educação
Ambiental como ferramenta para o manejo de lixo: uma experiência na escola
municipal Recanto Feliz
Poliana
Brandão Machado1; Vanessa Ribeiro dos Reis2; Aline Santos
dos Santos2; Girlene Santos de Souza3*
1Discente
do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia – UFRB
2Discente
do Curso de Licenciatura em Biologia da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia – UFRB
3Professora
Adjunto 3 do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais Biológicas – CCAAB/
UFRB.Rua C, 247, Cruz das Almas, BA – CEP:44380-000 * E-mail:
girlene@ufrb.edu.br
RESUMO
No ano
de 1999, foi sancionada a lei n.º 9.795, a qual estabeleceu a Política Nacional
de Educação Ambiental no Brasil, permitindo dessa forma a prática da Educação
Ambiental nas escolas nacionais. O presente
trabalho, vinculado ao Projeto Utilixo: Uma Experiência de Educação
Ambiental em Escolas Públicas Municipais de
Cruz das Almas – BA, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da
Bahia (FAPESB), tem como objetivo discutir e mostrar as questões relativas à
utilização do lixo, visando implementar práticas de Educação Ambiental na
Escola Pública Municipal Recanto Feliz, com crianças do Ensino Fundamental. No
desenvolvimento do trabalho os alunos foram incentivados a descobrir sua
relação com o local em que vive, estudar e ampliar seu relacionamento com o
meio ambiente, além de identificar a produção e destino do lixo da sua escola e
da cidade de Cruz das Almas, e a partir daí buscar alternativas para solução
deste problema, através de práticas de Educação Ambiental como: coleta
seletiva, compostagem, redução e reciclagem do lixo, entre outros. Foram
desenvolvidos com as turmas oficinas de reciclagens, promovendo por meio de
ensino formal a conscientização sobre a questão do lixo na área urbana das
escolas, e também foram realizados seminários de sensibilização relacionados às
práticas de Educação Ambiental, entre outras atividades. Percebeu-se que com a
prática da Educação Ambiental ocorreu mudanças no comportamento e atitudes, e
sensibilização dos estudantes, em relação às problemáticas ambientais
vivenciadas no âmbito escolar e na sua região.
Palavras-chave: Educação
Ambiental, Lixo, Meio Ambiente.
INTRODUÇÃO
De acordo com os
dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil gera, em média 90 milhões de
toneladas de lixo por ano e cada brasileiro produz, aproximadamente, 500 gramas
de lixo por dia, podendo chegar a mais de 1 kg. Dentre os resíduos sólidos
(lixo) produzidos no país, 76% são jogados nos lixões (amontoamentos de lixo
num terreno, sem nenhum tipo de tratamento) e outros 13% nos chamados aterros
controlados. Apenas 10% do total coletado têm como destino final os aterros
sanitários, onde se diferencia pelo tratamento do chorume. Sendo que algumas
cidades brasileiras atiram o lixo nas ruas, terrenos baldios, rios, lagos,
lagoas e no mar. A destinação adequada dos resíduos sólidos é um dos grandes
problemas enfrentados nas cidades brasileiras, sendo estimulada pelo aumento da
produção cada vez mais de dejetos. De acordo com a Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos, cada brasileiro produziu em média 378
quilos de resíduos em 2010, contra os 359 quilos registrados em
2009.
A gestão dos
resíduos sólidos urbanos é responsabilidade dos municípios, pois esse é
considerado um serviço de interesse público essencial. Um conjunto de normas
gerais definidas na recente Política Nacional de Saneamento Básico (Lei 11.445/2007)
reforça o papel dos municípios nessa responsabilidade de gerir os resíduos
sólidos urbanos, considerando-os parte do Saneamento Básico. Porém, por conta
da escassez de recursos financeiros para investir na coleta, no processamento e
disposição final do lixo, a destinação do lixo geralmente é feita de maneira
aleatória ou baseada apenas no custo de transporte.
O município de
Cruz das Almas, localizado na região do Recôncavo Baiano, a 156 Km da capital
Salvador, com uma área territorial de 150,903 Km² e uma população estimada de
58.293 habitantes, apresenta algumas problemáticas em relação ao lixo. O
principal problema é a coleta do lixo sendo deficiente, pois na sede do
município há vários locais de lixo nas ruas; localização do aterro próximo ao
córrego Velame Brito e também perto de residências, a central de podas também
apresenta irregularidade, por está recebendo lixo doméstico e não há controle
de acesso. Por isso, precisamos de pessoas ambientalmente responsáveis, que
tenham sensibilidade suficiente para garantir o resgate da qualidade de vida da
população.
