ENSINO DE BOTÂNICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MODELOS DIDÁTICOS E OFICINAS PEDAGÓGICAS
Flávia Maria Leme1, Halisson Cesar Vinci Carlos2, Danielle Boin Borges2, Geisiely Pedrosa de Freitas3, Fabio Junior Kochanovski4
1Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Unicamp, Campinas, SP, e Prof. do Curso de Ciências Biológicas, EAD, UFMS, Campo Grande, MS. (flaviabotanica@gmail.com)
2Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, UFMS, Campo Grande, MS.
3Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, UFMS, Campo Grande, MS.
4Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Unicamp, Campinas, SP.
Resumo
Este artigo apresenta relatos da experiência de um projeto de Extensão com interface em Ensino. A Ação de Extensão “Botânica na Escola” teve como objetivo preparar melhores profissionais para o ensino de Botânica e promover a Educação Ambiental em escolas públicas. As atividades foram divididas em três etapas: 1) curso de atualização em Botânica, oferecido por alunos de Mestrado em Biologia Vegetal para acadêmicos de Ciências Biológicas Licenciatura; 2) produção de material didático prático pelos alunos de Ciências Biológicas; 3) oficinas em escolas públicas por meio de atividades experimentais práticas com uso dos materiais didáticos produzidos na segunda etapa. Com este trabalho conclui-se que oficinas pedagógicas práticas são essenciais na formação de professores como na aprendizagem dos alunos. Ao final do projeto pôde-se observar que as oficinas foram muito bem aceitas pelos alunos, que demonstraram grande interesse em participar de todas as atividades, experimentos e jogos propostos, além de terem feito diversas perguntas sobre Botânica.
Palavras-chave: Cerrado, Educação ambiental, Extensão universitária, formação de professores.
Introdução
A falta de aptidão em ensinar sobre as plantas e o pouco material eficiente para auxiliar nas aulas de Biologia, faz com que muitos professores tenham dificuldades com a área da Botânica (Minhoto, 2003). Assim, para o ensino de botânica ser agradável é necessário que o docente torne o conteúdo interessante e motive o discente.
As aulas de Biologia, muitas vezes, acabam se tornando maçantes, devido às matérias serem demonstradas por meio de livros didáticos resumidos e pautados em definições técnicas ou nomenclaturais (Kuenzer, 2000), fazendo com que estas fiquem difíceis de serem compreendidas e associadas pelo educando. Os próprios modelos curriculares são deficientes no que tange à contextualização, pois ainda são baseados na simples reprodução do conhecimento adquirido (Silva et al., 2005). Isto se deve à falta de estudos e pesquisas nas linhas de ensino de Ciências e de Botânica. Segundo Silva et al. (2006), os trabalhos relacionados ao ensino de Botânica são poucos, principalmente ao nível de graduação, pois no mundo acadêmico há a falsa ideia de que, quem sabe fazer sabe ensinar, o que é um grave equívoco.
Quando o ensino é arbitrário, com a imposição de respostas prontas, o conhecimento adquirido fica difícil de ser aplicado a tarefas do cotidiano. A aprendizagem real ocorre quando o indivíduo está motivado e interessado a aprender (MOREIRA, 2000), ou quando o mesmo é conduzido a descobrir novas coisas, tornando-se capaz de observar seu entorno (WEISSMANN, 1998). Como explica Kuenzer (2000), trabalhar a Botânica dentro dessa proposta diferenciada é uma maneira de mostrar que o conteúdo pode ser assimilado de uma forma divertida, integrado com outras áreas de conhecimento.
Junto ao ensino de Botânica, é imprescindível falar em Educação Ambiental. A conservação das espécies vegetais é essencial para a proteção da biodiversidade, pois são elas as grandes responsáveis em fornecer alimento aos animais herbívoros, impulsionando toda a cadeia alimentar. De acordo com Schulz et al. (2012), todos os profissionais da educação devem trabalhar com Educação Ambiental, através de atividades de ensino, fazendo isto de maneira interdisciplinar, algo que não é difícil na Biologia, menos ainda na Botânica.
Uma das dificuldades no ensino da Botânica é a compreensão tridimensional das estruturas, alguns termos são meramente memorizados, em detrimento da compreensão espacial das mesmas, o que frustra os alunos e pouco contribui para seu conhecimento (CECCANTINI, 2006). A compreensão das estruturas é essencial nas disciplinas de Biologia. Portanto, a confecção de modelos didáticos tridimensionais pode favorecer no processo de ensino e aprendizagem. Os jogos são uma das formas de integrar o lúdico ao conteúdo, auxiliando na educação, principalmente aqueles relacionados à preservação e conservação ambiental.
Devido a essa dificuldade de compreensão das estruturas e à imensidade de termos, por vezes de difícil pronúncia, muitos alunos não gostam de Botânica (Paiva, 2010). Isto ocorre, na maioria dos casos, em consequência da falta de preparo dos professores e da falta de atividades experimentais práticas durante o ensino (Minhoto, 2003).
