Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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06/12/2018 (Nº 66) QUINTAIS AGROFLORESTAIS URBANOS: REFÚGIO DE RESILIÊNCIA?
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QUINTAIS AGROFLORESTAIS URBANOS: REFÚGIO DE RESILIÊNCIA?

Marcelo Zortea1, Cristiano de Oliveira Schuingues1, Eliane Cristina Moreno1, Elisa dos Santos Cardoso1, Wagner Gervazio2, Oscar Mitsuo Yamashita3, Delmonte Roboredo4

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta-MT, marcelo_zortea@hotmail.com

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta-MT, cristiano-af12@hotmail.com

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta-MT, elicmbio@gmail.com

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, Universidade do Estado de Mato Grosso, Alta Floresta-MT, elisabyo@gmail.com

2Doutorando em Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo-SP, wagnergervazio@yahoo.com.br

3Professor efetivo da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Alta Floresta-MT, yama@unemat.br

4Professor efetivo da Universidade do Estado de Mato Grosso, campus de Alta Floresta-MT, roboredo@gmail.com

Resumo: Os quintais agroflorestais são espaços no entorno da casa, mantidos pela unidade familiar, onde se cultivam diversos vegetais e se pratica a criação de animais. Estes espaços representam sistemas agroflorestais altamente biodiversos que tendem a amortecer possíveis efeitos climáticos negativos. Sendo assim, objetivou-se neste trabalho avaliar a resiliência dos quintais utilizando indicadores de capacidade de resposta que podem ser encontrados nesta modalidade de sistema agroflorestal, bem como a percepção de estudantes de pós-graduação do curso de mestrado em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos, sobre as atividades realizadas nestes ambientes. Os dados foram coletados por seis grupos de trabalho, através de questionamentos aos mantenedores e observações dos mestrandos em dois quintais um convencional e outro agroecológico visitados. Aos indicadores analisados, foram atribuídas notas de 0 a 5. Estas notas foram utilizadas para comparação entre os níveis de resiliências dos quintais. Com os dados obtidos pode-se concluir que o quintal agroecológico foi superior em 50% quanto à capacidade de resposta às mudanças climáticas e deterioração pelo uso do solo. Portanto, os quintais agroflorestais podem atuar como áreas de resiliência em centros urbanos.

Palavras-chave: Biodiversidade, Indicadores, Sistema Agroflorestal.

Urban Homegardens: refuge of resilience?

Abstract: Urban homegardens are spaces around the house, maintained by the family unit, where various vegetables are grown and livestock are practiced. These spaces represent highly biodiverse agroforestry systems that tend to cushion possible negative climatic effects. Thus, the objective of this study was to evaluate the resilience of this urban homegardens using response capacity indicators that can be found in this modality of agroforestry system, as well as the perception of post-graduate students of the master's degree in Biodiversity and Agroecosystems in Amazonia, about the activities performed in these environments. The data were collected by six working groups, through questioning the maintainers and observations of the masters in the two urban homegardens visited. In the analyzed indicators, grades 0 to 5 were assigned. These grades were used to compare the levels of resilience of urban homegardens. With the data obtained, it can be concluded that yard 2 was 50% higher in terms of its capacity to respond to climate change and deterioration due to land use. Therefore, agroforestry yards can act as areas of resilience in urban centers.

Key-words: Biodiversity, Indicators, Agroforestry system.

Introdução

Os sistemas agroflorestais (SAFs) foram resgatados de culturas antigas (DANIEL et al., 1999), sendo constituídos por áreas com elementos agrícolas e florestais, nos quais as árvores são associadas no espaço e/ou tempo com espécies agrícolas anuais e/ou animais, aprimorando os efeitos úteis das interações entre os componentes arbóreos, agrícolas e animais (ALTIERI, 2012).

