Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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AVALIAÇÃO DE
UMA TRILHA INTERPRETATIVA MONITORADA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL Msc.
Amanda Doubrawa, Departamento de Pós – Graduação em Gestão Ambiental,
Assessoria Universitária Pedagógica de Extensão (AUPEX), Joinville – SC,
e-mail: amanda.doubrawa@terra.com.br Dr.
Marcelo Antunes Nolasco, Departamento de Pós – Graduação em Gestão de
Recursos Naturais, Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR),
Curitiba – PR, e-mail: salaverde_pucpr@yahoo.com.br Resumo: O Projeto Sala Verde da PUC/PR realizou
um trabalho de educação ambiental em uma trilha interpretativa
monitorada no Vivat Floresta Sistemas
Ecológicos, no Município de Tijucas do Sul - Paraná, com alunos da Rede Pública
de Ensino desta Região. Com o objetivo de avaliar o sistema de monitoramento
desta trilha, foi elaborado este projeto de pesquisa, tendo como instrumento
avaliativo desenhos, que retratam a percepção dos visitantes. Entre o público
alvo estavam alunos de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual
Professor Francisco Manoel de Lima Camargo. Os grupos eram orientados a desenhar
o que supostamente encontrariam na trilha e em seguida eram divididos em 2
subgrupos: o primeiro percorria a trilha sem monitoramento e o segundo com
monitoramento. Após o percurso, retratavam o que haviam percebido durante o
percurso da trilha em um segundo desenho. Estes foram analisados, considerados
como mapas mentais, registrando-se a presença de elementos simbólicos/landmarks
que foram classificados em artificiais (antrópicos) e naturais (biológicos e físicos).
Destacaram-se entre os landmarks: árvores, corpos d’água e trilha.
Através da análise comparativa destes mapas mentais, o monitoramento da trilha
mostrou ser uma importante
ferramenta no processo de Educação Ambiental.
Palavras – Chave: Educação
Ambiental; Landmarks; Mapas Mentais; Monitoramento de Trilhas. 1.Introdução
“É cada vez
maior a sensibilização da humanidade em prol da conservação da natureza.
Parece claro que a atitude da sociedade em relação ao patrimônio natural no
qual estamos inseridos deve ser repensada, dado haver consenso de que a
continuidade das agressões é incompatível com a perpetuação do bem-estar no
planeta” (VIVAT, 2003, p.9).
Pensando neste sentido a Instituição Filantrópica Sergius Erdelyi e a
Sociedade Paranaense de Cultura, mantedora da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, em sistema de parceria, criaram a Vivat Floresta Sistemas
Ecológicos. Este é um empreendimento com componentes sociais, educacionais,
ecológicos e ambientais, voltado ao manejo conservacionista de uma área rural,
no sudeste do Paraná. A estratégia para alcançar as metas baseia-se no
desenvolvimento de diversos projetos, com objetivos específicos, envolvendo o
uso sustentável dos recursos naturais.
Um
dos projetos desenvolvidos neste sentido encontra-se no Município de Tijucas do
Sul, onde está instalada uma trilha interpretativa. Nesta, o Projeto Sala Verde
da PUC/PR realizou um trabalho de Educação Ambiental com alunos da Rede Pública
de Ensino de Tijucas do Sul. Os integrantes deste Projeto buscam na utilização
da multidisciplinariedade novas formas de ensino através da interação do
aluno com o meio ambiente, de forma a tirá-lo da posição de mero espectador,
proporcionando-lhe uma oportunidade de aprendizado in loco através de trilhas monitoradas.
Dias (1994, p.130) enfatiza que o ensino puramente teórico (símbolo –
abstrato) deve ser evitado, uma vez que o imediatamente vivencial permite uma
aprendizagem mais efetiva.
Guimarães (2000, p. 23) defende como método para a Educação Ambiental
uma “metodologia de ação, de forma a tirar o aluno da posição de mero
espectador da realidade que o cerca para colocá-lo
como real participante dessa realidade”, permitindo ao aluno desenvolver o
“pensamento reflexivo e crítico”.
Pensando-se neste sentido, este projeto de pesquisa partiu da necessidade
de se investigar de que maneira uma trilha interpretativa pode tornar-se um
instrumento de aprendizagem e aproximação do aluno com a natureza. Levando-se
em conta que o Projeto Sala Verde da PUC/PR utiliza como método o sistema de
monitoramento, formulou-se a hipótese de que um trabalho de mediação entre
monitores e visitantes poderia levar os alunos a conhecer melhor os elementos da
natureza local e desta forma sensibilizá-los para o comprometimento com a
preservação ambiental, em uma região em que a devastação da natureza ocorre
de forma acelerada.
