ASPECTOS DA INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO COMPARATIVO EM ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO NÍVEL MÉDIO DA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

ASPECTOS DA INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO COMPARATIVO EM ESCOLAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO NÍVEL MÉDIO DA REDE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

 

Dra. Giselle Rôças

Patricia Sacramento,

 Flávia Araujo

 

 

RESUMO: O estudo, de caráter qualitativo, objetiva discutir as ações de educação ambiental (EA) desenvolvidas por duas escolas públicas de formação de professores, em nível médio, localizadas no Rio de Janeiro. Para tanto, a pesquisa envolveu a aplicação de questionários e a realização de entrevistas semi-estruturadas. Verificou-se que, apesar das dificuldades existentes no contexto do ensino público, as duas escolas organizam projetos interdisciplinares de EA, cujo principal objetivo é a mudança de atitude dos alunos. A temática ambiental é incorporada ao currículo das unidades, sendo debatida por professores de diferentes disciplinas.

 

Palavras-chave: Educação ambiental, Ensino Médio, Interdisciplinaridade.

 


1.     INTRODUÇÃO

 

As conseqüências de anos de descaso com o meio ambiente resultaram em desmatamentos, poluição de diferentes ecossistemas - com comprometimento para a saúde de diferentes formas de vida, inclusive do próprio homem -, mudanças climáticas entre outros agravos sérios. Esta situação suscita preocupação social com relação às questões ambientais que necessitam ser alvo de ações que atenuem o impacto da destruição causada pelo homem no meio ambiente.

Observa-se que, infelizmente, muito ainda precisa ser feito para que as pessoas se conscientizem sobre a integração do ser humano com o meio em que vive, fazendo-as perceber que não são simples espectadores e que seus atos acarretam conseqüências negativas para todos os seres vivos. Nesta direção, destaca-se o papel ativo que a Educação Ambiental pode desempenhar, favorecendo a construção de novas concepções acerca do meio ambiente. Segundo Ruscheinsky (2002):

(...) na educação ambiental dentro do seu tempo e espaço desenvolve-se a oportunidade de sonhar com uma sociedade diferente. Mas a sociedade de consumo do presente, ao contrário, endossa princípios que levam à degradação dos bens naturais (p.84).

 

Na atualidade, a escola é apontada como um espaço estratégico para disseminação dos princípios da EA, pois pode contribuir tanto para conscientizar os alunos acerca dos graves problemas ambientais, como para promover novas atitudes, em consonância com os valores da formação cidadã. De acordo com a legislação da área e com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a temática deve ser incorporada no currículo escolar de forma interdisciplinar. Como enfatiza uma extensa literatura, o meio ambiente precisa ser abordado em suas múltiplas e complexas relações que envolvem aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.

            A concepção de interdisciplinaridade fundamenta-se numa visão holística do conhecimento. Ao preconizar a comunicação entre as diferentes áreas, o trabalho interdisciplinar favorece as trocas de vivências e de saberes entre os docentes, contribuindo para romper o isolamento que caracteriza o cotidiano de algumas escolas. Como assinala Jacobi (2005):

Como combinação de várias áreas de conhecimento, a interdisciplinaridade pressupõe o desenvolvimento de metodologias interativas, configurando a abrangência de enfoques e contemplando uma nova articulação das conexões entre as ciências naturais, sociais e exatas. Cabe ressaltar que o contexto epistemológico da educação ambiental permite um conhecimento aberto, processual e reflexivo, a partir de uma articulação complexa e multirreferencial (p. 246).

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A abordagem interdisciplinar possibilita também ao aluno uma maior associação entre os conteúdos aprendidos nas diferentes disciplinas, enriquecendo do processo de ensino-aprendizagem. A organização de projetos interdisciplinares enfrenta, contudo, dificuldades de ordem material, pessoal e institucional no ambiente escolar que podem ser transpostas, contudo, “pelo desejo de criar, de inovar, de ir além” (FAZENDA, 2002, p. 18). Esse fato pode ser percebido nas entrevistas realizadas durante a pesquisa. Segundo as professoras participantes, apesar das dificuldades existentes na escola pública, elas não deixaram de buscar formas de implementar um trabalho interdisciplinar não só para abordar a questão ambiental, mas como também o conteúdo de suas disciplinas. Como destaca Fazenda (2002):

