Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS NA REDUÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM PLANTIOS DE EUCALIPTO DA REGIÃO TOCANTINA, NO ESTADO DO MARANHÃO ESTUDO DE CASO
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INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS NA REDUÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM PLANTIOS DE EUCALIPTO DA REGIÃO TOCANTINA, NO ESTADO DO MARANHÃO

ESTUDO DE CASO

Liliane Leite Gusmão1

Zilmar Timóteo Soares2

                                  Vanderlene Brasil Lucena2

1 Liliane Leite Gusmão

Graduado em Agronomia pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA- (liliane.gosmão@bol.com.br)

 

2 Zilmar Timóteo Soares

Mestre e Doutor em Educação. Graduado em Biologia pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) - (zilmarsoares@bol.com).

 

2 Vanderlene Brasil Lucena

Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Superior de Ensino do Sul do Maranhão (IESMA) - (vanda_brasil@hotmail.com).

 

 

Resumo

O aumento da utilização de agrotóxicos nas áreas de silvicultura, notadamente plantios de eucalipto, associado a uma infestação agressiva por plantas daninhas, tem exigido a busca por técnicas de controle mais eficazes. Como forma de minimizar os impactos ambientais avaliou-se a tecnologia de aplicação de um agrotóxico comercial a base de glyphosate em ensaio de áreas de floresta plantada de eucalipto acima de 12 meses, no bioma amazônico, em um município da região Tocantina, Estado do Maranhão, por apresentar condições de solo e clima favoráveis à alta infestação de plantas daninhas. Concluiu-se que o agrotóxico é uma ferramenta indispensável na silvicultura e que a tecnologia de aplicação contribui para a redução dos impactos ambientais, reforçando a consciência do seu uso sustentável.

 

Palavras-chave: Agrotóxicos, Impactos ambientais, Eucalipto.

 

1 - INTRODUÇÃO

 

Desde que existem, homem e inseto lutam pelo mesmo alimento. Trezentos milhões de anos antes do homem, insetos já habitavam a Terra. São mais antigos e experientes que o homem. Quando deixou de ser nômade e fixou-se em determinados lugares da Terra, o ser humano passou também a interferir nos ecossistemas, modificando-os, quebrando seus equilíbrios. A busca pelo alimento tem sido a primeira prioridade do homem. Na verdade, temos comido o alimento que nos sobra do ataque das pragas, das doenças e da competição com plantas daninhas (CONCEIÇÃO, 2008).

Em vista da grande variedade e quantidade de pesticidas usados no controle de pragas e doenças em plantas e animais, notadamente na agricultura, após a “Revolução Verde”, muita atenção passou a ser dada para os riscos de contaminação ambiental com seus pesticidas e subprodutos, devido ao grande potencial contaminante e toxicidade (MATOS, 2010).

Com a Lei nº 7802/89 e seu Decreto Regulamentador, nº 98816/90, tornaram-se extremamente rígidos no Brasil os controles dos produtos fitossanitários, desde a sua pesquisa, registro e produção até aplicação no campo. Queremos ainda nos referir à Lei nº 9605/95, que trata de Crimes Ambientais, à Lei n° 9974/2000 e ao Decreto n° 3550/2000, que alteraram a Lei n° 7802/89 e seu decreto regulamentador. Em 31 de maio de 2001 foi editado o Decreto 3828, passando para até 31 de maio de 2002 o prazo para as empresas estruturarem-se adequadamente para as operações de recebimento, recolhimento e destinação de embalagens vazias e produtos de que trata o Decreto n° 98916/90, este ultimo substituído pelo Decreto 4074/2002. Nesta etapa, particularmente as especificidades técnicas de manuseio e utilização exigem a presença de assistência agronômica tanto mais assídua quanto menor o nível de qualificação da mão de obra rural (CONCEIÇÃO, 2008).

A Lei Federal nº 7.802/89, define o termo “agrotóxico” da seguinte forma: Os produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento.

O eucalipto (Eucalyptus sp.) é a essência florestal exótica mais plantada no Brasil, o que se deve basicamente às características de rápido crescimento das espécies, boa adequação às condições edafoclimáticas  existentes no país e fornecimento de matéria-prima de qualidade para os diversos segmentos do setor florestal. Esta situação não isenta o eucalipto da interferência das plantas daninhas que deprime a produtividade da floresta.

Devido às grandes áreas plantadas, à escassez de mão-de-obra e ao menor custo dos métodos químicos de controle de plantas daninhas, colocamos a aplicação de agrotóxicos, notadamente herbicidas, como o mais utilizado pelas empresas florestais; sendo o ingrediente ativo glyphosate, predominante em plantios comerciais.

