O USO DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS NO PROCESSO DE GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL.
A aplicação contínua do projeto de sustentabilidade 3 R´s na empresa, demonstra que é possível buscar a inovação tecnológica, o desenvolvimento econômico, mas respeitar o meio ambiente, onde a empresa, fornecedores, colaboradores, clientes, geram um processo de inserção de novas ideologias e práticas individuais e coletivas direcionadas para a responsabilidade sócio-ambiental nas empresas e na sociedade como um todo.
Clauciana Schmidt Bueno de Moraes ¹
João Paulo Moretti ²
Caroline Garcia Geroto ³
1. Pós-Doutorado (PDI) em Ciências Ambientais (CNPq). Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental - EESC/USP. Geógrafa/ UNESP e Administradora/ UNIP. Professora-orientadora Pós-Graduação UNESP e CEGEA/ ESALQ/ USP. Bolsista do CNPq – Brasil. E-mail: clauciana@ig.com.br
2. Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental pela UNESP e Engenheiro Ambiental pela UNESP-Sorocaba. Analista Ambiental. E-mail: engenheiromoretti@gmail.com
3. Gestora Ambiental – ESALQ/ USP. Consultora Grupo Vigna Brasil. E-mail: caroline_cgg@yahoo.com.br
Resumo
Este artigo demostra a busca pela maturidade de uma empresa com relação às questões ambientais, frente a aplicação de práticas sustentáveis que vão além da preocupação somente com os requisitos das normas e com as renovações de licenças ambientais. Esta tem como princípio analisar e repensar seus processos buscando o desenvolvimento econômico, porém ligado diretamente as questões sócio-ambientais e sua contribuição efetiva para com a preservação do meio ambiente. A aplicação da metodologia 3 R´s no processo produtivo da empresa resulta em fatos de maior lucratividade, bem como novas oportunidades e expressiva relevância as questões de proteção ambiental.
Palavras-chave: Gestão Ambiental Empresarial, Gestão de Resíduos, Resíduos Industriais, Gestão e Educação Ambiental.
1. Introdução
Este artigo demonstra um projeto que visa contribuir com o processo de gerenciamento do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) em uma empresa do ramo automotivo utilizando como ferramenta a metodologia dos 3 R’s – Reduzir, Reutilizar e Reciclar em todos os processos da empresa, visando prevenir e minimizar os impactos ambientais e a aquisição desnecessária de matéria-prima, e também, maximizando possíveis lucros através do atendimento das demandas ambientais. O principal objetivo desse projeto de sustentabilidade é alcançar a excelência ambiental da empresa, propondo soluções tecnológicas que tenham como princípio a redução, minimização e prevenção dos impactos ambientais e a co-responsabilidade ambiental junto aos seus stakeholders, visando a contribuição da implantação e gestão eficaz de práticas sustentáveis, com bases na melhoria contínua e na proteção do meio ambiente.
Este projeto tem como princípio analisar e repensar seus processos buscando o desenvolvimento econômico, porém ligado diretamente as questões sócio-ambientais e sua contribuição efetiva para com a preservação do meio ambiente, com a aplicação da metodologia 3 R´s no processo produtivo da empresa visando a maior lucratividade, bem como novas oportunidades e expressiva relevância as questões de proteção ambiental.
2. Metodologia
A Ecologia Industrial, junto da Prevenção da Poluição e da Produção Mais Limpa, visa prevenir a poluição, o que objetiva reduzir a demanda por matérias-primas, água e energia e a devolução de resíduos à natureza. Através de sistemas integrados de processos ou indústrias, os resíduos ou subprodutos de um processo podem servir como matéria-prima de outro. Já a Produção Mais Limpa prioriza os esforços dentro dos processos de maneira isolada, sendo o terceiro R (a reciclagem) a última alternativa a ser levada em consideração (Marinho & Kiperstock, 2001).
O conceito 3 R’s está relacionado de forma direta ao consumo consciente e à Educação Ambiental, de forma quase consensual, em diversos meios formais e informais de ensino; de forma estratégica, deve também fazer parte do pensamento dos responsáveis pelo Setor de Meio Ambiente nas empresas.