Dentre os diversos tipos de SAFs, destacam-se os quintais agroflorestais, também conhecidos como hortos caseiros (PINTO, 2012), considerados sistemas tradicionais de uso da terra, com plantio, cultivo e criação de múltiplas espécies pelo núcleo familiar (GERVAZIO et al., 2018). Gomes (2010) constatou que, por estarem localizados próximos às residências, os quintais fornecem produtos alimentícios e medicinais, voltados para o autoconsumo familiar, o que, segundo Vieira et al. (2013), contribui para a segurança alimentar e nutricional. Das & Das (2005) reforçam que este sistema oferta uma série de produtos e serviços, diminuindo de forma considerável os gastos da família, especialmente com alimentos.

Os quintais proporcionam variados tipos de atividades como, por exemplo, reuniões familiares, confraternizações entre conhecidos, atividades domésticas, criação de animais, local de produção vegetal, dentre outras (PASA et al., 2008), constituindo-se um elo entre o social e o biológico, ligando espécies cultivadas e ecossistemas naturais, conservando a diversidade genética, representando uma alternativa de baixo custo para a conservação da diversidade local e resgate do etnoconhecimento (EYZAGUIRRE & LINARES, 2004).

Sistemas agrícolas submetidos a perturbações bióticas ou abióticas respondem de maneira diferente, de acordo com o nível de biodiversidade presente (ALTIERI, 1999). Muitos pesquisadores reconhecem o papel positivo da biodiversidade na estabilidade dos agroecossistemas, destacando que a mesma tem maior importância diante de mudanças climáticas, pois minimiza seus efeitos negativos (ALTIERI & KOOHAFKAN, 2013).

Neste aspecto, a resiliência ecológica representa a capacidade de um sistema de se recuperar após a ação de variáveis que promovam o seu desequilíbrio (HOLLING, 1973). Atualmente o termo resiliência é amplo, com diversas definições, que enfatizam a capacidade de um sistema social ou ecológico de absorver perturbações, mantendo sua estrutura organizacional e sua produtividade, bem como as capacidades de auto-organização e adaptação a estresses e perturbações (CABELL & OELOFSE, 2012).

Quintais agroflorestais estão sujeitos à ação de diferentes fenômenos, tais como as mudanças climáticas que ocorrem em todo o planeta, de modo que a biodiversidade e as alternativas de manejo representam a capacidade de resiliência do agroecossistema e/ou sua vulnerabilidade. Algumas características podem ser utilizadas como indicadores de resiliência, como cobertura de solo, manejo de água, manejo de matéria orgânica, entre outros (NICHOLLS et al., 2015).

Este trabalho teve por objetivo avaliar a resiliência ambiental utilizando indicadores de capacidade de resposta que podem ser encontrados nesta modalidade de sistema agroflorestal, bem como a percepção dos mestrandos sobre as atividades realizadas in loco em dois quintais urbanos visitados nas aulas de campo e debatidas na disciplina de Sistemas Agrícolas do Mestrado em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus Universitário de Alta Floresta.

Metodologia

O estudo foi realizado em dois quintais agroflorestais, um convencional e outro agroecológico localizados a 830 Km de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, no perímetro urbano de Alta Floresta (Figura1). O clima do município, segundo a classificação de Köppen-Geiger, é tropical chuvoso do tipo Am (com chuvas tipo monção) com duas estações bem definidas (verão chuvoso e inverno seco), temperatura em torno de 26ºC e precipitação média anual na faixa de 2.800 a 3.100 mm (ALVARES et al., 2013). Há predominância de solo do tipo ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico e LATOSSOLO VERMELHO Distrófico (IBGE, 2009). Ambos os quintais estão localizados no Bairro Boa Nova I, sendo denominados como quintal convencional (Qc) e quintal agroecológico (Qa).

Figura 1. Mapa de Localização do Município de Alta Floresta – Mato Grosso e dos Quintais Agroflorestais Urbanos convencional e agroecológico (Qc e Qa).

A interação com os mantenedores (M1 e M2, respectivamente) de Qc e Qa foi baseada em pesquisa com questões abertas, espontâneas, realizadas pelos mestrandos da disciplina de Sistemas Agrícolas do Mestrado em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Alta Floresta, com intuito de melhor identificar e avaliar cada um dos Indicadores de Capacidade de Resposta (ICR) estabelecidos anteriormente, com base em Salazar (2013). De acordo com Gervazio (2015), a realização de observações diretas contribui para o enriquecimento do trabalho.

