Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2008 (Nº 26) Percepção dos alunos do 9º período do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universiade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE sobre o biodiesel
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PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO 9º PERÍODO DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE SOBRE O BIODIESEL.

 

Arthur Vinícius de Oliveira Marrocos de Melo ¹,

¹Professor de Educação Ambiental da Escola Técnica Regional ETR. Rua Gervásio Pires, 653, Boa Vista – Recife – PE CEP 50070-050. Email arthur_marrocos@yahoo.com.br

 

 

RESUMO

A percepção ambiental se faz de suma importância para o conhecimento sobre as questões ambientais, os alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco tem uma disciplina especifica que visa o conhecimento sobre a utilização dos vegetais para fins econômicos. Hoje a busca por fontes alternativas de geração de energia está eminente nas pesquisas e na vida acadêmica. Por esse motivo objetivou-se conhecer a percepção desses alunos sobre um tema tão importante e atual.

 

INTRODUÇÃO

A maior parte de toda a energia consumida no mundo provém do petróleo, carvão e do gás natural. Entretanto, essas são fontes não renováveis e possuem previsão de esgotamento em um futuro próximo (Shuchardt et al., 1998). Além disso, os combustíveis fósseis são muito poluidores afetando o meio ambiente de forma bastante agressiva, o que faz a população mundial buscar soluções para tais problemas. Neste contexto, os óleos vegetais aparecem como uma alternativa para substituição ao óleo diesel em motores de ignição por compressão (Encinar et al. 1999; Canakci & Van Gerpen 2001), sendo o seu uso testado já em fins do século XIX, produzindo resultados satisfatórios no próprio motor diesel (Nascimento et al. 2001; Knothe 2002)

O uso de biodiesel como combustível vem crescendo aceleradamente no mundo inteiro, pois a cadeia de produção deste combustível tem um potencial promissor em vários setores, tais como, social, ambiental e tecnológico (Masjuk et al. 1995; Srivastava & Prasad 2005). O biodiesel abre oportunidades de geração de emprego no campo (Holanda 2004), valorizando a mão de obra rural, bem como no setor industrial valorizando a mão de obra especializada na produção do combustível. Quanto ao aspecto ambiental a contribuição é grande, visto que haverá uma redução significativa e quantitativa de níveis de poluição ambiental, pois o biodiesel está livre de enxofre e de compostos aromáticos, emite menor índice de particulados, como HC, CO e CO2, não é tóxico, é biodegradável, é oriundo de fontes renováveis (Lee, 2004) e, com isso, o mundo poderá se beneficiar com menor emissão de carbono. No que tange ao aspecto tecnológico, os testes de desempenho de motores realizados na década de 80 com uso de 100% de biodiesel mostraram- se bastante satisfatórios, pois não apresentaram problemas significativos (MIC 1985).

O biodiesel é um combustível obtido a partir de uma mistura reacional contendo de 80 a 90% (em massa) de óleo vegetal ou gordura animal, de 10 a 20% de álcool etílico ou metílico e de 0,35 a 1,5% em massa de catalisador, em um processo denominado transesterificação (Kozerski & Hess 2006). A utilização de biodiesel como combustível vem apresentando um potencial promissor no mundo inteiro (Herrera,1995), sendo um mercado que cresce aceleradamente (Harten 2006).

Vendo a importância que esse combustível vem ganhando ao longo dos anos achou-se importante buscar saber a percepção dos alunos do 9º período do curso de licenciatura ciências biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sobre o biodiesel, já que os mesmos estão no final do curso e teoricamente deveriam ter algum conhecimento sólido a respeito do assunto, em relação ao que a literatura científica divulga.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Este trabalho foi conduzido na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) no Campus de Dois Irmão que está situada na cidade do Recife. A UFRPE possui uma área de 147ha e 132 edifícios, que concentram as atividades de ensino, pesquisa, extensão. Esta universidade possui 19 cursos de graduação, entre eles está o curso de licenciatura plena em ciências biológicas, o qual nossa pesquisa se deteve.