Este trabalho vem
com a proposta de aplicar um projeto de Educação Ambiental com crianças do
ensino fundamental da escola pública, Recanto Feliz do município de Cruz das
Almas – BA, com o intuito de despertar a responsabilidade sócio-ambiental da
população. A escola é o local ideal para promover a Educação Ambiental, pois é
nela que ocorre a formação de valores.
OBJETIVO DO TRABALHO
Esse trabalho teve
como objetivos:
REFERENCIAL TEÓRICO
Na Idade Média o
lixo acumulava-se pelas ruas e imediações das cidades, provocando sérias
epidemias e causando a morte de milhões de pessoas. A partir da Revolução
Industrial iniciou-se o processo de urbanização, provocando um êxodo do homem
do campo para as cidades. Observou-se assim um vertiginoso crescimento
populacional, favorecido também pelo avanço da medicina e consequentemente
aumento da expectativa de vida. A partir de então, os impactos ambientais
passaram a ter um grau de magnitude alto, devido aos mais diversos tipos de
poluição, dentre eles a poluição gerada pelo lixo.
O fato é que o
lixo passou a ser encarado como um problema, o qual deveria ser combatido e
escondido da população. A solução para o lixo naquele momento não foi encarada
como algo complexo, pois bastava simplesmente afastá-lo, descartando-o em áreas
mais distantes dos centros urbanos, denominados lixões (FADINI et al., 2001). A
produção de lixo no Brasil cresceu 6,8% em 2010, quando comparada aos anos
anteriores.
Segundo Fadini et
al., (2001) dos resíduos que são descartados no país 76% é abandonado a céu
aberto em locais inadequados, gerando assim a vetores os quais serão
proliferadores de doenças. A disposição final dos resíduos orgânicos em lugares
inadequados pode afetar também a saúde dos seres humanos, por causa dos gases
que são emitidos pelo processo de decomposição como: metano, dióxido de
carbono, sulfídrico, amônia e outros ácidos orgânicos voláteis.
Atualmente a luta
pela preservação do meio ambiente e a própria sobrevivência do homem no
planeta, está diretamente relacionada com a questão do lixo urbano. A sociedade
em que vivemos tem como hábito extrair da natureza a matéria-prima e, depois de
utilizada, descartá-la em lixões, caracterizando uma relação depredatória com o
seu habitat. Assim, grande quantidade de produtos recicláveis que poderiam ser
reaproveitados a partir dos resíduos, são inutilizados na sua forma de destino
final. Isso implica em uma grande perda ambiental, devido ao potencial
altamente poluidor do mau gerenciamento dos resíduos gerados, comprometendo a
qualidade do ar, solo e, principalmente as águas superficiais e subterrâneas (AZEVEDO, 1996).
Compreender as
questões ambientais para além de suas dimensões biológicas, químicas e físicas,
enquanto questões sócio-políticas exigem a formação de uma “consciência
ambiental” e a preparação para o “pleno exercício da cidadania”. (PENTEADO,
2007). A escola é, sem sombra de dúvida, o local ideal para se promover este
processo. As disciplinas escolares são os recursos didáticos através dos quais
os conhecimentos científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao
alcance dos alunos. As aulas são o espaço ideal de trabalho com os
conhecimentos e onde se desencadeiam experiências e vivências formadoras de
consciências mais vigorosas porque alimentadas no saber (PENTEADO, 2007).
Nesta perspectiva,
a Educação Ambiental tem uma importância fundamental, pois permite a solução de
vários problemas em nossa vida e novas ideias para a comunidade. Em
concordância com essa ideia Zuben, (1998), afirma que o projeto de coleta
seletiva nas escolas é muito importante, pois incentiva os alunos desde já a
separarem o lixo, levando esse hábito para suas casas. Por isso o autor destaca
que uma das principais alternativas para diminuir o problema do lixo é a
reciclagem. No Brasil apenas 2% dos municípios possuem programas de coleta
seletiva. Uma das vantagens dela é o deslocamento e aumento da vida útil dos
aterros sanitários e o envolvimento da população, significando uma
conscientização ambiental na sociedade.