Diante da freqüência e importância da utilização do glyphosate em plantios comerciais de eucalipto questões como, monitorar as aplicações de herbicidas sobre os aspectos de reduzir os impactos ambientais no meio físico e as perdas de produtividade, é relevante utilizar a tecnologia de aplicação de agrotóxicos e os controles de qualidade.

 A “Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos” corresponde ao emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com o mínimo de contaminação de outras áreas (MATUO, 2001).

Na área florestal esta tecnologia vem nos oferecer uma grande oportunidade de modernização das operações de aplicação de herbicidas como ferramentas de controle de qualidade e análise, das variações da aplicação, orientando no processo de tomada de decisão.

Como forma de minimizar os impactos ambientais avaliou-se a tecnologia de aplicação de um agrotóxico comercial a base de glyphosate em ensaio de áreas de floresta plantada de eucalipto acima de 12 meses, no bioma amazônico, em um município da região Tocantina, Estado do Maranhão, por apresentar condições de solo e clima favoráveis à alta infestação de plantas daninhas.

 

2.    MATERIAL E MÉTODOS

 

O ensaio foi realizado em plantio de eucalipto acima de 12 meses, localizado em município da região Tocantina, Estado do Maranhão, no final do mês de junho de 2012.

                                                                                                                       

A aplicação do herbicida foi realizada por operadores treinados, conforme rege a Norma Regulamentadora 31. Na aplicação do produto comercial, utilizou-se dose de 2,5 Kg/ha e volume de calda de 180 l/ha.

Avaliou-se 07 barras de pulverização, de 1,20m de comprimento onde estavam dispostos os 03 bicos de pulverização, espaçados em 0,40m, o qual cobre uma faixa de 1,80 m com a seguinte ponta de jato leque modelo TF VS2, em um trator de pneus de 180cv. Como critério de escolha para utilização desta ponta levou-se em consideração o modo de ação do produto, as condições climáticas e a situação do alvo (plantas daninhas). Apenas a barra 7 foi avaliada nas condições técnicas recomendadas.

Determinou-se a velocidade de deslocamento do trator/pulverizador da seguinte forma: em um percurso de 50 metros, cronometrou-se o tempo gasto. Utilizou-se a marcha e rotação de trabalho normal. Verificou-se que o tempo percorrido neste estudo em 50 m foi de 36s. Para o cálculo da velocidade média em km/h, dividiu-se 180 pelo tempo gasto.

 

V= 180/36 => V= 5 km/h

 

Para o cálculo da vazão necessária em cada ponta utiliza-se a seguinte fórmula:

Faixa de aplicação: 1,80 m

Quantidade de bicos: 3

Distância percorrida: 50m

Área percorrida = 50m x 1,8m => 90m2

 

Com base nestas informações temos a seguinte vazão

 

Volume desejado = 90m2 x 180 l/ha

                                10000m2

Volume desejado = 1,62 l

Onde:

Vazão necessária / bico = volume desejado

Quant. bicos

Vazão necessária / bico= 1,62

                                             3

Vazão necessária em cada bico = 0,540l

 

Depois com o trator parado, foi acionado o sistema de aplicação, coletando em cada bico, utilizando copo graduado, o volume aplicado no tempo gasto para percorrer os 50 metros. Os dados obtidos foram lançados num programa de Controle Estatístico de Processo (CEP).

 

Figura1: Equipamento de aplicação de herbicida

 


 

 

3-           RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

O volume acima do recomendado de calda do herbicida aplicado por hectare geralmente é atribuído à má qualidade do produto, quando na realidade o mau uso dos equipamentos, tanto na sua estru­tura como no momento da aplicação, em sua maioria, deveria merecer mais atenção e cuidados.

A regulagem e calibração, por exemplo, deveriam ser realizada perio­dicamente, com o objetivo de evitar falhas na aplicação em geral. Os bicos dos pulverizadores devem ser selecionados de acordo com o tipo de produto e finalidade da aplicação. Eles são, na maioria das vezes, os grandes responsáveis pe­los erros de doses e pela ineficácia dos produtos.

Esta situação é facilmente percebida nas barras 1, 2, 3, 4, 5 e 6, onde, após a verificação da vazão dos bicos em cada uma delas constatou-se a presença de dois a três bicos desgastados. Esta situação é um forte indício de falta de manutenção dos equipamentos, conforme tabela abaixo.

 

Tabela 1: Vazão nos bicos

 


 

 


A falta de manutenção dos equipamentos ficou perceptível no decorrer do estudo. O tanque não permitiu a visualização da capacidade real do abastecimento, a ausência do filtro na boca de abastecimento do tanque de herbicida possibilita a passagem de impurezas grosseiras o que causa entupimento dos bicos/pontas. O manômetro, instrumento utilizado na indicação da pressão e de fundamental importância para calibração e regulagem do sistema, estava com defeito, situação diretamente relacionada às vibrações durante o trabalho no campo.

