Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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06/12/2018 (Nº 66) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA: REFLEXÕES ACERCA DO PROJETO “PLANTE UMA ÁRVORE, PRESERVE O FUTURO!"
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA:

REFLEXÕES ACERCA DO PROJETO “PLANTE UMA ÁRVORE, PRESERVE O FUTURO!”

Adeval Alexandre Cavalcante Neto1

Daniel Fernandes Rodrigues Barroso2

Gil Derlan Silva Almeida3

Ana Regina Leão Ibiapina Moura4

Teresa Cristina Ferreira da Silva5

Iberê Pereira Parente6

Thiago Coelho Silveira7

1 Doutor em Engenharia e Ciência de Alimentos (UNESP). Professor de Ciências Agrárias do IFMA. Líder do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail:adeval@ifma.edu.br.

2 Mestre em Ciências Ambientais (UFPA). Professor de Engenharia Ambiental do IFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail: daniel.rodrigues@ifma.edu.br

3 Especialista em Língua Portuguesa (FLATED). Professor de Letras do IFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail: gil.almeida@ifma.edu.br.

4 Especialista em Residência Multiprofissional em Saúde da Família (UESPI). Professora de Educação Física do IFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail: ana.ibiapina@ifma.edu.br.

5 Mestra em Geografia (UFRN). Professora de Geografia do IFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail: teresa.silva@ifma.edu.br.

6 Doutor em Ciência Animal Tropical (UFT). Professor de Ciências Agrárias do IFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail: ibere.parente@ifma.edu.br.

7 Mestre em História do Brasil (UFPI). Professor de Filosofia do IFMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Rural, Ambiental e Social (GDAS/IFMA). E-mail: thiago.silveira@ifma.edu.br.

RESUMO

A crescente urbanização tem promovido mudanças no ambiente natural e provocado diversos impactos ambientais. Desta forma, torna-se necessária uma mudança de postura da sociedade frente à natureza. Portanto, buscou-se promover a Educação Ambiental em escolas de ensino fundamental do município de Presidente Dutra, estado do Maranhão, Brasil. Para tal, como instrumentos pedagógicos, além do plantio de espécies arbóreas nas escolas, foram realizadas palestras e atividades corporais saudáveis para que os envolvidos compreendam que a natureza não é fonte inesgotável de recursos e deve ser utilizada de forma sustentável. Além dos aspectos ambientais, a comunidade escolar aprendeu valores e práticas cidadãs reconhecendo a importância das árvores para o meio ambiente e para qualidade de vida no planeta.

Palavras-chave: arborização, meio ambiente, cidadania.

ABSTRACT

The increasing urbanization has promoted changes in the natural environment and caused several environmental impacts. In this way, a change of attitude of the society towards the nature becomes necessary. Therefore, we searched to promote Environmental Education in elementary schools in the city of Presidente Dutra, state of Maranhão, Brazil. To this end, as pedagogical instruments, beyond planting tree species in schools, healthy lectures and corporal activities were done so that those involved could understand that nature is not an unlimited source of resources and should be used in a sustainable way. In addition to the environmental aspects, the school community has learned values and citizens practices, recognizing the importance of trees for the environment and quality of life on the planet.

Keywords: afforestation, environment, citizenship.

INTRODUÇÃO

É notório que nas últimas décadas, a população urbana brasileira tem se apresentado muito superior à rural, fato não observado apenas em nosso país, mas em todas as partes do globo terrestre. A crescente urbanização tem provocado alterações na paisagem natural e em virtude disto, a poluição dos recursos hídricos, desmatamentos, erosão dos solos e diminuição da biodiversidade são consequências vivenciadas na grande maioria das cidades.

No caso brasileiro, Santos (1993) relata que o processo de migração da população rural para os centros urbanos se intensifica a partir das primeiras décadas do século XX, sobretudo no que se refere às capitais dos estados e especialmente para as cidades de São Paulo-SP e Rio de Janeiro-RJ que naquele momento despontavam como principais centros econômicos do país.

No nordeste, as cidades de Recife-PE e Salvador despontaram como centro desse fluxo migratório. Como lembra Rolnik (2012), as cidades funcionam como ímãs, atraindo as pessoas para o seu interior em busca de um modo de vida que remeta aos ideais de progresso e desenvolvimento. Esse fluxo populacional, no entanto, registrou e ainda o registra consequências para o meio ambiente e, assim, ensejou a adoção de medidas no sentido de (re)discutir a relação homem e meio ambiente.