 

o que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação da insegurança num exercício do pensar, num construir. (p. 18)

 

Para desenvolver a EA é necessário que a equipe escolar “discuta e reinvente permanentemente o processo educativo” (RUCHEINSKY, 2002, p.85). A pesquisa pode constatar a presença de um grupo de professores na região metropolitana V que buscam uma maior integração entre diferentes áreas do conhecimento, apesar das dificuldades acarretadas pelo exercício profissional em diferentes escolas. Segundo Martin (apud Tristão, 2002, p. 171).

 

A educação ambiental é multirreferencial na sua essência, pois, na pretensão de construir um campo de conhecimento, noções e conceitos podem ser originários de várias áreas do saber. No caso de efetivação das suas práticas educativas, acontece o mesmo, sua abordagem passa a ser de conhecimento “tecido” (bricolado) a partir da convergência, do diálogo, da convivência inter, transdisciplinar.

 

Nesta pesquisa, procurou-se empreender uma análise comparativa entre duas escolas de formação de professores, em nível médio, da Rede Pública Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. O objetivo foi analisar como a Educação ambiental permeia o projeto político pedagógico (PPP) e é incorporada ao currículo das duas unidades.

 

 

2.     METODOLOGIA

 

            O estudo dá continuidade a um trabalho anterior das autoras (Sacramento, Araujo e Rôças, 2008) que focaliza a dimensão interdisciplinar e transversal da educação ambiental em uma escola pública estadual de formação de professores localizada na região metropolitana, no município do Rio de Janeiro. A investigação atual procura empreender uma análise comparativa dessa escola com outra unidade da rede estadual de formação de professores, foco desse estudo, situada na Baixada Fluminense, região composta por municípios que integram o cinturão metropolitano do Rio de Janeiro.

A escola da Coordenadoria Metropolitana V é bastante antiga e é procurada por muitos pais e alunos, inclusive de outras regiões. A unidade fica em um bairro predominantemente residencial, próxima a uma das principais avenidas do município, o que facilita o atendimento aos alunos de outros bairros. Segundo o projeto político pedagógico, a escola apresenta uma infra-estrutura que atende as necessidades básicas do alunado, em comparação com o contexto geral do município. Possui quadra de esportes, sala de vídeo, biblioteca, laboratórios, além de refeitório e um pátio espaçoso. É uma escola grande com capacidade para atender cerca de 3500 alunos, desde o ensino fundamental ao médio, distribuídos nos turnos da manhã, tarde e noite. O Curso de Formação de Professores é ministrado no horário da manhã e tarde e consiste numa grande atrativo para os jovens da região.

            A direção da instituição e alguns professores foram bastante receptivos à pesquisa. No primeiro momento, foram aplicados questionários aos docentes do ensino médio. No segundo momento, foram entrevistados alguns docentes, além da coordenadora pedagógica responsável pelo curso de formação de professores. De acordo com o projeto pedagógico, o objetivo da instituição é formar cidadãos dotados de senso crítico, princípios de justiça, organização, liderança e capacidade de expressar suas idéias. Na atualidade, a unidade executa vários projetos, dentre os quais a educação ambiental. Desde 2007, a escola aderiu a Agenda 21 Escolar, o que evidencia preocupação com a temática. O projeto político pedagógico da escola foi elaborado em 2001-2003 e está sendo atualizado.

            O questionário foi composto por 20 perguntas, algumas delas abertas e outras fechadas. O objetivo era obter informações acerca do trabalho de EA realizado pela escola e docentes. As questões foram desenhadas com o objetivo de avaliar a opinião dos professores sobre EA, a forma como ela é trabalhada, os temas mais discutidos, além de perguntas sobre a formação dos professores, entre outros. Os questionários foram entregues aos docentes em dias de reuniões pedagógicas quando era possível encontrar um maior número de docentes e durante o intervalo das aulas. De um total de 53 questionários distribuídos para professores de diferentes disciplinas do Curso Normal, foram retornados 17. Para aprofundar os dados coletados, foram feitas entrevistas semi-estruturadas com a coordenadora pedagógica e com duas professoras que desenvolvem projetos interdisciplinares em suas disciplinas (geografia e história). As professoras foram selecionadas, pois abordam a educação ambiental como tema em suas disciplinas. Os dados receberam um tratamento quali-quantitativo. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. A análise do conteúdo das entrevistas teve como fundamento as propostas de Bardin (2004). Segundo o autor:

 

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2004, p.37).