Através das questões abertas e das observações, os mestrandos analisaram cada um dos ICR (cobertura de solo, cercas vivas, etnopedologia - fertilidade do solo, etnopedologia - compactação do solo, manejo de água, manejo de matéria orgânica, autoconsumo (%), dependência de insumos externos, banco de germoplasma, animais silvestres, animais domésticos para consumo, diversidade de cultivos e áreas protegidas) e atribuíram uma nota de 1 a 5, sendo que, em uma escala, 1 representa alto risco e 5 indica grande capacidade de resposta (CR), ou seja, baixa e alta resiliência, respectivamente.

A análise dos dados obtidos foi realizada com auxílio do programa Excel® 2013, sendo os mesmos tabulados para emprego da estatística descritiva com a determinação das médias, como também adotou-se a análise qualitativa da resposta em função da percepção dos mestrandos. Os dados foram submetidos à seguinte equação, adaptado de Salazar (2013).

Sendo ICR = Indicador de Capacidade de Resposta

Qc = Média obtida pelo indicador no Quintal agroflorestal convencional - Qc

Qa = Média obtida pelo indicador no Quintal agroflorestal agroecológico - Qa

Resultados e Discussão

Capacidade de Resiliência dos Quintais Agroflorestais

A capacidade de resiliência de um ambiente agrícola foi verificada no presente estudo. Esta tem grande relação com os fatores socioecológicos, ocorrendo de forma mais acentuada em propriedades que implantaram policultivos e SAFs (SALAZAR, 2013), como é o caso das propriedades estudadas, uma vez que estes potencializam as interações intraespecíficas, tanto no aspecto econômico quanto no ecológico, ao reduzir os impactos ambientais e a dependência de insumos, além de diversificar a produção (Tabela 1).

Para estimar o nível de resiliência ecológica foram observadas e avaliadas em ambos os quintais, algumas características (indicadores) que, reconhecidamente, contribuem tanto para a resistência quanto para capacidade de recuperação de um agroecossistema submetido à uma situação adversa, como as alterações climáticas, e são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Indicadores de capacidade de resposta (ICR) de dois quintais agroflorestais (Qa e Qc) em Alta Floresta/MT.

Indicadores

MédiaQa

MédiaQc

Qa – Qc

ICR


Cobertura de solo

4,4

4,0

0,4

10%


Cercas vivas

1,0

1,3

-0,3

-23%


Etnopedologia Fertilidade/Solo

3,2

2,9

0,3

10%


Etnopedologia Compactação/Solo

2,8

3,0

-0,2

-7%


Manejo de água

4,8

1,7

3,1

182%


Manejo de Matéria Orgânica

3,0

2,8

0,2

7%


Autoconsumo (%)

3,3

3,3

0,0

0%


Dependência de insumos externos

3,2

2,4

0,8

33%


Banco de Germoplasma

4,3

2,8

1,5

54%


Animais Silvestres

3,5

3,7

-0,2

-5%


Animais domesticados para consumo

3,8

1,0

2,8

280%


Diversidade de Cultivos (alimentícia, medicinal, ornamental e florestal)

4,1

3,0

1,1

37%


Áreas protegidas (APP)

4,5

2,6

1,9

73%


Média Geral

3,53

2,65

0,88

50%


Fonte: os autores.







Dentre os indicadores avaliados, o Qa, quando comparado ao Qc, diverge positivamente, ou seja, tem maior capacidade de resiliência nos seguintes indicadores: manejo da água (182%), banco de germoplasma (54%), animais para o consumo (280%) e áreas protegidas (73%). A criação de animais para consumo representa um indicador socioeconômico, uma vez que contribui para melhoria na qualidade de vida ao proporcionar segurança alimentar e reduzir os gastos com a aquisição de alimentos, além de funcionar como uma ‘moeda’ de troca entre vizinhos e, dependendo da forma de manejo, pode contribuir com as atividades de cultivo. Áreas protegidas, por sua vez, desempenham papel ecológico ao contribuir para conservação da biodiversidade, atuam como importante banco de germoplasma in situ, proteger o solo contra intemperismos, reduzem processos erosivos e otimizam a ciclagem de nutrientes, características fundamentais para a resiliência a impactos ambientais negativos, sejam estes de origem antrópica ou natural.

