Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) ADESÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS COMO OPÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL EM PEQUENAS PROPRIEDADES DO MUNICÍPIO DE BREJÃO - AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO
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ADESÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS COMO OPÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL EM PEQUENAS PROPRIEDADES DO MUNICÍPIO DE BREJÃO - AGRESTE MERIDIONAL DE PERNAMBUCO

 

 

Luan Danilo Ferreira de Andrade Melo1

Eng. Agrônomo. Mestrando em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Tecnologia e Produção de Sementes, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: luan.danilo@yahoo.com.br

 

João Luciano de Andrade Melo Junior2

Eng. Agrônomo. Mestrando em Produção Agrícola. Dpto. Agronomia-Área Entomologia, UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: luciiano.andrade@yahoo.com.br

 

Raíssa Cardoso Tenório3

Graduanda em Medicina Veterinária. Monitora da disciplina de Patologia Clínica Veterinária

UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: raissa_t91@hotmail.com

 

Larice Bruna Ferreira Soares4

Graduanda em Medicina Veterinária. Bolsista de PIBIC/FACEPE

UFRPE, Garanhuns-PE, 55292-270. E-mail: brunaa_soares@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

            Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) apresentam inúmeras vantagens do ponto de vista produtivo, quando comparados aos monocultivos, pois diversificam a produção, melhoram a conservação do solo e, ao mesmo tempo, reduzem a pressão sobre os recursos naturais. Atualmente a agroecologia mostra-se como a base científica principal para conversão da agricultura convencional para uma agricultura sustentável. A agricultura tradicional ao longo dos anos vem degradando áreas de produção, entre outros fatores, pelo mau uso e conservação dos recursos naturais e uso de insumos externos. Dentro desse aspecto, o presente trabalho tem o objetivo de ponderar a perspectiva dos Sistemas Agroflorestais como alternativa de uso da terra em pequenas propriedades do município de Brejão - Agreste Meridional de Pernambuco. A metodologia utilizada foi elaborada com a preocupação de resgatar a diversidade biológica e manter o meio ambiente saudável, ação que repercute positivamente na saúde de quem vive nesse ambiente. A adoção de Sistemas Agroflorestais apresenta-se como uma proposta benéfica para os produtores rurais. Se tornando uma forma de melhorar a qualidade de vida, através do aumento da renda e recuperação ambiental.

 

Palavras-chaves: Agricultura familiar; Áreas de produção; Pequenas propriedades; Sistemas Agroflorestais.

 

 

INTRODUÇÃO

 

            A adoção de Sistemas Agroflorestais (SAF’s) é um tema recente, e estes são estratégias de modelos responsáveis por proporcionar melhores condições de vida às unidades de exploração agrícola. Esta questão está intimamente ligada com a Agroecologia que é a ciência que estabelece as bases para construção de estilos de agricultura sustentável (CAPORAL & COSTABEBER, 2004).

          Segundo Leônidas et al., (1998) os SAF’s são definidos como métodos alternativos de uso da terra, que sugerem a mescla de espécies florestais com culturas agrícolas, atividades pecuárias ou ambas. Trata-se de um modelo dinâmico baseado no manejo de recursos naturais, por meio da integração de árvores, cultivos agrícolas e animais, diversifica e contribui para a sustentabilidade da produção, promovendo o aumento significativo dos benefícios ambientais, econômicos e sociais nas propriedades rurais.

            Fernandes et al., (1994) afirmam que esses sistemas não são adotados em larga escala no Brasil. Em geral, são praticados pelos pequenos produtores em áreas marginais da propriedade ou em terrenos já degradados. Talvez isso ocorra porque os pequenos fragmentos ainda existentes nas propriedades agrícolas como áreas de Reserva Legal e Preservação Permanente, são encarados como “terras improdutivas”, um verdadeiro entrave à maximização do uso destas (CULLEN JR. et al., 2003). Também a maioria das comunidades, têm dificuldade para abarcar os complexos mecanismos e benefícios biológicos decorrentes da prática agroflorestal.

            A adoção os SAF’s combinam os benefícios da produção de alimentos, forragem, energia, madeira e outros, bem como serviços de conservação do solo, manutenção da fertilidade, ciclagem de nutrientes e o restabelecimento do microclima (MONTOYA & MAZUCHOWSKI, 1994).

            A idealização é a fase que antecede a implantação dos Sistemas Agroflorestais e, por isso, fundamental na escolha da melhor alternativa que será adotada pelo produtor rural. LUNZ & FRANKE (1998) propõem que o sucesso do futuro Sistema dependerá, em grande parte, das decisões tomadas antes de implantá-lo no campo. Explica-se, assim, a geração de modelos de SAFs apropriados às características dos municípios e à realidade do agricultor.