 

 

3.     RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            A análise dos questionários permitiu traçar um perfil dos docentes da escola focalizada, situada na Coordenadoria Regional Metropolitana V. Essa escola foi comparada com a escola da Coordenadoria Regional Metropolitana X. Mais da metade, 58,8%, dos professores da instituição da Metropolitana V possuem entre 20 e 30 anos de magistério. Entre os docentes, 35,3% têm de 15 a 20 anos de experiência profissional e apenas 5,9 % apresentam menos de 10 anos de magistério. Dentre os professores que responderam aos questionários, 76,5% possuem especialização, sendo 17,7% mestrado e 58,8 % especialização lato sensu, os demais possuem apenas a graduação. Os docentes de ambas as escolas apresentam bastante tempo de magistério. Na unidade da Metro X a maior porcentagem está entre 40 a 20 anos de experiência e na Metro V entre 30 a 20 anos de magistério, o que mostra uma bagagem profissional grande do professorando dessas escolas (tabela 1). Em relação à formação acadêmica, nas duas instituições há professores com especializações, sendo que na unidade da Metro X há uma maior porcentagem de professores com mestrado e na Metro V com especialização latu sensu (figura 1). Responderam aos questionários professores das seguintes áreas: português, geografia, biologia, disciplinas pedagógicas, matemática, história e artes.

 

Tabela 1: Tempo de experiência no magistério.

 

Experiência

Escola Metro V

Escola Metro X

30 a 40 anos

-

36,5%

20 a 30 anos

58,8%

36,5%

15 a 20 anos

35,3%

-

10 a 20 anos

-

18%

Menos de 10 anos

5,9 %

9%

 

 

 

Figura 1: Formação dos professores das escolas participantes do estudo.

* Fonte: Sacramento, Araújo e Rôças (2008).

 

           

A maior parte dos professores (88,2%) considera alto o grau de importância de a EA ser trabalhada na escola e apenas 11,8% afirmou que sua importância é média. Jornais com 27,5% e televisão com 25,8% foram os meios de comunicação mais citados, usados como fonte de informação sobre as questões ambientais, seguido de revistas (22,6%) e internet (19,4%), artigos, seminários e cursos de atualização foram citados por apenas 1,6% dos docentes como meio de se manterem atualizados sobre a temática ambiental. Dados semelhantes aos encontrados por Sacramento, Araújo e Rôças (2008), nas análises realizadas na escola da Coordenadoria Regional Metro V (figura 2).

Figura 2: Porcentagem dos meios de comunicação utilizados pelos professores para se manterem informados sobre questões ambientais. * Fonte: Sacramento, Araújo e Rôças (2008).

 

 

As seguintes categorias foram detectadas nas respostas sobre como o docente define educação ambiental: conscientização, preservação dos recursos naturais, mudança de atitude em relação ao meio ambiente e em menor proporção a transversalidade do tema e como aprendizado, que proporcionaria maior compreensão sobre o meio ambiente e sua importância. Nas respostas sobre o porquê trabalhar a EA na escola, encontramos as seguintes categorias: conscientização ambiental, formação de multiplicadores, espaço de aprendizado e mudança da visão dicotômica sobre a natureza. Percebe-se a preocupação dos docentes em mostrar aos alunos a integração do homem com a natureza e com o conhecimento dos alunos acerca dos problemas ambientais. Os professores querem que os discentes se sensibilizem com a questão ambiental, disseminando essas informações para outros espaços, de forma a transbordar os limites da instituição que estudam. Esse ponto foi reforçado pelos entrevistados, que evidenciaram uma grande preocupação com a mudança de atitude por parte dos alunos, principalmente em relação ao lixo, tópico indicado como um dos maiores problemas existentes na escola. Os docentes ressaltaram que, por mais que o tema seja discutido, os alunos continuam a jogar lixo no chão ou não usam a lixeira de coleta seletiva que há no pátio da escola. A escola desenvolveu um projeto interdisciplinar ligado à educação ambiental e educação patrimonial que foi bem aceito pelos alunos, ajudando na reflexão sobre cuidados com o seu ambiente de estudo e com o destino do lixo. A professora deixou claro em sua fala, que a EA na escola pode levar a discussões e a disseminar a mudança de atitude frente ao espaço escolar também para o dia-a-dia dos alunos e para as pessoas com as quais convive.