Partindo-se da observação de que existem algumas placas em pontos
estratégicos da trilha, e que em breve serão instaladas mais placas no local,
teve-se como objetivo analisar a eficácia do sistema de monitoramento em uma
trilha interpretativa do Vivat Floresta Sistemas Ecológicos como uma
ferramenta de Educação Ambiental. 2.
Metodologia Esta
área situa-se no primeiro planalto paranaense, na região de domínio da
Floresta Atlântica, com Floresta Ombrófila Mista ou Floresta de Araucárias. O
clima predominante segundo a classificação de Koppen é do tipo Cfb. Desde o
ano de 1999, vem sendo desenvolvido projetos que envolvam ensino, pesquisa e
extensão. Entre estes está o referido projeto, construído com o apoio do
Ministério do Meio Ambiente, que tem como objetivo oportunizar aos visitantes
de uma trilha interpretativa do local um contato direto com a natureza,
aprimorar os conhecimentos ecológicos sobre a região, aumentar a percepção e
interpretar a natureza de maneira que possa vir a contribuir na formação de
cidadãos mais conscientes das necessidades de preservação da natureza local e
seu entorno, uma vez que o público alvo do projeto são alunos que moram na
localidade.
Foram treinados monitores (alunos de graduação da PUC/PR) para o
acompanhamento dos grupos visitantes, que foram instigados a elaborar um
roteiro, com pontos de paradas e temas geradores, a serem trabalhados durante o
percurso da trilha. O discurso dos monitores da trilha foi adequado conforme o
interesse e a faixa etária de cada grupo visitante.
O público alvo selecionado para esta pesquisa foram alunos de 5a
a 8a série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor
Francisco Manoel de Lima Camargo, localizada nas proximidades da Vivat Floresta
Sistemas Ecológicos, em Tijucas do Sul. Entre os alunos encontram-se crianças
residentes da área urbana e rural do município.
Entre as atividades realizadas pelos monitores do Projeto Sala Verde da
PUC/PR, esteve a elaboração de um desenho individual pelos alunos
participantes antes e após a visitação a trilha interpretativa do Vivat
Floresta Sistemas Ecológicos, que foi utilizado neste trabalho como instrumento
de coleta de dados a respeito da percepção dos visitantes sobre a trilha a ser
percorrida, sendo esta monitorada ou não.
Todos os alunos ao chegarem ao Vivat Floresta foram solicitados a
fazer um desenho inicial, para mostrar o que esperavam encontrar na visita a
trilha e no verso escreveram o que desenharam, para que não houvesse a chance
de ocorrer interpretações errôneas a respeito do desenho. Enquanto os alunos
desenharam, a pesquisadora dividiu a turma em três subgrupos aleatoriamente. Após
esta etapa concluída, a mesma ficou responsável pelo primeiro subgrupo de cada
turma de visitantes, que participou do projeto em dias alternados, e explicou a
este que percorreriam em dois momentos a mesma trilha. Em um primeiro momento
percorreriam a trilha sem monitoramento, apenas a pesquisadora acompanharia o
grupo e não poderiam fazer perguntas a esta. Após percorrerem a trilha foram
orientados a representarem através de desenho o que encontraram e vivenciaram
nesta trilha. Em um segundo momento, este subgrupo visitou novamente a trilha,
porém desta vez de forma monitorada e sem a aplicação do desenho.
Com intervalos de 10 minutos os outros dois subgrupos seguiram para a
trilha monitorada pelos monitores do projeto, sendo que estes subgrupos
percorreram somente uma vez a trilha e de forma monitorada. Após percorrerem a
trilha interpretativa foram incentivados a desenharem o que vivenciaram durante
a visita a trilha, escrevendo no verso da folha os elementos desenhados.
Após o término de todas as atividades com o grupo visitante, os
desenhos obtidos eram agrupados de acordo com os subgrupos, ao qual cada turma
foi dividida, e de acordo com o momento (antes e depois da visita a trilha).
Em etapa subseqüente, os desenhos foram então analisados um a um. A
partir desta análise, estes foram considerados como mapas mentais e analisados
com base na metodologia utilizada por Maroti et.
al (1997, p. 13) em trabalho similar, que considerou os elementos
representados nos desenhos como símbolos ou Landmarks.
