Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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PROPOSTA
METODOLÓGICA PARA SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTORES RURAIS Julio
Cesar Pascale Palhares - Maria
do Carmo Calijuri RESUMO
Uma
proposta metodológica de sensibilização ambiental a qual teve como público-alvo
produtores rurais do município de Jaboticabal-SP objetivou sensibilizá-los
para importância dos recursos naturais. Iniciou-se o projeto realizando-se um
estudo prévio das características agropecuárias regional. Para a sensibilização,
utilizaram-se de palestras, com periodicidade quinzenal, nas quais os
palestrantes abordaram temas de destacada importância na realidade agropecuária.
Considerando-se o tipo de abordagem utilizada na qual o educando iria ao
educador esta não se mostrou eficiente para este tipo de público. Em estudos
futuros a abordagem utilizada deverá considerar visitas periódicas do educador
ao educando, a fim de que uma relação de confiabilidade seja estabelecida
entre produtor e projeto. Palavras-Chaves:
microbacia hidrográfica, criações animais, recursos naturais INTRODUÇÃO Quando
se pensa em educação, a divisão entre público urbano e rural faz-se necessária,
devido à enorme diferença entre estes dois, considerando-se principalmente,
parâmetros sociais e culturais. Na população rural, a variabilidade de
realidades é elevada, encontrando-se, desde o pequeno agricultor, que produz
somente para subsistência de sua família em uma pequeno lote de terra, o
grande latifundiário, que dispõe de uma enorme quantidade de terras, muitas
delas improdutivas ou exauridas por cultivos sucessivos, até o produtor rural
profissional, que utiliza das mais modernas técnicas agropecuárias, atingindo
índices de produção similares aos melhores do mundo. Mas
as diferenças comuns entre a quantidade de terras que dispõem, os níveis de
capitalização e técnico não são os mesmos quando se analisa o nível de
escolaridade destes produtores, pois a grande maioria possui níveis baixos,
sendo raro encontrar-se produtores rurais com terceiro grau completo. Analisando-se
o relacionamento produtor/meio ambiente, as diferenças também são
pertinentes, pois um produtor, criando e cultivando de forma intensiva em
sistemas de monocultura, será muito mais impactante do que aquele pequeno
produtor que consome um mínimo de recursos naturais e gera uma reduzida
quantidade de dejetos animais e resíduos agrícolas por área. Considerando-se
estas realidades produtivas inseridas no contexto ambiental da agropecuária
nacional, pergunta-se: Quem devemos educar? A resposta mais simples e da grande
maioria será, todos os produtores. Mas como citados são os latifundiários ou
aqueles que produzem com altos níveis de concentração e intensificação que
verdadeiramente degradam e consomem grandes quantidades de solo e água, que
produzem uma enorme quantidade de poluição pontual e difusa, promovendo os
maiores impactos ambientais. Porque a quase totalidade dos programas e projetos
de educação ambiental no campo tem, como públicos alvo, os pequenos
produtores, as populações ribeirinhas, ou seja, aqueles que ambientalmente não
representam grandes problemas. Talvez uma resposta plausível seja a de que
educar um produtor que tem poder econômico, altamente conservador e fechado a
novos conceitos seja uma tarefa muito mais árdua do que educar uma pessoa
descapitalizada e propensa a ser ajudada. Mas se este grande produtor não começar
a mudar sua forma de utilizar o meio ambiente, não será somente ele que sofrerá
as conseqüências mas, também, as pessoas e cidades a sua volta que necessitam
dos recursos os quais estão sendo exauridos e/ou depreciados. Não se objetiva
eleger os grandes produtores como os culpados dos problemas ambientais que
enfrentamos, a grande maioria deles está somente perpetuando um sistema de
produção imposto, no qual os interesses econômicos e financeiros são
enormes, mas deve-se, através da educação ambiental, mostrar-lhes
alternativas economicamente rentáveis e ambientalmente saudáveis. Mas
de nada adiantará identificarmos o público alvo se não soubermos responder à
uma outra questão: Educar para quê? Ou na visão dos produtores a pergunta,
poderia ser a seguinte: Mudar para quê? Além dos problemas educacionais do
nosso país, os problemas agropecuários também são enormes, os quais vão,
desde a distribuição de terras até a total ausência de uma política
agropecuária condizente com o potencial que o país dispõe para produzir.
