A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL-RS
Ana Júlia Teixeira Senna
Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Campus São Gabriel. End: Avenida Antonio Trilha, 1847. São Gabriel-RS. Telefone: (055) 32326075. Ramal 2254. CEP: 97.300.000. E-mail: anasenna@unipampa.edu.br
Ricardo Ribeiro Alves
Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Campus São Gabriel. End: Avenida Antonio Trilha, 1847. São Gabriel-RS. Telefone: (055) 32326075. CEP: 97.300.000. E-mail: ricardoalves@unipampa.edu.br
Daniele Oliveira Freitas
Aluna do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Educação: Interdisciplinaridade e Transversalidade, Universidade Federal do Pampa — UNIPAMPA, Campus São Gabriel. End: Avenida Antonio Trilha, 1847. São Gabriel-RS. Telefone: (055) 32326075. CEP: 97.300.000. E-mail: dani_sg19@yahoo.com.br
A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL-RS
Resumo
Em função do agravamento dos problemas relacionados ao meio ambiente, a educação ambiental pode ser considerada um instrumento essencial para a construção e consolidação de um paradigma sustentável. A educação é um agente de formação, informação e construção de conhecimentos. Desta forma, o presente trabalho objetivou analisar as ações dos professores das escolas estaduais de ensino fundamental, localizadas no Município de São Gabriel-RS, que estão contribuindo para a preservação do meio ambiente. Para tanto, foram aplicados questionários in loco em duas Escolas. Por meio dos resultados foi observado que os professores são menos sensíveis às questões ambientais na Escola A em relação à Escola B. Verificou-se, também, que na Escola B há uma maior consciência ambiental dos professores e alunos, pois existem práticas de gestão ambiental implementadas como coleta seletiva, materiais informativos de educação ambiental e projetos interdisciplinares desenvolvidos pelos professores. Pode-se concluir que a educação ambiental na escola deve ser um processo dinâmico de aprendizagem, que deve articular as diversas formas de conhecimento que contribuam para a formação de sujeitos críticos com consciência ambiental local e visão global do planeta.
Palavras-chave: Transversalidade; Interdisciplinaridade; Meio Ambiente.
1. Introdução
A educação ambiental surgiu como uma tentativa de minimizar e tentar reverter o quadro de degradação ambiental que se instalou no mundo no último século. Portanto, a educação ambiental possui um enfoque emergencial e transformador, já que prega a busca por uma forma de relação do ser humano com o meio em que está inserido. Esta nova forma de praticar a educação, estreitamente relacionada aos propósitos e diretrizes da educação pregada por Freire (1983), ainda causa muitos conflitos de compreensão aos educadores ambientais. Muitos ainda a confundem com a transmissão de conhecimentos ecológicos, trazendo para a educação ambiental um enfoque disciplinar restrito. A educação ambiental, entendida como educação política, tem papel relevante na mudança da realidade, pois deve preparar o indivíduo para participar ativamente da solução de problemas de sua comunidade.
Inserida no processo educativo, consiste em uma proposta de construção de um novo pensar e agir, através do desenvolvimento de uma consciência ambiental, ou seja, de uma sensibilização, que estimule uma mudança de mentalidade e de atitudes na relação homem-natureza. Desta forma, sendo a educação um potencial motor das dinâmicas do sistema social, a participação dos educadores é fundamental na proposta de enfrentamento da crise ambiental (Guimarães, 2007).
Diante da relevância da questão ambiental para a sociedade, a proposta deste trabalho é analisar as ações dos professores das escolas estaduais de ensino fundamental da cidade de São Gabriel (RS) que estão contribuindo para a preservação do meio ambiente. Para atender aos objetivos, primeiramente, foi elaborado o referencial teórico sobre a educação ambiental nas escolas e seu papel como instrumento de transformação e conscientização no contexto escolar. Na sequência, são descritos os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa e, por fim, são analisados os resultados e apresentadas às considerações finais e referências bibliográficas.
2. Referencial Teórico
A seguir, serão descritos o referencial teórico sobre a presença da educação ambiental nas escolas e seu papel como instrumento de transformação e conscientização da sociedade e da comunidade escolar.