Para Takada e Santos (2015), embora muito se tenha falado de conservação do meio ambiente e o tema seja motivo de debate em todo o mundo, é necessário que seja despertada a consciência ambiental na população. Nesta perspectiva, embora haja inúmeros desafios e obstáculos, a educação assume papel de protagonismo nesta mudança de paradigma.

Diante deste cenário, é preciso que a escola, enquanto espaço de formação para a cidadania, assuma o papel de promover a conscientização da sociedade, uma vez que, quando se garante a formação integral e significativa do aluno, este proporciona a transformação da realidade em que está inserido, possibilitando o desenvolvimento de uma consciência ambiental na sua comunidade. Assim, a Educação Ambiental precisa ser ofertada de modo integrado e transversal nas escolas, permitindo o desenvolvimento de projetos e trabalhos pautados nos princípios da sustentabilidade e respeito ao meio ambiente (SILVA, 2012).

Presidente Dutra-MA, não diferente da maioria dos municípios brasileiros, possui uma população residente urbana em torno de 71% e apresenta os mesmos problemas ambientais verificados em inúmeras outras cidades. Portanto, foi desenvolvido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA Campus Presidente Dutra um Projeto de Extensão denominado “Plante uma árvore, preserve o futuro!”, de caráter multidisciplinar, em escolas da rede pública municipal de educação básica, onde se buscou promover a Educação Ambiental por meio de um ciclo de palestras, desenvolvimento de práticas corporais saudáveis e o plantio de espécies arbóreas frutíferas para servirem como um marco na mudança de atitude e de valores dos educandos em relação às questões ambientais.

METODOLOGIA

As atividades foram desenvolvidas em 6 (seis) escolas de Ensino Fundamental (5º ao 9º ano) do município de Presidente Dutra-MA (Figura 1) nos meses de agosto e setembro/2018. Foram realizados ciclos de palestras a cerca da importância da preservação do meio ambiente e da participação de cada indivíduo para a melhoria das condições de sobrevivência no planeta, além da realização de práticas corporais e o plantio de espécies arbóreas frutíferas. Cada ciclo de atividades foi desenvolvido em um turno escolar (matutino ou vespertino), perfazendo um total de 4 horas por unidade de ensino.

Figura 1 – Escolas participantes do projeto

Fonte: Google Earth, 2018.

As palestras foram realizadas com auxílio de recursos audiovisuais, tendo sido abordadas as seguintes temáticas: as árvores, a natureza e a promoção da leitura, os benefícios das árvores, a importância das árvores para o conforto térmico, o verde na cidade e como plantar uma árvore. Estas atividades contaram com o uso da ludicidade como estratégia pedagógica, aproximando o público-alvo à temática discorrida.

No dia da árvore, 21 de setembro, realizou-se o plantio de 10 mudas de espécies arbóreas frutíferas em uma escola do município. Estas foram doadas pela Secretaria de Educação do Município, compreendendo as seguintes espécies: manga (Mangífera indica L.), jambo (Syzygium malaccense), abacate (Persea americana) e caju (Anacardium occidentale L.)

Na escolha do local para o plantio, levou-se em consideração o aproveitamento de espaços ociosos próximos às salas de aula, de modo a promover a redução da radiação solar incidente nas salas e proporcionar conforto térmico ao longo do tempo. As covas foram feitas com as dimensões de 0,60 x 0,60 x 0,60 m e o plantio realizado pelos estudantes sob a supervisão de professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, Campus Presidente Dutra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma das ações do projeto de extensão foi a ministração da palestra “Meio Ambiente, leitura e encantamento”. Por meio do incentivo à leitura e a discussão sobre literatura e meio ambiente, esta atividade promoveu o desenvolvimento de hábitos leitores nos jovens das escolas participantes. Sabe-se que cotidianamente o incentivo à leitura é fomentado em projetos e ações diversas no ambiente escolar, porém muitas vezes tais práticas ou ideias levam à construção de um hábito, sobretudo por se restringirem a situações esporádicas.

A interdisciplinaridade entre meio ambiente, leitura e literatura foi exposta aos discentes por meio da exemplificação de como a natureza e as árvores perpassam todo o caminho literário da humanidade. Imbricada nos textos e contextos, desde autores do cânone clássico, até os mais contemporâneos, a natureza serviu de fonte de inspiração e talento para aqueles que buscavam nas letras a resposta para os dilemas da vida, surgindo assim, muitos dos mais sagrados poemas e poesias da nossa literatura.

