Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2008 (Nº 26) PERFIL DA JUVENTUDE AMBIENTALISTA DA ZONA DA MATA ALAGOANA
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Educação Ambiental em Ação 26

PERFIL DA JUVENTUDE AMBIENTALISTA DA ZONA

DA MATA ALAGOANA

 

 

Carlos Jorge da Silva Correia

Graduando em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Alagoas - UFAL, cursista do Programa de Educação Ambiental do Instituto Lagoa Viva e membro do Coletivo Jovem de Meio Ambiente Zumbi dos Palmares.

Contato: correiacjs@gmail.com.

 

Karyna Nascimento da Silva Moraes

Graduanda em Ciências Biológicas na Faculdade de Ciências e Tecnologia - FTC e membro do Coletivo Jovem de Meio Ambiente Zumbi dos Palmares. Contato: anyrak2@hotmail.com.

 

Endereço para correspondência: Rua Minervino Miguel dos Prazeres, 290, Costa e Silva, União dos Palmares – AL, CEP 57800000.

 

 

RESUMO. Este trabalho representa a nossa intenção de contribuir com o início das atividades dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente na Zona da Mata de Alagoas. Para tanto, objetivamos, com a realização desta pesquisa, caracterizar o perfil dos jovens engajados no movimento ambientalista dos municípios de União dos Palmares e de Murici. Com este objetivo, distribuímos um questionário entre os presentes ao I Seminário Palmarino de Juventude e Meio Ambiente, realizado durante a Semana de Meio Ambiente 2008 de União dos Palmares pelo Coletivo Jovem Zumbi dos Palmares, com o apoio das Secretarias Municipais de Meio Ambiente e de Educação. O evento contou com a participação de jovens das duas cidades analisadas. O questionário aplicado foi respondido por 49 pessoas com idade média de 15 anos, das quais 67% são mulheres, 68% cursam o Ensino Fundamental, e 41% são de cor parda. Quando perguntadas sobre a sua condição social, a maioria das pessoas pesquisadas, 57%, se considerou pertencente à classe média. Os dados revelam, também, que 78% desses jovens engajados na causa ambientalista são urbanos, dos quais uma parcela considerável mora na periferia da cidade, 37%. Com a realização da presente pesquisa, foi possível caracterizar o jovem ambientalista da Zona da Mata alagoana como sendo, preferencialmente, mulher urbana, com idade média de quinze anos, sendo de cor parda, e pertencente à classe média. Apresenta-se com nível de escolaridade adequado a sua faixa etária, ou seja, o Ensino Fundamental. Já participou (ou tem interesse) de algum movimento social e acredita que o meio ambiente e a qualidade de vida de sua cidade tem muito a melhorar

 

Palavras-chave: Juventude, Meio Ambiente, Zona da Mata, Alagoas.

 

 

 

 

 

 

AINDA HÁ QUEM PERGUNTE SE JOVENS TÊM INTERESSE PELO TEMA MEIO AMBIENTE

 

Acredito que a juventude de hoje deve ser a principal interessada na maneira como a humanidade utiliza e transforma o meio ambiente, afinal de contas os políticos e empresários, que atualmente vêm tomando as decisões de grande impacto ambiental, dentro em pouco já não estarão mais aí. Não estou querendo dizer que os governantes e empresários são os únicos responsáveis pelo estado atual do meio ambiente. Na verdade, todos nós somos responsáveis como cidadãos e consumidores. Há, portanto, a esperança de um futuro próspero ou catastrófico. Tudo vai depender do que o jovem fizer no presente (MUHLEMBERG, 2002 apud FERNANDES, 2004).

 

            Foi com esse discurso que Poema Muhlemberg, aos 22 anos, representou o movimento da juventude ambientalista na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, no ano de 2002. Suas palavras foram utilizadas por Mateus Fernandes (2004) para responder a uma pergunta surpreendente que lhe fizeram: Há jovens realmente interessados na temática que envolve o meio ambiente e o desenvolvimento?

            O caráter “surpreendente” dessa pergunta, comenta o autor, está no fato de que com pouco esforço, poderemos recuperar em nossa memória inúmeras ações de jovens em favor do meio ambiente, especialmente após os processos de Conferências Nacionais Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente (CNIJMA), iniciados em 2003 pelo Ministério do Meio Ambiente, fortalecidos em 2005 e que serão reafirmados agora em 2008 com a realização da III CNIJMA. Por isso, somos levados a acreditar que sim; que muitos jovens estão interessados na temática ambiental.

