CONSTRUINDO ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGENS COM JOGOS PEDAGÓGICOS

 

Doutor em Educação/UFPB

Fernando Antonio Abath Luna Cardoso Cananéa

Professor de Planejamento Estratégico, Metodologia, Gestão e SupervisãoEducacional

fernando_abath@hotmail.com

Mestra em Linguística e Ensino/UFPB

Ailza de Freitas Oliveira

Professora de Artes Cênicas/PMJP

ailzafreitas@hotmail.com

 

 

RESUMO

A utilização de jogos pedagógicos no processo de ensino-aprendizagem fortalece o desejo pelo saber, ao tempo em queauxilia a transformarestudantes em criativos protagonistas. Quando inseridos no processo de construção e elaboração dos jogos, os estudantes produzem o envolvimento e o interesse necessários para que a apreensão do conhecimento ocorra de forma lúdica, autônoma, consistente, e, sobretudo, interessante para os mesmos.

 

 

São muitas as formas de construção da aprendizagem na educação. De maneira alternativa, improvisada, superficial e/ou fundamentada em ricos detalhes, novos recursos pedagógicos são disponibilizados, no intuito de facilitar o processo de ensino-aprendizagem.

Recursos que fazem uso das tecnologias são demasiadamente utilizados na construção do saber atual. Metodologias diferentes são teorizadas e praticadas tecnologicamente dentro e fora da escola. Sobre o crescimento tecnológico, Brito (2011, p.09) nos aponta que:

Em virtude do crescimento tecnológico, principalmente nas grandes cidades e em famílias de maior poder aquisitivo, vem se observando crescentemente que o contato das crianças com brinquedos, jogos e brincadeiras tradicionais estão perdendo espaço para equipamentos de alta tecnologia, entre esses se pode destacar: vídeo game, computadores, televisores, brinquedos de controle remoto, entre outros.

As tecnologias inovam cotidianamente a forma de aprender, no entanto, recursos oriundos de antigas gerações, como os jogos pedagógicos continuam com espaço garantido nas salas de aula. Quando pensamos em construção coletiva de aprendizagem, jogos de tabuleiro são opções pertinentes.

Neste artigo, refletiremos sobre o processo da criação/elaboração de jogos de tabuleiro com estudantes no ambiente educacional formal, motivados por temática específica e utilizando materiais recicláveis como base das construções.

Pensando nessa construção coletiva, onde os jogos pedagógicos se fazem presentes, concordamos com Cananéa (2013, p.74) quando aponta sobre as formas de percebermos nos espaços escolares, a necessidade de “[...]se mostrar como um espaço político e ideológico, o qual preserve, construa e incentive a pluralidade do conhecimento em todos os níveis e para todas as pessoas, mas que seja, também, terno e sensível[...].”.E como latente se torna a aprendizagem diante de jogos pedagógicos.

 

Brincar Aprendendo ou Aprender Brincando?

A brincadeira, como forma de aprender, está presente no cotidiano do ser humano desde suas primeiras interações com os outros. É comum presenciarmos pais e cuidadores jogando com bebês. Como exemplo, podemos registrar a brincadeira de esconder o rosto com fralda para que a criança puxe e seja permitido “achar” o adulto, provocando sorrisos.

Para Matias (2016, p.52-53) “O brincar é a principal atividade da criança. Desde os primórdios da humanidade há brincadeiras de crianças. É através do brincar que a criança presencia experiências de aprendizagem”. Aprender brincando é prazeroso e lúdico.

Na medida em que a criança cresce, mais jogos são inseridos no seu cotidiano. Brincar jogando passa a fazer parte do crescer aprendendo.

Para brincar é preciso que as crianças tenham certa independência para escolher seus companheiros e os papeis que irão assumir no interior de um determinado tema e enredo, cujos desenvolvimentos dependem unicamente da vontade de quem brinca (BRITO, 2011, p. 12-13).

Geralmente, o jogo está associado a algo positivo, prazeroso, e por isso, de boa aceitação quando proposto. Independente do objetivo do jogo, dos interacionais, de competição, apresentação, entre outros, a aceitabilidade desse recurso pedagógico é fato corriqueiro.

Percebemos que “O ambiente pedagógico tem de ser lugar de fascinação e inventividade sem inibir o aprendente e que vise um processo de aprendizagem que aconteça como mistura de todos os sentidos” (CANANÉA, 2013, p. 81). Utilizando os jogos, nos aproximamos mais desse ambiente descrito pelo autor.

Corroboramos com Matias (2016, p. 63),quando nos afirma que “Defendemos o brincar como direito da criança”. Entre outros direitos, brincar para evoluir e aprender é uma forma salutar de crescer.

 

Confecção de Jogos Pedagógicos: processo de autonomia no aprender

A mobilização das turmas em prol da construção coletiva de jogos sob uma determinada temática promove, de forma imediata, uma autonomia no aprender. Relataremos o processo da confecção de quatro tipos de jogos pedagógicos de tabuleiro: trilha, quebra cabeça, memória e dama.

