Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Dinâmicas e Recursos Pedagógicos
22/11/2007 (Nº 20) Sensibilização Ambiental através de trechos poéticos de Mario Quintana
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Educação Ambiental em Ação<

Sensibilização Ambiental através de trechos poéticos de Mario Quintana


(Texto elaborado para o Programa Experimental de Capacitação Apoema - aula inaugural da 2a. Etapa - Fevereiro de 2007.)


Berenice Gehlen Adams


Apresentação


A Educação Ambiental se efetiva, principalmente, através de atividades de sensibilização. Sabemos que somente a informação não basta para despertar, na sociedade, a consciência crítica necessária quanto ao nosso modo de viver.

Ao deparar-me com o livro de Coronel (2005) contendo a essência do poeta gaúcho Mario Quintana - que não me atrevo a fazer qualquer espécie de apresentação, pois deixarei isto por conta das suas próprias palavras - busquei resgatar uma outra essência sua: o seu olhar único e especial de retratar impressões sobre a natureza em diversos poemas. Cada um deles pode promover uma profunda reflexão. Cada um será instrumento pedagógico que poderá ser trabalhado de forma interdisciplinar. A maioria deles é apontada para trabalho com crianças maiores e adultos devido a sua complexidade, porém, alguns podem ser trabalhados com crianças menores. Portanto, pensando em contribuir com a instrumentalizaçã o da Educação Ambiental, apresento cada trecho de verso ou poema, seguido de questões que podem possibilitar uma reflexão em relação a nossa forma de ver e sentir o mundo, promovendo a sensibilização.

Cada trecho pode ser trabalhado de diferentes formas, dependendo do objetivo que se quer alcançar, do grupo que se pretende trabalhar, e cabe a quem for utilizar esta ferramenta, fazer adaptações e ampliar o leque de atividades para melhor aproveitamento destas pérolas deixadas pelo nosso querido Mario Quintana.

Que possamos enxergar a poesia de Mario Quintana em cada elemento do ambiente para que possamos sentir a vida pulsar diferente!

Bom trabalho!

 
1. "Haverá ainda, no mundo, coisas tão simples e tão puras como água bebida na concha da mão?" (p. 32).

Questões:
- O que é simplicidade para você?
- Faça uma lista de coisas que sejam simples.
- Qual a importância da água para você?
- Como estão os rios ou riachos da sua região?
- Como você pode colaborar para poupar água no seu dia-a-dia?

2. "As águas vão passando...
Na cidade quieta
Só o rio corre dentro da noite
E a vida continuando pelo mundo" (p. 33).

Questões:
- De onde é a água que chega para dar vida para você?
- Pesquise como é feito o tratamento da água que vem na torneira da sua moradia.
- Como anda o clima da sua região, normal, muita chuva ou pouca chuva?
- Quando chove as ruas da sua cidade ficam alagadas?

3. "Os arroios são guris...
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas d'água no caminho: bonito" (p. 43)

Questões:
- Você sabe o que são arroios?
- Qual a diferença entre riacho, arroio e rio?
- Qual o maior problema que os rios enfrentam? Por que?
- Todos os Rio seguem seus cursos naturais?
- Você já ouviu falar na transposição do Rio São Francisco?
- O que é revitalização de um rio?

4. "A que mundo
Pertenço?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada disso tudo, diz: 'existo'.
Porque apenas existem..." (p. 56)

Questões:
- Como você responderia a pergunta que o poeta faz: "A que mundo pertenço?"
- Do que há no mundo, o que você destaca de mais belo?
- O que significa existir, para você?

5 e 6.

"É uma borboleta amarela?
Ou uma folha que se desprendeu e não quer tombar?" (p. 57)

"As lagartas não podem acreditar na lenda das borboletas - tão antiga entre o seu rastejante e esforçado povo... mas sua felicidade consiste em relembrar, às vezes, o absurdo e  maravilha deste velho sonho: o de se transformarem, um dia, em borboletas." (p. 169)

Questões:
- Como é a vida de uma borboleta?
- Ela passa por diferentes ciclos de transformação, você os conhece?
- Como as borboletas estão no ambiente?
- Você sabia que muitas borboletas correm perigo de extinção? Pesquise um pouco mais!

Material adicional: Lenda indígena

COACYABA - A LENDA DO PRIMEIRO BEIJA-FLOR


Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam- se em borboletas. Por este motivo, elas voam de flor em flor, alimentando- se e fortalecendo- se com o mais puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu.

Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente para fazer sua filhinha Guanamby feliz. Todos os dias passeava com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Desta forma pretendia minimizar a falta que o esposo lhe fazia. Mesmo assim, angustiada, acabou por falecer.

Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta também a levasse para o céu. De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para com isto permanecer a seu lado.