Ainda explorando a Tabela 1, pode-se ver que os indicadores de etnopedologia da fertilidade do solo (10%) e produção para autoconsumo (0%) apresentaram resultados similares para ambos os quintais, sendo considerada apenas a produção vegetal e a fertilidade natural do solo. Já em relação à presença de cercas vivas (-23%), etnopedologia da compactação do solo (-7%) e presença de animais silvestres (-5%), o Qa foi avaliado negativamente, quando comparado ao Qc, fato este podendo estar relacionado (que isto pode ser atribuído) tanto com a forma de exploração quanto à presença de área de preservação (mata nativa) vizinha ao Qc.

A diferença no quesito forma de exploração, organização e manutenção dos quintais agroflorestais está relacionado ao contexto cultural de cada mantenedor (GERVAZIO, 2015), a fatores ambientais e socioeconômicos (KABASHIMA et al., 2009), corroborando os resultados do Qa, tendo em vista que, segundo M2, além de apresentar nascente de água, foi feito ‘reflorestamento’ com espécies florestais nativas e exóticas e com espécies frutíferas para autoconsumo e comércio.

Os dados obtidos para os indicadores avaliados permitiram a comparação da capacidade de respostas dos quintais por meio de um diagrama tipo radar (Figura 2). Ficou evidente que o Qa (pontos alaranjados) apresenta maior capacidade de resposta/menor vulnerabilidade que o Qc (pontos azuis).

Alguns pontos como a etnopedologia da fertilidade do solo, etnopedologia da compactação do solo, manejo de matéria orgânica e dependência de insumos externos apresentaram capacidade de resposta mediana nos dois quintais, sendo que seus impactos são mais percebidos no Qc, em virtude da forma de exploração (agricultura para autoconsumo e comércio) e também pela falta de assistência técnica, segundo M1. A diversidade de práticas não ocorre somente em virtude do conhecimento cultural e ecológico, mas também pelo técnico (MARZALL, 2007).

Figura 2. Valores médios dos Indicadores de Capacidade de Resposta dos quintais convencional (em verde) e agroecológico (em vermelho), em Alta Floresta/MT. (CS: cobertura de solo; CV: cerca viva; EFS: etnopedologia - fertilidade do solo; ECS: etnopedologia - compactação do solo; MA: manejo de água; MMO: manejo de matéria orgânica; Atc (%): autoconsumo (%); DIE: dependência de insumos externos; BG: banco de germoplasma; AS: animais silvestres; ADC: animais domesticados para consumo; DC: diversidade de cultivos (alimentícia, medicinal, ornamental e florestal); APP: áreas protegidas).

Em ambos os quintais, o potencial de produção para autoconsumo não é explorado em sua totalidade, contudo, tem contribuído para segurança alimentar e para geração de renda com a venda de excedentes e de cultivares ou produção específica para este fim. Segurança alimentar e quintais agroflorestais são fortemente relacionados, de modo que o modelo de implantação e manejo podem contribuir positivamente na melhoria da qualidade nutricional (GAZAEL FILHO et al., 2009) sobretudo pelo reduzido uso de insumos agroquímicos (VERAS, 2005), e para a economia doméstica, especialmente quando localizados na zona urbana.

Para Alam & Masum (2005), os méritos ecológicos dos quintais agroflorestais são aspectos de conservação do solo, nutrientes, água e biodiversidade. O aproveitamento mais intensivo de recursos como água (como encontrado no Qa), nutrientes do solo pela reciclagem das folhas e a radiação solar, faz com que nos trópicos, este sistema de cultivo se apresente como uma das melhores alternativas para produção de proteínas, vitaminas e calorias, além de sua comprovada sustentabilidade (ALAM & MASUM, 2005; CARVALHO et al., 2007).