Estes Landmarks foram classificados em: artificiais (antrópicos)
e naturais (bióticos e abióticos) de acordo com a metodologia descrita por
Davino e Davino (1996 apud MAROTI et. al,
1998, p. 58).
Para a análise estatística dos dados obtidos foi utilizado o Teste de
Hipóteses para Comparação de Duas Proporções, utilizando-se o nível de
significância de 5% = 1,96. Neste testou-se as seguintes hipóteses: Ho quando
a proporção 1 (P1= antes da trilha) é igual a proporção 2 (P2= depois da
trilha), ou seja, não há diferença estatisticamente na presença de um
determinado landmark testado antes e após a visita a trilha; e H1 quando
P1 é diferente de P2, ou seja, há diferença estatisticamente na presença de
um determinado landmark antes e após a visita a trilha da Vivat
Floresta. 3.
Resultados e Discussão Analisando-se
os mapas mentais encontraram-se diversos elementos (landmarks) que foram
classificados em componentes antrópicos e naturais (físicos e biológicos).
Como componentes antrópicos, consideraram-se para este trabalho, todos
os elementos simbólicos relativos a algum tipo de interferência humana.
Consideraram-se como componentes naturais todos aqueles elementos que não
tivessem a interferência do homem, fossem naturais.
Foram atendidos durante a execução deste projeto cerca de 170 alunos de
5ª a 8ª série da Escola Estadual Professor Francisco Manoel de Lima Camargo,
sendo que destes, 63 alunos compuseram a amostra que visitou a trilha por duas
vezes (a primeira sem monitoramento e a segunda vez monitorada), considerada
neste trabalho como amostra “A” e 108 alunos compuseram a amostra “B”
que visitou a trilha uma vez e de forma monitorada. 3.1 Grupo A
Entre os Elementos Físicos representados pelo grupo A antes da trilha
estavam: corpos d’água (38%), montanha (3%), nuvem (27%), rocha (5%), sol
(33%) e solo (1%). Após a visita a trilha o grupo representou os seguintes landmarks:
corpos d’água (73%), nuvem (13%), rocha(1%), sol(16%), não aparecendo mais
os elementos solo e montanha. Analisando-se estatisticamente estes dados através
do Teste de Hipóteses para comparação de duas proporções, observou-se que
os elementos “corpos d´água”, “sol” e “nuvens” apresentaram
diferença significativa no número de citações entre o antes e após a visita
a trilha. Entre
os Elementos Biológicos representados pelo grupo A antes da trilha estavam: árvore
(100%), ave (54%), flor (43%), fruta (5%), grama (21%), inseto (27%), mamífero
(28%), mato (8%), peixe (6%), réptil (8%) e serrapilheira (1%). Após a trilha
foram representados os seguintes elementos: árvore (100%), ave (19%), cipó
(1%), flor (27%), grama (17%), inseto (24%), mata(11%), mamífero(13%), mangue
(1%), peixe (3%), réptil (3%), serrapilheira(1%), não aparecendo mais o
elemento fruta. Através da análise estatística observou-se que entre os landmarks
representados nos desenhos pelo grupo A (sem monitoramento), “aves” e “mamíferos”
apresentaram diferença significativa no número de citações entre o antes e
após a visita a trilha. Neste momento não apareceu mais o elemento fruta e
apareceram dois novos elementos, cipó e mangue. Este último elemento demonstra
que talvez o conceito de mangue não esteja bem claro para os estudantes, uma
vez que no momento, devido ao método utilizado para a pesquisa, o monitor não
podia interagir com a turma para esclarecer este equívoco. Entre
os elementos antrópicos representados pelo grupo A antes da trilha estavam:
caixa de abelhas (3%), automóvel (1%), casa (5%), estrada(5%), lixeira (1%),
placa(1%), poste de luz(1%), represa (1%) e trilha(35%). Observou-se que os landmarks
automóvel, casa, estrada, placa e poste de luz podem ser encontrados no local.
