INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
UMA ANÁLISE DA REMEA (2010-2012)
Catarina Teixeira mestranda em Educação pelo Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras - DED/UFLA - Lavras, MG. catarinabio@hotmail.com
André Luiz Ferreira da Silva mestrando em Educação pelo Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras – DED/UFLA – Lavras, MG.
Jacqueline Magalhães Alves professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras – DED/UFLA – Lavras, MG. jacque@ded.ufla.br
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar a abordagem da interdisciplinaridade e transversalidade da Educação Ambiental no ensino formal a partir de uma revisão bibliográfica. Considerando que a Educação Ambiental tem se constituído como instrumento que contribui para compreensão e conscientização sobre questões/problemas da realidade socioambiental e tem se colocado como uma das mais sérias exigências educacionais contemporâneas para o exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida, destaca-se a importância deste trabalho. Foram utilizadas como base teórica, as publicações de 2010 a 2012 da Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental (REMEA). Os artigos foram selecionados a partir dos seguintes descritores: Interdisciplinaridade, Tema Transversal e Projeto Político Pedagógico. Identificamos que a maioria dos artigos mostra que o processo ensino/aprendizagem deve ser estabelecido no Projeto Político Pedagógico de forma interdisciplinar e/ou transversal para enriquecer a capacitação do estudante, potencializando sua atuação como cidadão crítico para respeitar e avaliar os problemas socioambientais na busca de soluções.
Palavras-chave: educação ambiental, currículo, interdisciplinaridade, tema transversal, projeto político pedagógico
Introdução
Torna-se cada vez mais necessária a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e de seus ecossistemas, o que envolve uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental (JACOBI, 2003). Entende-se que a Educação Ambiental (EA) seja um instrumento para melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, uma vez que por meio dela busca-se formar cidadãos conscientes de sua importância na conservação do meio ambiente, com a consequente mudança para hábitos ecologicamente corretos.
A primeira vez que se adotou o termo Educação Ambiental foi 1965 em um evento de educação promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido. Em 1972, na conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano – Estocolmo, foi ressaltada a importância de se trabalhar a vinculação entre ambiente e educação, iniciando uma discussão específica de caráter mundial que a colocou como um assunto oficial para a ONU e em projeção mundial (LOUREIRO, 2004).
Em 1975, especialistas de 65 países reuniram-se e elaboraram um documento, a Carta de Belgrado, que preconiza uma nova ética planetária, entre outros pontos, a criação de um Programa Mundial de Educação Ambiental (BOTON, 2010.)
Em um trecho da Carta de Belgrado, organizada pela UNESCO, destaca-se:
“É absolutamente vital que os cidadãos do mundo insistam em medidas que apoiem um tipo de crescimento econômico que não tenham repercussões prejudiciais para as pessoas, para o seu ambiente e suas condições de vida. É necessário encontrar maneiras de assegurar que nenhuma nação cresça ou se desenvolva às custas de outra e que o consumo feito por um indivíduo não ocorra em detrimento dos demais. Os recursos do mundo devem ser desenvolvidos de modo a beneficiar toda a humanidade e proporcionar melhoria da qualidade de vida de todos.”
Em Tbilisi, de 14 a 26 de outubro de 1977, ocorreu a Conferência Intergovernamental, encontro que é referência até os dias atuais. O evento apontou para a Educação Ambiental como meio educativo pelo qual se pode compreender de modo articulado as dimensões ambientais e sociais, problematizar a realidade e buscar as raízes da crise civilizatória.
Dentre as recomendações, sugere aos Estados-membros da ONU a implementação de políticas públicas específicas a serem permanentemente revisadas a partir de avaliações sistemáticas, de modo a consolidar e universalizar a Educação Ambiental (LOUREIRO, 2004).