Esses problemas originaram-se no início de nossa colonização e
solidificaram-se com o decorrer de nossa história, onde a agricultura foi
sempre feita em ciclos para suprir as necessidades de matérias-primas dos países
dominantes. Mais recentemente, deu-se a "Revolução Verde", responsável
pelos grandes problemas ambientais originados pela agropecuária no século XX.
Atualmente, fala-se em globalização em produzir para mercados mundiais. Como
um país que não dispõe de uma política agrícola, ou seja, onde o produtor
sente-se totalmente abandonado e prisioneiro de interesses econômicos, poderá
querer mudar a realidade ambiental de sua agropecuária? Assim, de nada adiantará
promover a educação se educadores e educandos não conseguirem enxergar um
horizonte comum, ou seja, mudar a estrutura produtiva, considerando as vertentes
sociais, ambientais e econômicas, tendo para isto uma sustentação
governamental e de mercado, onde a agropecuária seja vista como uma parceira do
desenvolvimento e não um setor a ser explorado. Este
trabalho teve como objetivo desenvolver uma proposta metodológica para
sensibilização ambiental de produtores rurais onde estes educandos dirigiam-se
até o educador para que a sensibilização ocorresse, sendo delineada baseada
em atividades comuns a este tipo de público alvo. MATERIAIS
E MÉTODOS O
trabalho foi desenvolvido na cidade de Jaboticabal-SP com produtores rurais, que
dispunham no mínimo de um tipo de cultura animal, localizados nas várias
microbacias hidrográficas que fazem parte da Bacia Hidrográfica do Córrego
Rico. O modelo utilizado na proposta de sensibilização teve como base para seu
delineamento experiências documentadas em literatura da área e experiências
passadas ao pesquisador por técnicos e líderes agropecuários atuantes na região.
Seis
meses antes de se iniciar o programa de sensibilização foram estabelecidos
contatos com líderes rurais, técnicos e extensionistas de órgãos
governamentais, profissionais do poder público municipal, representantes de
entidades de classe, proprietários, enfim, pessoas que tivessem representação
e/ou experiência dentro da comunidade rural do município.
Esta
estratégia objetivou: difundir o projeto para que, no momento de seu início,
este fosse identificado como algo comum ao cotidiano agropecuário e benéfico
às suas aspirações produtivas; identificar e conquistar os líderes rurais do
município a fim de que estes servissem como multiplicadores dos conceitos e
vantagens da proposta e dessem um maior respaldo ao projeto; levantar e analisar
estudos que já tivessem sido feitos na região com esta classe de pessoas,
identificando seus erros e acertos para que o programa fosse mais eficiente;
estabelecer parcerias com entidades de representação, órgãos estaduais e
municipais e comércio em geral, para que o projeto adquirisse maior
confiabilidade perante a comunidade agropecuária e; formar um cadastro de todos
os proprietários da região no qual constasse pelo menos, o endereço e
atividade principal do produtor, servindo este de base para o estabelecimento
das atividades da proposta e forma de contato com os produtores.
Como
resultado desta estratégia diversos contatos e 28 parcerias foram
estabelecidas.
Experimentou-se,
através da utilização de um questionário composto por questões envolvendo
somente a temática ambiental, conhecer e estabelecer as relações que os
produtores rurais mantêm com o meio ambiente e a utilização dos recursos
naturais. Por experiências prévias, estabeleceu-se que a forma de resposta a
este questionário seria diretamente ao pesquisador. Como a respostas ao
questionário seriam dadas de forma direta ao pesquisador, as informações
tidas como informais, ou seja, comentários do produtor que fossem pertinentes
ao tipo de informação requerida, seriam anotados e poderiam servir para
enriquecer a discussão dos resultados.
A
utilização de palestras e dias-de-campo tiveram como objetivo sensibilizar os
produtores para as questões produtivas, econômicas e ambientais. Estes tipos
de atividades foram escolhidas em função de serem comuns e terem a aceitação
dos produtores, sendo há muito utilizadas por extensionistas de órgãos públicos,
empresas, etc., demostrando elevada eficiência na execução de seus objetivos
quando utilizados para este tipo de público-alvo.