2.1. A Presença da Educação Ambiental nas Escolas
A educação ambiental (EA) pode ser um instrumento eficaz para se criar e aplicar formas sustentáveis de interação entre a sociedade e a natureza. Segundo Vasconcellos (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser humano com seus semelhantes é condição imprescindível para que a educação ambiental ocorra. Dentro desse contexto, conforme Dias (1992) sobressaem-se as escolas como espaços privilegiados na realização de atividades que propiciem essa reflexão, pois isso necessita de atividades de sala de aula e de campo, com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, a atitudes positivas e ao comprometimento pessoal com a proteção ambiental implementados de modo interdisciplinar.
O desenvolvimento sustentável deve estar aliado à educação ambiental. A família e a escola devem ser os introdutores da educação para preservar o meio ambiente. A criança, desde cedo, deve aprender a cuidar da natureza. Na família e na escola é que se deve iniciar a conscientização e o cuidado com o meio ambiente natural.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997), é necessário trabalhar o tema Meio Ambiente no âmbito escolar para formar cidadãos conscientes, aptos para decidir e atuar no âmbito socioambiental, de forma engajada e comprometida com a vida e com o bem estar da sociedade. Mas, para que isso possa acontecer, a educação sobre o assunto deve ser trabalhada de forma a ir além de conceitos e formações e deve buscar um trabalho voltado para a formação de atitudes e valores. Para isso é necessário que a escola se proponha a trabalhar atitudes e formação de valores, por meio de ensino e aprendizagem de habilidades e procedimentos. Comportamentos corretos são demonstrados nas ações do dia-a-dia, através de gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos ambientes e participação em pequenas negociações.
A transversalidade propõe um tratamento inter-relacionado das diversas áreas de conhecimento, bem como uma conexão com as relações no âmbito da escola. Para Reigota (1998) estas novas atitudes devem ser desenvolvidas e exercitadas no ambiente escolar, em situações reais, onde diversas variáveis e conflitos apareçam e sejam trabalhadas em uma atividade democrática e dinâmica, atuando sistematicamente e progressivamente, de modo que o processo de educação atue sobre o ambiente, no ambiente e para o ambiente, correspondendo a uma atuação que abranja desde a informação e a vivência do problema, à mudança de comportamento. Desde o ano de 1997, com uma revisão dos currículos pelo MEC, os professores e especialistas em educação brasileiros obtiveram um instrumento oficial de orientação à implantação da EA nas escolas: os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997). Para os PCNs, a questão ambiental impõe a busca de novas maneiras de pensar e agir, individualmente e coletivamente, da sociedade frente aos modelos de produção de bens e suprimentos que garantem a sustentabilidade da vida no planeta (BRASIL, 1997).
2.2. A Educação Ambiental como Instrumento de Transformação e Conscientização no Contexto Escolar
A educação ambiental na escola deve promover a conscientização e o conhecimento, no sentido apontado por Reigota (1998), uma vez que, por meio de ambos os conceitos, é possível adquirir uma compreensão do meio ambiente em sua totalidade, da problemática envolvida e da responsabilidade de cada um diante dessas questões.
Deve-se estimular a conscientização como um instrumento fundamental no processo ensino-aprendizagem, uma vez que é necessário realizar a leitura do meio para compreender o que se passa nele, e assim modificar o modo de agir diante das situações que aparecem no dia-a-dia. Para que a educação ambiental desperte no aluno o desejo de trabalhar no sentido de exercer um papel ativo e indispensável na manutenção e/ou preservação do meio ambiente, é fundamental que ele seja instigado, por meio de questionamentos, que desafiem seu senso crítico e o façam perceber que tudo que o rodeia é o meio ambiente e que ele faz parte do mesmo.
Guimarães (1995) sugere que a escola deverá extrapolar seus limites, permitindo a participação de todos e o envolvimento da comunidade. É preciso ressaltar a visão crítica e criativa da escola, com a participação interdisciplinar e multiprofissional, além de providenciar para que os programas não sejam desenvolvidos de forma abstrata, buscando atender a comunidade com as alternativas de solução viáveis de serem operacionalizadas. Assim, o processo de construção das ações educativas para educação ambiental deve ser um processo coletivo, dinâmico, complexo e contínuo de conscientização e participação social, que articule também a dimensão teórica e prática, além de ser necessariamente interdisciplinar.