A presença dos elementos caixa de abelhas e represa indica que uma parte do
grupo amostrado possivelmente já tinha algum conhecimento a respeito do local,
pois estes não estavam visíveis do local onde o grupo encontrava-se. Em
conversa informal com alunos do grupo, constatou-se que alguns já haviam
visitado o local anteriormente. O elemento antrópico mais representado nesta
etapa foi a trilha, compatível com a expectativa do grupo ao visitar o local. Após
a trilha foram representados os seguintes elementos antrópicos: caixa de
abelhas (24%), casa (28%), estrada (8%), placa (11%), rua (3%), trator(1%),
trilha (40%) e viveiro (13%), não aparecendo mais os elementos automóvel,
poste de luz e represa. Através da
análise estatística observou-se que entre os landmarks representados
nos desenhos pelo grupo A (sem monitoramento), “placas”, “casa”,
“caixa de abelha” e “viveiro” apresentaram diferença significativa no número
de citações entre o antes e após a visita a trilha. Neste momento o grupo A
representou os landmarks: caixa de abelhas, casa, estrada, placa, trilha
e também elementos antes não citados como lixeira, rua, trator e viveiro.
Todos os elementos representados estavam presentes durante o percurso da trilha,
com exceção do trator, que passa pelo local eventualmente. 3.2 Grupo B
Considerando-se
que o grupo B participou da visita a trilha com monitoramento dos estagiários
do Projeto Sala Verde da PUC/PR e que de acordo com alguns relatos em diálogo
informal da pesquisadora com alguns dos alunos, os mesmos já tinham breve
conhecimento sobre o local, os elementos antrópicos representados pelo grupo B
antes da trilha foram: casa (5%), automóvel (1%), cerca (1%), esculturas (3%),
estrada (6%), placas (1%), ponte (2%), quadra de esportes (2%) e trilha (20%).
Grande parte destes elementos foram encontrados próximos ao local onde o grupo
de visitantes foi recepcionado pelos monitores do Projeto. Após
a trilha foram representados os seguintes elementos antrópicos: caixa de
abelhas (32%), casa (5%), estrada (6%), estufa (3%), placas (3%), quadra de
esportes (2%), represa (8%), trilha (15%) e viveiro (5%), não aparecendo mais
os landmarks automóvel, cerca e esculturas. Através da análise estatística
observou-se que entre os landmarks representados nos desenhos pelo grupo
B (com monitoramento), “caixa de abelhas”, “viveiro” e “represa”
apresentaram diferença significativa no número de citações entre o antes e
após a visita a trilha. Novos elementos observados como caixa de abelhas,
estufa, represa e viveiro, estiveram presentes no discurso realizado pelos
monitores durante o percurso.
Entre os Elementos Físicos representados pelo grupo B antes da trilha
estavam: céu (3%), corpos d’água (41%), diamante (1%), montanha (3%), nuvem
(14%), sol (22%) e rocha (3%). Após a trilha foram representados os seguintes
elementos: corpos d’água (53%), nuvens (5%) e sol (6%), não aparecendo mais
os elementos céu, diamante, montanha e rocha. Os últimos 3 elementos não
foram mais representados provavelmente porque durante o percurso da trilha, não
foram observados no local. Analisando-se estatisticamente estes dados observa-se
que os elementos “sol” e “nuvens” apresentaram diferença significativa
no número de citações entre o antes e após a visita a trilha. Entre
os elementos biológicos representados pelo grupo B antes da trilha estavam: árvore
(88%), ave (50%), aracnídeo (1%), cipó (1%), flor (34%), grama (15%), inseto
(17%), mata (10%), mamífero (5%), réptil (10%) e peixe (3%). Após a trilha
foram representados os seguintes elementos: árvore (100%), ave (11%), flor
beijinho (2%), flor (21%), fungo (1%), grama (4%), inseto (21%), mata (4%), mamífero
(3%), processo de decomposição (1%), planta aquática (5%), réptil (4%),
serrapilheira (9%) e peixe (2%). Nesta
etapa apareceram novos landmarks nos desenhos como: flor beijinho, fungo,
planta aquática, processo de decomposição e serrapilheira, estes estiveram
presentes no discurso dos monitores. O landmark processo de decomposição,
em especial, é tipicamente fruto do processo de interação com os monitores,
uma vez que não é um processo facilmente observado sem orientação. O
elemento anfíbio, aracnídeo e cipó não foram mais representados nos mapas
mentais. Através da análise estatística observou-se que entre os landmarks
representados nos desenhos pelo grupo B (com monitoramento), “árvores”,
“flores”, “grama”, “aves’ e “plantas aquáticas” apresentaram
diferença significativa no número de citações entre o antes e após a visita
a trilha. 3.3 Grupo A versus Grupo B Comparando-se
os elementos bióticos representados pelo grupo A em relação ao grupo B, após
percorrer a trilha observou-se que este último apresentou maior número de
novos símbolos representados, estes provavelmente percebidos devido a interação
dos monitores com o grupo de visitantes nos pontos de parada já pré-estabelecidos.