A introdução formal da Educação Ambiental no Brasil se deu em 1973 com a criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), vinculada ao Ministério do Interior, a qual estabeleceu como uma de suas atribulações “o esclarecimento e a educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente”. Posteriormente, em 1981, foi instituída a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81), que promoveu a inserção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino formal e não formal, visando dar capilaridade ao tema no seio da sociedade brasileira (BOTON, 2010).
Na Constituição Federal aprovada em 1988, promoveu-se uma mudança, quando se atribui ao poder público o dever de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (Art. 225, § 1°, Inc. VI).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), produzidos com base na LDB e lançados oficialmente em 15 de outubro de 1997, documento que definiu como Temas Transversais, em função da relevância social, urgência e universalidade: saúde, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo, e meio ambiente. Apesar das críticas que recebeu, em parte pelo modo como apresenta a transversalidade em educação (mantendo como eixos principais as disciplinas de conteúdos formais) e pela baixa operacionalização da proposta, teve o mérito de inserir a temática ambiental não como disciplina, e de abordá-la articulada às diversas áreas de conhecimento (LOUREIRO, 2004).
Os temas transversais buscam trazer para a discussão das diversas áreas do conhecimento, as questões sociais contemporâneas como questões sociais e não como novos conteúdos, buscando propiciar o posicionamento frente a essa questão, que tem prós, contras, decisões políticas, pressões de grupos e buscam preencher as lacunas deixadas pelas áreas de silêncio do currículo (OLIVEIRA, 2002).
Finalmente, é sancionada a Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Observamos na Lei uma preocupação com a construção de condutas compatíveis com a “questão ambiental” e a vinculação de processos formais de transmissão e criação de conhecimentos a práticas sociais, numa defesa das abordagens que procuram realizar a práxis educativa por meio de um conjunto integrado de atividades curriculares e extra-curriculares, permitindo ao educando aplicar em seu cotidiano o que é aprendido no ensino formal (LOUREIRO, 2004).
Nesse sentido, encontrar formas que contribuam para ampliar a percepção das pessoas sobre os problemas socioambientais, suas razões, surgimento e efeitos, se mostra uma necessidade fundamental, em busca de uma ética e de uma consciência socioambientais capazes de equilibrar a relação entre humanidade e meio ambiente. Por outro lado, um dos lugares em que essas questões deveriam ser foco central dos trabalhos, a escola, por meio da Educação Ambiental formal, ainda não a incorporou ao seu cotidiano de forma permanente como tema transversal, conforme preconizam os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Política Nacional de Educação Ambiental.
Como consequência, a Educação Ambiental não tem conseguido estar presente nos espaços-chave da organização do trabalho escolar, tais como na definição dos projetos pedagógicos, dos planos de trabalho, do uso do tempo em sala de aula, do planejamento, da distribuição das atividades e do tempo remunerado dos professores (CARVALHO, 2005).
Isso não quer dizer que o que se tem feito não tem valor, ao contrário, devem ser reconhecidas e valorizadas as diversas iniciativas nessa área realizadas por todo o país. Contudo, ainda resta o desafio de incluir, nos espaços institucionais estruturantes do campo educativo, a formação de uma sensibilidade e de uma leitura crítica dos problemas socioambientais (CARVALHO, 2005), transformando a educação escolar em espaço de Educação Ambiental.
Diante do exposto, percebe-se que a Educação Ambiental vem adquirindo grande importância no mundo, sendo hoje cada vez mais pertinente e necessário que os currículos escolares busquem desenvolver conteúdos e práticas a ela integrados.
Mas, vários questionamentos são feitos a partir desta responsabilidade da escola e do professor. Os profissionais de ensino estão preparados para esta missão? O tema Educação Ambiental pode ser considerado uma concepção político-pedagógica presente em vários momentos do processo ensino-aprendizagem? A educação ambiental está presente em qualquer disciplina e/ou área de conhecimento? Para responder a tantas questões é importante a contribuição de várias disciplinas, através de conteúdos e metodologias, de forma interdisciplinar, para uma melhor compreensão e atuação sobre diversos problemas ou potencialidades socioambientais identificadas.
