Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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20/12/2003 (Nº 7) PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DE CATENDE E PALMARES
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES  DE CATENDE E PALMARES

ISABELLE MARIA JACQUELINE MEUNIER1; ANA LÍCIA PATRIOTA FELICIANO1; JOSÉ SERAFIM FEITOSA FERRAZ2; LUCIMAURO ANTÔNIO ALVES OLIVEIRA2; LUÍS CARLOS MARANGON1

1- Professores do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE 2- Estudantes de Pós-graduação da UFRPE; meunier@hotlink.com.br

 

Introdução

            Os municípios de Palmares e Catende integram a Microrregião da Mata Meridional, na Mesorregião da Mata Pernambucana. Em todos os aspectos, a colonização e o povoamento da Mata Meridional foram governados pela agroindústria açucareira, que determinou as características étnicas, socioculturais, econômicas e ambientais.

                Desde o início do povoamento da Zona da Mata pernambucana, a monocultura da cana-de-açúcar se desenvolveu às custas de grandes desmatamentos. Esse histórico de devastação reduziu a área de cobertura florestal natural a extremos que hoje comprometem a biodiversidade, o abastecimento hídrico e a segurança das populações, com a ocorrência de grandes enchentes. Catende e Palmares apresentam expressiva parcela de suas edificações localizada em regiões de várzeas ou ocupando a própria calha dos rios. Nas margens do Panelas, na zona urbana de Catende, e do Una, em Palmares, a ocupação é invasiva em locais com margens revestidas sobre as quais se sustentam habitações.

            Estes fatores socioambientais formadores de enchentes só podem ser controlados com planejamento rural e urbano que preveja o zoneamento das áreas inundáveis, dedicando seu uso às áreas verdes, de lazer e esportes, juntamente ao controle ambiental efetivo, com medidas punitivas à deposição de lixo e esgotos nos rios, além de constantes programas de informação e educação ambiental.

O presente trabalho procurou avaliar a percepção ambiental de estudantes dos dois municípios de forma a nortear a tomada de decisões no campo da gestão ambiental, com ênfase às proposições que possam integrar um programa de educação ambiental, procurando identificar as potencialidades para o desenvolvimento de programas de recuperação ambiental.

Material e Métodos

  Para a avaliação da percepção ambiental dos estudantes de Catende e Palmares foram entrevistados 70 jovens selecionados aleatoriamente entre estudantes de escolas públicas e particulares, principalmente do ensino fundamental, com idades de 7 a 19 anos, moradores de bairros do centro, da periferia e da zona rural dos dois municípios.           

Resultados e Discussão

          A maioria dos estudantes de Catende (80%) e de Palmares (77%) informou que os professores “falam ou realizam trabalhos sobre o meio ambiente e a necessidade de conhecê-lo e preservá-lo”, principalmente através de atividades em sala de aula, seguindo o material didático. Poucos alunos em Palmares citaram outros métodos de abordagem das questões ambientais, como pesquisas, apresentações e redações (23%), e menor número (11%) afirmou ter participado de atividades práticas. Em Catende, além do trabalho com o material didático e atividades como leituras, debates, colagem e pesquisas em livros, foram citadas as participações em feiras de ciências, visita a uma horta, plantio de árvores, coleta de flores e frutos e reciclagem de lixo.

As principais fontes de informação  sobre o meio ambiente foram os livros da escola (77%), a televisão (69%), revistas (36%) e outros livros (34%), havendo raras menções a informação através do cinema, grupos de jovens ou na própria família. Assim, 84% dos estudantes dos dois municípios disseram “saber o que pode fazer para conservar a natureza e ter um ambiente melhor”.

