Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) O ENSINO DA DIVERSIDADE ANIMAL NO ENSINO FUNDAMENTAL
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O ESTUDO DO MUNDO ANIMAL

O ENSINO DA DIVERSIDADE ANIMAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Édison Cardoso Teixeira1,2

 

1.      VIDA SILVESTRE – Grupo de Pesquisas em Ecologia e Conservação da Vida Silvestre. Rua Arthur Bernardes, 43, Bom Sucesso, Gravataí, RS. E-mail: grupovidasilvestre@gmail.com

2.      Professor do Município de São Leopoldo.

 

O mundo animal é hoje descrito em mais de um milhão de espécies, porém estimativas apontam para um montante três, ou até, cinco vezes maior que o número descrito. Adaptados a uma diversificada gama de estilos de vida e habitats - além de apresentarem uma variedade muito grande de modificações estruturais e funcionais - estão presentes por toda superfície terrestre (Villee et al 1988; Pough et al 1999).

Dados, que sofrem atualmente mudanças devido a criação de novos critérios usados no reconhecimento de grupos naturais de organismos, incluindo aí a cladística, apontam para a existência de 35 Filos dentro do Reino Animal (Amabis e Martho, 1997; Machado, 2003). Inserido nestes, calcula-se que do total de espécies descritas, 95% são de invertebrados. Um exemplo clássico de toda esta grandeza é encontrado no grupo dos insetos. Os insetos formam um grupo muito diverso, tanto taxonômica como ecologicamente. Esses organismos formam o maior grupo do Reino Animal, sendo mais numerosos que todos os outros, pois estão descritas pelo menos 800.000 espécies (três vezes mais espécies do que todos os outros grupos de animais juntos). Estão distribuídos por todo o mundo, das regiões polares aos trópicos e englobam espécies que vivem em terra firme, águas doces, salgadas e termais. Além disso, os insetos são responsáveis por inúmeras interações ecológicas, fundamentais para a conservação e a preservação dos ecossistemas.

O estudo do Reino animal (Metazoa), dependendo da maneira como é realizado, apresenta-se como uma tarefa entediante se for direcionada a simples memorização de listas de características de um grupo após o outro (Villee et al 1988).

No âmbito escolar, costuma-se padronizar o estudo do Reino Animal, concentrando-se nos Filos tidos como mais expressivos em tratando-se do número de espécies e da adaptação a diversos ambientes. Neste contexto o mundo escolar aborda nove Filos, dos quais apenas um representa espécies de animais vertebrados. Este último grupo, por sua vez, é o grupo mais lembrado quando o assunto é o Reino Animal. Isto se deve, em parte, a má abordagem do tema na sala de aula em séries anteriores e mesmo a vivência direta do aluno fora de sala, onde observa nos vertebrados os “verdadeiros” animais que aparecem a sua volta.

O estudo do fascinante mundo animal torna-se mais prazeroso e instigante se abordado com ênfase nas relações entre o organismo como um todo (morfologia, fisiologia, etologia) para com o meio físico e para com a comunidade biológica em que se insere, bem como levando em conta a adaptação (aí novamente abordando a morfologia, fisiologia e etologia) refletindo a sua origem evolutiva (tendo em vista que toda diversidade animal é o resultado direto da evolução), comparando este com os demais grupos (Villee et al 1988; Pough et al 1999).

Dados de Biogeografia e Zoogeografia são essenciais para instigar o aluno a buscar entender a diversificação animal em diferentes pontos do globo. A ênfase na diversidade local, associado aos biomas e a formação da paisagem onde se insere o alunado em questão, também é uma ferramenta que deve ser bem explorada. Desta maneira fica mais fácil e “real” o estudo do grupo animal, tendo como vista a vivência dos alunos com os organismos estudados na escola.