Tal processo foi realizado numa escola públicamunicipal, com estudantes do ensino fundamental II – do 7º e 9º ano – num período de três meses, com a temática de combate ao mosquito aedes aegypti.

            Utilizamos como material base, objetos recicláveis, assim, o envolvimento das turmas iniciou na coleta de papelão, cartão, papel usado, tampinhas plásticas, imagens de revistas e cartazes, entre outrosmateriais. Feito o processo de coleta e seleção do material, partimos para a pesquisa na internet sobre o tema, letreiros e ideias desconhecidas em fomento à criação dos jogos.

            Todo o processo teve como início a fundamentação teórica, oportunizada de maneira interdisciplinar, conforme descrito em artigo precedente, seguido por seleção de formas distintas entre as disciplinas para realização das atividades. Em Arte, optamos por construirmos os jogos.

            Nessa construção coletiva, observamos que “A questão da qualidade cognitiva e social da educação deve ser encarada primordialmente, desde a sua base pedagógica, a partir das experiências do prazer de estar conhecendo/aprendendo”(CANANÉA, 2013, p.82). Ao planejarmos, construirmos e brincarmos com os jogos, percebemos que o prazer esteve tão presente, que a aprendizagem ocorreu de forma naturalizada.

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Jogos da Memória confeccionados por estudantes do 7º ano

Fotos: Ailza Freitas

 

 

O jogo acima visualizado aproveitou como material base para sua construção cartolina guache usada, cola branca, tesoura, régua, lápis grafite e imagens de panfletos publicitários sobre o tema.

O exercício prático de promover a colagem de imagens iguais, acompanhadas de pequenos textos explicativos sobre as imagens no combate ao aedes aegypti, e a dinâmica de utilizar as cartas brincando com os jogos, auxiliou, de forma incisiva, na conscientização dos estudantes/jogadores sobre o objetivo desejado: combater o vetor.

Vale o registro de que a confecção e utilização dos jogos, foi a metodologia selecionada e utilizada para atingir como objetivo o combate ao aedes aegypti, conteúdo interdisciplinar que estávamos trabalhando. No entanto, estamos cientes de que esse processo de confeccionar e elaborar jogos, por si, já são conteúdos didáticos.

Independente da temática abordada, jogar e brincar são metodologias de ensino que visam à aprendizagem.

            Em seguida, visualizamos os jogos de damas, confeccionados com papel cartão reciclado, oriundo de caixas e encartes de embalagens; utilizamos também caneta hidrocor, lápis para colorir, régua, borracha, tampinhas plásticas de refrigerantes e pequenas ilustrações de panfletos publicitários que foram coladas às tampas.

Sendo as tampas, peças que se movem, ganham e perdem no jogo, sua visualização e mobilização com ilustrações pertinentes ao tema, reforçaram nosso objetivo traçado, ao tempo em que auxiliaram na brincadeira e manipulação as mesmas.

Acreditamos que “Na brincadeira a existência das regras não limita a ação lúdica, a criança pode modificá-la, ausentar-se quando desejar, incluir novos membros, modificar as próprias regras” (BRITO, 2011, p.13). E acima de tudo, na brincadeira há aprendizagem significativa, há envolvimento lúdico, há espontaneidade no aprender.

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Jogos de Damas confeccionados por estudantes do 7º ano

Fotos: Ailza Freitas

 

            O terceiro jogo elaborado foi o quebra cabeça. Desenvolvido com ilustrações dos próprios estudantes, as imagens cuidadosamente pintadas foram coladas em cartolinas guaches reutilizadas, e as formas de cada peça foram desenhadas e cortadas no verso por cada equipe.

            Realizamos uma seleção e desenhos entre as equipes,antes de compormos cada jogo de quebra cabeças. Todos os integrantes construíram ilustrações, e entre equipes, selecionaram uma imagem por grupo, para ser a ilustração utilizada para representar o grupo. Esse processo de decisão em equipe fortalece o respeito mútuo e a autonomia.

Confeccionamos um total de oito jogos de quebra cabeça e em todas as imagens, foram evidenciadas formas de combate ao mosquito,objetivo inicial do projeto.

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Jogos de quebra cabeça confeccionados por estudantes do 7º ano

Fotos: Ailza Freitas

           

O último jogo que integra o quarteto de confecções é o jogo da trilha. Foram realizados por estudantes do 9º ano, com capricho e rigorosa pesquisa, ecada grupo desenvolveu um tabuleiro diferente.

Cuidados na seleção da fonte das letras, das perguntas escritas, das formas geométricas que conduziram as trilhas e das imagens utilizadas tornaram os jogos exclusivos e com excelente acabamento.

Utilizamos como material papel A3, lápis para colorir e grafite, caneta esferográfica e hidrocor, borracha, cola branca, régua, tampinhas plásticas de refrigerante, imagens de panfletos publicitários, ilustrações dos próprios estudantes e dados.