 

“... é importante a gente começar a ter atitudes dentro da própria sala de aula. Atitudes que levarão a gente ter uma conduta diferente, uma mudança de conduta, uma mudança de atitude em relação ao bairro, em relação a casa, a comunidade da gente” (Professora de geografia).

           

            Todos os professores que responderam aos questionários disseram que trabalham as questões ambientais em sala de aula, sendo que 58,8% o fazem somente às vezes. A tabela 3 mostra as principais formas como essas questões foram abordadas. Lima (2007) aborda em seu trabalho que na região Sudeste o meio mais utilizado para a inserção da educação ambiental nas escolas é através da realização de projetos. Aqui projetos interdisciplinares são realizados pela escola, mas outras formas de discussão aparecem, tais como trabalhar com a temática como tema gerador. Na escola Metropolitana X, projetos interdisciplinares aparecem com uma porcentagem maior (33,3%) que na escola da Metropolitana V (5,9%). Como as duas escolas costumam realizar projetos interdisciplinares, provavelmente essa grande diferença encontrada possa ter sido em função do preenchimento do questionário, pois na escola da Metropolitana X a questão que perguntava sobre os meios usados para trabalhar as questões ambientais era aberta e alguns professores escreveram sobre os projetos. Como durante a análise desses questionários as principais categorias encontradas para essa questão foram as presentes na tabela 2, foi feita uma alteração nessa questão - para o questionário aplicado na segunda escola - transformando a mesma para o tipo fechada, utilizando as categorias citadas no primeiro estudo (Sacramento, Araújo e Rôças; 2008). No colégio da Metropolitana V no questionário essa questão estava fechada e poucos professores marcaram a opção outros colocando como exemplo projeto interdisciplinar.

 

           

Tabela 2: Meios utilizados pelos professores para trabalhar as questões ambientais com seus alunos na escola em estudo.

Categorias

Escola Metro V

Escola Metro X*

Exemplos

Tema Gerador

64,7%

44,5%

Quando surge uma ligação com o tema trabalhado; Conversa sobre a importância da preservação; Como aproveitar o lixo da escola e jogá-lo em local apropriado.

Metodologia didática

29,4%

22,2%

Confecção de cartazes; Trabalhos e filmes sobre o tema.

Outro

5,9%

33,3%

Projetos Interdisciplinar

* Fonte: Sacramento, Araújo e Rôças (2008).

           

Na escola da região Metropolitana X foram aplicados apenas questionários para os professores, mas não chegamos à etapa de entrevistas, em função da baixa adesão por parte da direção e docentes. Como a escola da região metropolitana V se mostrou mais receptiva à pesquisa, o estudo pode alcançar etapas mais avançadas, permitindo o aprofundamento das questões com a realização de entrevistas.

            Nas duas escolas pesquisadas grande parte dos professores acredita que a EA deva ser ministrada de forma interdisciplinar e de forma contínua. Entretanto, quando apontam a maneira como ela o tema é abordado, observou-se que nem todos trabalham dessa forma (tabelas 3 e 4). Essa diferença foi maior na escola da Metro V, onde a carga horária e a falta de pessoal na escola foram apontadas como empecilhos para desenvolvimento do trabalho pela coordenadora pedagógica.

