Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) PROTOZOÁRIOS, QUALIDADE DE ÁGUA DOS AÇUDES E DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA NA PERCEPÇÃO DE PROFESSORES E ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DO ENSINO BÁSICO.
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PROTOZOÁRIOS, QUALIDADE DE ÁGUA DOS AÇUDES E DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA NA PERCEPÇÃO DE PROFESSORES E ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DO ENSINO BÁSICO

Maria Luisa Quinino de Medeiros1 e Magnólia Florêncio Fernandes de Araújo2

1 Mestre em desenvolvimento e Meio ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e-mail: luisa_rn77@hotmail.com

2 Doutora em Ecologia; Professora titular do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Lagoa Nova/ Natal/RN, CEP. 59072-970, telefone: (84)32153437, e-mail: mag@cb.ufrn.br.

 

RESUMO

O presente estudo foi realizado com professores e alunos da educação básica em escolas públicas de dois municípios situados no semiárido brasileiro e teve como objetivo analisar as suas concepções quanto aos temas relacionados à água, em especial de um reservatório de grande importância econômica, social e ambiental para essas duas cidades. Para isso foram aplicados questionários que continham quatro eixos principais de investigação: “qualidade da água”, “relação pessoal com o reservatório”, “doenças de veiculação hídrica” e “protozoários de vida livre”. O estudo mostrou que os professores e alunos reconhecem a importância do reservatório bem como a existência de problemas relacionados à qualidade da água. O conhecimento sobre as doenças de veiculação hídrica e sobre os protozoários de vida livre mostraram-se limitados, evidenciando a necessidade de implementação de ações de educação ambiental e de divulgação científica nessas localidades.

 

Palavras Chave: Questionário, Concepções, qualidade da água, protozoários, doenças de veiculação hídrica

 

 

1- INTRODUÇÃO

 

O semiárido brasileiro é uma região que sofre diretamente com as consequências da irregularidade pluviométrica. É frequente nessa localidade, chuvas concentradas em poucos meses do ano, fazendo com que existam períodos críticos de seca. Na tentativa de amenizar essa situação é comum a construção de reservatórios, que são utilizados para o abastecimento das cidades e para outros diversos fins, como: irrigação, piscicultura e lazer. Apesar do papel fundamental desses corpos d´água, eles podem ser afetados por efluentes domésticos não tratados e por agrotóxicos acentuando a perda de qualidade da água (Petrovich & Araújo, 2009).

A maioria dos reservatórios da região semiárida nordestina encontra-se em estado eutrófico ou hipereu­trófico devido, principalmente, ao incremento de nutrientes nesses corpos d´água oriundos de atividades antrópicas (Lazarro et al. 2003). O resultado desse processo é a limitação dos usos múltiplos da água por parte da população. Além disso, a eutrofização, que tem como característica a proliferação intensa de cianobactérias, pode gerar problemas de saúde pública, visto que esses organismos são potencialmente patogênicos ou são capazes de produzir e liberar toxinas no ambiente, podendo levar à morte diversos seres aquáticos (Costa et al. 2009).

Além de interferirem em vários aspectos sociais e econômicos, a poluição e contaminação das águas também podem levar a mudanças nas comunidades aquáticas presentes nesses reservatórios como as plantas, animais e microrganismos. Estes últimos são pouco conhecidos devido ao seu tamanho reduzido, mas possuem funções ecológicas únicas e auxiliam na manutenção da dinâmica do ambiente. Dentre os microrganismos aquáticos, podem-se destacar os protozoários de vida livre que funcionam como elo da cadeia alimentar sendo a sua presença essencial nos ambientes aquáticos.