Portanto, a educação ambiental é de natureza interdisciplinar e envolve a responsabilidade de todos os atores pertencentes à comunidade escolar (alunos, funcionários e professores de diversas disciplinas), conscientes do seu papel na sustentabilidade do meio ambiente. Nesta perspectiva o educador ambiental, deve ter como finalidade o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, como um processo permanente, e não de forma isolada. A seguir, será descrita a metodologia utilizada nesta pesquisa.
3. Metodologia
A presente pesquisa foi realizada em duas escolas estaduais, localizadas na cidade de São Gabriel-RS. Primeiramente foi feita a observação sobre a presença da educação ambiental nas escolas e seu papel como instrumento de transformação e conscientização no contexto escolar. Posteriormente, foi construído um instrumento de coleta de dados, com quinze questões, que abordaram diversos temas, tais como: se os respondentes participavam ou estavam informados de algum programa relacionado ao meio ambiente em sua escola, quais as práticas pedagógicas e as metodologias trabalhadas com os alunos, no sentido de sensibilizá-los e despertar interesse dos discentes para as questões ambientais, dentre outras.
Segundo Malhotra (2001), o questionário é uma técnica estruturada para a coleta de dados, que consiste em uma série de perguntas que um entrevistado deve responder.
Os questionários foram aplicados nos meses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, em duas escolas estaduais de ensino fundamental, localizadas na área urbana, no centro do Município de São Gabriel, RS. A coleta de dados primários ocorreu da seguinte forma:
1º) Contato prévio com os diretores das Escolas para obtenção da permissão para realização da pesquisa;
2º) Os questionários foram aplicados in loco nas duas escolas onde os questionários foram preenchidos pelos respondentes. Na Escola A foram entregues vinte e seis questionários a serem preenchidos por professores, dos quais se obtiveram retorno de doze questionários respondidos. Já na Escola B foram entregues vinte e quatro questionários aos professores, com retorno de dezesseis questionários respondidos. O Quadro 1 apresenta o percentual de retorno de questionários obtido na pesquisa.
Quadro 1. Questionários Aplicados e Respondidos em cada Escola
Perfil |
Questionários Aplicados |
Questionários Respondidos |
% |
Escola A |
26 |
12 |
46,15 |
Escola B |
24 |
16 |
66,66 |
Fonte: Dados coletados, 2012.
3º) Os dados foram descritos e analisados e foram sistematizados em quadros.
A seguir serão apresentados os resultados dos questionários aplicados nas escolas.
4. Análise dos Resultados
As questões iniciais referiram-se a problemática ambiental enfrentada em termos globais. Em relação às questões ambientais, os professores foram perguntados se questões como poluição e desmatamento, afetam o seu dia-a-dia. Os resultados são demonstrados na Figura 1.
Figura 1.Opinião dos professores sobre o impacto da poluição e desmatamento no seu dia-a-dia.
Por meio da análise da Figura 1 contata-se que os professores da Escola B afirmaram que a poluição e o desmatamento afetam mais o seu dia a dia, do que os professores da Escola A.
Na segunda questão, os professores foram questionados da seguinte forma: Afetando ou não o seu dia-a-dia, as questões ambientais como poluição e desmatamento fazem parte de suas preocupações? Todos os respondentes da Escola A e da Escola B garantiram que se preocupam com estas questões.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997), é preciso que a escola se proponha a trabalhar atitudes e formação de valores, por meio de ensino e aprendizagem de habilidades e procedimentos, pois comportamentos corretos são demonstrados nas ações do dia-a-dia. Para que o professor transmita esses valores aos alunos, é preciso verificar se os docentes possuem essa conscientização. Para fazer essa verificação, na questão seguinte foi indagado aos professores se eles sabem o que são práticas de gestão ambiental, se realizam alguma prática em sua casa e, em caso afirmativo, quais as que mais realizam. A Figura 2 ilustra os resultados obtidos.
Figura 2. Porcentagem dos professores que afirmaram conhecer o que são práticas de gestão ambiental.
Os resultados indicam que os professores da Escola A, reconhecem mais o conceito de práticas de gestão ambiental do que os professores da Escola B.