            A Agricultura familiar é a principal fonte de abastecimento de alimentos do mercado interno, constituída por pequenos e médios produtores. É aquela em que a gestão, a unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos pelos membros da família (CARMO, 2000; CANUTO, 1998).

           Tendo como base o progresso da qualidade de vida, a Agricultura Familiar é compreendida como alternativa produtiva, ensejando a possibilidade de preservar o meio ambiente, valorizar a cultura local e dignificar socialmente o agricultor. Mesmo não existindo conceito universal para qualidade de vida, este conceito tem se constituído em preocupação mundial nos últimos anos.             Em uma sociedade sustentável e saudável, o progresso é medido pela qualidade de vida, isto é, saúde, longevidade, maturidade psicológica, educação, ambiente limpo, espírito comunitário e lazer criativo, ao invés do puro consumo material (NAIR, 1993; SILVA, 2000). Esse artigo se propõe a tratar dos efeitos futuros acarretados na vida do agricultor familiar e na dinâmica de sua propriedade, proporcionando assim a manutenção e o desenho de agroecossistemas sustentáveis, por meio da implantação de Sistemas Agroflorestais em um aspecto multidisciplinar, visando às características econômicas e ambientais.

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MATERIAL E METÓDOS

 

            O município de Brejão-PE, segundo dados do IBGE (2006), apresenta uma população de 8.884 habitantes em uma área de 160 km². Possuindo bioma da caatinga a mata atlântica e tem sua economia baseada na agropecuária. Com base nisso a metodologia empregada foi a da visão multidisciplinar, proveniente da aplicação de questionários, totalizando oito pequenos produtores, nos meses de março a junho de 2013. O método dinâmico busca a interação, extensão e produtor, para alcançar o ambiente necessário ao desenvolvimento agroflorestal de forma ordenada. Entre maio e junho de 2013, foram aplicados questionários aos agricultores, e foram feitas pesquisas na prefeitura de Brejão-PE para levantar os dados do município e observar as características deste. Foram entrevistados agricultores responsáveis por oito propriedades. O questionário utilizado na pesquisa em campo era composto por seis perguntas:  

 

1)   Qual o seu nome?

2)   Qual é à base de sua renda?

3)   Você acha possível produzir sem agrotóxico?

4)   Você recebe assistência técnica?

5)   Qual o tamanho da propriedade, as atividades que realizam nestas?

6)   Você já ouviu falar de Sistemas Agroflorestais?

 

            Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados e transformados em porcentagem.

            A expectativa é de que o SAF recupere as áreas degradadas, através do plantio consorciado de mudas de ciclos curto e médio, conciliado com o plantio de mudas e sementes de espécies florestais nativas. Levou-se em consideração o tipo de solo predominante e o arranjo agroflorestal montado.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

            Depois de três meses de execução do projeto, observou-se que os produtores rurais entrevistados possuíam excelentes informações sobre a acuidade da vegetação nativa, na recuperação de antigas áreas afetadas pelo uso intensivo do solo, com a agricultura e a criação de animais. Porém, ficou evidente a falta de assistência técnica capacitada, pois 90% dos entrevistados reclamavam sobre este item. Isso pode ter contribuído para a degradação ambiental, pois os assentados, por si, não conheciam formas alternativas de manejo. No município de Brejão, as principais atividades econômicas são os cultivos de café, olerícolas e de frutíferas. A pecuária se destaca com a produção de leite.

            Com relação à Figura 1, foi constatado que 20% dos produtores têm 4 ha cultivados com café; 20% empregam 5 ha na pecuária leiteira; 20% destinam 1,5 ha a frutíferas, 20% têm área de 3 ha com feijão, 10% produzem café em áreas de 3 ha e 10% o cultivam em área de 2 ha.

 

FIGURA 1.bmp

FIGURA 1. Gráfico referente à pergunta: qual o tamanho da propriedade, e as atividades que realizam nestas?

 

            Merece destaque a diversidade de plantas que alguns sítios visitados apresentavam. Com até oito espécies de culturas como banana, mamão, caju, manga, jaca, batata inglesa, feijão, milho, além de ervas como hortelã e boldo e três espécies florestais nativas como paineira, timbaúva e ipê. A renda do pequeno agricultor está voltada para a comercialização de café, de culturas alimentícias como o feijão e de frutíferas. A maioria das culturas apresenta um bom estado fitossanitário, indicando que o consórcio de várias espécies em espaços pequenos é possível, o que falta são conhecimentos prévios de planejamento e assistência técnica.