          A maioria dos estudantes de ambos os municípios informou saber o significado do termo poluição, freqüentemente associado ao lixo, aos rios sujos, à destruição do meio ambiente e à fumaça dos carros e das usinas. Definições gerais e evasivas como “coisa ruim que causa problemas”, “problema para a saúde”, “algo errado”, “destruir (maltratar, prejudicar) a natureza” foram comuns nas respostas. Apesar da maioria ignorar o destino final do lixo recolhido de sua escola, um grande número de alunos disse observar a situação do lixo no caminho da casa até escola, onde é encontrado quase sempre espalhado nas ruas, em terrenos ou “ladeira abaixo”.

          Os problemas ambientais mais citados em Palmares foram a poluição do rio, o lixo nas ruas, as queimadas, a poluição do ar e os desmatamentos. A deposição de lixo e despejos de esgotos nos rios foram as causas apontadas da poluição hídrica e à poluição do ar foram associadas as usinas, as indústrias e os carros. Em Catende, a poluição dos rios, relacionada ao lixo lançado e aos esgotos também foi o problema ambiental mais conhecido, seguido pelo lixo em terrenos e ruas, destruição das matas, fumaça da usina e queimadas.

          “Não jogar lixo, esgoto, sangue e produtos químicos nos rios” foi a solução apontada pela maioria para a solução dos problemas dos rios da região. Além dessa, houve sugestões de desvio de esgotos, construção de fossas, retirada do lixo e realização de campanhas contra a poluição.

          Quase todos os estudantes entrevistados informaram contar com área livre em suas escolas, onde gostariam de brincar, praticar esportes e realizar atividades como debates, gincanas, peças teatrais, festas e atividades didáticas ao ar livre. Para isso gostariam de contar com jardins e árvores. Perguntados sobre o interesse em ter uma horta e árvores na escola, a quase totalidade respondeu positivamente, apresentando também intenção de cuidar das plantas.

          Mais de 90% dos estudantes se mostraram interessados em participar de atividades extra-classe, sugerindo passeios na mata, visitas a zoológico e a praias, visitas a usinas, fazendas, jardins e sítios, sendo ainda mencionadas diversas excursões, acampamento, projeto de reciclagem e mutirão para a limpeza dos rios.

Conclusões

          A temática ambiental é tratada, em Palmares e Catende, com limitações de abordagem devido a deficiências na formação de professores capacitados na área específica, inexistência de recursos pedagógicos especialmente desenvolvidos e dificuldades na condução de atividades práticas e vivências de campo.

            Mesmo sem uma estrutura formal de apoio à educação ambiental, os estudantes apresentaram grande interesse pelos temas ambientais e uma percepção clara, embora simplificada, dos problemas que os cercam. Além disto, demonstraram disposição para participar de campanhas e ações de recuperação ambiental.

          As questões relacionadas aos rios foram as que mais chamaram atenção das crianças e jovens dos municípios.           O estabelecimento de áreas verdes urbanas, com locais para caminhadas e recreação, é outra necessidade das comunidades que deve ser incorporada às  intervenções ambientais prioritárias, ainda mais porque o desenho urbanístico das cidades não permite ampliação significativa da arborização urbana em calçadas das áreas já urbanizadas.

           O uso das áreas livres das escolas para implantação e condução de jardins, hortas e ambientes para a convivência com os colegas e a prática de esportes foi uma sugestão praticamente consensual, que também deve ser considerada na definição de um  programa de educação ambiental.

          A condução do programa de educação ambiental para os dois municípios deve, portanto, valorizar os aspectos locais da cultura e do ambiente, com produção de material didático apropriado, possibilitando a reciclagem de professores e estimulando o protagonismo juvenil no enfrentamento dos problemas locais. Atividades práticas, visitas, excursões e promoção de campanhas devem ser incentivadas e apoiadas como forma de envolvimento criativo e consciente dos jovens no equacionamento dos problemas ambientais.

 

 

Trabalho realizado com apoio da Save the Children e Usina Catende

 

Palavras-chave: percepção ambiental; educação ambiental.

Ilustrações: Silvana Santos