A realização das práticas ambientais pelos professores em suas casas é apresentada na Figura 3.
Figura 3. Porcentagem dos professores que disseram realizar práticas ambientais em suas casas.
De acordo com a Figura 3 verifica-se que, embora todos os professores da Escola A conheçam as práticas de gestão ambiental (Figura 2), uma pequena parcela ainda não as pratica em casa (Figura 3). Por outro lado, na Escola B, o percentual é o mesmo de professores que conhecem tais práticas e os que efetivamente as realizam em suas residências.
Na Escola A, as principais práticas que são realizadas são: economia de energia, economia de água, coleta seletiva dos resíduos, escolha de produtos com embalagens reduzidas ou menos impactantes ao meio ambiente e possuem automóvel próprio, mas procuram utilizar transporte coletivo. Já na Escola B, as práticas mencionadas foram: economia de energia e de água, coleta seletiva dos resíduos, escolha de produtos com embalagens reduzidas ou menos impactantes ao meio, possuem automóvel próprio, mas procuram utilizar transporte coletivo.
Na questão seguinte os professores foram indagados quanto à existência de alguma prática de gestão ambiental ou algum programa relacionado a meio ambiente em sua escola. A Figura 4 ilustra as respostas obtidas.
Figura 4. Porcentagem de professores que reconhecem a existência de alguma prática de gestão ambiental ou programa relacionado ao meio ambiente em sua escola.
De acordo com a Figura 4 verifica-se que os professores da Escola B reconhecem mais a existência de práticas de gestão ambiental ou programas relacionados ao meio ambiente do que os professores da Escola A. Além disso, os professores questionados nas Escolas A e B informaram que as Escolas realizam a prática de coleta seletiva e também possuem projetos na área ambiental.
Foi perguntado na questão seguinte se os professores sabiam como funciona a coleta seletiva. Todos os professores das Escolas A e B afirmaram conhecer o funcionamento do sistema de coleta seletiva. Posteriormente, os respondentes deveriam avaliar a existência de programa de coleta seletiva em sua escola. A Figura 5 sintetiza as respostas.
Figura 5. Porcentagem dos professores que reconhecem a existência de um programa de coleta seletiva em sua escola.
Por meio da Figura 5 verifica-se que a informação acerca da existência ou não de coleta seletiva nas escolas é contraditória, talvez isso seja resultante de uma implantação e comunicação não adequada por parte delas. Enquanto pouco menos da metade dos professores da Escola A (37%) e exatamente a metade na Escola B afirmam que existe coleta seletiva em suas escolas, uma parte considerável dos professores afirmam desconhecer tal prática na escola (50% na Escola A e 40% na Escola B). As escolas devem investigar as razões que provocam essa contradição e talvez até reformular seu projeto de coleta seletiva, com maior participação dos envolvidos e melhoria na comunicação das ações desenvolvidas.
Na questão seguinte, foi indagado que, em caso de existência da coleta seletiva, se o lixo e os demais resíduos eram jogados corretamente na lixeira apropriada. A Figura 6 ilustra a resposta dos entrevistados.
Figura 6. Porcentagem dos professores que afirmam descartar os resíduos corretamente.
Pelos resultados apresentados na Figura 6, constata-se que a porcentagem de professores da Escola B que demonstram descartar os resíduos corretamente é superior a porcentagem de professores da Escola A. Isso demonstra que os professores da Escola B apresentam um comportamento mais consciente quanto à destinação de resíduos.
As principais práticas que os professores da Escola A e B executam para contribuir para a economia e preservação do meio ambiente são: evitar os desperdícios de energia elétrica, evitar o desperdício de água e realizar a separação de resíduos em lixeiras específicas, procurando contribuir na coleta seletiva.
Na sequência os professores responderam sobre a existência de algum material informativo de educação ambiental na sua escola. A Figura 7 sintetiza as respostas.
Figura 7. Porcentagem dos professores que afirmam conhecer algum material informativo de educação ambiental na sua escola.
Observa-se que a porcentagem de professores da Escola B que afirmam conhecer algum material informativo de educação ambiental na sua escola é superior a porcentagem de professores da Escola A, podendo indicar que há um conhecimento disseminado entre os professores da Escola B em relação à presença de ações de educação ambiental na escola e ao uso de materiais didáticos relacionados ao tema.