Além destas características, os quintais agroflorestais também contribuem para a saúde do sistema agroecológico, uma vez que são reservas de material genético in situ (OAKLEY, 2004), e ainda funcionam como uma alternativa de manejo racional devido a sua composição florística, estrutura e possibilidade de produção, atuando assim na resistência e resiliência de distúrbios que possam afetar esses ambientes. Desta forma a biodiversidade de organismos se torna a chave para que os agroecossistemas funcionem e promovam serviços (PEREIRA et al., 2010; ALTIERI & NICHOLLS, 2013; GOMES et al., 2015).

Percepção dos Mestrandos sobre as atividades

As aulas de campo visam estimular os alunos a correlacionarem a teoria com a prática e vice-versa, colocando-os em contato com realidade rural. Por consequência, a visão de mundo do aluno é incorporada ao seu processo de aprendizagem (OLIVEIRA, 2014). Dentro deste contexto após conclusão das atividades da disciplina, os mestrandos foram convidados a emitirem suas opiniões sobre as atividades (teóricas versus aula de campo) pertinentes à disciplina de Sistemas Agrícolas.

A maioria absoluta entende que as aulas de campo são indispensáveis no processo de aprendizagem, não somente no que tange aos conteúdos teóricos, mas também quanto à sociabilidade entre os estudantes. Tal assertiva pode ser confirmada nas frases de alguns mestrandos:

Na minha concepção, foi ótimo justamente porque minha assimilação do conteúdo é superior quando o mesmo é aliado à prática, não permanecendo restrito a teoria”. (Mestranda 10)

Associar a parte teórica e a prática foi uma das melhores experiências desenvolvidas durante o curso. Investir em novos projetos que utilizem esta metodologia tornará o curso e as disciplinas mais atrativas e eficientes.” (Mestrando 5)

Quando tratamos do relacionamento interpessoal, as atividades feitas nos quintais agroflorestais, fazem com que o aprendizado aumente e muito, pois estamos convivendo com alunos que são graduados em ciências “diferentes”, então o trabalho em grupo faz com que haja troca de conhecimento ...” (Mestrando 1)

A experiência do trabalho em grupo foi boa e relevante, estreitou os laços dentro turma. Acredito que vale a pena continuar com essa prática nas próximas turmas, já que no mestrado, são poucas as disciplinas que trazem em sua ementa atividades práticas desenvolvidas em campo.” (Mestrando 9)

O trabalho em grupo é um dos pontos mais fortes relacionado a minha aprendizagem, portanto a minha experiência na disciplina foi muito boa por ter tido a oportunidade de ser questionada e questionar, trocando informações e compreendendo a influência dos conteúdos ministrados com a biodiversidade, inclusive o de Quintais Florestais”. (Mestrando 10)

As aulas de campo são defendidas por diversos autores (LABEGALINI, et al., 2017; OLIVEIRA, 2014; SONDEMANN et al., 2017) que constataram o quão importante são as atividades de campo no processo de ensino-aprendizagem, pois representa o fio condutor entre a teoria versus prática.

Conclusões

O quintal agroecológico tem o maior nível de resiliência em comparação ao quintal convencional. Os indicadores com maiores valores são o manejo da água, a cobertura do solo e o banco de germoplasma.

Assim os quintais possuem importante papel na conservação da agrobiodiversidade local, evitando a erosão genética e contribuindo com a estabilidade do agroecossistema, além de contribuírem para a conservação do solo e da água. No entanto, é necessário investir no incremento da fertilidade do solo, uma vez que a fertilidade e a compactação são indicadores que merecem atenção.

Recomenda-se o uso de práticas agroecológicas como adubação verde e orgânica, manejo do material orgânico, rotação e culturas, etc. Desta forma, seria possível fortalecer a resiliência dos quintais.

Segundo os mestrandos as atividades de campo são imprescindíveis no processo de aprendizagem, pois segundo eles as visitas in loco, a conversa com os agricultores é diretamente proporcional à correlação da teoria com a prática, além de fomentar a socialização entre os alunos.

Agradecimentos

À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso (SEDUC-MT).



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Ilustrações: Silvana Santos