Os
temas das atividades foram estabelecidos com base no estudo prévio da realidade
agropecuária do município. Para o delineamento dos temas iniciais,
identificaram os principais problemas ambientais enfrentados pelos produtores
naquele momento, de acordo, principalmente, com a Promotoria de Meio Ambiente de
Jaboticabal e os oficiais do 10 GP da Polícia Florestal de
Mananciais.
As
palestras tiveram periodicidade quinzenal, sendo realizadas sempre no horário
noturno das 19:00 às 21:00h no auditório da Associação Regional dos
Engenheiros e Arquitetos de Jaboticabal (AREA).
As
atividades de campo possuíam uma conotação mais técnica, sendo imprescindíveis
para sua realização, uma unidade estrutural (fazendas, canteiros, instalações,
etc.) e um parceiro econômico responsável pelos custos de promoção do
evento. Sendo assim, a periodicidade desta atividade foi estipulada em decorrência
da congruência destes dois fatores para sua execução.
Foi
criado um “nome fantasia” com seu correspondente logotipo para o projeto a
fim de aumentar sua penetração na comunidade. O "nome fantasia" foi
Projeto AMBIENTE RURAL - Parceria: Produtor/Meio Ambiente.
Como
forma de aumentar a adesão dos produtores ao projeto, foi elaborado um convênio
com vários estabelecimentos comerciais de produtos e serviços de interesse a
este público, os quais poderiam dar vantagens especiais ao produtor que
participasse no projeto. Para que o produtor tivesse direito a estas vantagens
ele tinha que possuir a carteirinha de identificação, distribuída pelo
coordenador, e ter uma freqüência mínima nas atividades desenvolvidas de 75%.
Buscou-se com isto, além das questões técnicas abordadas, disponibilizar um
incentivo comercial, aumentando a possibilidade de integralização dos
objetivos do programa de sensibilização.
Além
desta função as carteirinhas de identificação tinham a função de servir
como uma forma de controle da presença do produtor nas atividades
estabelecidas. Através do controle da presença, o coordenador podia
identificar os produtores com baixa freqüência nas atividades e atuar no
sentido de aumentá-la.
Foram
produzidos 500 cartazes para serem utilizados na divulgação das atividades da
proposta. A utilização destes ocorreu da seguinte forma: uma semana antes da
data da atividade, estes cartazes foram afixados em lugares públicos:
cooperativas agropecuárias, associações rurais, órgãos públicos, casas
comerciais, etc. Os cartazes continham as seguintes informações: título da
atividade, palestrante, horário, local e data. Com
o intuito de aumentar a divulgação do nome e do logotipo da proposta
confeccionou-se adesivos (500 adesivos), que foram distribuídos aos produtores
participantes e outros interessados, para serem colocados em seus automóveis,
identificando-os como um parceiro do meio ambiente. Estes também foram distribuídos
nos estabelecimentos comerciais conveniados para que os produtores pudessem
identificá-los como um parceiro e usufruir das vantagens. As
camisetas, com o mesmo objetivo dos adesivos, confeccionadas em número de 50,
foram distribuídas somente aos produtores que disponibilizaram suas fazendas
para coleta de amostras de água, palestrantes convidados, líderes rurais e
autoridades que auxiliaram na divulgação do projeto. RESULTADOS
E DISCUSSÃO Quanto
aos questionários os dados coletados não serão discutidos pois o número de
respondentes foi muito reduzido. Assim, estes não podem ser considerados como
representativos da visão ambiental dos produtores de Jaboticabal-SP. A razão
para o reduzido número de questionários respondidos reside no fato de que,
pela proposta inicial, estes seriam respondidos durante os encontros, palestras
e dias-de-campo. Como a participação dos produtores nas palestras foi muito
baixa, isto refletiu na quantidade de questionários respondidos.
Devido
a este resultado, propõe-se que o pesquisador desloque-se até a fazenda e/ou
residência do produtor para que este responda ao questionário, desta forma, a
resposta aos questionários não estará condicionada a participação do público-alvo
a qual não pode ser garantida.