Enquanto isto, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo reconheceu. Mas como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu então ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para o céu. Tupã atendeu ao pedido, transformando- a num beija-flor, podendo assim realizar o seu desejo.

Desde então, quando morre uma criança índia órfã de mãe, sua alma permanece guardada dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-flor, venha buscá-la, para juntas voarem ao céu, onde estarão eternamente.

Fonte:
http://www.escolave sper.com. br/lendasindigen as/coacyaba. htm, acesso em 13 de dezembro, 2004.



7. "Havia, não me lembro agora se no País das Maravilhas, da Alice, ou se na cidade de Oz, uma velha que morava num sapato... E nós que moramos em caixas de sapatos!" (p. 68)

Questões:
- Por que o autor considera que moramos numa caixa de sapato?
- Você conhece as histórias que o autor cita? Quem pode nos contar uma delas?
- Como você vê a moradia dos grandes centros urbanos?
- Como você acha que seria uma casa ideal?

Material adicional: música


A Casa
Vinicius de Moraes
Composição: Toquinho


Era uma casa muito engraçada

Não tinha teto, não tinha nada

Ninguém podia entrar nela, não

Porque na casa não tinha chão

Ninguém podia dormir na rede

Porque na casa não tinha parede

Ninguém podia fazer pipi

Porque penico não tinha ali

Mas era feita com muito esmero

na rua dos bobos numero zero


8. "Meus pés no chão
Como custaram para reconhecer o chão!
Por fim meus pés dessedentaram- se no lodo macio,
Agarraram-se ao chão...
Ah, que vontade de criar raízes!" (p. 74)

Questões:
- Você anda de pés descalços de vez em quando?
- Qual a importância, para você, de contatos diretos com elementos e espaços da natureza?
- Descreva um momento em que você lembre boas sensações sobre algum momento de ligação com a natureza (um cheiro que lembrou alguém, um sabor inesquecível, uma sensação, um fato...)
- Se fosse possível criar raízes e se transformar em uma planta, qual você escolheria e porque?

9. "Cidade grande: dias sem pássaros, noites sem estrelas." (p. 76)

Questões:
- Você vê e ouve pássaros no ambiente urbano?
- Qual é a sua sensação ao ver um pássaro voando?
- Você conhece os pássaros da sua cidade ou região? Pesquise, pois poderá se impressionar.
- Você olha para o céu, a noite?
- Qual o maior motivo para se enxergar poucas estrelas nas grandes cidades?

10. "O mais triste, nos circos, não é a falta de graça dos palhaços. É quando obrigam os bichos a se fantasiarem de gente." (p. 77)

Questões:
- Como você vê o relacionamento dos humanos com os animais?
- Você sabia que um dos maiores motivos do desmatamento no Brasil é a criação do gado para consumo de carne?
- Você sabe de alguns animais que correm perigo de extinção? Faça uma pesquisa!
- Você tem contatos rotineiros com animais?

11. "A hortênsia é uma couve-flor pintada de azul". (p. 143)

Questões:
- Qual a importância das plantas no ambiente social?
- E na alimentação?
- Como é a sua alimentação?
- Qual é a melhor maneira de cultivar plantas sem agredir ao meio ambiente?
- O que você acha dos alimentos industrializados?

12. "O I é a letra do ÍNDIO,
Que alguns julgam ILETRADO...
Mas o índio é mais sabido
Que muito doutor formado!" (p. 150)

Questões:
- Por que o autor considera os índios mais "sabidos" que doutores?
- Você conhece os povos indígenas que vivem na sua região? Pesquise!
- Como os índios se relacionam com a natureza?

Material adicional: lenda indígena

A lenda da vitória-régia

Em uma tribo indígena da Amazônia vivia uma bela índia chamada Naiá. Ela acreditava que a Lua (Iaci) escolhia as moças mais bonitas e as transformava em estrelas que brilhariam para sempre no firmamento. A índia Naiá também desejava ser escolhida pela Lua para ser transformada em uma estrela.

Todas as noites ela saía de sua oca a fim de ser vista pela Lua, mas, para sua tristeza, a Lua não a chamava para junto de si. Naiá já não dormia mais. Passava as noites andando na beira do lago, tentando despertar a atenção da lua.

Em uma noite, a índia viu, nas águas límpidas de um lago, a figura da lua. A pobre moça, imaginando que a lua havia chegado para buscá-la, se atirou nas águas profundas do lago e morreu afogada.

A lua, comovida diante do sacrifício da bela jovem, resolveu transformá-la em uma estrela diferente, daquelas que brilham no céu. E ainda resolveu imortalizá-la na terra, transformando- a em uma delicada flor: a VITÓRIA-RÉGIA (estrela das águas).