As propriedades intrínsecas aos produtos são de extrema importância, porém o emprego ambiental­mente correto dos herbicidas nas áreas de cultivo de eucalipto envolve uma variedade de práticas, desde a aquisição do produto, até o contato efetivo do in­grediente ativo com seu alvo. Um bom exemplo de uso consciente de herbicida é o emprego da tecnologia de aplicação, estabelecida na barra 7.

A regulagem e calibração foram feitas antes do inicio da operação, para evitar falhas e desperdício na aplicação. Os bicos foram selecionados de acordo com a vazão estabelecida de 180l/ha para o controle de plantas daninhas na região. As peneiras, filtros, mangueiras, agitador do tanque, capacidade da bomba, regulador de pressão e o manômetro também foram verificados.

As condições climáticas também foram consideradas no estudo, pois são fatores limitantes na tomada de decisão para iniciar ou paralisar uma pulverização. A possibilidade de chuva, após a aplicação durante um período de duas a três horas, poderá comprometer o resultado. A intensidade luminosa sobre o produto recém aplicado (gotas aderidas) pode causar injuria ou fitotoxicidade (concentração do ingrediente ativo) nas folhas. A deriva causada pelo vento é um problema comum, mesmo quando pulverizado em circunstancias normais. Visando diminuir a probabilidade de deriva, alguns fatores foram observados: velocidade do vento, distância entre a ponta de pulverização e o alvo, e as condições atmosféricas. O fator velocidade do vento deve ser verificado antes de tomar a decisão de iniciar ou interromper a pulverização. A condição utilizada no estudo para realizar a aplicação, vento constante de 3,2 a 6,5 Km/h, que caracterizava uma brisa leve, estabelecida com o auxilio de um anemômetro.

 

Figura 2: Avaliação da aplicação do herbicida com a barra 7 aos 30, 60 e 90 dias após a aplicação

 


 

A partir destes dados, conclui-se que a regulagem do equipamento, o bom estado dos bicos pulverizadores, um tratorista bem treinado e as calibrações sendo realizadas antes do inicio de cada jornada de trabalho, haverá um aumento do índice de eficiência de controle de plantas daninhas e diminuição dos riscos de contaminação das pessoas e do meio ambiente; seja por deriva, seja por desperdício de produto.

 

 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

As más aplicações dos agrotóxicos podem alterar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo temporariamente pela acumulação de resíduos ou seus produtos decomposição.

Levando em consideração o acumulo destes produtos principalmente na zona superficial do solo poderão ocorrer desequilíbrios ecológicos alterando o ciclo biogeoquímico da matéria orgânica e de outros nutrientes.

A calibração e manutenção dos equipamentos, operadores bem treinados e pulverização dentro das condições ambientais e técnicas recomendadas diminuem custos e garantem a qualidade da aplicação, mantendo a floresta plantada por mais dias sem mato competição.

Concluiu-se que o agrotóxico é uma ferramenta indispensável na silvicultura e que a tecnologia de aplicação contribui para a redução dos impactos ambientais, reforçando a consciência do seu uso sustentável.

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

Conceição M Z, O que os engenheiros agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos fitossanitários,  Viçosa: UFV/DP, 2008.

 

KREJCICOPENER LC, utilização de herbicidas em plantios de eucalyptus - Série Técnica IPEF, Piracicaba, v.4, n.12, p.92 – 115, Set.1987.

 

Matos A T, Poluição ambiental: impactos no meio físico, ed.UFV, 2010, Viçosa - MG.

 

Menten J O M, Canale M C, Calaça H A, Flôres D, Menten M Legislação ambiental e uso de defensivos agrícolas, Citrus Research & Technology, Cordeirópolis, v.32, n.2, p.109-120, 2011.

 

Oliveira E, Magg M F, Mato E, Ramos M S, Vagner MV, Lopes EC, Tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas e relações com riscos de contaminação da água e do solo, Pesquisa Aplicada & Agrotecnologia v2 n3 Set.- Dez. 2009.

 

Sánchez, L E, Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos São Paulo, oficina de texto, 2008.

 

Trindade C, Ferramenta da qualidade: aplicação na atividade florestal, 2 ed, editora UFV, 2007, Viçosa – MG.

 

Trindade C, Gestão e controle da qualidade na atividade florestal, editora UFV, 2012, Viçosa - MG.

 

Tuffi Santos L D, Efeitos diretos e indiretos do glyphosate em eucalipto, 2006, Viçosa -MG.

 

Ilustrações: Silvana Santos