Dessa forma, a
educação ambiental deve ser praticada desde o Ensino Fundamental. Para Penteado
(2007), a escola é um local adequado para a construção da consciência ambiental
através de um ensino ativo e participativo, superando as dificuldades
encontradas nas escolas atualmente, moldadas pelos modos de ensino
tradicionais.
METODOLOGIA
O trabalho foi
realizado na Escola Municipal Recanto Feliz, localizada nas proximidades da
Mata de Cazuzinha, município de Cruz das Almas, Bahia, no período de fevereiro
a julho de 2011. O público alvo foram os professores e os alunos pertencentes
ao segundo, terceiro e quarto ano matutino do ensino fundamental com idades
entre 9 e 12 anos.
A primeira etapa
do trabalho foi à aplicação de um questionário direcionada à direção e à
coordenação da escola, com o objetivo de conhecer como o tema “Meio Ambiente e
Lixo” são abordados na escola. Diante desses questionários foi traçado o perfil
ambiental da escola em ralação às questões de Educação Ambiental. A segunda
etapa foi à apresentação do projeto para os alunos, utilizando vídeos e
imagens, levando também alguns questionamentos aos estudantes, em relação ao
meio ambiente e o lixo.
Ao logo de cada encontro, nas salas de aula, foram feitas palestras sobre temas
relacionados ao lixo como: destino, classificação, reutilização, redução,
reciclagem, tempo de decomposição, dentre outros. Foram empregados também, o
uso de atividades práticas, oficinas, com materiais recicláveis, onde se
trabalhou com o manejo do lixo. Para consolidarmos o conhecimento sobre a
temática lixo, forma elaborados dois folders, um jornal informativo, os quais
foram distribuídos na comunidade escolar, incluindo os pais, além da criação um
blog do Projeto Utilixo, (http://projetoutilixoufrb.blogspot.com/), buscando
dessa forma contribuir com ampliação da participação das pessoas na preservação
do meio ambiente, através da dissipação de informações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados dos
questionários aplicados aos diretores e coordenadores da escola, mostraram que
existem trabalhos feitos por professores, ligados ao meio ambiente. Porém nem
todos os professores discutem ou aplicam, de forma transversal, a Educação
Ambiental. Foram mostrados também pela direção a grande quantidade
de alunos nas salas de aula, impossibilitando a realização de atividades, por
conta do tempo. De acordo com os questionários constatou-se a ausência de
coleta seletiva na escola, apesar de existir nas salas pequenas lixeiras da
coleta seletiva.
A partir desse
perfil ambiental observado no questionário, deram-se início as palestras bem
como os seminários durante as visitas na escola. Também foram desenvolvidas
atividades práticas em sala de aula e apresentações de vídeos educativos
relacionados ao meio ambiente e ao lixo. Em uma das aulas práticas, foi feito a
separação do lixo oriundo da sala de aula e trazido de casa, onde foram utilizadas pequenas lixeiras seletivas nas cores verde
(para vidro), azul (para papel), amarela (para metal) e vermelha (para
plástico) já existentes na Escola, para os
estudantes com o uso de luvas plásticas, pegarem os lixos e colocarem nas
lixeiras adequadas (Figura 1). Com papelões e tampinhas de garrafa pet pensamos
em construir um jogo da velha, os estudantes também sugeriram o jogo Ponga.
Trabalhamos a disciplina matemática na formação desses jogos (Figura 2 e 3).
Figura 1: Alunos na
dinâmica: Separação do Lixo
Figura 2 e 3: Estudantes do Recanto Feliz, na construção do jogo da
Ponga.