Partindo deste pressuposto, relacionando ao contexto em que vivemos e observamos quanto ao desenvolvimento do tema Educação Ambiental, em salas de aulas e escolas, o presente artigo tem como objetivo diagnosticar como a transversalidade e a interdisciplinaridade em EA tem sido abordada no ensino formal. Para isso, analisamos trabalhos publicados nos anos de 2010 a 2012 na Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental (REMEA) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Metodologia
O estudo para o presente artigo foi elaborado por meio de uma pesquisa qualitativa bibliográfica. Entendemos que a revisão bibliográfica serve como apoio para coletar informações que já foram estudadas e pesquisadas sobre o assunto como também fazer uma revisão sobre o que já foi discutido sobre estes temas. A revisão de bibliográfica é um processo na qual o pesquisador “situa seu trabalho no processo de produção do conhecimento da comunidade cientifica” (ARAUJO e BORBA, 2010).
No primeiro momento do trabalho, foi realizado um levantamento bibliográfico a partir do sistema de informática da CAPES, direcionado ao Qualis, importante instrumento para a classificação de periódicos e para o desenvolvimento da pesquisa científica brasileira (LINS, 2010). Para fazermos a busca, escolhemos a área de atuação em Educação, em seguida selecionamos a revista que no título tivesse o termo Educação Ambiental. Verificamos também que a Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental é a mais bem conceituada no CAPES-QUALIS, com conceito B2.
A REMEA da Universidade Federal do Rio Grande possui circulação nacional e internacional (on line) com periodicidade semestral, de conteúdo científico, tendo como objetivo principal a veiculação de resultados de pesquisas relacionadas à Educação Ambiental com a finalidade de integração dos pesquisadores em Educação e/ou Ambiente/Ecologia preocupados com o desenvolvimento da Educação Ambiental como uma área de pesquisa no Brasil e na América Latina.
A partir da escolha da revista, definimos os descritores e/ou palavras-chaves: Interdisciplinaridade, Temas transversais e Projeto Político Pedagógico. Foram selecionadas as pesquisas divulgadas sob a forma de artigos científicos, no período de 2010 a 2012. Assim, identificamos 12 trabalhos relacionados aos descritores acima.
Dos 12 artigos selecionados, após minuciosa leitura do conteúdo, verificamos que apenas nove corroboravam com o objetivo proposto nesse estudo. Dentre eles encontram-se artigos de pesquisa experimental ou bibliográfica.
Interdisciplinaridade e transversalidade: desafios e possibilidades
O planejamento e a realização de trabalho interdisciplinar nas escolas vem sendo discutidos e defendidos por diversos autores, devido à obrigatoriedade estabelecida nos PCN’s. Partindo desta suposição, destacamos concepções e análises de alguns autores na REMEA, sendo que três artigos ressaltam sobre a transversalidade, dois artigos ressaltam o trabalho interdisciplinar e outros dois artigos intercalam explicações sobre as temáticas de interdisciplinaridade e transversalidade.
Para Narcizo (2009), é possível trabalhar de forma interdisciplinar, conforme proposto nos PCN’s, utilizando a metodologia de projetos em Educação Ambiental. Esses projetos podem e devem ser desenvolvidos nas escolas a fim de fomentar a criatividade e o raciocínio dos estudantes, por meio de atividades dinâmicas e participativas, articulando teoria e prática. Segundo o autor, projetos propostos por pequenos grupos ou atividades isoladas, podem não atingir a reflexão ou mudança de mentalidade dos discentes. Outro entrave para o trabalho interdisciplinar, se expressa na dificuldade dos docentes para sua execução, conforme relata Narcizo:
Um dos motivos dessa dificuldade é, sem dúvida, o medo de exposição de muitos professores que preferem continuar trancados em suas salas de aula a expor seu trabalho diante dos outros, se abrindo e se sujeitando a possíveis críticas. Além disso, professores de disciplinas tidas como mais importantes tendem a se afastar de projetos que não tratem de seus conteúdos específicos, alegando precisar de tempo para poder cumprir seus planos de curso. (Bizerril e Faria, 2001, p. 61 apud Narcizo, 2009).