Diante da evidente redução da qualidade da água desses reservatórios e partindo do pressuposto de que as problemáticas ambientais geralmente estão relacionadas com problemas de ordem social, é importante e necessário que haja uma inserção das comunidades locais nos debates sobre essas questões. Isso pode ter início por meio do levantamento das concepções da população local sobre as variadas vertentes que envolvem essa temática, considerando-se que aquilo que as pessoas pensam sobre o meio ambiente interfere nas suas atitudes. Em se tratando de uma situação escolar, a abordagem pedagógica desenvolvida por professores nessas localidades também é igualmente afetada (França et al, 2010; Abreu 2008). Segundo Luzzi (2003), a educação é produto do diálogo permanente entre concepções sobre o conhecimento, a aprendizagem, o ensino a sociedade e o ambiente. Sendo assim, um dos locais mais propícios para a realização dessas práticas é o espaço escolar, por tratar-se de um ambiente de ensino-aprendizagem e que abrange não somente os professores e alunos, mas os funcionários e até mesmo a família dos estudantes, permitindo, dessa forma, contemplar um maior número de pessoas com idades, comportamentos e concepções diversificadas. Levando em consideração esse contexto, o presente estudo teve por objetivos avaliar, em uma região semiárida do nordeste brasileiro, as concepções espontâneas de alunos e professores sobre aspectos relativos à qualidade da água dos reservatórios, e sobre as relações pessoais que professores e alunos do ensino básico estabelecem com o principal ambiente aquático local.


2- METODOLOGIA

 

2.1 - Área de Estudo

            O estudo foi realizado em escolas públicas de três municípios do Rio Grande do Norte: São Rafael e Itajá, todos  localizados em região semiárida (Figura 1).  Eles estão situados às margens da Bacia Piranhas-Assú, precisamente, nas proximidades da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves. Aproximadamente 500.000 pessoas utilizam de alguma forma a água desse reservatório, de modo que ele possui um grande valor social e econômico, mas, apesar disso, existem encontra-se em alguns pontos impactados devido, principalmente, às atividades agrícolas, industriais, pecuária e mineração (AESA, 2007).

 

 

2.2 - Etapas da pesquisa

Para levantar as concepções de professores e alunos foi elaborado um questionário e este foi aplicado em duas escolas públicas dos municípios em questão.  Os questionários possuíam 22 questões divididas em quatro eixos temáticos: qualidade da água, relação pessoal com o reservatório, doenças de veiculação hídrica e protozoários de vida livre. Ele foi elaborado tendo por base os trabalhos de Araújo et al, (2011); Petrovich & Araújo (2009); Sodré Neto & Araújo (2008).  Resumidamente, este instrumento de coleta de dados objetivou levantar, entre outras questões, se os entrevistados consomem a água da Barragem e para quais fins, bem como aferir se conhecem os problemas que estão relacionados a esse reservatório. Além disso, procurou-se entender as suas concepções em relação à presença dos protozoários de vida livre no ambiente aquático em questão. 

Um ponto relevante no tocante aos protozoários foi a possibilidade de identificação da esperada concepção espontânea, por parte de escolares, de que todos eles sejam parasitas, quando, na realidade, os protozoários de vida livre, no ambiente aquático, exercem funções fundamentais, auxiliando no equilíbrio dos corpos d´água, além de a maioria deles não causar nenhum tipo de doença.

             Os questionários foram respondidos por alunos, majoritariamente, de 8º e 9º anos do ensino fundamental e 2º e 3º anos do ensino médio, séries em que os alunos já têm tido contato, em diferentes graus, com as temáticas propostas.

 

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

3.1 - Perfil dos alunos e professores

            Um total de 134 questionários foi aplicado, sendo 120 com alunos e 14 com seus professores de Ciências ou Biologia. A maioria doa alunos tinha entre 12 e 15 anos, porém alguns se encontravam fora de faixa para cursar a educação básica (20, 23, 27 e 29 anos). Já os professores tinham idade que variava de 19 a 51 anos e nenhum era formado em Ciências Biológicas. A maioria se declarou polivalente, tendo formação em magistério, pedagogia e até mesmo em matemática. A maioria dos alunos e professores era do sexo feminino. Todos os alunos moram nos municípios onde foi realizada a aplicação dos questionários.  A maioria (95%) reside na zona urbana. Grande parte dos alunos e professores, 90% e 85%, respectivamente, moram nas cidades em questão há mais de 10 anos.

 

3.2 - Análise dos eixos temáticos

 

3.2.1 - Eixo temático 1: Relação pessoal com a Barragem

 

Esse eixo foi composto por cinco perguntas. A primeira delas buscava verificar o conhecimento de professores e alunos sobre os possíveis usos da água do reservatório. Como opção eles poderiam assinalar uma ou mais das seguintes alternativas: “consumo humano”, “lazer e turismo”,pesca”, “despejo de esgotos” e “outras atividades” (Figura 1). Os participantes destacaram a pesca como atividade mais realizada e também assinalaram significativamente a opção “lazer e turismo”. Uma minoria, 28.57% dos professores e 15.83% dos alunos, afirmaram que o reservatório é local de despejo de esgotos. Ninguém assinalou “outras atividades”. Esses dados revelam que os participantes, no geral, identificam o papel primordial do reservatório, em suas variadas vertentes, para seus municípios. Em estudos semelhantes, (Araújo et al, 2011; Bergman & Pedrozo, 2008) os autores registraram um resultado similar das respostas de professores e alunos quanto a percepção dos usos e da importância dos reservatórios de suas cidades. Já na pesquisa realizada por Petrovich & Araújo (2009) houve uma diferença em relação à alternativa “despejo de esgotos”. Enquanto neste trabalho, a minoria assinalou tal alternativa, naquele, mais da metade dos alunos e professores afirmaram que o reservatório de sua cidade era local utilizado para escoar o esgoto.

 

Figura 1: Tipos de usos múltiplos indicados por professores e alunos

 

Estudos recentes (Costa et al, 2009; Eskinazi-Sant’Anna et al, 2006) têm mostrado que a água desse reservatório encontra-se em permanente estado eutrófico, o que pode ser causado pelas próprias características físicas e químicas da região semiárida e suas temperaturas elevadas, mas agravadas por atividades antrópicas como lançamento de esgotos sem tratamento adequado. De toda forma, um dos municípios em questão, São Rafael, foi construído de uma forma planejada tendo todo o sistema de saneamento básico estabelecido desde seu princípio (SEMARH, IDEMA, 2008), e mesmo assim as características eutróficas se mantêm no local.

Ao serem questionados sobre se eles próprios contribuíam com a contaminação da água do reservatório de sua cidade, em torno da metade dos professores e alunos, 50% e 53%, respectivamente, responderam que “sim”. Já quando perguntados sobre se eles produziam lixo ou esgoto, a metade dos alunos e a maioria dos professores, 50.83% e 78.57%, respectivamente, responderam de modo afirmativo. Estes percentuais correspondem, aproximadamente, ao dobro dos encontrados por Almeida & Santos (2001) em um questionamento similar, mas realizado há dez anos. Provavelmente, essa diferença é resultado da tomada de consciência que vem ocorrendo de forma constante e crescente nos últimos anos em relação às questões ambientais, além do fato de a temática ambiental ser um tema transversal cada vez mais trabalhado nas escolas.

Os alunos e professores demonstraram possuir uma relação direta com o reservatório.  A grande maioria dos alunos, 95%, utiliza o reservatório para banho e 59.17% deles utilizam a água para beber, principalmente aqueles que residem nas comunidades rurais. Já uma parte expressiva dos professores, 64%, afirmou não beber a água do açude. Alguns professores, mesmo sem terem sido solicitados no questionário, destacaram que deixaram, recentemente, o hábito de utilizar a água do reservatório para beber.  

 

Figura 2: quantidade de alunos e professores que utilizam ou não a água da barragem para beber.

 

3.2.2 - Eixo temático 2: qualidade de água

 

Este eixo era formado por três perguntas que tinham como objetivo, investigar se os alunos e professores entendem a dinâmica dos processos de eutrofização, tão comuns no reservatório de seus municípios (Quadro 1).

 

 


Quadro1 – perguntas relativas ao eixo temático 2

 

Menos da metade dos professores, 42.86%, afirmou já ter ouvido falar de cianobactérias e, apenas 3.33% dos alunos responderam positivamente à questão.  Já em relação ao termo eutrofização, somente 7.14% dos professores e 1.67% dos alunos já tinham ouvido falar desse fenômeno (Figura 3). Metade dos professores afirmou não se lembrar do termo eutrofização. Os demais professores, 42.86%, afirmaram nunca ter ouvido falar nesse termo. Essa mesma fragilidade em relação aos assuntos em questão foi diagnosticada por Petrovich & Araújo (2009) que justificaram essa lacuna devido ao fato do conteúdo programático das escolas não estarem adequados aos problemas regionais. Segundo Freire (1980), a formação do indivíduo só será plena e significativa se pensada em relação ao seu contexto de vida. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma educação contextualizada com as problemáticas ambientais, levaria um maior conhecimento aos professores e alunos sobre a dinâmica do meio ambiente em que eles vivem.

Por outro lado, mais de 80% dos alunos e docentes afirmaram que quando a água está esverdeada ela não pode ser consumida. Esses dados sugerem que os participantes têm uma idéia, ainda que superficial, e baseada no senso comum, sobre a problemática da eutrofização. É muito provável que suas experiências diárias com os “blooms” de cianobactérias, que são constantes nos reservatórios nordestinos, e expressos pelo “esverdeamento” da água, muitas vezes acompanhado de mortalidade de peixes, os leve à compreensão de que pode haver alguma coisa na água que não é benéfica, durante esses eventos.

 

Figura 3: Conhecimento de alunos e professores sobre cianobactérias e eutrofização

 

3.2.3 - Eixo temático 3: doenças de veiculação hídrica

 

Este eixo buscou averiguar a relação que os alunos e professores fazem do uso da água da Barragem com possíveis ocorrências de doenças. A maioria dos alunos e professores, 70.83% e 85.71%, respectivamente, afirmou que podem adquirir alguma doença se tomarem banho no reservatório. Esse número foi ainda maior, quando se questionou se a ingestão da água causaria alguma doença: aproximadamente 100% dos participantes responderam positivamente, indicando que eles sabem que a água é um possível veículo para determinadas doenças.

Os exemplos de doenças citados por professores e alunos, para as questões que tratavam sobre contato e ingestão de água do reservatório foram bastante semelhantes. As mais citadas foram: diarreia, infecção intestinal, cólera e leptospirose. Além dessas doenças, os alunos citaram vários sintomas como: “dor de cabeça”, “coceira”, “vômito”, “dores no corpo”, “pano branco”, “Infecção através de corte com conchas de animais”. Alguns alunos associaram a ingestão de água contaminada com doenças como “câncer de rim” e “dengue”. Em vários estudos (Mendes & Cardoso, 2009; Bertelli et al, 2009; Villar et al, 2008)  já foram observados padrões de concepções espontâneas que tendem a relacionar a transmissão da dengue à água, quando na verdade, o mosquito vetor que carrega o vírus é quem desempenha esse papel. Além disso, a publicidade de algumas doenças de veiculação hídrica em detrimento de outras, leva as pessoas a conhecerem somente algumas e elegerem-nas como mais importantes, já que estão em maior evidência. De toda forma, é necessário que as doenças de veiculação hídrica sejam melhor explicadas e divulgadas com ênfase na forma de contágio e prevenção, já que a maioria delas é causada por microrganismos, muitas vezes desconhecidos, devido ao seu pequeno tamanho. As doenças de veiculação hídrica ainda alcançam índices bastante altos na Região Nordeste quando comparada as outras regiões (BRASIL, 2004), dados que estes dados que revelam a necessidade de se estudarem as doenças que estão mais contextualizadas no semiárido, em aulas de ciências e biologia.

 

3.2.4 Eixo temático 4: biodiversidade – protozoários de vida livre. 

 

Muitos autores em seus trabalhos sobre a conservação da biodiversidade partem da premissa que há uma necessidade da sociedade, científica ou não, em conhecer as espécies para que estas venham a ser preservadas (Rabelo & Magalhães, 2011; Lisboa & Weinmann 2010; Jacomassa, 2010; Primack, 2001). Tendo isso em vista, as questões do último eixo foram elaboradas com o objetivo de investigar as concepções dos professores e alunos sobre a biodiversidade do reservatório, com foco nos protozoários de vida livre. Foram selecionadas aquelas questões que tratavam de seus habitats, funções e da possibilidade de eles causarem doenças (Quadro 2). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quadro2 – perguntas relativas ao eixo temático 4

 

 

Todos os professores afirmaram já ter ouvido falar em protozoários, entretanto, somente 50% deles souberam precisar onde seriam os possíveis habitats desses organismos (Figura 4). Eles podiam escolher as seguintes alternativas: “na água”, “no solo”, “no interior de outros animais” ou “em todos esses lugares”,  sendo esta última a alternativa correta. Somente 50% dos alunos confirmaram já ter ouvido falar dos protozoários e 48% afirmaram que esses organismos habitavam exclusivamente o ambiente aquático (Figura 6). Provavelmente, uma dificuldade encontrada pelos alunos em diagnosticar os habitats dos protozoários advém do fato de esses organismos não serem visualizados a olho nu, via de regra, o que torna complicado compreender que eles habitam muitos locais diferentes. Além disso, considera-se que os protozoários são negligenciados no conhecimento de suas características gerais, principalmente, quando comparados a outros grupos de microrganismos como vírus e bactérias e isso os tornam menos conhecidos (Caron, 2009).

 


Figura 4: Conhecimento dos PROFESSORES sobre os habitats dos protozoários

 


Figura 5: Conhecimento dos ALUNOS sobre os habitats dos protozoários

 

Um dado que chamou atenção foi a concepção sobre a capacidade que os protozoários têm ou não de causar doenças. Ao serem perguntados se todo protozoário causa doença, a maioria dos alunos, 77%, afirmou não saber e apenas 6% assinalaram que “não”. (Figura 7). Uma parcela expressiva de professores (43%) afirmou que todo protozoário causa doença, quando, na realidade, a minoria dos protozoários é capaz de causar algum tipo de patologia. Essa conotação negativa, provavelmente, deve-se ao fato destes organismos sempre aparecerem nos livros didáticos e, também, na mídia como sendo, exclusivamente, veiculadores de doenças.

Quando questionados se achavam que havia protozoários na água da Barragem de seus municípios, 57% dos estudantes relataram que “não sabiam”. Uma parte dos professores, 64%, assinalou positivamente a questão, porém, provavelmente, eles se referem aos protozoários parasitas, já que alguns dos docentes escreveram no questionário que “achavam que na barragem devia ter protozoários, já que lá tinha muita coisa que não presta”.

 

Essa visão negativa que os professores têm dos protozoários ficou ainda mais evidente, quando, em outra pergunta, 50% deles afirmaram que a existência de protozoários no açude quer dizer que a água é de má qualidade. Essas questões que envolvem a biodiversidade são complexas. Segundo Gurgel et al (2011), grande parte das pessoas não consegue estabelecer relações com os níveis de complexidade que envolve o tema biodiversidade.

 

4. PERSPECTIVAS E CONCLUSÕES

 

O presente estudo permitiu concluir que os professores e alunos reconhecem as múltiplas funcionalidades do reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, apesar de desconhecerem aspectos importantes da dinâmica e ecologia desse ambiente. As concepções de professores e alunos se igualaram em vários momentos, principalmente no tocante às doenças de veiculação hídrica.

Observou-se que os alunos e professores possuem uma relação direta com o reservatório, pois falam com propriedade sobre suas aplicações e características. Por outro lado, conclui-se que os problemas ambientais mais sérios do ambiente em questão, as cianobactérias e a eutrofização, não são conhecidas por alunos e professores. Isso gera a necessidade de que se tenha um sistema mais contextualizado de ensino-aprendizagem em ciências e biologia, contemplando as problemáticas ambientais locais.

Embora todos os professores tenham afirmado já terem ouvido falar em protozoários, a metade deles não soube precisar onde eles são encontrados. Isso comprova que o estudo desses organismos é negligenciado, e confirma que o ensino de temas que envolvem aspectos moleculares ou microscópicos é mais difícil, exigindo estratégias diferenciadas a serem utilizadas pelos professores.

Uma visão negativa dos professores e alunos sobre os protozoários ficou evidente, confirmando o grande desconhecimento do importante papel ecológico que esse grupo em especial apresenta em um ambiente aquático.

Diante disso, uma série de ações foi pensada e está sendo desenvolvida para ser aplicada, em um momento posterior, junto às comunidades escolares que foram alvo desta pesquisa, com o intuito de contribuir com a melhoria do ensino de ciências e biologia, no tocante especificamente aos ambientes aquáticos do semiárido. Essas ações se constituem em oficinas que envolvem o desenvolvimento de aulas práticas com a utilização da água do reservatório para se fazerem análises simplificadas da qualidade da água e para o conhecimento de organismos aquáticos microscópicos. Também estão sendo produzidos materiais didáticos alternativos como guias ilustrados, livros paradidáticos e sequências didáticas específicas sobre os temas aqui tratados, com a finalidade de contribuir com a educação científica na região semiárida nordestina.

 

 

 

5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos