Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/04/2021 (Nº 47) ATIVIDADE INSETICIDA DE PRODUTOS VEGETAIS NO CONTROLE NATURAL DE Sitophilus zeamais
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ATIVIDADE INSETICIDA DE PRODUTOS VEGETAIS NO CONTROLE NATURAL DE Sitophilus zeamais MOTS. (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) EM GRÃOS DE MILHO ARMAZENADO

 

João Luciano de Andrade Melo Junior1

Eng. Agrônomo. Mestrando em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Área Entomologia, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: luciiano.andrade@yahoo.com.br

 

César Auguste Badji2

Eng. Agrônomo. Doutor em Entomologia, Professor Dpto. Agronomia-Área Entomologia, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: cabadji@gmail.com

 

Luan Danilo Ferreira de Andrade Melo3

Eng. Agrônomo. Mestrando em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Tecnologia e Produção de Sementes, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: luan.danilo@yahoo.com.br

 

Sheylla Cristiny Alves da Silva4

Eng. Agrônomo. Mestrando em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Área Tecnologia e Produção de Sementes, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: sheylla_cristiny@hotmail.com

 

Resumo

 

            O milho é um dos alimentos agrícolas mais produzidos e consumidos no Brasil. Grandes perdas são ocasionadas durante o armazenamento dos grãos pelos produtores. O Sitophilus zeamais Mots. é a principal praga interna, de potencial destrutivo. O controle químico tem sido utilizado indiscriminadamente, porém sem eficácia. O controle natural, através de produtos vegetais, surge como alternativa, reduzindo os riscos causados ao ambiente. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito destes produtos no controle natural de S. zeamais. Os insetos foram criados em condição de Laboratório. Foi feito o teste sem chance de escolha. As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey. Foi observado efeito altamente significativo para os produtos vegetais testados como inseticidas. A pimenta-do-reino. (Capsicum baccatum) e a canela em pó (Cinnamomum zeylanicum) causaram maior toxicidade aguda, com mortalidade de adultos de S. zeamais de até 94%. O cravo da índia e a folha de moringa, apesar da baixa emergência, provocaram mortalidade de insetos abaixo de 41%. Recomenda-se o uso de C. baccatum e C. zeylanicum como inseticidas naturais. Todos os produtos podem ser utilizados como ovicidas/larvicidas.

 

Introdução

 

O milho (Zea mays L.) é o cereal mais consumido do mundo, em especial, por causa de suas fontes nutricionais, entre as quais estão as fibras, proteínas, carboidratos, vitaminas (sobretudo as do complexo B e vitamina E) e sais minerais (DANTAS, 2012). Nos próximos oito anos, a produção do milho no Brasil deverá situar-se em 70,4 milhões de toneladas, e o consumo em 58,8 milhões (MAPA, 2012). A área plantada de milho deverá aumentar cerca de 700 mil hectares, enquanto que a sua produtividade tem crescido 3,62% ao ano. A produção de milho situa-se dentre as principais atividades agrícolas praticadas no Brasil (CONAB, 2012).

Perdas qualitativas e quantitativas são as principais dificuldades encontradas durante o armazenamento dos grãos, pela ação de insetos-praga, e o milho é uma das culturas mais afetadas. No Brasil, a principal praga do milho armazenado é o Sitophilus zeamais Motschulsky, ordem Coleoptera e família Curculionidae, praga primária interna, conhecida como caruncho ou gorgulho-do-milho. Esta possui elevado potencial biótico, capacidade de atacar grãos em armazéns ou silos, e de sobreviver em grandes profundidades na massa dos grãos. Devido a sua rápida multiplicação este inseto pode ocasionar prejuízos econômicos elevados (ELIAS et al., 2009).

Infestações de S. zeamais, se iniciam no campo, antes do armazenamento, o que aliada a sua boa capacidade de voo e poder destrutivo, propicia elevada perda na fase de pós-colheita do milho (CERUTI et al., 2008). Os adultos atacam os grãos intactos e as fêmeas ovipositam no interior do grão, de onde se alimentam e desenvolvem as larvas. O período de incubação oscila entre 3 e 6 dias, sendo que o ciclo biológico de ovo até a emergência de adultos é de 34 dias tendo o milho como hospedeiro. Temperatura (oC): 25 a 33. Esta praga pode causar uma redução de até 10% na produção anual total do milho (LORINI, 2001).

A presença de S. zeamais representa um risco para os produtores, pois larvas e adultos do inseto consomem todo o interior dos grãos, ou endosperma, liberam suas fezes, e o milho armazenado é inteiramente destruído, além de se tornar um vetor de outros micro-organismos patogênicos. A redução da massa e qualidade dos grãos, e a redução da germinação das sementes são alguns dos prejuízos causados. O controle químico tem sido indiscriminada e amplamente empregado pelos produtores para controlar o gorgulho e as respectivas perdas. No entanto, este método de controle em algumas regiões, não surte mais efeito (BRAGA; 2007).

            Podem ser criados métodos alternativos de controle, como o natural, que não afeta o ambiente e nem a produção de grãos. O controle natural pode reduzir drasticamente o número de aplicações dos produtos químicos, diminuindo os riscos eminentes, e é de baixo custo, possibilitando o fácil acesso dos produtores interessados (CARDOSO, 2009). Face à necessidade de pesquisas com produtos alternativos, que possam minimizar o uso dos inseticidas químicos, o objetivo do trabalho foi avaliar a atividade inseticida de produtos vegetais no controle natural de S. zeamais presente em uma massa de sementes de milho.

 

Material e Métodos

 

Eliminação da infestação

 

            Os grãos de milho foram utilizados como substrato alimentar, limpos e secos. O milho foi colocado em sacos plásticos, e deixado no freezer durante sete dias. Temperatura (oC): - 10. Adotou-se este método para eliminação de eventuais infestações provenientes do campo. Após o tempo de freezer, os grãos foram transferidos para recipientes de vidro (13,0 cm altura x 10,0 cm diâmetro x 13,0 abertura), locais definitivos da criação da população, e mantidos no Laboratório de Entomologia Aplicada durante dois dias. Temperatura (oC): 25. Isto foi necessário para que o milho atingisse o equilíbrio higroscópico.

 

Criação de S. zeamais

 

            A criação do gorgulho-do-milho (Sitophilus zeamais Mots.) ocorreu a partir de uma população estoque fornecida pelo Laboratório de Toxicologia de Pesticidas, da Universidade Federal de Viçosa. Foi considerado um número mínimo de 500 insetos para o estabelecimento inicial da população. Os insetos de S. zeamais foram criados em condição controlada. Temperatura (oC): 25,0 ± 0,70. Umidade relativa (%): 80,0 ± 4,45. Fotofase (h): 12. Dez dias após a cópula, os insetos foram retirados dos recipientes, permanecendo apenas as oviposturas, permitindo a geração F1. As amostras foram repicadas, para garantia de insetos em número suficiente.

 

Produtos naturais testados

 

            Os produtos pimenta-do-reino (Capsicum baccatum), canela em pó (Cinnamomum zeylanicum), e cravo da índia (Caryophyllus aromaticus) foram adquiridos no comércio da cidade de Garanhuns-PE, sendo os dois primeiros procedentes da HIKARI INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA, Ferraz de Vasconcelos-SP, e o último, da RAIZES-ME, Garanhuns-PE. O produto folha de moringa (Moringa oleifera) foi coletado na zona rural de Caetés-PE. Os produtos C. baccatum, C. aromaticus e M. oleifera foram prensados e moídos, para facilitar a pesagem na dose recomendada.

 

Efeitos de produtos naturais. Teste sem chance de escolha

 

            Foi utilizado milho (Zea mays L.) coletado em unidades armazenadoras de produtores rurais do município de Garanhuns-PE. Cada produto foi testado, na dose de 0,4 g do produto/ 20 g de grãos de milho. Temperatura (oC): 25,0 ± 0,70. Umidade relativa (%): 80,0 ± 4,45. Fotofase (h): 12. Os produtos foram misturados manualmente ao milho em recipientes de plástico (4,0 cm altura x 8,0 cm largura x 10,0 cm comprimento), cobertos com tecido voil e tampa perfurada para circulação do ar. Foi feita a infestação nos recipientes com vinte adultos de S. zeamais, com até quinze dias de idade, não sexados.

            Realizou-se a contagem dos insetos vivos e mortos, descartando-os em seguida, isto após confinamento de cinco dias. Os adultos de S. zeamais emergidos também foram quantificados e descartados em avaliações diárias, a partir do trigésimo quinto dia do confinamento até o término da emergência, cinco dias consecutivos sem emergência (ZONTA et al., 1986). O experimento foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e cinco repetições. Foi feita a análise de variância, e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, através do Sisvar versão 5.3.