Por meio desse momento foi possível verificar o nível de leitura de alguns alunos, criando um ligeiro panorama de como são os hábitos e atividades leitoras das escolas visitadas, com enfoque aos alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Assim, buscou-se, ao passo que o incentivo à leitura era promovido, que os professores pudessem ter uma noção ainda que rápida, de como as escolas estão desenvolvendo as competências leitoras de seu público. Segundo Socela (2017, p. 5):

A leitura deveria ser o centro de projetos interdisciplinares a fim de que se possa desenvolver o letramento de forma plena, pois o aluno terá acesso a uma grande variedade de textos em diferentes situações de uso, além de observar a leitura de um mesmo texto de diversas formas, percebendo como cada disciplina extrai informações pertinentes a seus conteúdos.

Percebe-se assim a importância dos projetos interdisciplinares como ações pautadas na premissa básica da interligação entre as diferentes áreas do conhecimento, e como estas, trabalhando em consonância com os objetivos propostos, promovem a mudança social nos ambientes onde tais ações se inserem.

Após a palestra, foi promovido um momento de contação de histórias, onde o professor apresentou clássicos da literatura universal sobre árvores, a exemplo da famosa narrativa “A Árvore Generosa” de Shel Silverstein, adaptada e traduzida pelo escritor nacional Fernando Sabino. Neste momento, os discentes puderam refletir sobre vida, passado, futuro e memória, tendo em vista que tais temas estão inseridos no bojo social por trás das linhas da narrativa acima mencionada. Nesse sentido,

Cabe ao professor criar condições para que o aluno não seja um leitor ingênuo, mas que seja crítico e reaja aos textos com que se depare e entenda que por trás deles há um sujeito, uma história, uma ideologia e valores particulares e próprios da comunidade em que está inserido. Da mesma forma, deve ser instigado a buscar respostas e soluções aos seus questionamentos, necessidades e anseios relativos à aprendizagem (PARANÁ, 2008, p. 37).

Percebemos que a visão das Diretrizes de Educação do estado do Paraná conversa com nossa ideia, pois galga-se no fundamento de que a leitura transpõe o livro didático, e situações leitoras podem ser promovidas e fomentadas em ambientes além do espaço da sala de aula. Assim, a leitura e o meio ambiente, especificamente nesta ação de extensão, que teve como personagem as árvores, são pontos que giram em torno da melhoria do nível dos alunos participantes do projeto, interligando variados processos de aprendizagem para a execução das ações.

Na palestra intitulada “O benefício das árvores” foram apresentados os benefícios sociais, ambientais e econômicos das árvores, sendo mostradas imagens de locais e cidades arborizadas e os problemas enfrentados por causa dos desmatamentos e crescentes urbanizações. Segundo Dias (2015), as cidades consomem 75% dos recursos naturais globais e, como consequência, produzem cerca de 80% da poluição do planeta. Portanto, é imprescindível que a população compreenda a pressão exercida sobre a natureza e que tenha a percepção da iminente mudança de atitude em prol da sustentabilidade.

Ressalta-se que vários alunos comentaram que em seu município já ocorreram casos semelhantes de problemas com o meio ambiente, tais como poluição e enchentes, e que entendem da necessidade de cuidarmos do patrimônio natural das cidades, fato que corrobora com a proposta do projeto, pois de acordo com Monteiro e Monteiro (2017, p. 166):

[...] a Educação Ambiental é apresentada como uma estratégia que produz efeitos qualitativos na construção de novos valores e conhecimentos ambientais, no que tange o processo educacional, na condução do cidadão à ética e à responsabilidade social compartilhada.

O projeto desenvolvido pelo IFMA buscou atender a esse princípio de formação do cidadão com foco na ética e na responsabilidade social, abrindo-se por meio da extensão para a comunidade escolar da rede municipal de ensino fundamental. Destarte, para além do desenvolvimento da cidadania, o projeto teve o mérito de possibilitar um maior estreitamento entre a instituição e a cidade, corroborando para o cumprimento das metas estabelecidas no Plano de Desenvolvimento Institucional (2014-2018).