Entre o elemento biótico árvore foram citadas diversas espécies,
destacando-se entre os 2 grupos de visitantes a Araucária (Araucária
angustifolia), Imbuia (Ocotea porosa) e o Pinus (Pinus elliottii).
No grupo A foram representados por 17% dos alunos a Araucária, 5% a Imbuia, não
sendo encontrada nenhuma representação de Pinus entre os desenhos. Dentro do
grupo B foram representados a Araucária por 55% dos alunos amostrados, 30% de
Imbuia e 14% de Pinus, demonstrando um acréscimo na porcentagem das diferentes
espécies citadas pelos alunos nos desenhos após o percurso da trilha com
monitoramento e a presença de uma nova espécie citada.
Tanto o grupo A quanto o grupo B representaram o elemento biótico mamíferos
em maior diversidade de espécies antes da trilha, sendo representado pelo grupo
A os seguintes elementos: ser humano (8%), cachorro (1%), macaco (7%), leão
(5%), esquilo (3%) e gato (1%). O grupo B representou antes da trilha: tatu
(1%), cabra (1%), ser humano (2%), veado (1%), vaca (1%), esquilo (1%) e quati
(1%). Após a trilha o grupo A representou: ser humano (6%), cachorro (6%),
cabra (1%) e tatu (1%), enquanto que o grupo B representou somente ser humano
(3%). Atribui-se o decréscimo de elementos da classe mamíferos após o
percurso da trilha nos dois grupos a grande expectativa que os grupos apresentam
de avistar animais em áreas naturais, mas como estes são dificilmente
avistados durante a visita as trilhas, justifica assim o decréscimo destes nos
desenhos. Segundo Becker e Dalponte (1999) nas regiões tropicais e
subtropicais, uma das frustrações que aguardam aqueles que se interessam pela
observação de animais em liberdade é a dificuldade de surpreender mamíferos
em seus ambientes naturais, situação também observada na trilha do Vivat Floresta.
Foram constatadas poucas inserções do elemento ser humano entre as
representações apontadas nos desenhos. Isto possivelmente demonstra que o
grupo amostrado não vê o homem como parte integrante da natureza do local.
Esta constatação vai ao encontro com dados obtidos em trabalho similar
realizado com alunos de escolas públicas de Porto Alegre – RS, publicado por
BOER (1994). A pesquisadora afirma que a maioria dos alunos amostrados em sua
pesquisa exclui o homem como parte integrante do meio ambiente.
Observou-se também que há um conhecimento prévio sobre os mamíferos
que habitam a floresta local por parte dos grupos visitantes, uma vez que foram
desenhados animais como o quati, esquilo e tatu, fauna típica de Floresta Ombrófila
Mista, no qual está inserida a trilha, evidenciando-se também que o público
amostrado está familiarizado com a paisagem local. Esta informação está de
acordo com o que Higuchi (2003, p. 208) enfatiza: “a criança não chega vazia
de conceitos em um programa educativo, ela traz consigo saberes elaborados ao
longo de sua vida”.
O elemento físico corpos d’água e o elemento biológico vegetação,
foram representados de maneira bastante expressiva antes e após o percurso da
trilha nos dois grupos amostrados. Isto pode ser justificado por Benayas (1994
apud Maroti, 1997, p. 86) que afirma que os estudos de percepção ambiental
apontam para algumas preferências paisagísticas como massa de vegetação
verdes e bem desenvolvidas, especialmente arbóreas e enclaves com água,
especialmente limpa ou não contaminada. Esta preposição afetiva é chamada de
“fitofilia” e “hidrofilia”, podendo ser explicada pelos seus efeitos
relaxantes e tranqüilizantes que estes elementos desenvolvem nas pessoas.
Durante a elaboração deste projeto foi confeccionado um croqui da
trilha interpretativa mostrando os pontos de parada, para uso no treinamento dos
monitores do Projeto Sala Verde PUC/PR. Este foi também transformado em
folhetos que foram distribuídos aos visitantes ao final das visitas
monitoradas. 4. Conclusões e Recomendações
Os
programas de educação ambiental aplicados em grupos devem ser analisados através
de instrumentos em que se possa detectar a ocorrência ou não de uma efetiva
aprendizagem.