Confeccionamos um total de sete jogos de trilha. Todos com perguntas diferentes, traçados e formas geométricas distintas e características ímpares de cada equipe. Em comum, os jogos tem a presença abusiva da criatividade e da produção em grupo.

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Jogos de trilha confeccionados por estudantes do 9º ano

Fotos: Ailza Freitas

 

            Conteúdos didáticos aplicados e exercidos por intermédios de jogos pedagógicos no ato de brincar são, geralmente, extremamente bem aceitos por toda turma.

Entretanto, há de se considerar que a inserção do brincar nos conteúdos, componentes da matriz curricular, requer uma análise crítica mais intensa, ancorada no processo de formação de professores que os capacite a interagir com os educandos e, desse modo, estabelecer o exercício do diálogo (LIMA, 2013, p.101).

Conforme nos coloca a autora supracitada, no título do capítulo acima referenciado: “Brincar não é brincadeira: olha que coisa séria", claro, quando nos referimos ao brincar pedagógico dentro do contexto escolar, com objetivos de aprendizagens didáticas e metodologia específica voltada ao lúdico.

 

Refletindo sobre nosso Aprender e Ensinar

            É sabido, por nos educadores integrantes da educação formal, e para além dela, que todo processo aplicado/desenvolvido na escola necessita passar pela importante etapa de avaliação.

Refletirmos sobre o nosso aprender e ensinar, nos conduz à realização de práticas assertivas, adaptadas ao real contexto e aprimoradas após análise consciente e responsável da aplicabilidade.

Todas as atividades desenvolvidas com alunos devem ser avaliadas levando-se em consideração principalmente, os dados qualitativos quanto à participação efetiva, a complexidade do tema da dinâmica, dos processos, além das próprias atividades didáticas elaboradas durante e posteriormente às atividades lúdicas. (CÓRDULA, 2012, p. 57).

Ao longo dos anos atuando na educação formal, vamos concordando que “Os constantes entraves ao longo do processo educativo têm se agravado cada vez mais e essa situação tem produzido sentimentos negativos, em relação à educação brasileira, no que se refere a metodologias, didáticas e diferentes experiências criativas” (CANANÉA, 2013, p. 73). Utilizar as mesmas metodologias tem sido constante, independente de suas funcionalidades, bem como, utilizar a metodologia modal.

A moda, induzida pela indústria cultural e cultura de massa também adentra nas metodologias de ensino-aprendizagem escolar. Muitas são as novas e febris nomenclaturas que repetidas exaustivamente tornam-se parte do processo educacional, ao menos na teoria.

Educar através de jogos pedagógicos já esteve no auge da moda educacional. Hoje, não é uma metodologia nova, rebuscada nem original; no entanto, é um modo funcional e efetivo de aprender com propriedade e, ofertar qualidade nas formas de aprendizagens.

Dessa forma, brincar e jogarsão metodologias didáticas e pedagógicas que não permitiremos sair de moda. Ao menos, em nossas práticas.

Sobre o ato de brincar, ação intrínseca aos jogos pedagógicos, enquanto metodologia de ensino, Lima nos assegura:

O ato de educar é considerado, no presente texto, um fenômeno humano de múltiplos e complexos relacionamentos. Para tanto, se faz necessária à reflexão das variadas formas de conceber o processo educacional, pelas escolas, na tentativa de inserir ou redimensionar (se for o caso) o brincar como um componente pedagógico, nas atividades cotidianas da escola. (LIMA, 2012, p. 101).

Assim sendo, vamos jogando, brincando, estimulando o lúdico e consequentemente, aprendendo e ensinando. Na escola, para e com os que a fazem.

REFERÊNCIAS

BRITO, Débora de Carvalho. A Importância do Lúdico na Educação Infantil. In: CANANÉA, Fernando Abath (Org.). Novos Olhares Artístico-Culturais. João Pessoa: Imprell, 2011.

CANANÉA, Fernando Abath. Os Sujeitos Aprendentes da Educação: aprendemos com quem? In: CANANÉA, Fernando Abath (Org.). O Sujeito (O)Culto da Educação. João Pessoa: Imprell, 2013.

CÓRDULA, Eduardo Beltrão de Lucena. Brincar e Aprender: a ludicidade na formação do educando.In: CANANÉA, Fernando Abath (Org.).Embarca(Ações) sobre arte e educação. João Pessoa: Imprell, 2012.

LIMA, Maria Alves de Sousa.Brincar não é brincadeira: olha que coisa séria.In: CANANÉA, Fernando Abath (Org.).Sentidos de Leitura: sociedade e educação. João Pessoa: Imprell, 2013.

MATIAS, Ana Lídia Freire. Brinquedos e Brincadeiras Populares na Escola. In: CANANÉA, Fernando Abath (Org.). Educação: olhares diversos. João Pessoa: Imprell, 2016.