade é enorme, com destaque para os agrotóxicos, compostos orgânicos voláteis e metais (HU; KIM, 1994 apud Neto; Sarcinelli, 2009).

Alguns tipos de agrotóxicos, ao permanecerem no ambiente ou atingirem o meio aquático, oferecem riscos para espécies animais por sua toxidade e possibilidade de bioacumulação ao longo da cadeia alimentar (MILHOME et al., 2009).

No solo, a preocupação com a contaminação é referente à interferência desses princípios ativos em processos biológicos responsáveis pela oferta de nutrientes. São consideráveis as alterações sofridas na degradação da matéria orgânica, através da inativação e morte de microrganismos e invertebrados que se desenvolvem no solo. A ciclagem de nutrientes pode ser afetada quando, por exemplo, o princípio ativo persistente no solo interfere no desenvolvimento de bactérias fixadoras de nitrogênio, responsáveis pela disponibilização desse mineral às plantas (EDWARDS, 1989 apud RIBAS & MATSUMURA, 2009).

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

Este trabalho foi realizado na comunidade do Induazinho, na cidade de Capitão Poço, o município faz parte da microrregião do Guamá que se incluem também os municípios de: Aurora do Pará, Cachoeira do Piriá, Garrafão do Norte, Ipixuna do Pará, Irituia, Mãe do Rio, Nova Esperança do Piriá, Ourém, Santa Luzia do Pará, São Domingos do Capim, São Miguel do Guamá e Viseu, todos no estado do Pará, localiza-se a uma latitude 01º44'47" S e a uma longitude 47º03'34" W,o clima da região, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Am com precipitação anual em torno de 2.500 mm, com uma curta estação seca entre setembro e novembro (precipitação mensal em torno de 60 mm), temperatura média de 26° C e umidade relativa do ar entre 75% e 89% nosmeses com menor e maior precipitação, respectivamente (SCHWART, 2007).

É um dos pólos citrícolas com destaque nacional, por conta disso, uma quantidade considerável de produtores trabalham com a cultura da laranja, inclusive os da comunidade do Induazinho, objeto da pesquisa. Foram utilizados 19 questionários para a coleta de dados junto aos produtores de laranjas dessa comunidade. As pessoas entrevistadas foram escolhidas ao acaso.

 O questionário possuía questões abertas e fechadas. As perguntas da pesquisa buscaram conhecer informações pessoais, sobre a utilização de agrotóxicos (tipos de agrotóxicos utilizados, conhecimento sobre os riscos que podem causar, conhecimento de problemas ambientais), o destino das embalagens após o uso e o recebimento de assistência técnica tanto na cultura da laranja como na utilização de agrotóxicos. Por meio disso, realizar uma análise crítica da realidade local e a situação do homem do campo. A análise de dados foi realizada através da estatística descritiva simples, através do software Excel. A pesquisa foi realizada durante o mês agosto de 2012.

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Com base nos resultados, a média da idade dos produtores foi de 43 anos, em relação ao grau de instrução do produtor, 68% possuem o ensino fundamental incompleto, 16% assinam o nome, 11% concluíram o ensino fundamental e 5% possuem o ensino médio completo. O tempo médio de trabalho com a cultura da laranja foi de 16 anos. Observa-se que o público alvo possui baixo grau de instrução podendo refletir na dificuldade no entendimento da orientação técnica que vem nos produtos químicos é o que comenta Coutinho et al. (1994); Castro e Confalonieri (2005) apud Veiga (2007) um aspecto relevante no caso de contaminação por agrotóxicos em populações de pequenas comunidades rurais seria o fato de que a maioria dos trabalhadores tem nível de instrução inadequado para o desempenho da função. Esta inadequação se dá porque a capacidade de leitura do rótulo e entendimento dos procedimentos adequados de preparação e aplicação é uma condição indispensável para o manejo e aplicação dos agrotóxicos de forma correta.

Pois a utilização desse insumo está configurado dentro do manejo de algumas culturas agrícolas como necessário para a obtenção de bons rendimentos. Fernam e Antunes (2009) relatam que a utilização de defensivos agrícolas na agricultura é vasta e extensiva, na grande maioria das culturas. O uso de defensivos tem crescido bastante, pois a busca de maiores produtividades é cada vez mais importante para a sobrevivência dos negócios.

            O controle de pragas, pela aplicação de herbicidas, fungicidas, acaricidas e inseticidas, é um dos maiores desafios dos produtores agrícolas. Se tal controle não for eficiente, poderá haver substancial redução na produtividade das culturas e na rentabilidade da atividade produtiva e aumento nos preços dos produtos agrícolas.

No entanto a utilização destes produtos está sujeitos a rígidas legislações para evitar situações desagradáveis ao manipulador. Os países estão cada vez mais estabelecendo normas técnicas, para produção, aplicação, exportação e importação dessas substâncias, bem como para as culturas em que tais substâncias são empregadas. Esse fato se deve, principalmente, à alta periculosidade dos defensivos agrícolas para a saúde das pessoas e para o meio ambiente.