Bernardes e Pietro (2010), concluem que as resistências e/ou incompreensões sobre a interdisciplinaridade e a transversalidade são consequência da aparente baixa eficácia das ações de Educação Ambiental nos ambientes formais.
Narciso (2009) e Pippilone e Nossllala (2010), também destacam o despreparo dos docentes, ocasionado pelo não aprimoramento da universidade para o trabalho interdisciplinar, erro muito comum ainda nos meios acadêmicos.
Sendo assim, como as escolas muitas vezes não possuem em seus quadros professores habilitados nas áreas de ecologia e com a falta de professores de biologia, muitos profissionais partem para o aprimoramento, mesmo que de forma tímida, sobre a temática ambiental.
Partindo do pressuposto da utilização de projetos para o desenvolvimento da interdisciplinaridade, foi avaliado um artigo de SAITO et al. (2010), que retrata a utilização do recurso didático chamado PROBIO-EA. Dentro da avaliação dos autores, foi possível integrar as disciplinas para o trabalho transversal da temática ambiental, levando os estudantes a perceberem e despertarem para ultrapassar o que é abordado nos livros didáticos, por meio da construção de novos conhecimentos:
A utilização dos conhecimentos do material didático do Probio-EA envolveu diferentes áreas do conhecimento, cumprindo a missão de integrar as disciplinas por meio da inserção transversal da temática “meio ambiente” no currículo. A transversalidade se fortaleceu ainda com atividades integrativas do conjunto da escola, que terminaram por envolver os demais professores para a exposição na Mostra Cultural da escola com temas ambientais. Desta forma, os resultados mostraram que Educação Ambiental consegue se fazer presente de forma significativa nestas ações educativas e pode se tornar realidade no currículo escolar em sua acepção mais ampla. Assim, espera-se contribuir para valorizar a presença do meio ambiente como tema transversal, superando a fragilidade dessa temática ambiental no contexto do conjunto dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (SAITO et al. 2010).
Cruz e Zanon (2010) apresentam um estudo realizado por meio da pesquisa qualitativa bibliográfica, tendo por objetivo o levantamento de evidências na literatura sobre a importância de práticas de uma educação ambiental que proporcione aos seus atores mudanças comportamentais para a construção democrática e política de uma sociedade mais consciente e potencialmente sustentável. E ao longo do trabalho, os autores confirmam que:
O ambiente escolar com projetos e ações pedagógicas interdisciplinares pode possibilitar a formação de cidadãos críticos e conscientes dos problemas globais e locais para a participação e tomada de decisões adequadas na tentativa de solucionar problemas (CRUZ e ZANON, 2010).
O trabalho de Carvalho e Chacur (2012) mostra, com base nas premissas do tema transversal “Meio Ambiente” (PCNs, 1997), a importância do jogo ecológico que considera os aspectos físicos e biológicos e, principalmente, os modos de interação do ser humano com a natureza, por meio de suas relações sociais, do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia, como instrumentação didática no processo de educação ambiental.
Muitas discussões sobre Educação Ambiental defendem que a mesma deva ser uma disciplina específica no ensino formal. Bernardes e Pietro (2010), por outro lado, enfatizam que a Política Nacional de Educação Ambiental (1996) estabelece que a Educação Ambiental deve ser desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e permanente, em todos os níveis e modalidades do ensino formal, e não como disciplina específica incluída nos currículos escolares:
Se há críticas quanto à dificuldade de implantação da Educação Ambiental de forma interdisciplinar e transversal nas escolas e faculdades, é necessário reconhecer, de outro lado, que a questão ambiental não é, nem pode ser um conhecimento em si, independente das áreas afins (BERNARDES E PIETRO, 2010).