 

Resultados e Discussão

 

Efeitos de produtos naturais. Teste sem chance de escolha

 

            Na tabela 1 estão os valores obtidos com os testes sem chance de escolha dos adultos de Sitophilus zeamais Mots. Os resultados mostraram efeito altamente significativo para os produtos naturais testados. A pimenta-do-reino (Capsicum baccatum) e a canela em pó (Cinnamomum zeylanicum), na dose de 0,4 g do produto/ 20 g de grãos de milho, apresentaram maior toxicidade aguda, causando 94,0% e 90,0% de mortalidade, respectivamente, em adultos de S. zeamais. O cravo da índia (Caryophyllus aromaticus) e a folha de moringa (Moringa oleifera) provocaram mortalidade de 41,0% e 14,0%, respectivamente.

            A eficiência de C. baccatum e C. zeylanicum na mortalidade de S. zeamais, pode estar relacionada ao efeito ocasionado pelas ações de contato e ingestão, características geralmente presentes em produtos deste tipo (LEE et al., 2003). Possivelmente C. baccatum e C. zeylanicum têm ação ovicida/larvicida. Resultados semelhantes já foram encontrados por Coitinho et al. (2006), que ao realizar testes como este com S. zeamais, utilizando óleos de Caryocar brasiliense, Cedrela fissilis, Carapa guianensis, e Eucaliptus citriodora, na dose de 50 μL do óleo/ 20 g de grãos de milho, observou alta mortalidade, respectivamente 95,0%, 92,5%, 90,0% e 87,5%.

            Como a emergência de insetos foi zero para a maioria dos tratamentos, os resultados não foram submetidos à análise de variância, calculando-se apenas o erro padrão das médias. Com os produtos C. baccatum e C. zeylanicum, a redução da emergência de adultos de S. zeamais foi de 100,0%. C. aromaticus e M. oleifera causaram redução de 25,0% e 52,0%, respectivamente. Comparando-se os efeitos na mortalidade e emergência causados por C. aromaticus e M. oleifera, verificou-se uma baixa mortalidade, porém com a emergência de poucos insetos, 1,0 e 2,0, respectivamente (Tabela 1).

            De acordo com Botton et al. (2005), como já foi discutido, alguns produtos naturais possuem ação ovicida/larvicida, o que pode explicar a baixa mortalidade e também a pequena quantidade de insetos emergidos. O óleo de Elletaria cardamomum apresentou esta mesma ação, propiciando alta mortalidade de ovos, e consequentemente suprimindo a emergência de adultos de S. zeamais (HUANG et al., 2000). Segundo Bonner (2008), isto acontece por causa da acumulação de metabólitos tóxicos, como resultado de um efeito de barreira, diminuindo a atividade respiratória, bem como da penetração do óleo e seus componentes para o interior do ovo.

 

Tabela 1. Efeito (média ± EP) de produtos naturais, na dose de 0,4 g do produto/ 20 g de grãos de milho, na mortalidade e emergência de adultos do gorgulho-do-milho (Sitophilus zeamais Mots.). Teste sem chance de escolha. Temperatura (oC): 25,0 ± 0,70. Umidade relativa (%): 80,0 ± 4,45. Fotofase (h): 12. n = 25. Após cinco dias de confinamento.

Tratamento

Mortalidade1 (%)

Emergência

Redução da emergência (%)

Pimenta-do-reino

94,0 ± 4,95 a

0,0 ± 0,00

100,0

Canela em pó

90,0 ± 7,28 a

0,0 ± 0,00

100,0

Cravo da índia

41,0 ± 5,25 b

1,0 ± 0,66

25,0

Folha de moringa

14,0 ± 3,50 c

2,0 ± 1,37

52,0

Testemunha

0,0 ± 0,00 d

6,0 ± 1,70

1Médias ( EP) seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

Conclusão

 

            Os impactos ao ambiente e a saúde podem ser reduzidos, através de práticas alternativas, que não o uso de produtos químicos, altamente tóxicos. Os produtos vegetais podem ser utilizados como inseticidas no controle natural de S. zeamais. Recomenda-se o uso da pimenta-do-reino (C. baccatum) e da canela em pó (C. zeylanicum), 94% e 90% de mortalidade de insetos, respectivamente, para tratar os grãos de milho armazenados. Todos os produtos podem ser usados como ovicidas/larvicidas.

 

Referências Bibliográficas

 

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CARDOSO, J. R. Manejo integrado de pragas em grãos armazenados. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre- RS, 33 p. 2009.

 

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MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. ASSESSORIA DE GESTÃO ESTRATÉGICA. Brasil Projeções do Agronegócio 2011/2012 a 2021/2022. Brasília, Abril de 2012.

 

ZONTA, E. P.; SILVEIRA, P.; MACHADO, A. A. Sistema de análise estatística (SANEST). Pelotas: Instituto de Física e Matemática (UFPel), 1986. 399p.

Ilustrações: Silvana Santos