            Prova maior disso é a articulação nacional dessa juventude em torno da Rede de Juventude pelo Meio Ambiente (REJUMA) que tem como grande mérito mobilizar novos jovens para a luta ambiental a partir do estímulo à constituição de Coletivos Jovens pelo Meio Ambiente (CJs). São esses grupos, os responsáveis por iniciar, a cada dia, novos jovens no embate ecológico. Em Alagoas, verificamos uma realidade semelhante com o fortalecimento desse processo na capital e o enraizamento do mesmo no interior do estado, a exemplo de União dos Palmares e Murici.

            Segundo Bourdieu (1983, apud MATOS, 2006) os jovens mostram-se diversos, não representando uma unidade social, e sim, verdadeiras “juventudes” – no plural. Os seus interesses seriam reflexos do contexto sócio-histórico ao qual pertencem e que se apresenta como condição para as suas escolhas a exemplo da defesa ambiental. É por isso, afirma Matos (2006, p. 81), que se mostra “fundamental esclarecermos de que jovens falamos, que perfil apresentam enquanto grupo”. Seguindo essa orientação, a pesquisa Perfil e Avaliação dos Conselhos Jovens de Meio Ambiente realizada pelo Ministério da Educação, no período de dezembro de 2004 a janeiro de 2005, concluiu que:

 

[...] o jovem ambientalista integrante dos CJs é, preferencialmente, mulher urbana e da capital, tem idade de até vinte e cinco anos, sendo de cor parda, classe média e média-baixa, com renda familiar de até cinco salários mínimos mensais. Apresenta-se com bom nível de escolaridade e estudou em escola pública (DEBONI e MELLO, 2006, p. 29).

 

            Em que medida esse perfil representa os jovens ambientalistas alagoanos? Somos imediatamente levados a tal questão, uma vez que apenas 5 jovens de nosso estado contribuíram na construção desse panorama. Mas é certo que o movimento ambientalista jovem em Alagoas é conduzido atualmente por mais que 5 pessoas. Por isso o objetivo desse estudo é caracterizar de forma sucinta a parcela da juventude que se ocupa com o meio ambiente em Alagoas, especificamente nos municípios de União dos Palmares e Murici.

 

 

COM QUEM, ONDE E COMO A PESQUISA FOI REALIZADA

 

            O presente trabalho foi desenvolvido com jovens ambientalistas das cidades de União dos Palmares e de Murici, na região da Zona da Mata alagoana. A coleta de dados foi realizada durante o I Seminário Palmarino de Juventude e Meio Ambiente, realizado no dia 4 de junho de 2008, do qual participaram os CJs das cidades envolvidas na pesquisa. O evento foi organizado pelo Coletivo Jovem Zumbi dos Palmares com o apoio das Secretarias Municipais de Meio Ambiente e de Educação de União dos Palmares.

            O método utilizado foi o de questionário. Segundo Dias (2004), a estratégia de questionário, se aplicada de forma adequada à Educação Ambiental, produz diversos indicativos, “dos quais podem ser extraídas conclusões ou indicações para atividades” (p.221). Nesse sentido, queremos salientar que os dados discutidos neste trabalho não representam a totalidade de indicadores levantados, pois o objetivo inicial é de apenas caracterizar os grupos pesquisados; os itens do questionário que expressam concepções e valores sobre o meio ambiente serão posteriormente analisados.

 

 

O PERFIL DO JOVEM PESQUISADO E ALGUNS COMENTÁRIOS

 

            O questionário aplicado foi respondido por 49 pessoas com idade média de 15 anos, das quais 67% são mulheres, 68% cursam o Ensino Fundamental, e 41% são de cor parda. Quando perguntadas sobre a sua condição social, a maioria das pessoas pesquisadas, 57%, se considerou pertencente à classe média.

            O GRÁFICO 1 mostra que 78%  dos jovens engajados na causa ambientalista são urbanos, dos quais uma parcela considerável mora na periferia da cidade.

Gráfico 1 Perfil do local de moradia dos jovens ambientalistas de União dos Palmares e Murici.

 
 

 

 

 


            Como se pode observar nos quadros seguintes, a maioria dos jovens pesquisados já participa(ou) de outros movimentos sociais, e dos 25% que nunca participou de algum movimento 83% diz ter interesse de atuar em um. Além disso, o ambientalismo é quase unanimemente entendido como um movimento social.

 

            Você já participa(ou) de algum movimento social?

 

 

Total

 

 

Sim

75%

 

 

Não

25%

 

 


            Você tem interesse em atuar em algum movimento social?

 

 

Total

Sim

83%

Não

17%

 

 

           

 

            Para você o ambientalismo é um movimento social?

 

 

Total

Sim

96%

Não

4%

 

 

 

 

 

            Outro aspecto levantado diz respeito a como esses jovens acreditam que se encontram o meio ambiente e a qualidade de vida em União dos Palmares, sede do evento. Os resultados mostram que União dos Palmares “tem muito a melhorar”, mas que tudo indica que o município já “vem caminhando em direção a tão desejada sustentabilidade”.

Compreensão dos jovens sobre o meio ambiente e a qualidade de vida em União dos Palmares

 

 

Total

Tem muito a melhorar

67%

Vem caminhando em direção a tão desejada sustentabilidade

31%

Já pode ser considerada exemplar

2%

 

            Através dessa pesquisa percebemos com mais clareza o potencial de mobilização da juventude em torno da temática ambiental. Fica evidente que não importa a idade, a cor, a classe social, o gênero ou o local de moradia, o que existe é interesse da juventude em lutar de alguma forma por um meio ambiente de qualidade para todos.

            Nessa perspectiva, é do entendimento de todos que a natureza não consegue rearranjar seus ecossistemas tão rápido quanto o homem o modifica. O aquecimento global, por exemplo, acentuado através da crescente emissão de CO2 (dióxido de carbono) - marca de nossa era industrial -, promete mudar a paisagem global com impactos econômicos, ambientais e culturais.

            Para que os danos ambientais não atinjam maiores proporções, ou seja, danos irreversíveis, serão indispensáveis neste século que todos os povos (de todas as idades, inclusive, os jovens) se unam. Diante deste cenário, a absoluta necessidade da Educação Ambiental é inquestionável, pois apresenta-se como um processo que visa conscientizar a sociedade e, com isso, obter a participação mais ativa da mesma diante das questões ambientais. Nesse contexto, parece-nos mais que plausível a associação de jovens em torno de CJs pelo meio ambiente, pois este processo denota  a conscientização da juventude de que a degradação do meio ambiente não prejudica a um só individuo, mas a várias gerações.

             Proteger o ecossistema, nesses termos, é um ato amoroso, pois prever o compromisso de todos - crianças, jovens, homens e mulheres - com o seu presente (responsabilidade sincrônica) de olho no futuro (responsabilidade diacrônica).

            No caso de União dos Palmares e de Murici, onde estamos inseridos e de onde falamos, podemos ver algo em movimento, com a cara jovem e alegre de quem acredita em um mundo melhor: é uma juventude ambientalista tecendo a sustentabilidade.    

 

 

AONDE CHEGAMOS...

 

            Com a realização da presente pesquisa, foi possível caracterizar o jovem ambientalista da Zona da Mata alagoana como sendo:

 

§         Preferencialmente, mulher urbana, com idade média de quinze anos, sendo de cor parda, e pertencente à classe média. Apresenta-se com nível de escolaridade adequado a sua faixa etária, ou seja, o Ensino Fundamental. Já participou (ou tem interesse) de algum movimento social e acredita que o meio ambiente e a qualidade de vida de sua cidade tem muito a melhorar.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DEBONI, Fábio. MELLO, Soraia. Panorama da Juventude Ambientalista. In: Brasil. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Juventude, cidadania e meio ambiente: subsídios para elaboração de políticas públicas. Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Educação. – Brasília: Unesco, 2006. p. 23-52.

 

DIAS, Genebaldo. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004.

 

FERNANDES, Mateus. Jovens e Meio Ambiente: uma aliança sustentável. Panorama, 5 jun. 2004. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2008.

 

MATOS, Kelma. Juventudes e Educação Ambiental: Construindo Cidadania com os Coletivos Jovens. In: Brasil. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Juventude, cidadania e meio ambiente: subsídios para elaboração de políticas públicas. Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Educação. – Brasília: Unesco, 2006. p. 81
Ilustrações: Silvana Santos