Nenhum
dia-de-campo foi realizado pois o projeto não poderia garantir a presença dos
produtores rurais a um possível patrocinador desta atividade. Esta certeza da não
garantia de participação deu-se devido as experiências prévias com as
atividades de palestras. Com isto, pensou-se que, caso fosse realizado um
dia-de-campo e este tivesse um insucesso, poderia depreciar o nome do projeto
frente ao patrocinador e a comunidade rural.
Inicialmente
as palestras ocorreram conforme o estipulado, mas a partir da quinta palestra,
em decorrência da inexpressiva participação de produtores, este tipo de
atividade foi cessado.
Na
Tabela 01 pode-se observar os temas abordados nas palestras, o palestrante, o número
de produtores em cada palestra e o número de participantes. Tabela
01- Temas abordados nas palestras, palestrante, número de produtores e o número
de participantes.
O elevado número de participantes no
primeiro encontro, em comparação com os outros, ocorreu devido a coordenação
do projeto e ao parceiro na atividade, empresa L/Amorim, distribuírem convites
aos produtores, autoridades e personalidades do município. Além de terem sido
feitos telefonemas a vários produtores, convidando-os pessoalmente a
participarem. Foram distribuídos 250 convites e realizados aproximadamente 40
telefonemas. Considerando estes números, a participação pode ser considerada
baixa para a divulgação realizada. Este tipo de divulgação não pôde ser
feita nas outras palestras devido a impedimentos financeiros. Apesar
dos temas iniciais das palestras terem sido estipulados, considerando os
principais problemas ambientais que atingiam os produtores do município, estes
não despertaram o interesse dos produtores, mesmo sendo os proprietários
constantemente penalizados por tais problemas. Em
conversas com os profissionais da CATI/Jaboticabal que realizam palestras
periodicamente na cidade, muitas delas no mesmo local e horário, e que realizam
a divulgação destas através de convites entregues em mãos aos produtores, pôde-se
constatar que a freqüência deste tipo de público é sempre reduzida, em
comparação ao número de convites distribuídos. Estes mesmos profissionais
informaram que o único tema capaz de completar um auditório é a respeito de
linhas de crédito para os produtores rurais. Apesar
do insucesso em relação a participação do público-alvo nas atividades
propostas, estas não devem ser consideradas ineficientes para este tipo de público.
Em projetos futuros estas devem ser mantidas modificando-se o tipo de abordagem,
ou seja, indo o educador até o educando, estabelecendo-se uma relação
projeto/produtor muito mais íntima. O aprofundamento desta relação dar-se-á
através de visitas periódicas às fazendas, ocasião em que, não só as questões
ambientais devem ser discutidas mas também as culturais, sociais, econômicas e
produtivas. Estabelecendo-se esta relação de confiança do produtor no
projeto, acredita-se que a participação nas atividades será potencializada.
Shepard (1997), objetivando estabelecer um programa de educação ambiental para
o controle de fontes de poluição difusa provenientes da agropecuária,
utilizou entre outros os seguintes métodos para atingir os produtores rurais:
estreita relação humana (entrevistas, visitas a propriedades, resolução de
conflitos e problemas); condução de pesquisas experimentais a campo,
estabelecimento de viagens e dias-de-campo, publicação de cartilhas e artigos,
trabalho conjunto com a mídia, palestras, etc. O autor conclui que as
atividades que estabelecem um estreito contato com os produtores proporcionam
uma maior participação destes no programa, com conseqüente sensibilização e
adesão a técnicas relacionadas à preservação ambiental.
Apesar
do número de parceiros ao projeto ter sido elevado, muitos destes dispondo de
elevado grau de respeitabilidade frente a comunidade rural de Jaboticabal, o que
levou a pensar que isto catalisaria a penetração da proposta no meio rural,
este fato não ocorreu, pois as parcerias limitaram-se a um acordo verbal e,
quando solicitadas para efetiva participação, esta não aconteceu. Ressalta-se
que todas as parcerias foram oficializadas por meio de cartas assinadas por
ambas as partes, nas quais estipulava-se o tipo de parceria estabelecida.