O monitoramento na trilha interpretativa realizada pelo Projeto Sala
Verde da PUC/PR mostrou-se importante ferramenta na aprendizagem dos grupos
visitantes, sendo este avaliado através de mapas mentais.
Na análise destes observou-se um acréscimo na especificação dos
elementos apresentados nos desenhos, em especial no elemento simbólico “árvore”,
pois este elemento foi o mais citado pelos monitores durante o percurso da
trilha, visto que em quatro dos seis pontos de parada, o elemento discutido pelo
grupo era “árvore” (Araucária, Imbuia, Pinus e o viveiro). Notou-se ainda
que este landmark foi considerado estatisticamente significante somente
para o grupo monitorado.
Verificou-se
através da análise estatística que os desenhos do grupo monitorado (Grupo B)
apresentaram maior número de representações simbólicas/landmarks
significativas em relação aos dois momentos estipulados para a coleta de dados
(antes e após a visita a trilha), evidenciando-se desta maneira a importância
de um trabalho de monitoramento junto aos visitantes na trilha. Ainda nesta
perspectiva, observou-se que se destacaram como significativos no grupo
monitorado, landmarks como serrapilheira, plantas aquáticas e represa,
isto provavelmente ocorreu devido a estes temas estarem inseridos no discurso
dos monitores durante o percurso da trilha.
Observou-se também que há um decréscimo dos elementos que representam
animais, principalmente mamíferos. Isto ocorre provavelmente devido a frustração
em não avista-los durante o percurso da trilha interpretativa. Como sugestões
ao aprimoramento do Projeto Sala Verde da PUCPR, poder-se-ia incluir em seu
roteiro de atividades os CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres), que é
relativamente próximo a trilha interpretativa, ampliando assim, o universo de
aprendizagem. Também o treinamento específico com professores dos grupos
envolvidos poderia ser realizado em dois momentos. Num primeiro momento antes da
visitação dos alunos as trilhas, com a finalidade de definir os objetivos da
visita ao Vivat Floresta e num segundo momento, sugerindo atividades de
Educação Ambiental correlacionadas com a visita, e que poderão ser aplicadas
posteriormente em sala de aula. Entre elas, exercícios de percepção, com a
finalidade de apresentar ao aluno que o ser humano também faz parte da natureza
e mais que isto, que ele é agente de
transformação intensa da natureza, tendo em vista que os resultados
obtidos neste e em outros trabalhos similares apontam que os grupos amostrados não
possuem esta percepção de forma clara. 5.
Agradecimentos Agradecemos
a toda equipe do Projeto Vivat Floresta Sistemas Ecológicos da PUC/PR, a Divisão de Educação
Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, assim como a direção, professores e
alunos da Escola Estadual Professor Francisco Manoel de Lima Camargo que
tornaram possível a realização deste trabalho. 6.
Referências BECKER, M.; DALPONTE, J.C. Rastros de mamíferos
silvestres brasileiros. 2.ed. Brasília: UNB e IBAMA, 1999. BOER, N. “O Meio Ambiente na percepção de alunos
que recebem Educação Ambiental na escola”. Ciência e Ambiente, Santa
Maria, n.8, v.1, jan/jun.1994, p.92-101.
DIAS, G. F. Educação
Ambiental: princípios e práticas. 4.ed. São Paulo: Gaia, 1994. GUIMARÃES, M. A
dimensão ambiental na educação. 3.ed. São Paulo: Papirus, 2000. HIGUCHI, M.I.G. “Crianças e o meio ambiente: dimensões
de um mesmo mundo”. In: NOAL,
F.O; BARCELOS, V.H.L. Educação Ambiental e cidadania – Cenários
Brasileiros. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003. MAROTI, P. S. Percepção e Educação Ambiental
voltadas à uma unidade natural de conservação (Estação Ecológica de Jataí,
Luiz Antônio, SP). São Carlos: Universidade Federal de São Carlos –
UFSCar (Dissertação), 1997. MAROTI, P.S.;SANTOS, J.E.;PIRES, J.S.R. “Caracterização
perceptiva de uma área natural de conservação por docentes do ensino
fundamental”. Revista Univille,
Joinville n. 3(2), set. 1998, p .55-66. VIVAT. Floresta Sistemas Ecológicos: Protector Nature.
Curitiba: Editora Universitária Champagnat, 2003. |