Além disso, a qualidade desses produtos têm-se alterado com frequência, devido à maior velocidade com que novas tecnologias são desenvolvidas e adotadas, tanto para obtenção de produtos mais adequados ao consumo, como para o controle da qualidade desses produtos nos vários estágios de produção, processamento e comercialização (Oliveira, 2005).

A figura 1 apresenta os principais agrotóxicos utilizados pelos produtores no manejo agroquímico da cultura da laranja na comunidade do Induazinho, onde todos os produtores entrevistados utilizam agrotóxicos, sendo que a maioria utiliza o produto Glifosato.

 

Figura 1: Produtos fitossanitários utilizados pelos produtores na cultura da laranja na comunidade do Induazinho, Capitão Poço – PA, 2012.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

 

Para Galli e Montezuma (2005) a ampla utilização do glifosato em várias culturas, incluindo as perenes, desde a sua instalação (pré-plantio) até a fase produtiva, tem-se mostrado vantajosa em relação a vários métodos de controle de plantas daninhas, inclusive a capina manual, pois o glifosato é um herbicida pós-emergente, pertencente ao grupo químico das glicinas substituídas, classificado como não-seletivo e de ação sistêmica. Apresenta largo espectro de ação, o que possibilita um excelente controle de plantas daninhas anuais ou perenes, tanto de folhas largas como estreitas.

A utilização desse princípio ativo por mais de trinta anos, em vários países e em sistemas agrícolas de maior sustentabilidade, como o plantio direto, tem confirmado a alta eficiência agronômica do glifosato em seus diversos usos.

Portanto, com base nas informações acima referidas e nos resultados de produtividade obtidos nos ensaios de manejo de plantas daninhas em várias culturas, inclusive citros, podemos afirmar que o glifosato é um produto bastante seguro para as culturas nas quais é registrado, desde que observadas as condições de recomendação descritas em bula, não havendo qualquer relação entre o uso do mesmo e o aumento da susceptibilidade a doenças (Galli e Montezuma, 2005).

No que se refere ao destino das embalagens é agravante o problema detectado na comunidade, pois apenas 21% dos agricultores praticam o manejo correto das embalagens vazias, que corresponde a lavagem tríplice e devolução do recipiente perfurado no local adquirido (BRASIL, 2000).

Para tornar a situação mais delicada, constatou-se que 32% dos agricultores lavam as embalagens e as reutilizam para outros fins, até mesmo fins domésticos, como transportar e armazenar água para utilização na própria residência. Mediante isto, 26% dos agricultores relataram sofrer algum problema de saúde decorrente da utilização de agrotóxicos (Figura 2).

 

 

 

Figura 2: Destino dos recipientes de agrotóxicos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

 

 

No entanto, devido a grande utilização de agrotóxicos que tem um grande potencial de produção de resíduos de embalagens, o que impacta diretamente a saúde humana e o meio ambiente a legislação Estadual e Brasileira discriminam leis que regulamentam, entre outros aspectos, a destinação final das embalagens vazias, com objetivo de propiciar condições de fiscalização e estabelecer regras para os agentes envolvidos, consumidores e comerciante (Melo et al, 2012).

Segundo a Lei Estadual nº 6.119, de 29 de abril de 1998, os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado da data de compra, ou prazo superior, quando autorizado pelo órgão registrante, podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhimento, desde que autorizados e fiscalizados pela SAGRI.

A Lei Federal nº 7.802/89, retificada pela Lei nº 9.974/00 e regulamentada pelo Decreto nº 4.074/02, referente às embalagens vazias de agrotóxicos definem responsabilidades a todos os setores da cadeia produtiva agrícola. Ao agricultor, cabe efetuar a tríplice lavagem ou lavagem sob pressão da embalagem vazia de agrotóxico, inutilizá-la a fim de evitar o reaproveitamento, armazená-las temporariamente na propriedade em recinto coberto, ao abrigo da chuva, ventilado, semi-aberto ou no próprio depósito das embalagens cheias, e devolvê-las na unidade de recebimento indicada na nota fiscal até um ano após a compra, após haver acumulado uma quantidade de embalagens que justifique o seu transporte de uma forma economicamente viável (Brasil, 2000).

No item problemas de saúde decorrentes do uso de agrotóxicos, 74% dos produtores afirmaram que não apresentaram nenhum problema em relação a utilização de agrotóxicos, 21% já sentiram dor de cabeça e 5% alergia. Esses resultados mostram que os agricultores apresentam os efeitos ditos agudos. Os efeitos sobre a saúde podem ser de dois tipos: 1) efeitos agudos, ou aqueles que resultam da exposição a concentrações de um ou mais agentes tóxicos, capazes de causar dano efetivo aparente em um período de 24 horas; 2) efeitos crônicos, ou aqueles que resultam de uma exposição continuada a doses relativamente baixas de um ou mais produtos (RIBAS & MATSUMURA, 2009).