 

“... tem que ser um projeto constante, porque essa clientela é renovável, a cada ano entram novos alunos, que a gente percebe com os mesmos vícios, com a mesma ausência de família, com os mesmos problemas familiares. Falta assim aquele ponto mais forte da família para estar aprendendo em casa e fortalecendo na escola. Ai o que acontece com a escola, a escola acaba iniciando e fortalecendo (...) a gente trabalha também com falta de pessoal muito grande, a equipe que o estado tem é reduzidíssima para resolver alguns problemas, para se atuar em muitas áreas. Então a carga horária é pequena, sabe do professor, para estar com a turma. Porque, por exemplo, em uma turma você ter dois tempos semanais de língua portuguesa é pouco demais, então o que acontece, ele não dá conta de trabalhar os conteúdos que ele precisa, desenvolver todo conteúdo com  aquele aluno, estar aprimorando conhecimento e de estar pontuando essas questões...” (coordenadora pedagógica).

 

Tabela 3: Informações sobre como os professores entendem que a educação ambiental deva ser ministrada na escola.

Itens

Escola Metro V

Escola Metro X*

Por meio de trabalho interdisciplinar

36,8%

21,5%

Dentro das disciplinas ditas ambientais

5,3%

19,0%

Como disciplina específica

5,3%

19,0%

Dentro das próprias disciplinas (sem integração)

0%

13,5%

De forma transversal a todas as disciplinas

26,3%

13,5%

De forma contínua em todas as séries do ensino médio

26,3%

13,5%

* Fonte: Sacramento, Araújo e Rôças (2008).

 

 

Tabela 4: Forma como os professores trabalham a educação ambiental na escola.

Itens

Escola Metro V

Escola Metro X*

Sempre que possível independente do conteúdo de aula

55,5%

40%

Procura correlacionar com outras áreas

33,3%

35%

De forma continua em todas as séries do ensino médio

7,5%

10%

Não correlaciona com outras áreas

0%

5%

Não discute sobre o tema

0%

5%

Não respondeu

3,7%

5%

* Fonte: Sacramento, Araújo e Rôças (2008).

 

            Na tabela 6 são relacionados os principais temas tratados pelos docentes em suas aulas. O enfoque maior recai sobre poluição, preservação e lixo semelhante ao apontado por Sacramento, Araujo e Rôças (2008) na escola da Metro X. Conforme foi mencionado, a falta de costume de separar o lixo e o hábito dos alunos de jogá-lo no chão são problemas recorrentemente citados pelos professores nas entrevistas.

 

“o que a gente percebe, os alunos eles não têm uma boa relação com o local adequado do lixo. Eles comem deixam na sala, eles comem deixam no pátio...”

(coordenadora pedagógica)

 

            A questão é tão presente, que podemos observar (tabela 6) que praticamente em todas as disciplinas há discussões sobre esse aspecto para que os alunos aprendam a manter a escola limpa e tenham o costume de jogar o lixo no lugar adequado. A escola, inclusive, já desenvolveu um projeto “O instituto é o reflexo de sua imagem” que contribuiu para maior conservação da escola. De acordo com o relato de uma das entrevistadas.

 

“eles fotografaram o entorno da escola, dentro da escola, as salas de aula antes e depois (do intervalo). Então eles perceberam o quanto a gente suja no dia-a-dia e quanto a gente pode diminuir isso ai né. O quanto acarreta a questão do lixo, a não coleta seletiva do lixo, a gente está chegando, a gente está conscientizando os alunos”(professora de geografia).

 

Porém, apesar dos docentes enfatizarem freqüentemente a necessidade da mudança de atitude das pessoas frente aos problemas ambientais, quase não são debatidos os efeitos acarretados pelo homem e a ética ambiental com os alunos. Os impactos antrópicos foram mencionados apenas por docentes de geografia e história. A professora de história aborda na entrevista que o professor não pode se limitar a mostrar o problema ao aluno, mas sim a refletir sobre ele, mostrado diferentes aspectos dessa questão como o social e cultural. Que pode ser visto nas seguintes falas:

 

“... mas tudo para o nosso aluno pelo menos no nosso trabalho em conjunto é que tem que ser feito assim ele tem que mudar na prática. Então se ele usa um português errado, ele tem que mudar na prática, ele jogava um papel no chão ele não é assim: O menino para de jogar papel no chão, não. Seu papel que está ai de baixo da sua cadeira se ele não for para a lata de lixo ele pode parar lá fora e entope o ralo, esse ralo entupido inunda a rua. Porque é igual a você tem mais vinte, trinta, duzentos, mil pessoas que estão fazendo. Então a gente está puxando a consciência crítica do aluno. Porque a gente não acredita em mudança assim sem ele adquirir consciência. Mudança é a partir da consciência que ele tem. Agora a gente não dá consciência a gente desperta, não tem como dar.”