Da mesma forma, Ferrari e Zancul (2016, p. 68), entendem que:

[...] as práticas de Educação Ambiental realizadas nas escolas podem e devem contribuir de forma decisiva para as ações dos indivíduos frente aos problemas ambientais encontrados em seu cotidiano, de forma que possam elaborar propostas com vistas a possíveis encaminhamentos e soluções.

No intervalo dos ciclos de palestras foram discutidas e executadas as práticas corporais e sua relação com a Educação Ambiental. Entende-se por práticas corporais um conceito mais ampliado do que simples atividade física, estendendo-se às múltiplas dimensões humanas, onde o ser humano pode ser levado a construir uma consciência sobre as relações que o mesmo pode ter com o meio ambiente e as próprias relações sociais (INÁCIO, MORAES, SILVEIRA, 2013). Assim, práticas corporais envolvendo exercícios, danças e jogos realizados de forma coletiva, em círculos e com músicas foram desenvolvidas. A interação entre profissionais, estudantes e colaboradores pôde ser observada, uma vez que além da socialização, as práticas corporais procuraram ainda contribuir nos aspectos físicos e cognitivos.

No momento das discussões, diálogos sobre os esportes de ação foram construídos e os esportes praticados em contato com a natureza foram apontados (BRANDÃO, 2010). Nessa perspectiva, o discurso identificou esportes como: arvorismo, que consiste em atravessar percursos montados próximos ou entre as copas das árvores; slackline, um esporte de equilíbrio sobre uma fita elástica esticada entre dois pontos fixos; rapel: descida com cordas que pode ser praticada em grandes montanhas; entre outros.

Os benefícios de uma prática em meio à natureza foram destacados, como a consciência corporal, ganho de força, resistência cardiovascular, flexibilidade, trabalhar o raciocínio rápido, o equilíbrio, a concentração e a autoconfiança. Além de proporcionar um exercício prazeroso, a maioria dos esportes na natureza permite a contemplação de paisagens exuberantes nas matas, rios, montanhas e ar. Destarte, os esportes de ação em meio natural, estimulantes e cheios de adrenalina, procuram proporcionar desafios e benefícios à saúde, aumentando a interação homem e meio ambiente, sem poluir ou agredí-lo, preservando o local da prática e agregando cada vez mais adeptos a uma prática corporal saudável.

Uma das palestras executadas foi a “Importância das árvores para o conforto térmico”. Esta palestra enfatizou a importância das árvores como amenizador climático no ambiente urbano e suas influências para o conforto térmico frente aos avanços da urbanização sobre as áreas verdes. A palestra baseou-se em estudos científicos em várias regiões do país sobre a temática, onde os autores estudaram os efeitos de áreas arborizadas e edificadas sobre os valores de temperaturas e umidade em centros urbanos.

Conforme Martelli e Santos-Junior (2015), as árvores proporcionam sombras, reduzem os valores de temperatura e aumenta os valores da umidade relativa do ar e ainda atuam na redução da poluição atmosférica. Além da influência nos valores de temperatura e umidade, Martini e Biondi (2015) frisam a importância da conservação e manutenção dos fragmentos florestais urbanos para a melhoria das condições de conforto térmico, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. O trabalho de Silva-Junior et al (2013), ao estudarem diferentes bairros da cidade de Belém-PA, demonstraram que as zonas da cidade menos confortáveis termicamente foram aquelas com áreas poucos vegetadas e a grande quantidade de áreas pavimentadas e edificadas.

A palestra “O verde na cidade” consistiu numa reflexão sobre a importância das áreas verdes no espaço urbano de Presidente Dutra-MA. Em trecho do hino oficial de Presidente Dutra- MA é destacado a relevância do verde para a cidade:

...

Ó terra amada!

Solo pátrio adorado!

Cheio de encantos mil.

Em tuas matas o sabiá gorjeia,

Estrela cintilante deste meu Brasil.

...

As margens do rio preguiça,

Quem a ti o visita

Não esquece jamais,

És forte minha bela cidade!

Orgulho dos nossos ancestrais. (bis)

(Carlos Adiel e Orfileno Gomes)

A exaltação ao lugar destaca as matas que doravante existiam com sua fauna nativa e seus recursos hídricos que eram importantes para os antepassados, como a população indígena que existia no espaço que hoje é a cidade. Emancipada em 1948, Presidente Dutra impulsiona o desenvolvimento de sua área urbana, fazendo surgir uma nova forma de relação entre a população e o meio ambiente.