O trabalho de Boff et al. (2011) teve como objetivo constituir um currículo integrado/ interdisciplinar, na forma de Situação de Estudo (SE), envolvendo professores da escola básica, da universidade e em formação inicial, visando superar os compartimentos curriculares por meios de estratégias de ensino. Nesse projeto se apresenta um conjunto de atividades, elaboradas coletivamente, que articulam diferentes disciplinas e envolvem a todos em um processo de reflexão-ação-reflexão. Segundo Boff et al. (2011), o trabalho coletivo tem propiciado a constituição de espaços ricos de reflexão, problematização e proposição de soluções para o enfrentamento dos problemas ambientais do entorno escolar, articulados aos conteúdos escolares. Os autores afirmam que:
Compreende-se a importância no desenvolvimento de propostas com vistas à transformação do currículo escolar, que ainda se encontra de modo linear e fragmentado, para um currículo que se faz e refaz no dia a dia da escola como uma prática social que assegura e desenvolve a educação permanente. Na SE as questões ambientais passam a integrar o currículo escolar e os conteúdos disciplinares são tratados numa visão interdisciplinar (BOFF et al. 2011).
Essa afirmação corrobora o trabalho publicado por Silva em 2010. Nesse trabalho, Silva (2010) se baseia em Leff (2002) e propõe uma Pedagogia Ambiental, visando uma aproximação interdisciplinar entre os conhecimentos curriculares e o diálogo entre saberes científicos e outras narrativas. Para Silva (2010),
A questão ambiental pode ser objeto de reflexão de todas as áreas do conhecimento humano, que todas as disciplinas podem oferecer contribuições para melhor elucidá-la e que, portanto ela pode e deve ser abordada interdisciplinarmente em todas as práticas curriculares (SILVA, 2010).
Boff et al. (2010), concluem o artigo afirmando que o trabalho coletivo amplia possibilidades para enfrentar questões relacionadas à fragmentação do conhecimento, a falta de articulação entre as disciplinas que constituem o currículo escolar e a tomada de decisão frente à problemática ambiental. Dessa forma, é possível a constituição de um currículo integrado favorecendo mudanças de postura docente frente ao modo de conduzir os conteúdos disciplinares.
No trabalho de Bernardes e Pietro (2010), os autores confirmam que a transversalidade desenvolve no corpo discente um novo diálogo permanente em sala de aula e fora dela, pois, afinal,
A contribuição pedagógica para a construção de uma nova relação entre homem e meio ambiente deveria se dar por meio da inserção das questões ambientais de forma transversal, na estrutura curricular dos conteúdos tradicionais, mas enriquecida com exemplos, práticas, experiências, materiais educativos, mídias e atividades extraclasse que aproximem o estudante com o ambiente em que ele vive (BERNARDES e PIETRO, 2010).
Nos artigos analisados para construção do presente trabalho, destaca-se de que todos os artigos enfatiza a importância em se trabalhar Educação Ambiental de forma interdisciplinar e transversal. Essa concepção pressupõe educadores imbuídos de um verdadeiro espírito crítico, aberto para a cooperação, o intercâmbio entre as diferentes disciplinas, o constante questionamento ao saber arbitrário e desvinculado da realidade. Por outro lado, exige a prática de pesquisa, a troca e sistematização de ideias, a construção do conhecimento, em um processo de indagação e busca permanente. Mas, acima de tudo, pressupõe a clareza dos fins, a certeza dos objetivos da interdisciplinaridade. À medida que fica claro o seu sentido com a prática que possibilita a escola investir coletivamente na elaboração de conhecimentos significativos, torna-se possível uma nova atitude pedagógica e a luta pela reformulação das estruturas de ensino.
A educação ambiental no Projeto Politico Pedagógico (PPP)
Dentre os artigos encontrados e analisados, discussões acerca do Projeto Político Pedagógico escolar são relatadas em somente três artigos, mesmo que de forma breve, destacando-se a importância de uma estruturação adequada com a participação de todos - docentes, discentes e comunidades do entorno - para o planejamento e execução. Tem-se como proposta que o desenvolvimento do trabalho seja coletivo, possibilitando melhor adequação e reconhecimento junto aos grupos e realidades do lugar.