Tendo em vista uma abordagem que absorva estas premissas, foram lecionadas aulas de ecologia para diferentes turmas de duas escolas estaduais do Estado do Rio Grande do Sul, no município de Novo Hamburgo: uma sexta série do ensino fundamental e um terceiro ano do ensino médio.

Para o desenvolvimento das atividades planejou-se e seguiu-se um cronograma de etapas pré elaborados:

·         Em um primeiro momento foram lançadas as seguintes questões aos alunos:

1- Procurar conceituar e com isso discutir o significado das palavras grifadas que aparecem no texto;

2- Fazer uma lista dos 20 organismos que “venham a cabeça” quando se fala em Reino Animal, descrevendo para cada um o ambiente em que pensem que estes vivam, e com que outros organismos se relacionam;

3- Buscar classificar estes organismos listados em vertebrados e invertebrados. Discutir o resultado.

·         Em um segundo momento, após análise das respostas e debates coletivos, foram lançados textos e endereços eletrônicos para que os alunos pesquisassem a distribuição da diversidade animal em nosso estado, bem como entendessem a classificação destes organismos.

·         No terceiro momento (o mais aguardado pelas turmas!) foi efetuado uma saída a campo onde a turma de ensino fundamental foi levada a uma praça de fronte a escola (desta forma trabalhou-se uma área inserida no dia a dia do aluno pela área ser parte da paisagem social onde se encontra a escola) e o ensino médio a uma Unidade de Conservação (Parque Nacional dos Aparados da Serra – visando discutir aspectos biogeográficos do estado).

Em campo os alunos desenharam, fotografaram e anotaram dados diversos sobre as diferentes espécies animais avistadas: local de avistamento, características físicas, comportamento, entre outros (Anexo 1). Todos dados foram então analisados e estudados em sala de aula.

·         Por fim, em um momento póstumo os dados coletados foram filtrados e apresentados em seminários ofertados pelos alunos, mediante orientação do professor.

O resultado do trabalho foi surpreendente. Muitos alunos solicitaram que outras disciplinas se envolvessem em trabalhos semelhantes, ou mesmo como implementação deste modelo. Com isso percebesse que alternativas simples acabam conquistando a atenção do aluno mesclando isso a um melhor desenvolvimento do processo de ensino aprendisagem.

 

Referências Bibliográficas

Amabis, J.M. & Martho, G.R. Fundamentos da Biologia Moderna. Segunda Edição Rev. São Paulo, Editora Moderna, 1997. 662pg.

Machado, S. Biologia Para o Ensino Médio: Volume Único. Primeira Edição. São Paulo, Editora Scipione, Coleção De Olho no Mundo do Trabalho 2003. 536pg.

Pough, F.H.; Heiser, J.B. & Mcfarland, W.N. A Vida dos Vertebrados. Segunda Edição. São Paulo, Editora Atheneu, 1999. 799pg.

Villee, C.A.; Walker Jr., W.F. & Barnes, R.D. Zoologia Geral. Sexta Edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988. 683pg.

 

ANEXO I

Modelo utilizado no projeto como planilha de campo

 

N° do Grupo

Componentes

Área

Data

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Animal

Filo

Hora

Atividade

Local

Anotações

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

·         N° do Grupo = número determinado pelo professor para cada grupo de seis alunos;

·         Componentes = nome dos integrantes de cada grupo;

·         Área = local da saída de campo;

·         Data = dia, mês e ano da saída;

·         Animal = descrição ou nome do animal avistado;

·         Filo = classificação básica do animal (em sala de aula esta classificação será avaliada e determinada);

·         Hora = hora do avistamento do animal;

·         Atividade = comportamento do animal avistado;

·         Local = descrição detalhada do local de avistamento (ex: sobrevoando uma figueira; embaixo de folhiços em um solo úmido próximo a um declive de mais ou menos 40°);

·         Anotações = campo livre para o aluno anotar questões diversas sobre o avistamento e local de avistamento.

 

Ilustrações: Silvana Santos