 

“...A pergunta é o que é isso? Aí quando você olha aqui ó.  Quatrocentos e vinte seis mil celulares que saem de circulação diariamente ai a gente discute por que, ai vem à questão social. Ela trabalha com a questão geográfica e eu vou pegar a questão social. Porque que tem que trocar o celular, por que que eu estou prejudicando o meio ambiente, por que está fora de moda? Causa impacto ambiental” - (trecho da fala da professora de história ao falar da aula dela junto com a professora de geografia em que abordam diferentes conhecimentos, culturas e comportamentos a partir de fotografias em power point aqui falando sobre o consumismo)

 

             A ética, apesar de ser abordada em diferentes disciplinas, ainda apresenta um baixo índice de discussão - apenas 7% - dentre os professores entrevistados falam sobre a ética ambiental. Para Tristão (2002, p. 174) “a consideração ética sobre o meio ambiente não é mais um tema a ser acrescentado ao currículo, tornou-se uma necessidade associada com o sentido mais humano do que é ser humana”.

 

Tabela 6: Temas de educação ambiental abordados nas disciplinas dos professores que participaram da pesquisa. PPIP – práticas pedagógicas e iniciação a pesquisa; PEOSE – políticas educacionais e organização do sistema de ensino.

 

 

 

Temas

Disciplinas que abordam cada temática

Biologia

Artes

Psicologia da educação

História

PEOSE

PPIP

Português

Matemática

Geografia

Didática

Porcentagem

Poluição ambiental

X

 

X

 

 

X

X

X

X

 

12,5

Alteração climática

X

 

X

 

 

X

 

 

X

 

5,5

Lixo e coleta seletiva

X

X

X

 

 

X

X

X

X

X

15,3

Preservação e conservação ambiental

X

 

 

 

 

X

X

X

X

 

15,3

Efeito estufa

X

 

 

 

 

X

X

 

X

X

7,0

Ética ambiental

 

X

 

 

X

X

 

X

X

X

7,0

Recursos hídricos

 

 

 

X

 

X

X

 

X

 

9,7

Extinção da fauna e flora

X

 

X

X

 

 

X

X

X

 

9,7

Buraco na camada de ozônio

X

 

 

 

 

X

X

 

X

X

7,0

Recursos energéticos

X

 

 

X

 

X

 

 

X

 

5,5

Impactos antrópicos

 

 

 

X

 

 

 

 

X

 

2,7

Outros

 

 

 

X

 

 

 

 

X

 

2,7

 

            Os professores procuram abordar os problemas ambientais do entorno da escola a partir de debates com apontamento de soluções e palestras, assim como os dados levantados pelas autoras na escola da Metro X. Os problemas mais citados foram violência e poluição sonora nas duas escolas, sendo que a violência aparece em primeiro lugar das citações e a poluição sonora em segundo na instituição da Metro V, e na Metro X a poluição sonora aparece em primeiro lugar seguida da violência, possivelmente em função da localização dessas escolas. A primeira está localizada em um bairro mais residencial e a segunda em um bairro mais comercial sofrendo dessa forma com o barulho do trânsito e do comércio. E as duas escolas sofrem com os problemas da violência das redondezas.

Como chegamos à etapa de entrevistas apenas na escola da região Metropolitana V, foi possível ter um entendimento melhor das ações ambientais desenvolvidas nessa escola, assim como seus objetivos com o foco interdisciplinar dado à educação ambiental.

Os trabalhos e projetos interdisciplinares desenvolvidos pelas professoras de geografia e história iniciaram-se a partir de conversas durante o intervalo que permitiu que percebessem a afinidade entre as disciplinas. E a interdisciplinaridade em relação à EA começou com um projeto da escola e deram continuidade. Essas professoras elaboram uma avaliação interdisciplinar aproveitando o ambiente escolar onde avaliavam habilidades e competências e os alunos recebiam um retorno dos erros que haviam cometido e o índice de recuperação diminuiu de forma muito significativa. Apenas 2 alunos ficaram em recuperação em um total de 6 turmas, sendo que antes esse valor era em torno de 55 alunos em um total de 6 turmas. As professoras perceberam também que os alunos melhoraram de um bimestre para o outro e passaram a observar as relações entre diferentes áreas do conhecimento.