Ferrari e Zancul (2010), através de uma pesquisa bibliografia, concluíram que o trabalho com Educação Ambiental deve estar presente nas escolas, inserido no cotidiano do professor, fazendo parte dos Projetos Político Pedagógicos e que deve ser devidamente fundamentado para orientar a ação docente e as atividades dos estudantes. Segundo os autores, a partir daí serão construídas com os discentes experiências que consolidem novos valores e hábitos, transformando-os em sujeitos ativos em suas comunidades, levando-os a refletirem sobre o espaço onde vivem, buscando contribuir para a manutenção, conservação e preservação do Meio Ambiente. Dentro deste processo, o estudante torna-se ator do processo ensino-aprendizagem.
Para Narciso (2009), a escola, ao propor o desenvolvimento do currículo escolar voltado para a questão ambiental, deve proporcionar a participação de todos no processo de sua construção e execução, tendo os estudantes como sujeitos do processo. Os conteúdos precisam ser revistos para que os mesmos convirjam entre as disciplinas, de forma interdisciplinar.
No artigo de Pippitone e Nossllala (2010), as autoras, após uma pesquisa bibliografia sobre a forma de abordagem da temática ambiental na cidade de Piracicaba, SP, chegam à conclusão de que o tema Meio Ambiente não é tratado de forma transversal, devido à falta de qualificação do corpo docente e por suas dificuldades em adaptar a temática à disciplina ministrada, causada pela falta de compreensão das diretrizes.
Conforme Bernardes e Pietro (2010), é útil ressaltar que nenhuma área (Geografia, Química, Biologia, Ciências) consegue, isoladamente, tratar todas as questões ambientais. Caberá então à comunidade escolar inserir a temática ambiental no projeto político pedagógico da instituição e definir os projetos e ações que pretende realizar.
Bernardes e Pietro (2010), reforça que é:
Importante destacar que os parâmetros nacionais, tanto para o ensino fundamental, quanto para o ensino médio, são referência para elaboração dos projetos pedagógicos de cada instituição escolar, que gozam de relativa autonomia para definir a forma de incorporar tais diretrizes (BERNARDES e PIETRO, 2010).
Nos artigos analisados para construção do presente trabalho, enfatizam a importância em se trabalhar Educação Ambiental de forma interdisciplinar e transversal. Essa concepção pressupõe a elaboração de projetos políticos pedagógicos com a participação de educadores imbuídos de um verdadeiro espírito crítico, aberto para a cooperação e o intercâmbio entre as diferentes disciplinas.
Considerações Finais
Através do presente trabalho nota-se que a Educação Ambiental deve ser um processo participativo, onde o estudante assumirá papel central no processo ensino-aprendizagem pretendido, participando ativamente na avaliação dos problemas socioambientais, em busca de soluções.
Observa-se que o trabalho interdisciplinar e de forma transversal é proposta importante para contribuir com o processo de consciência da comunidade escolar, desde o ensino infantil até o superior, sobre os problemas ambientais em nossa sociedade.
Partindo do princípio de que a comunidade escolar, como um todo, deve ser figura participativa frequente na elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos, será possível um trabalho interdisciplinar, que irá nortear os professores, gerando assim maior compreensão e discernimento do grupo sobre os problemas ambientais. Consequentemente, o papel do profissional da educação deve ser revisto e retratado como elo no processo ensino-aprendizagem, pois o mesmo é o construtor das referências ambientais e das práticas sociais.
Destacamos, portanto, que a escola é o espaço onde o estudante tentará aprender a se integrar diretamente com a sociedade. E é na prática que terá a chance de ter essa experiência ambientalmente correta, para que seja exemplo de cidadão responsável.