Nas Escolas A e B, os materiais informativos citados foram cartazes, painéis confeccionados pelos alunos e projetos.
Em outra questão, os professores responderam sobre as metodologias adotadas para trabalhar com os alunos a questão ambiental. Os professores da Escola A citaram os seguintes recursos: vídeos e filmes sobre o meio ambiente, artigos e materiais de revistas e jornais, seminários e palestras sobre o meio ambiente, aula em laboratório de informática utilizando internet e outros recursos. Os professores da Escola B citaram vídeos e filmes sobre o meio ambiente, artigos e materiais de revistas e jornais, seminários e palestras sobre o meio ambiente, aula em laboratório de informática utilizando internet e outros recursos. Todos os professores da Escola B trabalham com a temática ambiental.
Sequencialmente, indagou-se aos professores se a discussão dos temas ambientais em sala de aula tem despertado interesse nos seus alunos (Figura 8).
Figura 8. Porcentagem das respostas dos docentes sobre o interesse dos alunos na discussão dos temas ambientais em sala de aula.
Comparando-se a Escola A com a Escola B, verifica-se que os alunos deste último se mostraram mais interessados na discussão dos temas ambientais, segundo seus professores.
Buscou-se, na pesquisa, conhecer o perfil dos professores e as disciplinas que ministram. Na Escola A, os professores que preencheram o questionário ministram disciplinas nas seguintes áreas: matemática, educação física, ciências, língua portuguesa, currículo e história. Três professores da Escola A não relataram suas disciplinas. Na Escola B as disciplinas mencionadas são: educação física, ciências, língua portuguesa, religião, currículo, artes e ciências. Assim como na Escola A, na Escola B três professores também não relataram suas disciplinas.
Em outra questão, os professores das escolas foram inquiridos sobre como relacionam a temática ambiental em sua disciplina, assim como a interdisciplinaridade e transversalidade. Na Escola A, a maioria dos professores não tratam da questão ambiental na sua disciplina. Na Escola B ocorreu o oposto, pois a maioria dos professores afirmou que abordam a questão ambiental na sua disciplina.
Quanto à metodologia de trabalho para tratar da questão ambiental, na Escola A foi destacado por um professor que ele sempre faz com que o aluno pense e reflita sobre a preservação do meio ambiente. Já os professores da Escola B destacaram que trabalham diferentes metodologias de ensino, tais como:
· Professor do Currículo: realiza trabalhos interdisciplinares relacionando disciplinas como português e matemática, como, por exemplo, analisa os tipos de moradia, questiona o local onde elas existem, o ambiente em que vivem as pessoas, se existe água encanada e luz. Relaciona o dia-a-dia aos acontecimentos gerais do planeta, faz relações entre o que fazem e como ocorrem essas consequências;
· Professor de Educação Física: orienta seus alunos a trazerem uma garrafa com água para as aulas, evitando o desperdício, o uso do bebedouro (evitando contaminações) e orienta quanto ao descarte do lixo;
·
Professor
de Língua Portuguesa faz com que a aluno reflita sobre o meio ambiente por meio
de textos, debates, dramatizações e questões reflexivas.
Em um dos questionamentos realizados foi perguntado aos professores se a escola na qual trabalham tem demonstrado interesse em relação às questões ambientais (Figura 9).
Figura 9. Porcentagem das respostas dos professores sobre o interesse das escolas em relação às questões ambientais.
Conforme ilustra a Figura 9, a maioria dos professores da Escola B salientaram que a escola na qual trabalham tem demonstrado interesse em relação às questões ambientais e sempre procura convidar pessoas qualificadas para ministrarem palestras, projetos relacionados ao tema, buscam a conscientização dos futuros cidadãos ajudando a formar uma cultura de defesa do planeta. Já na Escola A, 62% dos professores entrevistados destacaram que a sua escola tem interesse em relação às questões ambientais.