 

“de um bimestre para o outro eles estão melhorando” (professora de geografia).

 

“passaram a observar essas relações de uma forma diferente. Até a relação mesmo dos professores que eles acreditavam estanque, eles começaram a perceber que existe uma compatibilidade, os conteúdos podem ser trabalhados juntos” (professora de história).

 

            Em relação a documentação da escola - o PPP - está em etapa de reformulação e pretende-se que a EA passe a fazer parte do mesmo, pois no momento ela é considerada como uma “parte móvel do PPP” (palavras da coordenadora pedagógica), estando presente em diferentes projetos pedagógicos desenvolvidos na escola. Durante o período que foi coletado os dados as discussões para atualização do PPP ainda estavam recentes, estando no momento de levantamento dos dados para verificar onde estavam as os prós e os contras em cada seguimento, para focar um trabalho de melhoria, e não havia chegado a levantar questões sobre a inclusão da EA durante as reuniões. Estava sendo feito primeiro um diagnóstico para posterior elaboração de ações e a EA surgiria a partir desses diagnósticos, fato abordado pela coordenadora durante entrevista.

           

 

4.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Os dados obtidos nas duas escolas evidenciam preocupações semelhantes. A EA não é considerada apenas nos seus aspectos ecológicos. Nas entrevistas, as professoras destacaram a relação da EA com as questões sociais, econômicas e culturais. A partir da conversa com essas professoras e com a coordenadora pedagógica podemos perceber que o principal objetivo com a inclusão da EA é a conscientização e mudança de atitude por parte dos alunos. Como presente nas seguintes falas

 

“As necessidades, a mudança de atitude porque o que eu converso com os professores não adianta você criar um projeto e criar apenas tarefas. Você tem que objetivar o que você quer então pensa lá na frente o que você quer trabalhar dentro desse projeto, o que você quer focar qual o seu objetivo final, e tendo em mente sempre a mudança de atitude, o conhecimento e a mudança de atitude.”  (Coordenadora pedagógica)

 

“... porque a gente não acredita em mudança assim sem ele adquirir consciência. Mudança é a partir da consciência que ele tem. Agora a gente não dá consciência a gente desperta ...” (professora de história)

 

“A gente pensou essa educação ambiental para ele (alunos), começando da coisa mais próxima que é da realidade dele.” (professora de história)

 

 

5.     AGRADECIMENTOS

 

            Agradecemos a direção e a coordenação de ambas as escolas pela recepção e auxílio a realização de nossa pesquisa e aos docentes participantes, em especial as professoras de geografia e história que colaboraram muito com nosso estudo.

 

 

6.     REFERÊNCIAS

 

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental, Lei no. 9.795, de 27 de abril de 1999.

FAZENDA, I. C. A. (org.). Práticas Interdisciplinares na Escola. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

JACOBI, P. R. “Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo”. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005

LAYARGUES, Philippe. “O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental”. LOUREIRO, F.; LAYARGUES, P.; CASTRO, R. (Orgs.) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002, 179-220. Obtido em: http://www.ufmt.br/gpea/pub/philippe_latinhas.pdf. Acessado em: 10/06/09

LIMA, M.J.G.S. “O que fazem as escolas que fazem educação ambiental no Rio de Janeiro? Uma análise da pesquisa realizada pelo MEC/UFRJ/ANPed à luz da teorização curricular”. GT: Educação Ambiental, n.22, 2007. Obtido em: http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT22-3266--Int.pdf. Acessado em: 05/03/09

RUSCHEINNSHKY, A. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Sacramento, P.; Araújo, F.; Roças, G. “Análise da interdisciplinaridade e transversalidade da educação ambiental em uma escola do Ensino Médio da Rede Pública Estadual do Rio de Janeiro”. Cadernos do Aplicação, Vol. 21, No 1, 2008.

Tristão, M. “As dimensões e os desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento”. In: RUSCHEINNSHKY,          A. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 169-182, 2002.