Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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EDUCAÇÃO
AMBIENTAL POR MEIO DA CAPOEIRA: UMA AÇÃO COM JOVENS DA VILA DA BARCA BELÉM/PA
[1]
Gustavo Maneschy Montenegro
Acad.
7°semestre educação Física/UEPA
Dr. Maria de Jesus da Conceição Ferreira Fonseca (Orientação)
mariadejesusff@yahoo.com.br RESUMO
Este estudo é resultante de uma ação educativa realizada em 2007, pelo
Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais
(Necaps), com vinte jovens, na faixa etária de 12 a 18 anos de idade, moradores
da Comunidade da Vila da Barca Belém/PA. Esta ação é parte integrante do
projeto de extensão Ações Educativas
para a Inclusão Social da Juventude da Vila da Barca. A comunidade em questão
destaca-se por ser uma das mais carentes de Belém, caracterizada pelo elevado
índice de violência, apresentando condições sócio-ambientais precárias.
Considerando estas condições, a oficina realizada com os jovens teve por
objetivo oferecer um espaço de vivências de Lazer com finalidades educativas,
críticas e emancipatória. Para tanto, foram desenvolvidas as mobilizações na
comunidade para a participação dos jovens no projeto, contato com o professor
Pedra, mestre de capoeira, além das Rodas de Capoeira que ocorriam aos sábados.
Neste aspecto, as músicas entoadas assumiam fundamental importância, pois ao
retratarem a realidade sócio-ambiental amazônica foram tomadas como recursos
pedagógicos para ação educacional desenvolvida. Com a atividade pudemos
perceber que quando o espaço de lazer assume um caráter crítico, educativo e
emancipatório pode favorecer mudanças na forma de compreensão do mundo. PALAVRAS-CHAVE:
LAZER, EDUCAÇÃO AMBIENTAL e CAPOEIRA
1-INTRODUÇÃO
Este estudo é resultante de uma ação educativa
realizada de Março a Dezembro de 2007 pelo Núcleo de Estudos em Educação
Científica, Ambiental e Práticas Sociais –Necaps- com 20 jovens na faixa etária
de 12 a 18 anos de idade, moradores da comunidade da Vila da Barca Belém/PA.
Esta ação é parte integrante do projeto de extensão “Ações
educativas para a inclusão social da juventude da Vila da Barca”, que
teve por objetivos desenvolver atividades educativas multidisciplinares com
esses alunos. A referida comunidade
destaca-se por ser uma das mais carentes da região metropolitana de Belém,
apresentando sérios problemas sociais e ambientais, levando-os há uma existência
marcada pela insegurança, pela vulnerabilidade social e pelo elevado índice de
contaminação ecológica, pois não há coleta de lixo e tão pouco saneamento
básico para essas pessoas. A partir dessa realidade e de uma
constante busca pelas necessidades educacionais que os populares reivindicavam,
foi planejada uma ação educacional na qual a vivência da cultura corporal por
meio Capoeira direcionaria a nossa ação. A capoeira, que tem origem da dança
N’ golo ou dança da Zebra, era praticada em Angola na África por meio de um
ritual violento, no qual os negros dançavam aplicando cabeçadas e pontapés, e
os vencedores tinham o prêmio de casar com as moças da tribo. (DARIDO e
RANGEL, 2005). No Brasil, essa luta era praticada como divertimento entre os
escravos em dia de folga. Hoje, se pode afirmar que a
capoeira foi criada no Brasil por africanos, ou seja, ela é uma manifestação
cultural afro-brasileira, fruto de um “caldeirão” multicultural existente
no Brasil Colônia. A capoeira, apesar de ser
utilizada em momentos de descontração, configurou-se como excelente aliado da
resistência negra para com escravidão imposta pelo branco, principalmente na
formação dos quilombos, haja vista que muitos resistiram por décadas de
ataques com a utilização dessa arte. Portanto, a mesma configura-se
por ser uma manifestação popular repleta de significação cultural e
corporal, produzindo um saber histórico com a sua corporeidade, assumindo um
papel fundamental na cultura corporal do brasileiro. Nesse sentido,
esta ação educativa teve por objetivos garantir um espaço de lazer educativo,
crítico e emancipatório, pautado na construção de condutas e de
comportamentos relacionados à valorização da cultural corporal e
afro-brasileira, bem como, discutir atitudes e comportamentos mediante a
preservação, a revitalização e a valorização do espaço natural, buscando
a formação de agentes transformadores na comunidade em questão. 2-PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização dessa ação educativa, a primeira
etapa foi entrar em contato com o mestre Pedra, capoeirista da Vila da Barca,
agregando para o nosso trabalho o saber popular, garantindo uma integração
entre Universidade e comunidade na difusão do conhecimento. A partir disso e de
muitas visitas à comunidade, formamos um grupo de 20 jovens na faixa etária de
12 a 18 anos de idade dispostos a participarem do projeto desenvolvido aos Sábados,
das 15 às 17 horas nas dependências da Universidade do Estado do Pará, no
Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE). Os encontros eram divididos em
dois momentos: teórico e prático. Na parte teórica,
eram discutidos conceitos sobre a historicidade da capoeira, da sua utilização,
por parte dos negros no Brasil colônia, como recreação e instrumento de
defesa, buscando uma valorização da cultura afro-brasileira e explicitando a
sua importância na formação étnica e cultural do povo brasileiro,
caracterizando a prática da Capoeira como expressão sócio-cultural, sendo
historicamente produzida pelos homens e pertencente a cultura corporal de
movimento. No entanto, as músicas
entoadas durante as aulas assumiam fundamental importância, pois retratavam o
contexto de opressão e luta vivida pelos negros, mas, principalmente, por
explicitarem uma relação entre homem e natureza baseada em valores de
respeito, de preservação e de revitalização do espaço natural. Assim, as
canções foram utilizadas como instrumento pedagógico para a ação
educacional desenvolvida. Já na parte prática, era o
ensino dos movimentos da Capoeira que protagonizavam esse instante,
possibilitando aos alunos uma expressão corporal até então desconhecida para
a maioria e um maior conhecimento do próprio corpo, de suas possibilidades e de
suas limitações. Esses novos movimentos
perpassavam por golpes utilizados para a defesa do corpo negro em detrimento do
ataque branco no período colonial no Brasil, reforçando a historicidade dessa
prática corporal e fazendo com que, os alunos pudessem perceber que esses
movimentos tinham um propósito de defesa da integridade física e moral do
negro. Isso foi reforçado no intuito de evitar com que os alunos utilizassem
esses golpes da capoeira em prol da violência em sua comunidade. Por último, foi apresentado aos
alunos o que se chama de “roda de
capoeira”, na qual os alunos ficam de pé e em círculo e dois ficam
dentro da roda, “jogando capoeira”. Nesse jogo, os participantes utilizam os
movimentos da capoeira que foram ensinados nas aulas. A roda de capoeira é
vivida como um momento de confraternização entre os alunos, para que todos
possam superar os seus limites por meio da sua corporeidade. Esta ação
educativa mostrou-se positiva, pois pode mobilizar a juventude em questão para
a problemática ambiental, buscando a conscientização dos participantes para
que os mesmos pudessem ter atitudes transformadoras em sua vida e em sua
comunidade diante dos problemas ambientais enfrentados na sua comunidade,
possibilitando uma integração social dos alunos numa perspectiva de fomentar
atitudes contestatória da ordem social vigente. . 4-CONSIDERAÇÕES FINAIS Todo o trabalho, quando
desenvolvido em comunidades carentes e de alto grau de vulnerabilidade social,
apresentam muitas barreiras e desafios, que vão desde a dificuldade no acesso a
comunidade, a locomoção e a disponibilidade de pessoal. Apesar disso, a realização
dessa ação educativa nos mostrou que são as dificuldades que enfrentamos que
nos devem fortalecer a buscar o melhor para a sociedade. Sendo assim, percebemos que as
músicas entoadas durante as oficinas de capoeira foram de fundamental importância
nessa atividade, pois, ao retratarem o cotidiano vivido pelos participantes e a
realidade sócio-ambiental amazônica, portaram-se como excelentes recursos
pedagógicos para a reflexão de condutas e atitudes preservadoras da natureza,
além de identificarmos que, quando o espaço de lazer assume um caráter crítico,
educativo e emancipatório, o mesmo favorece a mudanças na forma de compreensão
do mundo, fomentando o questionamento da ordem social vigente. Portanto,
compreendemos ser de fundamental importância a realização
desse trabalho, uma vez que o mesmo contribuiu para a difusão da prática
da Capoeira na Vila da Barca, para a discussão quanto a valorização da
cultura afro-brasileira e a formação de condutas e atitudes pautadas na
preservação e revitalização do espaço natural, que deve ser um bem comum a
todos os indivíduos. REFERÊNCIAS DARIDO,
S. C.; RANGEL, I. C.: Educação Física
na Escola: Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A, 2005. MARCELLINO,
Nelson Carvalho de. Formação e
Desenvolvimento de Pessoal em Esporte e Lazer. Campinas, SP. Papirus, 2003. _________.
Políticas Públicas Setoriais de Lazer: O
papel das prefeituras. Campinas, Autores Associados, 1996. _________
. Políticas Públicas de Lazer: Campinas, Sp: Alínea, 2008.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: 1°
e 2° Ciclos do Ensino Fundamental, Educação Física. Ministério da Educação,
1998. |