Conclui-se que não basta somente estabelecer as parcerias: é preciso cobrar e
viabilizar as responsabilidades de ambas as partes, pois se uma delas não
cumpre com o acordado, compromete todo o projeto. Infelizmente observou-se que
se não há um forte interesse político e/ou econômico, o estabelecimento da
parceria e seu desenvolvimento é comprometido. A
adoção ou a modificação de práticas agrícolas geralmente não ocorrem como
conseqüência de um programa educacional específico. As mudanças ocorrem
vagarosamente, ao longo do tempo. Portanto, é essencial continuar a desenvolver
estes programas educacionais que fornecem informações atualizadas e dados
relativos à produção agropecuária, bem como, envolvem pesquisadores,
extensionistas, agências governamentais, indústria, enfim toda sociedade em
uma real parceria (Smith, 1997). Considerando-se
a metodologia utilizada para sensibilização ambiental dos produtores rurais
contida na proposta os seguintes fatores foram relevantes para a não
efetividade desta: como o objetivo era sensibilizar determinado público-alvo
para as questões ambientais de suas atividades econômicas, o meio ambiente
deve ser parte integrante do perfil social e principalmente econômico deste público,
caso este não o seja o processo de sensibilização não ocorre ou
desenvolve-se com dificuldades. Segundo Schumacher (1982), a missão precípua
da educação é a transmissão de valores ela é fundamental para o
enfrentamento das questões da vida através da formação de sujeitos críticos,
significa propiciar o florescimento de algo que já está dentro da pessoa. Inicialmente
pensou-se ser uma vantagem ao desenvolvimento da proposta o fato de que somente
11,26% dos produtores rurais do município residiam na propriedade, pois as
atividades iriam ocorrer quase que integralmente no meio urbano, onde residiriam
a maior parte dos produtores. Mas no decorrer do projeto, o que poderia ser uma
vantagem mostrou-se uma desvantagem. Acredita-se que esta desvantagem esteve
intimamente relacionada com os valores sociais a econômicos que apresenta este
produtor residente na cidade, ou seja, para este, a propriedade é apenas uma
fonte de renda a qual propicia a conquista dos valores urbanos. Desta forma, o vínculo
deste produtor com a terra (natureza) é praticamente inexistente. O proprietário
que reside na fazenda possui um vínculo maior com a natureza, tendo
conhecimento da importância desta para a continuidade de sua atividade e
sustento de sua família, pois sua relação com o meio natural é extrema e
contínua, ao contrário do proprietário que reside na cidade e visita a
fazenda diariamente e/ou periodicamente, para o qual esta é somente uma unidade
produtora que gera determinado produto e montante de capital. Este
"produtor urbano" não tem o meio ambiente como algo pertencente a seu
perfil. Uma
outra característica do município que pode ter contribuído para o insucesso
da sensibilização foi a de que 32,66% das unidades produtoras estão com
arrendatários. Assim, não se pode usar o termo produtor rural, mas sim,
proprietário de imóvel rural, sendo que estes não desenvolvem as atividades
agropecuárias, sendo a propriedade um simples veículo de renda. Estes arrendatários
constituem-se principalmente em usinas de álcool e açúcar. A
questão da interação homem/natureza e valorização desta entre os produtores
rurais também está relacionada com o tamanho da propriedade e o tipo de mão-de-obra
utilizada para produção. Em programa de conservação do solo e da água
desenvolvido no estado do Paraná denominado PARANÁ RURAL as propriedades até
100 ha correspondiam a 94,6% dos estabelecimentos do estado sendo que, nestas, a
agropecuária era desenvolvida prioritariamente por mão-de-obra familiar. A
realidade de Jaboticabal é o inverso, ou seja, as propriedades até 100 ha
correspondem a 32,7% e há uma predominância de mão-de-obra contratada.
Destaca-se que o programa paranaense atingiu seus objetivos e que segundo seus técnicos
um dos motivos para isto foi o extremo vínculo que os produtores mantinham com
a propriedade. Um
outro fator que deve ser considerado para o insucesso da sensibilização é a
estrutura agrária de Jaboticabal onde 84,6% das unidades produtoras possuem o
cultivo de cana-de-açúcar o qual ocupa 77% da área do município. Além de
todas as questões históricas e políticas que envolvem o cultivo desta cultura
em nosso país, deve-se ressaltar que as práticas culturais são as mais
tecnificadas possíveis, geralmente geradas em institutos de pesquisa resultante
de estudos das próprias empresas beneficiadoras e a cadeia de beneficiamento e
comercialização está totalmente dominada por grandes usinas de álcool e açúcar.