Curiosamente as flores desta planta só abrem durante a noite. É uma flor de perfume ativo e, suas pétalas, que ao desabrocharem são brancas, tornam-se rosadas quando os primeiros raios do sol aparecem.

http://www.indaial. com.br/artigos/ vitoria/vitoria1 .htm



13. "Na mancha do pêlo das vacas o menino estuda a geografia de suas ilhas imaginárias" (p. 152)

Questões:
- Podemos aprender muitas lições através da imaginação. Relacione algumas idéias com os seguintes elementos: nuvem, rio, terra, fruta, pedra, árvore.
- Os indígenas sempre aprenderam com a natureza e suas lendas mostram isto. Você conhece alguma lenda indígena?

14. "Pousou agora mesmo - precisamente sobre a velha caneta que eu havia erguido um momento à cata de um adjetivo - um insetozinho verde que tem a forma exata de um escudo.
Veio da noite, atraído pela luz da minha janela. Sua gentil visita me compensa não sei de quê.
Fico a examina-lo em silêncio: nada posso nem sei dizer-lhe.
E assim nos quedamos por um breve instante - frementes, incomunicáveis e juntos... Dois universos dentro do mesmo mundo!" (p. 155)

Questão:
- Assim como o autor, imagine uma forma inusitada de contato com algum animal e crie uma pequena história.

15. "Havia talhadas de melancia rindo...
E os difíceis abacaxis: por fora uma hispidez de bicho insociável;
Por dentro uma ácida doçura...
Morno veludos dos pêssegos...
Frescor saudoso das amoras...
E, a mais agreste e dócil das criaturinhas,
Cada pitanga desmanchando- se como um beijo vermelho na boca." (p. 183)

Questões:
- Estatísticas indicam que as pessoas comem cada vez menos frutas. Porque isto acontece?
- Qual a importância das frutas na nossa alimentação?
- Faça uma lista da 5 frutas que mais gosta e lhe dê alguns adjetivos, assim como fez o autor.

16. "Essas vilas de arrebalde com os seus jardins bem arrumados, bonitinhos, comportadinhos. ..
Mas porque não a liberdade de um matagal selvagem? Porque não deixam ao menos a natureza ser natural?" (p. 196)

Questões:
- O que você pensa sobre a frase do autor? Concorda ou não?
- Como são os jardins que você conhece?
- Você sabia que levar mudas de plantas de lugares distantes pode causar um desequilíbrio ecológico? Porque será? Pense sobre isto!

17. "Há sempre, afastada das outras, uma nuvenzinha preguiçosa que ficou sesteando no azul." (p. 201)

Questões:
- Você sabe como as nuvens se formam e quantos tipos de nuvens existem?
- O que as mudanças climáticas tem a ver com chuva?
- Fique observando as nuvens durante alguns minutos e escreva o que sentiu.

18. " Lembro que em meio ao quintal lá de casa
havia uma paineira enorme
(ultrapassava em altura o primeiro andar do meu quarto)
Quando florescia, era uma glória!
Talvez fosse ela quem impediu que meus sonhos de menino solitário
Tenham sido todos em preto e branco." (p. 218)

Questões:
- Você conhece uma paineira?
- Quais as árvores que você mais gosta?
- Você já plantou uma árvore?
- Se sim, como foi?
Obs: É preciso conhecer a árvore para ver se ela será plantada de forma apropriada - pedir orientação para um biólogo.

19. "Ondas dançando na praia,
Areia quente como nosso olhar.
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar?
Nós também fazemos parte da paisagem!" (p. 218)

Questões:
- Fazemos parte do ambiente. Você se sente parte dele?
- Você acha que no ambiente urbano é difícil sentir-se parte do meio ambiente? Porque?
- O que é possível fazer para unificar ambiente natural e construído?

20. "As poças d'água são um mundo mágico
Um céu quebrado no chão
Onde em vez das tristes estrelas
Brilham os letreiros de gás néon." (p. 225)

Questões:
- Você já observou com atenção poças d'água?
- Você já brincou em poças d'água?
- Na primeira oportunidade que você avistar uma poça, tente verseu rosto refletido nela.
- As poças que Mario Quintana se referia eram vistas por ele em que lugar?

21. Frases para finalizar e pensar PROFUNDAMENTE:

"A primavera [...] é uma menininha pulando na corda cabelos ao vento,
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu
o cheiro da terra que sobe do chão
o tapa do vento na cara molhada!" (p. 231)
  
"O derradeiro fruto da Árvore da Ciência é a simplicidade. " (p. 269)

"Sonhar é acordar-se por dentro." (p. 273)



Bibliografia:
CORONEL, Luiz. Mario Quintana: 100 anos - a quinta essência de Quintana. Porto Alegre: Mecenas Editora, 2005.

Ilustrações: Silvana Santos