O público alvo de nossa pesquisa foram os alunos do 9º período do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas. A turma foi selecionada com relação à facilidade do acesso que foi por intermédio de uma das professoras da turma, e também por ser o penúltimo período para a conclusão do curso. Isso nos possibilitaria conhecer o nível de entendimento desses alunos com relação ao biodiesel que é um assunto bastante discutido no meio científico.

            A turma selecionada possui 35 alunos matriculados, mas apenas 19 alunos (8 homens e 11 mulheres) com idade variando de 22 anos até 40 anos participaram da coleta de dados, pois estes foram os que estavam presentes no momento em que foi realizada a pesquisa na sala de aula.

            Antes de iniciar a coleta de dados os alunos foram explicados cerca do objetivo do nosso trabalho e em seguida pedimos para que eles dissertassem sobre o biodiesel. Vale ressaltar que duas semanas antes do momento da pesquisa os alunos tiveram aula sobre o biodiesel.

            Para a análise das informações obtidas durante a questão discursiva foram sistematizadas com base em quatro questões: 1- O que é biodiesel?; 2- Quais as suas vantagens?; 3- Quais as suas desvantagens? e 4- Do que é feito o biodiesel?. Suas respectivas respostas, caso encontradas no texto, foram comparadas segundo a literatura científica. As respostas dos alunos foram classificadas da seguinte forma, segundo Pereira et al (2006):

·         “Satisfatórias” (S) são as respostas dos alunos que se apresentaram completas segundo a literatura científica consideradas para análise.

·         “Parcialmente satisfatórias” (PS), foram às respostas que os alunos apresentaram uma informação mínima sobre o assunto.

·         “Insatisfatórias” (I), para as respostas que apresentaram nenhuma informação sobre a pergunta em questão.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Para a primeira questão que é relativa ao que é biodiesiel 63,16% responderam de forma parcialmente satisfatória com o conhecimento cientifico, que conceitua como um combustível renovável, biodegradável e ambientalmente correto, sucedâneo do óleo diesel mineral, constituído por uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, obtidos da reação de qualquer tipo de gordura com álcool.

A grande maioria respondia que o biodiesel é proveniente de plantas oleaginosas, fato este que corrobora com a disciplina que é vivenciada no 8° período onde os alunos vêem a botânica econômica. Por esse motivo acredita-se que eles tenham esse conhecimento prévio considerado parcialmente satisfatório, já 10,52% responderam de forma insatisfatório chegando a afirma que o biodiesel “é um combustível feito de parte de carbono disponível na atmosfera”. E 26,32% responderam de forma satisfatória como podemos notar na seguinte citação: “é um biocombustivel, ou seja, combustível cujos resíduos prejudicam menos o meio ambiente, parte dele é absorvido praticamente no ciclo de C, N”.

Na segunda questão que busca saber quais as vantagens no uso do biodiesel, 52,63% responderam de forma parcialmente satisfatória, relacionando apenas a utilização desse combustível como forma de agredir menos o meio ambiente. Apenas 5,26% conseguiram relacionar a melhoria ambiental com o desenvolvimento econômico e empregabilidade que a produção e uso desse biocombustivel pode causar no país. Aqueles que obtiveram índices insatisfatórios (42,11%) não conseguiram citar nenhuma vantagem no uso do mesmo.  Segundo a literatura podemos citar 3 benefícios: social, ambiental e tecnológico. O biodiesel abre oportunidades de geração de emprego no campo (Holanda 2004), valorizando a mão de obra rural, bem como no setor industrial valorizando a mão de obra especializada na produção do combustível. Quanto ao aspecto ambiental a contribuição é grande, visto que haverá uma redução significativa e quantitativa de níveis de poluição ambiental (Ferrari et al. 2005). E o tecnológico mostrou testes de desempenho de motores realizados bastante satisfatórios, pois não apresentaram problemas significativos (MIC 1985).

 

Figura 1 – Gráfico da percepção prévia dos alunos do 9° período do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRPE, sobre Biodiesel.

 

Referente a terceira questão 94,74% demonstrou não conhecer as desvantagens do uso desse combustível, deixando a questão em branco ou não relacionando nenhuma desvantagem. Apenas um aluno citou a questão do desmatamento desordenado para o plantio de culturas que servem para a produção do biocombustivel, sendo esse considerado apenas parcialmente satisfatório (5,26%) já que o conhecimento cientifico não cita o mesmo com uma desvantagem. Segundo Dias (2007) foram identificados algumas desvantagens diretamente associadas ao uso de óleos virgens em substituição  ao diesel convencional: (a) ocorrência de excessivos depósitos de carbono no motor; (b) obstrução nos filtros de óleo e bicos injetores; (c) diluição parcial do combustível no lubrificante; (d) comprometimento da durabilidade do motor; e (e) custo operacional elevado.

Finalmente na questão que buscou saber do que é feito o biodiesel, 57,90% responderam de forma insatisfatória onde conseguiram citar apenas uma única espécie e geralmente a mamona, apenas uma aluna conseguir citar mais que quatro espécies (5,26%). Segundo Geris et al. (2007) o biodiesel pode ser produzido a apartir do óleo de soja, girassol, milho, algodão, babaçu, dendê e piqui (vegetais típico do cerrado).

 

CONCLUSÕES

Desta forma podemos concluir que os alunos do curso de licenciatura em ciências biológicas do 9º período, apesar de já terem estudado o assunto possuem pouco conhecimento sobre o biodiesel.

 

REFERÊNCIAS

 

Canakci, M.; Van Gerpen, J. 2001. Trans. ASAE, 44, 1429.

Dias, G. L. da S. 2007. Um desafio novo: o biodiesel. Estudos Avançados 21 (59) p 179-183.

Encinar, J. M.; González, J. F.; Sabio, E.; Ramiro, M. J. 1999. Ind. Eng. Chem. Res. 38, 2927.

Ferrari, R. A.; Oliveira, V. S. & Scabio, A. 2005. Biodiesel de soja – taxa de conversão em ésteres etílicos, caracterização fico-quimica e consumo em gerador de energia . Quim. Nova vol 28 nº 1 p. 19-23.

Geris, R.; Santos, N. A. C.; Amaral, B. A.; Maia, I. S.; Castro, V. D. & Carvalho J. R. M. 2007. Biodiesel de soja - reação de transesterificação para alunos práticas de química orgânica. Quim. Nova vol. 30 nº 5 p. 1369-1373.

Harten, B. 2003 A&G  13, 98.

Herrera, C. G. 1995. Grasas y Aceites  46, 121.

Holanda, A. 2004. Biodiesel e Inclusão Social, Câmara dos Deputados Federais: Brasília, DF.

Knothe, G. 2002.  A&G  12, 222.

Kozerski, R. R. & HESS S. C. 2006. Estimativa dos poluentes emitidos pelos ônibus e microônibus de Campo Grande/MS, empregando como combustível o diesel, biodiesel ou gás natural. Eng. Sanit. Ambient. Vol II Nº 2 p. 113-117.

Lee, S. W.; Herage, T.; Young, B.  2004.  Fuel  83, 1607.

Lima, J. R. O.; Silva, R. B.; Silva, C. C. M.; Santos, L. S. S.; Santos Jr., J. R.; Moura, E. M. & Moura, C. V. R. 2007. Biodiesel de babaçu (Orbignya sp) obtido por via etanólica. Quim. Nova. Vol. 30 nº 3 p. 600-603.

Masjuk, H.; Sapuan, M. S. 1995. J. Braz. Chem. Soc.  12, 609.

Ministério da Indústria e Comércio, Secretaria de Tecnologia Industrial (MIC). 1985 Produção de combustíveis líquidos a partir de óleos vegetais, STI/CIT: Brasília.

Nascimento, M. G.; Costa Neto, P. R.; Mazzuco, L. M. 2001. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 19, 28.

Pereira, E.M.;  Farrapeira, C.M.R.; Pinto, S.L. Percepção e educação ambiental sobre manguezais em escolas públicas da Região Metropolitana do Recife. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental , Porto Alegre, v.17, p. 244-261, 2006. Disponível em: . Acesso em: 26 abr. 2007.

Shuchrdt, U.; Sercheli, R.; Vargas, M. 1998 J. Braz. Chem. Soc., 9, 190.

Srivastava, A.; Prasad, R. 2000. Renew. Sust. Energy Rev. 4, 111.

 

Ilustrações: Silvana Santos