Ao serem questionados sobre o conhecimento de problemas ambientais causados pela má utilização dos defensivos agrícolas, 74% afirmaram não conhecer. A falta de informação pode ser um fator que contribui para a contaminação ambiental involuntária dos produtores. Os agrotóxicos são definidos como substâncias que agem direta ou indiretamente em um organismo vivo, podendo matá-lo ou controlá-lo de alguma maneira, por exemplo, interferindo em seu processo reprodutivo. Em geral, a maioria desses compostos tem a propriedade comum de bloquear rápida e eficientemente um processo metabólico vital dos organismos para os quais são tóxicos. Por isto, são bastante empregados em diversos ramos de atividades e aplicações, em particular, na agricultura (JARDIM et al., 2009).

A natureza tem sofrido uma agressão violenta e acelerada, por essa razão que se faz necessário todos se envolverem, conscientizarem e comprometerem com as questões do meio ambiente. Ao passo que a qualidade da biodiversidade é consequência da qualidade de nossa própria vida, somos parte dessa natureza e tudo que fizermos contra ela vai repercutir em nós de alguma maneira. E quando se refere a conservação da natureza, a água, o ar, o solo, os animais e tudo mais, é urgente aprendermos a fazer uso de maneira racional, equilibrada, harmônica.

Isto pode estar relacionado segundo Marcondes e Freitas (2013) ao crescimento a cada ano da população mundial, que em decorrência deste crescimento acompanha o desenvolvimento tecnológico. Assim, ocorre elevada utilização de pacotes tecnológicos que em favor desse crescimento exacerbado, muitas desvantagens são agregadas ao meio ambiente, visto que o maior número de pessoas aumenta a quantidade do consumo, o que leva a agricultura e as indústrias a produzirem cada vez mais e o meio ambiente é que sofre as consequências.

Por fim, 74% afirmaram não receber orientação técnica para utilização de agrotóxicos e somente 26% recebem esta orientação para o preparo correto e a aplicação dos defensivos agrícolas. Este elevado índice de falta de informação pode potencializar os problemas ambientais, pois a ação dos agrotóxicos no ambiente é complexo como afirma o Ministério da Agricultura (2012) o comportamento do agrotóxico no ambiente é bastante complexo. Quando utilizado um agrotóxico, independente do modo de aplicação possui grande potencial de atingir o solo e as águas, principalmente devido aos ventos e à água das chuvas, que promovem a deriva, a lavagem das folhas tratadas, a lixiviação e a erosão. Além disso, qualquer que seja o caminho do agrotóxico no meio ambiente, invariavelmente o homem é seu potencial receptor.

Apenas 9,3% visualizam o uso de agrotóxico como um problema que gera impactos ao Meio Ambiente. Essa falta de compreensão em entender que os agrotóxicos são algo com alto potencial gerador de problemas ambientais pode ser comparado com a destinação inadequada das embalagens vazias desses produtos, como citado anteriormente.

Essa identificação é de suma importância para despertar a possibilidade de implantação de futuros projetos de conscientização ambiental na região, reduzindo assim a vulnerabilidade ambiental frente aos riscos gerados pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. Peres et. al (2005), evidenciam a importância de se conhecer a visão daqueles que tem no seu cotidiano a exposição aos agrotóxicos, além disso, a carência de políticas públicas de acompanhamento ao homem do campo afasta ainda mais as informações sobre proteção e outras formas de combate às pragas no campo.

 

           

CONCLUSÃO

 

Dessa forma, observa-se a falta de assistência em relação ao uso adequado de agrotóxicos e de um destino adequado dos recipientes desses produtos, fatores que contribuem diretamente para os problemas ambientais e de saúde pública. Sendo necessário investimentos em políticas públicas para maior fiscalização em educação ambiental dos produtores da região.

A Educação Ambiental é uma ferramenta de grande importância para a conscientização das pessoas em relação ao meio em que vivem. Pois possibilita adquirem competências, habilidades e atitudes de transformadores sociais, ao passo que são despertados para o respeito, uso equilibrado dos recursos naturais e para a busca de melhor qualidade de vida para todos os seres vivos do planeta.

Nessa perspectiva, através da Educação Ambiental o homem do campo deve complementar o conhecimento trazido ao longo das gerações e colocando-os frente à realidade em que vivem, a fim de tornarem-se conhecedores das leis e documentos que direcionem a prevenção e as atitudes a serem tomadas em favor do meio ambiente e da sustentabilidade ambiental. E quando se refere à conservação da natureza, água, ar, solo, animais, percebe-se que é urgente aprendermos a fazer-se uso racional, equilibrado, harmônico dos recursos disponíveis, para possibilitarmos a sustentabilidades das gerações próximas que uso do mesmo espaço no qual vivemos atualmente.

 

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Ilustrações: Silvana Santos