Com isto, o produtor de cana-de-açúcar resume-se a um simples fornecedor de
matéria-prima, sendo seu único incentivo o aumento da produção e
produtividade sem se preocupar com as conseqüências disto pois tem a garantia
de assistência técnica e compra do produto pela usina. Assim, como
sensibilizar este produtor que não dispõe da mínima consciência e
responsabilidade para com o meio ambiente? Com isto, a mudança das práticas
adotadas atualmente e visão de meio ambiente só se dará a partir da vontade
das usinas. Talvez a estratégia mais recomendada para se atingir estes
produtores fosse a sensibilização ambiental dos usineiros, pois são estes que
determinam como, onde e quando plantar a cana-de-açúcar e detêm a confiança
dos produtores. Conclui-se
que o período estipulado de seis meses para realização do estudo e
conhecimento da realidade agropecuária do município foi insuficiente, tendo
profundos reflexos no desenvolvimento do programa de sensibilização.
Considerando-se os objetivos propostos a serem atingidos com a realização do
estudo prévio, aquele com maior grau de dificuldade para se alcançar foi a
conquista dos líderes rurais do município e entidades representativas dos
produtores. Neste período foram estabelecidos contatos com três líderes
rurais, todos mostraram-se confiantes na idéia do projeto e disseram apoiá-lo
no que fosse necessário, mas este apoio não passou de um compromisso verbal
sem reflexos práticos. Para
que um programa agropecuário sustentável seja implementado e tenha sucesso, além
de um perfeito diagnóstico e manejo das condições ambientais, é extremamente
importante uma perfeita comunicação entre os produtores rurais, pesquisadores
e órgãos públicos (Waltner-Toews, 1996). Pelos resultados alcançados esta
perfeita comunicação entre os atores do projeto e sua coordenação não foi
integral refletindo no desenvolvimento e alcance dos objetivos do estudo. Pelas
experiências e contatos estabelecidos no decorrer do projeto o produtor rural
de Jaboticabal enquadra-se em um dos perfis que Tacchini (1999) estipulou a fim
de conhecer as características dos produtores rurais de acordo com seu sistema
de produção. No primeiro, engloba os produtores extensivos, no segundo estão
aqueles que possuem técnicas de produção mas sem muita organização econômica
e administrativa e, no terceiro estão os produtores que usufruem de tecnologia,
disponibilidade de capital e controle de mercado. Os produtores de Jaboticabal
enquadram-se na segunda categoria, sendo as características desse grupo:
produtores deterministas, suas técnicas culturais variam pouco em relação ao
tempo, possuem uma sociabilidade média (procuram ajuda em casos extremos) mas são
altamente individualistas, prudentes e conservadores, alta resistência a mudanças,
não estão dispostos a trocar sua realidade por outra melhor mas de futuro
incerto e imitam as técnicas e atitudes sem avaliá-las previamente. CONCLUSÕES Considerando-se
a proposta metodológica conclui-se que a falta de um conhecimento mais
aprofundado do público-alvo, considerando suas aspirações sociais,
produtivas, econômicas e, principalmente ambientais, bem como, uma abordagem
educando/educador contribuem significativamente para a não eficiência de
projetos de sensibilização ambiental com produtores rurais.
Quanto
ao modo de abordagem conclui-se que para este tipo de público deva-se utilizar
uma metodologia na qual o educador desloque-se até o educando, ou seja, o
educador deverá periodicamente visitar a unidade de produção a fim de
estabelecer uma relação de confiança entre produtor/projeto. Com isto a
participação nas atividades e conseqüente sensibilização serão
potencializadas e os objetivos alcançados.
Com base nos resultados obtidos com
esta proposta, projetos futuros em educação e sensibilização ambiental de
produtores rurais deverão considerar no seu planejamento: que projetos como
este não estejam vinculados a uma pessoa mas sim a uma instituição e que o
estabelecimento de parcerias seja visto como uma obrigatoriedade, principalmente
com as instituições e lideranças agropecuárias da região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHUMACHER,
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R. (1997). What have we learned about our nonpoint source pollution education
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