Repensar o verde urbano para a cidadania remete entender a gênese da relação do espaço verde e o ser humano. Inicialmente, apresentamos a forma harmoniosa que os indígenas viviam nas florestas da paisagem brasileira, antes da chegada dos exploradores portugueses no Brasil Pré-Cabralino. Depois, apresentamos o contexto da exploração do pau-brasil no período pré-colonial e o começo do desequilíbrio e ameaça da retirada da vegetação para o território brasileiro.

Historicamente o espaço verde e a existência das cidades ao longo do tempo, eram representados por áreas nobres, a exemplos de jardins, parques e praças, desde o Egito Antigo até as cidades modernas na atualidade. Nesse contexto, apresentamos Presidente Dutra-MA e a edificação de áreas verdes na cidade, que similar ao que acontece nas cidades brasileiras, existe a disputa entre estas com as áreas cinza representando a construção de imóveis. Para isso, mostramos imagens históricas disponíveis no Google Earth (2018), correspondendo ao período de 2008-2017, onde constatamos a supressão de áreas verdes para edificação de imóveis. Durante a apresentação, o público presente ficou atento e ponderando a realidade apresentada sobre o verde urbano versus a construção da cidade.

Desse modo, ao apresentar a exposição do trabalho “O Verde na Cidade”, reconstruímos nos participantes a memória desta simbologia em sua vida, buscando o repensar da cidadania pela busca da sustentabilidade na cidade, pois tendo conhecimento sobre a importância das árvores para o urbano, pode-se compreender sobre a valorização do investimento na vida saudável possibilitada pela construção e cuidado destas áreas. Além disso, a harmonia do verde acarreta inúmeros benefícios, promovendo um ambiente sustentável para todos.

Cabe, portanto, pensar a cidade como espaço privilegiado das transformações advindas da urbanidade (SILVEIRA, 2015). Isso não quer dizer que a urbanização se constitui em inimiga da preservação do meio ambiente, mas que seus moldes precisam ser (re)discutidos a fim de promover o progresso com sustentabilidade.

No dia da árvore realizou-se o plantio das espécies frutíferas arbóreas na Unidade Integrada Professor João Martins Neto (Figura 2), uma atividade que envolveu todos os alunos. Verificou-se o empenho destes, sendo nítido o contentamento por estarem contribuindo para a melhoria das condições no ambiente escolar ao plantarem as árvores que no futuro proporcionarão diversos benefícios para a comunidade escolar. A ação teve uma avaliação bastante positiva por parte da comunidade escolar, pois propiciou a construção de novos valores no que tange aos cuidados com o meio ambiente, especialmente na importância da existência de áreas verdes, não somente no âmbito escolar, mas em nossas cidades.

Para Santos et al. (2018) o desenvolvimento de ações de arborização direcionadas à conscientização é uma das metas da educação ambiental, no que se refere a conservação e preservação dos recursos ofertados pela natureza. Dessa forma, o envolvimento dos discentes com o processo de plantio possibilitou a materialização do que foi apresentado nas palestras e demais ações do projeto.

Figura 2 – Plantio das árvores

Atividades como estas são vistas como sendo de grande importância por Medeiros et al. (2011), pois segundo estes, mais do que transmitir informações e conceitos, a escola deve trabalhar com atitudes, contribuindo para a formação de valores. No entanto, é necessário que se tenham mais ações aliando teoria e prática, pois os alunos passarão a aprender a amar, respeitar e praticar ações voltadas para a melhoria do meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a execução do projeto, buscou-se despertar nos estudantes a preocupação com os problemas ambientais, pois as atividades desenvolvidas possuíram o papel de estimular a consciência no que tange aos cuidados com o meio ambiente, especialmente das árvores e sua importância para as cidades e para o planeta.

Ressalta-se que, além do aspecto da beleza, as árvores frutíferas plantadas contribuirão para o equilíbrio térmico nos arredores das escolas, servirão de abrigo para aves, atuarão como inibidores da poluição sonora e do ar, além de produzirem alimentos, entre outras vantagens ao meio ambiente.

Além dos aspectos ambientais, os alunos, os professores e a comunidade escolar em geral aprenderam valores e práticas cidadãs através da Educação Ambiental ao reconheceram a importância das árvores para o meio ambiente e para a qualidade de vida no planeta. Assim, a ação se constituiu em importante estratégia para a formação de sujeitos conscientes e aptos para a promoção dos princípios da sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos