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  Entrevista com Marcelo Gleiser (7a.
  edição da revista eletrônica EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO)
  
  Por Berenice Gehlen Adams
  
  
  Apresentação: O entrevistado desta edição é Marcelo
  Gleiser, um cientista brasileiro de renome internacional. Assisti ao programa
  de entrevistas CONEXÃO, de Roberto D'Avila, e resolvi entrar em contato com o
  professor Marcelo a fim de receber informações sobre seus livros: A Dança
  do Universo, O Fim da Terra e do Céu e O Livro do Cientista (www.saraiva.com.br).
  Deste contato surgiu o convite para esta entrevista, que gentilmente foi
  aceito. Assim, tenho a honra de apresentar Marcelo Gleiser aos leitores e
  leitoras da Educação Ambiental em Ação.
  
  - A ciência é parte da sociedade, apesar de serem poucas as pessoas
  que têm acesso a ela. O senhor é um dos grandes incentivadores da divulgação
  da ciência para o público em geral. Como o senhor resumiria o papel da ciência
  para a educação de uma nação?
  
  Como sendo absolutamente fundamental. Nossas vidas dependem cada vez mais de
  tecnologias avançadas. Estas tecnologias, por sua vez, são resultado de
  pesquisas realizadas por cientistas e engenheiros. Uma sociedade ignorante da
  ciência e suas aplicações está fadada a ficar para trás. Este é o
  aspecto mais prático da questão. O mais espiritual é que a ciência também
  encara questões que todos nós fazemos, sobre nossas origens, nosso destino,
  e mesmo nossa função no cosmo e em nossas vidas. As pessoas têm um enorme
  apetite por estas questões, e a ciência pode ajudá-las a refletir sobre
  elas.
  
  - A ciência, como parte do processo cultural da humanidade, pode ter
  contribuído, de forma não explícita, na degradação ambiental?
  
  Sem dúvida. Afinal o primeiro inimigo das florestas foi também a primeira
  das "invenções", o fogo. A necessidade que temos de nos esquentar
  no inverno, de cozinhar nosso alimentos, de consumir energia para tantas
  coisas leva necessariamente à exploração do meio ambiente e à sua degradação.
  Mas não poria a culpa na ciência em si, mas nas políticas de exploração
  ambiental que, infelizmente, muitas vezes são controladas por grupos de
  interesse sem nenhuma preocupação ecológica.
  
  - Dentro do atual contexto cultural da humanidade, qual tem sido a
  contribuição da ciência para a melhoria da qualidade de vida e da preservação
  ambiental?
  
  Essa pergunta é extremamente vasta. É só pensar nas tecnologias associadas
  à medicina, dos antibióticos e vacinas à radiação como tratamento do câncer,
  nas telecomunicações, nos computadores e dvds, que vemos o impacto da ciência
  em nossas vidas. Quanto à questão ambiental, estão surgindo melhorias no
  uso da energia solar, eólia e mesmo de células de combustível, que acredito
  será a fonte de energia do futuro. Satélites ajudam a policiar as grandes
  queimadas na Amazônia, e por aí a fora.
  
  - Como o senhor vê a Educação Ambiental no que tange propiciar o
  desenvolvimento do senso crítico em relação às atitudes desfavoráveis (ou
  nocivas) ao meio ambiente, e qual seria a contribuição da ciência para a
  busca de uma consciência ambiental?
  
  Essa é uma importante questão. Os cientistas têm de educar a população
  quanto aos riscos ambientais. Em minhas colunas na Folha e meu livro Retalhos
  Cósmicos (uma coletânea de algumas delas) falo muito sobre isso. (Veja a do
  dia 30/11/03, por exemplo.) Uma população educada cientificamente estará
  mais preparada para tomar as decisões certas; desde de reciclar o lixo até
  votar em políticos que expressem uma preocupação com o assunto.
  
  - O homem já foi à Lua, engendrou centenas de milhares de inventos e
  pesquisas significativas como a mudança genética dos organismos, a bomba H.
  Como o senhor vê a questão da degradação ambiental dentro do contexto
  científico? Será possível mudar o curso da trajetória humana que
  possibilite uma reversão deste quadro ambiental?
  
  O grande problema não são os cientistas. São os industriais e os políticos
  que controlam a legislação ambiental. A política ambiental norte-americana
  é uma vergonha. Os cientistas vêm falando há décadas do efeito estufa, de
  quais serão as suas consequências. O problema é que os efeitos são
  gradativos e não imediatos. E, infelizmente, o homem só reage quando está
  sob pressão. Só espero que não seja tarde demais, como já dizem simulações
  em computadores.
  
  - Convido-o a deixar um recado para os leitores e leitoras da Educação
  Ambiental em Ação.
  
  Gosto do lema "Pense globalmente e atue localmente". Acho que o
  esforço deve partir de cada indivíduo. Afinal, a casa é de todos nós, e
  dos nossos filhos e seus descendentes. Temos o dever de preservá-la!
  
  Nós, Editores(as) e Colaboradores(as) da revista eletrônica Educação
  Ambiental em Ação agradecemos imensamente pela gentileza de conceder-nos
  esta entrevista. Muito Obrigada!
  
  
  "Marcelo Gleiser foi o primeiro brasileiro a receber o presidential
  faculty fellow award, uma bolsa de US$ 500 mil, diretamente concedida pelo então
  presidente dos EUA, Bill Clinton, devido a pesquisas em cosmologia e ensino.
  Além desta bolsa, Gleiser recebeu US$ 105 mil da NASA para estudo de possíveis
  fontes de ondas gravitacionais".