O relevo marcante, peculiar de pequenas propriedades do Agreste Meridional de Pernambuco, leva a um plantio em curvas de nível para promover o uso sustentável do solo. Diante disso, a implantação dos Sistemas Agroflorestais são opções alternativas na recuperação de uma meio ambiente degradado.

 A agrofloresta melhora a fertilidade e a estrutura do solo, além de contribuir para a proteção dos cursos d’água, e manutenção da biodiversidade (COPIJN, 1988).

O modelo escolhido com base nas atividades desenvolvidas para as pequenas propriedades foi o agrosilvicultural, devido a este consorciar culturas agrícolas com espécies florestais, já que o número de animais é relativamente baixo. As atividades previstas no projeto estão sendo executadas e o SAF está se desenvolvendo aos poucos. O trabalho é do tipo corpo-a-corpo e até o momento existem muitos interessados em adotar o sistema.

 

CONCLUSÃO

 

            As implantações de agroflorestas nos sítios do município de Brejão irão propiciar o gerenciamento da produção, e melhora na qualidade de vida dos agricultores beneficiados. Com as visitas aos agricultores deste município obteve-se o seguinte entendimento: as Agroflorestas só vêm a proporcionar melhorias para o meio ambiente.

            No Agreste Meridional de Pernambuco, é imprescindível a necessidade de florestas para diminuir os efeitos causados aos seus recursos naturais. Assim, os Sistemas Agroflorestais são saídas eficazes para o pequeno agricultor familiar, pois continuam produzindo, entretanto com o estilo de vida qualificado.

 

BIBLIOGRAFIA

 

CANUTO, J. C. Agricultura ecológica familiar: mercados e sustentabilidade sociológica global. In: MOTA et al. (Edit.) Agricultura familiar: desafios para a sustentabilidade. Aracajú: EMBRAPA-CPATC, SOR/MA, 1998.

 

CAPORAL, Franscisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia: alguns conceitos e princípios /5 p. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004.

 

CARMO, R. B. A. A questão agrária e o perfil da agricultura familiar brasileira. Bahia Agrícola, v.4, n. 1, nov. 2000.

 

COPIJN, A.N. Agrossilvicultura sustentada por sistemas agrícolas ecologicamente eficientes. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1988.

 

CULLEN JR, L. et al. Trampolins ecológicos e zonas de benefício múltiplo: ferramentas agroflorestais para a conservação de paisagens rurais fragmentadas na Floresta Atlântica Brasileira. Revista Natureza & Conservação, v.1, n.1, p.37-46, 2003.

 

IBGE, Censo Agropecuário 2006, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

FERNANDES, E. N.; BONETTI FILHO, R. Z.; SILVA, E. Avaliação de impactos ambientais de Sistemas Agroflorestais. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE SISTEMAS AGROFLORESTAIS, 1., 1994, Porto Velho. Anais... Colombo: Embrapa.,1994. v.2. p.361-372.

 

LEÔNIDAS, F.C.; COSTA, N.L.; LOCATELLI, M.; TOWNSEND, C.R.; VIEIRA, A.H. Leguminosas arbóreas e arbustivas de múltiplo uso em Rondônia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: No contexto da qualidade ambiental e competitividade, 2. 1998, Belém, Pará. Embrapa – CPATU, p.46-48, 1998.

 

LUNZ, A.M.P.; FRANKE, I.L. Princípios gerais e planejamento de sistemas agroflorestais. Rio Branco: Embrapa-CPA/AC, 1998 a. 26p. (Circular Técnica, 22).

 

MONTOYA, L.J.; MAZUCHOWSKI, J.Z. Estado da arte dos sistemas agroflorestais na região sul do Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE SISTEMAS AGROFLORESTAIS, 1., 1994, Porto Velho. Anais... Colombo; EMBRAPACNPF, 1994. v.1, p.77-96.

 

NAIR, P.K.R. An introduction to agroforestry. Kluwer Academic Press. The Neatherlands, 1993. 449p.

 

SILVA, A. K. de M. da. Perfil sócio-econômico e nível de qualidade de vida dos produtores rurais do município de Mossoró-RN. 55 fs. Monografia, (Graduação em Engenharia Agronômica), Escola Superior de Agricultura de Mossoró-ESAM, Mossoró, 2000.

Ilustrações: Silvana Santos