Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2008 (Nº 26) EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DA CAPOEIRA: UMA AÇÃO COM JOVENS DA VILA DA BARCA BELÉM/PA
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Educação Ambiental em Ação 26

EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DA CAPOEIRA: UMA AÇÃO COM JOVENS DA VILA DA BARCA BELÉM/PA

 

                                                            [1] Gustavo Maneschy Montenegro

                                                          Acad. 7°semestre educação Física/UEPA

gustavo_maneschy@hotmail.com

 

                       Dr. Maria de Jesus da Conceição Ferreira Fonseca (Orientação)

                                                                        mariadejesusff@yahoo.com.br

 

 

 

RESUMO

 

        Este estudo é resultante de uma ação educativa realizada em 2007, pelo Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais (Necaps), com vinte jovens, na faixa etária de 12 a 18 anos de idade, moradores da Comunidade da Vila da Barca Belém/PA. Esta ação é parte integrante do projeto de extensão Ações Educativas para a Inclusão Social da Juventude da Vila da Barca. A comunidade em questão destaca-se por ser uma das mais carentes de Belém, caracterizada pelo elevado índice de violência, apresentando condições sócio-ambientais precárias. Considerando estas condições, a oficina realizada com os jovens teve por objetivo oferecer um espaço de vivências de Lazer com finalidades educativas, críticas e emancipatória. Para tanto, foram desenvolvidas as mobilizações na comunidade para a participação dos jovens no projeto, contato com o professor Pedra, mestre de capoeira, além das Rodas de Capoeira que ocorriam aos sábados. Neste aspecto, as músicas entoadas assumiam fundamental importância, pois ao retratarem a realidade sócio-ambiental amazônica foram tomadas como recursos pedagógicos para ação educacional desenvolvida. Com a atividade pudemos perceber que quando o espaço de lazer assume um caráter crítico, educativo e emancipatório pode favorecer mudanças na forma de compreensão do mundo.

 

 

PALAVRAS-CHAVE: LAZER, EDUCAÇÃO AMBIENTAL e CAPOEIRA

           

 

1-INTRODUÇÃO

    Este estudo é resultante de uma ação educativa realizada de Março a Dezembro de 2007 pelo Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais –Necaps- com 20 jovens na faixa etária de 12 a 18 anos de idade, moradores da comunidade da Vila da Barca Belém/PA. Esta ação é parte integrante do projeto de extensão “Ações educativas para a inclusão social da juventude da Vila da Barca”, que teve por objetivos desenvolver atividades educativas multidisciplinares com esses alunos.

       A referida comunidade destaca-se por ser uma das mais carentes da região metropolitana de Belém, apresentando sérios problemas sociais e ambientais, levando-os há uma existência marcada pela insegurança, pela vulnerabilidade social e pelo elevado índice de contaminação ecológica, pois não há coleta de lixo e tão pouco saneamento básico para essas pessoas.

      A partir dessa realidade e de uma constante busca pelas necessidades educacionais que os populares reivindicavam, foi planejada uma ação educacional na qual a vivência da cultura corporal por meio Capoeira direcionaria a nossa ação.

      A capoeira, que tem origem da dança N’ golo ou dança da Zebra, era praticada em Angola na África por meio de um ritual violento, no qual os negros dançavam aplicando cabeçadas e pontapés, e os vencedores tinham o prêmio de casar com as moças da tribo. (DARIDO e RANGEL, 2005). No Brasil, essa luta era praticada como divertimento entre os escravos em dia de folga.

       Hoje, se pode afirmar que a capoeira foi criada no Brasil por africanos, ou seja, ela é uma manifestação cultural afro-brasileira, fruto de um “caldeirão” multicultural existente no Brasil Colônia.

       A capoeira, apesar de ser utilizada em momentos de descontração, configurou-se como excelente aliado da resistência negra para com escravidão imposta pelo branco, principalmente na formação dos quilombos, haja vista que muitos resistiram por décadas de ataques com a utilização dessa arte.

       Portanto, a mesma configura-se por ser uma manifestação popular repleta de significação cultural e corporal, produzindo um saber histórico com a sua corporeidade, assumindo um papel fundamental na cultura corporal do brasileiro.

Nesse sentido, esta ação educativa teve por objetivos garantir um espaço de lazer educativo, crítico e emancipatório, pautado na construção de condutas e de comportamentos relacionados à valorização da cultural corporal e afro-brasileira, bem como, discutir atitudes e comportamentos mediante a preservação, a revitalização e a valorização do espaço natural, buscando a formação de agentes transformadores na comunidade em questão.

 

 

2-PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

      Para a realização dessa ação educativa, a primeira etapa foi entrar em contato com o mestre Pedra, capoeirista da Vila da Barca, agregando para o nosso trabalho o saber popular, garantindo uma integração entre Universidade e comunidade na difusão do conhecimento.

         A partir disso e de muitas visitas à comunidade, formamos um grupo de 20 jovens na faixa etária de 12 a 18 anos de idade dispostos a participarem do projeto desenvolvido aos Sábados, das 15 às 17 horas nas dependências da Universidade do Estado do Pará, no Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE). Os encontros eram divididos em dois momentos: teórico e prático.

         Na parte teórica, eram discutidos conceitos sobre a historicidade da capoeira, da sua utilização, por parte dos negros no Brasil colônia, como recreação e instrumento de defesa, buscando uma valorização da cultura afro-brasileira e explicitando a sua importância na formação étnica e cultural do povo brasileiro, caracterizando a prática da Capoeira como expressão sócio-cultural, sendo historicamente produzida pelos homens e pertencente a cultura corporal de movimento.

         No entanto, as músicas entoadas durante as aulas assumiam fundamental importância, pois retratavam o contexto de opressão e luta vivida pelos negros, mas, principalmente, por explicitarem uma relação entre homem e natureza baseada em valores de respeito, de preservação e de revitalização do espaço natural. Assim, as canções foram utilizadas como instrumento pedagógico para a ação educacional desenvolvida.

       Já na parte prática, era o ensino dos movimentos da Capoeira que protagonizavam esse instante, possibilitando aos alunos uma expressão corporal até então desconhecida para a maioria e um maior conhecimento do próprio corpo, de suas possibilidades e de suas limitações.

        Esses novos movimentos perpassavam por golpes utilizados para a defesa do corpo negro em detrimento do ataque branco no período colonial no Brasil, reforçando a historicidade dessa prática corporal e fazendo com que, os alunos pudessem perceber que esses movimentos tinham um propósito de defesa da integridade física e moral do negro. Isso foi reforçado no intuito de evitar com que os alunos utilizassem esses golpes da capoeira em prol da violência em sua comunidade.

      Por último, foi apresentado aos alunos o que se chama de “roda de capoeira”, na qual os alunos ficam de pé e em círculo e dois ficam dentro da roda, “jogando capoeira”. Nesse jogo, os participantes utilizam os movimentos da capoeira que foram ensinados nas aulas. A roda de capoeira é vivida como um momento de confraternização entre os alunos, para que todos possam superar os seus limites por meio da sua corporeidade.

Esta ação educativa mostrou-se positiva, pois pode mobilizar a juventude em questão para a problemática ambiental, buscando a conscientização dos participantes para que os mesmos pudessem ter atitudes transformadoras em sua vida e em sua comunidade diante dos problemas ambientais enfrentados na sua comunidade, possibilitando uma integração social dos alunos numa perspectiva de fomentar atitudes contestatória da ordem social vigente.

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4-CONSIDERAÇÕES FINAIS

       Todo o trabalho, quando desenvolvido em comunidades carentes e de alto grau de vulnerabilidade social, apresentam muitas barreiras e desafios, que vão desde a dificuldade no acesso a comunidade, a locomoção e a disponibilidade de pessoal.

       Apesar disso, a realização dessa ação educativa nos mostrou que são as dificuldades que enfrentamos que nos devem fortalecer a buscar o melhor para a sociedade.

       Sendo assim, percebemos que as músicas entoadas durante as oficinas de capoeira foram de fundamental importância nessa atividade, pois, ao retratarem o cotidiano vivido pelos participantes e a realidade sócio-ambiental amazônica, portaram-se como excelentes recursos pedagógicos para a reflexão de condutas e atitudes preservadoras da natureza, além de identificarmos que, quando o espaço de lazer assume um caráter crítico, educativo e emancipatório, o mesmo favorece a mudanças na forma de compreensão do mundo, fomentando o questionamento da ordem social vigente.

         Portanto, compreendemos ser de fundamental importância a realização  desse trabalho, uma vez que o mesmo contribuiu para a difusão da prática da Capoeira na Vila da Barca, para a discussão quanto a valorização da cultura afro-brasileira e a formação de condutas e atitudes pautadas na preservação e revitalização do espaço natural, que deve ser um bem comum a todos os indivíduos.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C.: Educação Física na Escola: Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A, 2005.

 

MARCELLINO, Nelson Carvalho de. Formação e Desenvolvimento de Pessoal em Esporte e Lazer. Campinas, SP. Papirus, 2003.

 

_________. Políticas Públicas Setoriais de Lazer: O papel das prefeituras. Campinas, Autores Associados, 1996.

 

_________ . Políticas Públicas de Lazer: Campinas, Sp: Alínea, 2008.

       

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: 1° e 2° Ciclos do Ensino Fundamental, Educação Física. Ministério da Educação, 1998.

      

      


[1]Av.Cabral, pass. Santa Maria 380 ap. 206, Sacramenta Belém /Pa, cep: 66120-300.

Ilustrações: Silvana Santos