Segundo Meira et al. (2007), este conceito consiste em três palavras simples, que podem e devem ser aplicadas de forma individual em diversos momentos: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Diversas novas teorias foram criadas com base neste, mas, na realidade, podemos incutir os demais termos propostos nestas mesmas três palavras. Um pouco mais de cada R, a partir das explanações de Layrargues (2002):
· Reduzir: consiste em tentarmos reduzir a quantidade que produzimos de lixo, como por exemplo, comprar produtos mais duráveis e evitar trocá-los por qualquer novidade no mercado.
· Reutilizar: Procurar embalagens, por exemplo, que possam ser usadas mais de uma vez, como garrafas retornáveis de vidro. Ou quem sabe, criar novas utilidades para as que você não precisa mais.
· Reciclar: o mais conhecido dos 3 R’s; consiste em transformar um produto resíduo em outro, visando diminuir o consumo de matéria-prima extraída da natureza.
3. Resultados e Discussões
3.1. Reduzir
Diversas ações são realizadas para diminuir ao máximo a geração de resíduos e o desperdício de matérias-primas. Pela preocupação com a saúde tanto do ambiente quanto de seus colaboradores, o grupo Elring Klinger foi o primeiro fabricante mundial a substituir o amianto em juntas. Além disso, desenvolveu materiais não cancerígenos para defletores de calor, eliminou o chumbo do revestimento de juntas e o cromo hexavalente de todos os materiais metálicos utilizados em suas juntas e defletores.
Algumas das tecnologias desenvolvidas nesse processo se tornaram novas patentes, que se referem ao desenvolvimento de novas tecnologias de injeção de plásticos de engenharia. Neste, é reduzida significativamente a quantidade de resíduos gerados nos processos produtivos, além da diminuição considerável do peso de partes dos motores.
Outro fator relevante referente às pesquisas de redução de resíduos é o desenvolvimento de tecnologias que envolvam a diminuição de emissões atmosféricas veiculares. Um bom exemplo disso são os injetores de uréia que representam valores superiores a 30% de redução das emissões de NOx, gases com potencial de aquecimento global duzentas vezes ao do CO2. Foram desenvolvidas, também, juntas com sensores de temperatura integrados a bomba de água elétrica, que promovem o alcance da temperatura ideal do motor em 10% do tempo atual e reduzem o consumo de combustível em 6%. E por fim, podem-se citar os separadores de óleo de alta performance, que diminuem consideravelmente as emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE´s).
Outro exemplo de redução é a implantação de secadores de mãos nos banheiros, onde os papéis foram substituídos por secadores de pano, fato que reduziu cerca de 79% a geração de resíduos, 63% o consumo de energia e 48% a geração dos GEE´s.
3.2. Reutilizar
Esta empresa do setor automotivo sempre buscou soluções para a reutilização do resíduo de borracha semi vulcanizada, apesar de seu processo produtivo ser novo, preocupada com a questão ambiental e ciente dos diversos problemas que este tipo de resíduo pode causar ao meio ambiente. Para tanto, propôs-se a realização de um levantamento de diversas empresas para avaliar a possibilidade de recepção e processamento deste resíduo pelas mesmas. Durante esse processo, encontrou-se Associação Esportiva, no município de Ubatuba/ SP, que realiza um projeto social com centenas de jovens adolescentes. Essa borracha é utilizada para o preenchimento de caixas de leite, conjunto necessário para a confecção de tatames móveis para as comunidades mais carentes da região, onde são realizadas aulas de Judô. Além de ser um projeto social, pelo envolvimento de centenas de jovens na educação esportiva, pode ser considerado um sumidouro de resíduos industriais. Apesar de se ter encontrado uma solução parcial para este resíduo, ainda estão em processo de análise demais alternativas, sendo o principal foco reprocessamentos por meio da ecologia industrial.