Referências
ALMEIDA, R. F.; RABELO, C. S. S. e SCHENKEL, C. A. Percepção Ambiental de alunos do terceiro Ano do Ensino Médio em duas escolas da cidade de Uberaba-MG. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1255&class=02 Acesso em 25 de março de 2013.
ARAUJO, J. de L.; BORBA, M. de C. Construindo pesquisas coletivamente em educação matemática. In: BORBA, Marcelo de Carvalho; ARAUJO, Jussara de Loiola. Pesquisa Qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p. 27 a 47.
BERNARDES, M. B. J.; PIETRO, E. C. Educação Ambiental: Disciplina versus tema transversal. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 24, p. 173-185, 2010.
BOFF, E. T. de O.; GOETTEMS, P. B.; PINO, J. C. D. Ambiente e vida – O ser humano nesse contexto: uma estratégia de ensino transformadora do currículo escolar. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 26, p.306-321, 2011.
BOTON, J. M. O meio ambiente como conformação curricular na formação docente. Ver. Ensaio. Belo Horizonte, v.12, n.03, p.41-50 Set-Dez, 2010.
CARDOSO, K. M. M., Educação Ambiental nas escolas. Brasília, 2011. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas)- Universidade de Brasília. Campus de Brasília , 2011.
CARTA DE BELGADRO. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/crt_belgrado.pdf Acesso em 25 de março de 2013.
CARVALHO, A. M. P. Ensino de Ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Editora Thompson, 2004.
CARVALHO, E. M.; CHACUR, M. M. Jogo ecológico: instrumentação didática na construção de conceitos socioambientais para alunos do ensino básico. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 28, p.274-288, 2012.
CARVALHO, I. C. M. A invenção do sujeito ecológico: identidades e subjetividade na formação dos educadores ambientais. In: SATO, M.; CARVALHO, I. C. M. (orgs) Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.
CRUZ, A. C. S.; ZANON, A. M. Agenda 21: potencialidade para educação ambiental visando a sociedade sustentável. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 25, p.330-343, 2010.
FERRARI, A. H.; ZANCUL, M. C. S. A Educação Ambiental nos Projetos Políticos Pedagógicos das Escolas Municipais de Ensino Fundamental da cidade de Araraquara – SP. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 25, p.22-34, 2010.
GUIMARÃES, M.; SOARES, A. M. D.; CARVALHO, N. A. O.; BARRETO, M. P. Educadores Ambientais nas escolas: as redes como estratégia. CAD. Cedes: Campinas, vol. 29, n..77, p. 49-62, Jan-Abri 2009.
JACOBI, P. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, n°118, p.189-205. Março, 2003.
LINS, M. P. E.; PÊSSOA, L. A. M. Desafios da avaliação de publicações em periódicos: discutindo o novo Qualis da área de Engenharias. RBPG. Brasília. v.7. n.12. p. 14-33, 2010.
LOUREIRO, C.F.B. Trajetória e fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2004. 150p.
NARCIZO, K. R. S. Uma análise sobre a importância de trabalhar Educação Ambiental nas escolas. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 22, p.86-94, 2009.
OLIVEIRA, R.C.F. Transversalidade no Currículo Escolar: Ética e Meio Ambiente.In: MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação. Santos, C. P. (Coord.). Educação Ambiental:ação e conscientização para um mundo melhor.-Belo Horizonte: SEE/MG, 2002.144p.
PIPITONE, M. A. P.; NOSSLLALA, S. K. O desenvolvimento da Educação Ambiental no Ensino Fundamental: a participação dos programas oficiais. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 25, p.95-110, 2010.
SAITO, C. H.; D’ALMEIDA, M. L.; FETTER, R.; GERMANOS, E.; GOMES, M. R.; OLIVEIRA, C. H. Utilização do material didático do Probio-EA em disciplina de Geografia do Ensino Fundamental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 27, p.139-152, 2011.
SILVA, A. T. R. Pedagogia ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande, v. 25, p.253-265, 2010.