Posteriormente, foi pedido ao entrevistado que sugerisse melhorias em termos de educação ambiental. Na Escola A, as sugestões dos professores foram mais projetos para a escola, projetos para economizar água, energia e conscientização da coleta seletiva e aquisição de máquinas na escola para picar papel nos setores da escola. Na Escola B foram sugeridas ações mais práticas nas questões de plantio de árvores; visitas a locais poluídos pelo homem, uso correto das lixeiras e materiais de uso coletivo dos alunos, incluindo um projeto único unindo todos os anos.
O Quadro 2 apresenta um resumo das respostas dos professores das escolas estaduais de ensino fundamental, localizadas no Município de São Gabriel-RS, sobre seu posicionamento e as ações que estão contribuindo para a preservação do meio ambiente.
Quadro 2. Respostas dos Professores sobre Questionamentos Relacionados à Educação Ambiental nas Escolas
Tema |
Escola A (sim) |
Escola B (sim) |
Maior Consciência Ambiental |
Poluição e desmatamento afetam o seu dia a dia |
63% |
70% |
Escola B |
Conhecem o que são práticas de gestão ambiental |
100% |
90% |
Escola A |
Professores que realizam práticas ambientais em suas casas |
87% |
90% |
Escola B |
Existência de prática ou programa de gestão ambiental na sua Escola |
75% |
100% |
Escola B |
Existência de programa de coleta seletiva na sua escola |
37% |
50% |
Escola B |
Resíduos são jogados na lixeira da coleta seletiva |
25% |
60% |
Escola B |
Existência de material informativo de educação ambiental na escola |
37% |
90% |
Escola B |
Interesse dos alunos na temática ambiental |
12% |
50% |
Escola B |
Interesse da Escola em relação às questões ambientais |
62% |
90% |
Escola B |
Fonte: Dados coletados, 2012.
Conforme a análise do Quadro 2, a Escola B, segundo os respondentes, apresenta maior consciência ambiental dos professores e alunos, pois nela já existem práticas de gestão ambiental efetivas implementadas como coleta seletiva, confecção e distribuição de materiais informativos de educação ambiental e elaboração de projetos interdisciplinares.
4. Considerações Finais
Trabalhar a educação ambiental de forma Interdisciplinar na escola é um grande desafio, pois se trata de um processo pedagógico participativo, que tem como finalidade tornar cidadãos críticos sobre a problemática ambiental. Após a análise das respostas dos questionários é possível constatar que a educação ambiental está inserida no Plano Curricular das escolas. Na Escola B os professores adotam metodologias inovadoras e estão abertos a discutir assuntos da atualidade em relação à educação ambiental. Trabalham com seus alunos a temática ambiental, garantindo momentos de discussão e compreensão da realidade socioambiental, numa perspectiva de construção de espaços para exercício da cidadania. Descartam seus resíduos corretamente, preocupam-se com as questões ambientais e existe todo um apoio em relação à gestão escolar.
Na Escola A, os professores demonstraram-se menos sensíveis as questões ambientais do que os professores da Escola B, demonstrando que as questões ambientais não são tão relevantes. Os professores reconhecem o que são práticas de gestão ambiental, mas não são colocadas em prática. A educação ambiental propõe a quebra de fronteiras entre as disciplinas, ou seja, ela une o conhecimento tradicional (não trabalhado de forma interdisciplinar) a educação ambiental, sendo que os professores mencionaram que os alunos não têm interesse em relação às questões ambientais.
A educação ambiental na escola deve ser um processo de permanente aprendizagem, valorizando as diversas formas de conhecimento, que constitua sujeitos com consciência local e uma visão do planeta. Através do ensino em educação ambiental é possível construir caminhos, envolvendo as diferentes áreas do conhecimento para que, através do debate e do repensar da prática cotidiana, possam-se criar valores de sustentabilidade econômica, social e cultural.
O tema meio ambiente não pode ser visto como um tema a ser abordado em um só espaço, em um só lugar, deve estar presente em todos os momentos, e em todas as disciplinas de forma integrada, ou seja, de forma interdisciplinar. Para tanto é preciso que se formalize e se concretize parcerias entre Universidade e Escolas para o desenvolvimento de outras atividades que também poderão proporcionar melhor qualidade de aprendizado para todos.
5. Referencias Bibliográficas
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
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MALHOTRA, N.K. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman, 2001.
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REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 63 p., 2006.
VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos de Educação Ambiental. In: PEDRINI, A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.