Foi desenvolvido na empresa o processo de reutilização dos pallets de madeira, onde nosso parceiro neste projeto é a APAE de Limeira/ SP. Esta organização retira os materiais de madeira da empresa e os reutiliza para a fabricação de outros modelos de pallets. Seu potencial de reuso chega a 90% de aproveitamento. Os 10% restantes são destinados a uma empresa geradora de vapor para caldeiras, corretamente licenciada para esse fim. Este subprojeto além de abordar questões como o reuso e a reciclagem (nesse caso energética), envolve ainda a questão social, visto que fornece fomento para o aprendizado e profissionalização dos jovens especiais desta organização, além de auxílio na renda da entidade.
3.3. Reciclar
Os defletores de calor possuem um componente que realiza a deflação do calor. Essa tecnologia é denominada de Elrotherm. Para a estampagem desse material verificou-se a melhor forma de disposição dos estampos com a finalidade de se otimizar o uso de material. Entretanto, mesmo com a melhoria de aproveitamento do material e conseqüentemente, a redução da necessidade de aquisição do mesmo, ainda era identificada uma quantidade considerável de geração deste resíduo.
Iniciou-se na empresa o processo de reciclagem do Elrotherm o qual é composto pelas etapas de dissolução das aparas em água; disposição da polpa em telas; destino ao forno de secagem e, por fim, a prensagem. O material obtido obteve as mesmas características do material original, configurando um ótimo retorno financeiro para a planta brasileira através da reciclagem manual. Ressalta-se que este processo é uma excelente oportunidade para a melhoria da sustentabilidade da empresa, reduzindo na aquisição de matéria-prima, bem como contribuindo para a minimização da geração deste resíduo na empresa.
Os processos de revestimento de materiais metálicos realizados na EKB demandam uma quantidade considerável de solventes para a limpeza dos equipamentos, sendo gerada mensalmente a quantia aproximada de três tambores de resíduos por mês.
Dentre esses solventes consta a metil-etil-cetona, também conhecida como MEC, que é largamente utilizada na indústria química. Esse material era um dos principais resíduos perigosos da empresa antes da idealização de mais esse projeto de sustentabilidade. Verificou-se a possibilidade de reciclagem do solvente MEC, através de destilação simples. Atualmente, é gerada somente a borra do resíduo de borracha, que constitui aproximadamente um tambor a cada seis meses. O solvente, por sua vez, é reciclado e destinado a outros processos de limpeza, eliminando-se assim o consumo de solventes virgens e diminuindo-se cerca de 95% a geração deste resíduo.
4. Conclusões
A preocupação com as questões ambientais tem se fortalecido nas organizações, tanto pelas exigências legais como do mercado competitivo. Todavia, as empresas que buscam ir além dessas obrigatoriedades e desenvolvem suas tecnologias e processos preocupados com a questão econômica atreladas a questões sócio-ambientais, têm como retorno o grande aumento de seus clientes, a melhoria do processo, novas oportunidades de negócios, mas essencialmente um comprometimento com as questões ambientais que abrigam as matérias-primas de seus produtos.
A aplicação contínua do projeto de sustentabilidade 3 R´s na empresa, demonstra que é possível buscar a inovação tecnológica, o desenvolvimento econômico, mas respeitar o meio ambiente, onde a empresa, fornecedores, colaboradores, clientes, geram um processo de inserção de novas ideologias e práticas individuais e coletivas direcionadas para a responsabilidade sócio-ambiental nas empresas e na sociedade como um todo. Este projeto surgiu como uma grande oportunidade para a melhoria contínua e da questão ambiental e financeira na empresa, bem como um exemplo da enorme contribuição para o setor de reciclagem no seguimento industrial.
5. Referências Bibliográficas
BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2008.
MARINHO, M.; KIPERSTOCK, A. Ecologia industrial e prevenção da poluição: uma contribuição ao debate regional. BAHIA ANÁLISE & DADOS. Salvador - BA SEI v.10 n.4 p.271-279, 2001.
MEIRA, A. M. de; ROSA, A. V.; SUDAN, D. C.; LEME, P. C. S. & ROCHA, P. E. D. Da Pá Virada: Revirando o Tema Lixo – Vivências em Educação Ambiental e Resíduos Sólidos. São Paulo: Programa USP Recicla, 2007.