No decorrer do
trabalho, foram feitas palestras relacionadas aos seguintes temas: lixo e suas
classificações, destino do lixo, poluição urbana, doenças e o lixo,
sustentabilidade, os 3R’s, coleta seletiva, tempo de decomposição, dentre
outros. Foram levantados questionamentos aos alunos como: “O que vocês entendem
como utilixo?”, “Quais as consequências do lixo jogado na natureza e para o
homem?”, “O que significa coleta seletiva?”, “Para onde o lixo da sua casa e da
escola é levado?”, “O que vocês entendem por decomposição?”, “Vocês sabem o que
é Reciclagem?”. Na primeira apresentação do trabalho, mostramos imagens de um
pátio escolar cheio de lixo, de cadeiras escolares quebradas e sem utilidade,
de lixeiras da coleta seletiva, apresentamos também um vídeo educativo com
personagens falando sobre as consequências do lixo jogado na natureza e imagens
do planeta com os efeitos da poluição. Em
outra atividade as crianças assistiram a um vídeo educativo animado que falava
sobre o sofrimento do planeta terra e dos animais com o acúmulo de lixo, gases,
desmatamento, poluição das águas e aquecimento global. Na segunda palestra foi
apresentado o conceito de lixo segundo Luiz Mário Queiroz Lima, em seu livro:
LIXO – TRATAMENTO E BIORREMEDIAÇÃO (1995: p. 11), que define o lixo como todo e
qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do homem na sociedade.
Mostrou-se também a classificação do lixo, como: residencial, comercial,
especial, hospitalar e industrial; assim como o tempo de decomposição dos
materiais presentes no cotidiano dos estudantes, como: chiclete, plásticos,
papel e madeira.
Posteriormente foi
apresentado sobre o que é a coleta seletiva (Figura 4), sua importância para o
meio ambiente e o que é feito com o material recolhido e sua transformação em
novos materiais. Em outra palestra que teve como tema, Destino do lixo, foi
questionado para onde era encaminhado o lixo da sua casa e da escola, algumas
alunos tinham o conhecimento do Lixão, mas não sabiam sobre Aterro Sanitário.
Mostraram conhecimento sobre compostagem e um pouco sobre reciclagem. Foi dito
também, sobre o processo de incineração, salientando as vantagens e
desvantagens de todos os destinos do lixo.
Figura 4. Palestra: O que é
Coleta Seletiva, ministrada por Aline Santos e Vanessa Reis.
Percebeu-se que
durante as palestras e até mesmo nas atividades práticas, os estudantes
relatavam sobre situações vivenciadas ligadas ao lixo, como por exemplo, a rua
que moravam tinha um terreno baldio cheio de lixo, familiares que ficaram
doentes por conta de vetores que habitam lugares onde há o acúmulo do lixo e
água parada, apresentaram também situações que presenciaram no momento de
lazer, como por exemplo, praias sujas de copos e pratos plásticos. Com as
palestras e atividades práticas
os estudantes foram
estimulados a colaborar para a melhoria da à qualidade de vida, com a
conscientização sobre questões ambientais ligadas ao lixo na área da escola,
como na cidade de Cruz das Almas.
Dessa forma, a educação
ambiental deve ser incorporada desde o Ensino Fundamental, com projetos na sala
de aula levando conhecimento sobre o assunto aos alunos. Neste aspecto
Britto, (2000) destaca que, a escola é o ambiente mais propício para a
abordagem de temas relativos à ecologia, saúde, higiene, preservação do meio
ambiente e cidadania.
CONCLUSÃO
Com a
realização desse trabalho de extensão espera-se
disseminar a ideia de que os resíduos sólidos não são mais considerados LIXO, e
sim matérias-primas de grande valor, também, desconstruir a ideia que consumir
mais traz felicidade. Além de formar cidadãos responsáveis com o meio em
que vive, com a natureza através da preservação do meio ambiente e da utilização consciente, dos recursos naturais,
para que com isso os mesmos possam viver de uma forma melhor e que seja passada
para as gerações futuras, buscando sensibilizar e despertar a consciência
crítica das inter-relações da sociedade e natureza.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, C. J. C. Concepção e
prática da população em relação ao lixo domiciliar na área central da cidade de
Uruguaiana- RS. Uruguaiana, PUCRS- Campus II, Monografia de
pós-graduação. Educação ambiental. 1996.
FADINI,
P.S.; FADINI, A.A.B. Lixo: desafios e compromissos. Cadernos temáticos
de Química Nova na Escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química. no
1. maio de 2001. p. 9-18.
PENTEADO, H. D. Meio
Ambiente e Formação de Professores. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
ZUBEN, F. V. Meio Ambiente, Cidadania e Educação.
Departamento de Multimeios. Unicamp. Tetra Pak Ltda. 1998.