Observando as dificuldades do ensino de Botânica, foi realizado um trabalho de extensão com alunos de Graduação em Ciências Biológicas Licenciatura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) junto a escolas municipais. O trabalho buscou desenvolver no graduando em licenciatura habilidades para a produção de material didático prático e proporcionar aos alunos de escolas públicas momentos de descontração por meio do ensino com materiais práticos, a fim de estimular o aprendizado de Botânica no ensino básico e conscientizar os alunos da importância da preservação da biodiversidade.
Desenvolvimento
Este trabalho iniciou-se durante o desenvolvimento da disciplina “Prática Instrumental em Botânica” ministrada para acadêmicos de Licenciatura em Ciências Biológicas - EAD (Educação à Distância da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) do Polo do município de São Gabriel do Oeste - MS, após observar a necessidade de pôr em prática as metodologias de ensino trabalhadas na disciplina.
O projeto foi desenvolvido em três etapas:
Etapa 1. O “Curso de Atualização em Botânica” foi desenvolvido e ministrado pelos mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da UFMS para os acadêmicos de Licenciatura em Ciências Biológicas - EAD/UFMS. Com duração de 20 horas. As atividades ocorreram no Laboratório de Botânica do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UFMS e nas áreas de Cerrado ao redor do Campus da universidade em Campo Grande.
Foram abordados temas como: coleta, processamento e conservação de espécimes vegetais; morfologia vegetal; fatores importantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas; importância dos animais na polinização e na dispersão de sementes; biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Para cada tema abordado foram utilizadas as seguintes referências: Fidalgo e Bononi (1984), Vidal e Vidal (1999), Prado e Casali (2006), Raven et al. (2007), Taiz e Zeiger (2009), Damasceno-Junior e Souza (2010) e Souza (2012a e 2012b).
Ao final desta etapa, os acadêmicos responderam a um questionário de avaliação do curso, atribuindo notas quanto ao seu aproveitamento pessoal, estrutura dos laboratórios, qualidade das atividades e recursos didáticos.
Etapa 2. Os acadêmicos de Licenciatura (EAD) participaram como extensionistas na confecção de materiais lúdico-pedagógicos (experimentos práticos, jogos e modelos didáticos), além de pesquisa na literatura sobre outros materiais lúdicos que pudessem valorizar o ensino de Botânica.
Etapa 3. O evento “Botânica na Escola” ocorreu nas escolas municipais selecionadas pela Secretaria de Educação dos Municípios de São Gabriel do Oeste e Campo Grande. Todo o material didático produzido na “Etapa 2” do projeto foi levado para as escolas, onde foram montadas cinco oficinas práticas sobre algumas das diversas áreas da Botânica: “Fisiologia Vegetal”, “Morfologia Vegetal”, “Flor e Fruto”, “Vegetais Inferiores (briófitas e pteridófitas)” e “Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável”.
Quando a escola demonstrava necessidade em temas específicos da Botânica, estes eram ressaltados para algumas turmas, sempre atendendo às necessidades das escolas dentro do possível.
Os alunos atendidos pelo projeto participaram de brincadeiras e jogos relacionados à Botânica e sobre a flora da região (Cerrado e Pantanal). Na oficina “Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável”, os alunos conheceram alguns dos frutos do Cerrado e Pantanal e degustaram alguns dos produtos confeccionados com esses frutos, produzidos de acordo com as receitas descritas por Damasceno-Junior e Souza (2010). O projeto “Botânica na Escola” está inserido no Programa de Extensão “Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado - Fase V”, estimulando a preservação da biodiversidade regional.
Resultados
O projeto contou com a participação de seis mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal e 20 alunos de graduação em Ciências Biológicas Licenciatura, dentre estes, alunos da EAD (Educação à Distância) do Polo de São Gabriel do Oeste e do curso presencial do Campus de Campo Grande, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Os extensionistas participaram da confecção dos materiais didáticos e como ministrantes dos cursos e oficinas.
Etapa 1. Curso de Atualização em Botânica
O curso contou com a participação de 10 alunos de graduação em Ciências Biológicas Licenciatura - EAD/UFMS do Polo de São Gabriel do Oeste. O baixo número de participantes pode ser explicado devido à distância do município de São Gabriel do Oeste da capital Campo Grande (cerca de 140 Km) e também ao fato de que muitos dos alunos estariam trabalhando na data do curso.
Com duração de 20 horas, o curso foi realizado em um sábado e um domingo, ministrado por mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da UFMS. A primeira aula foi realizada em campo sobre coleta, processamento e preservação de amostras vegetais (figura 1A). Os graduandos tiveram a oportunidade de realizar os procedimentos de herborização das plantas, com coleta, prensagem e secagem em estufa, conhecendo os materiais utilizados para este fim. Por último, realizaram a confecção das exsicatas, colagem das plantas secas em cartolina com suas respectivas fichas de identificação. Ainda puderam conhecer o Herbário CGMS da UFMS, local onde as exsicatas são guardadas dentro de armários próprios e organizadas em ordem alfabética, semelhante a um arquivo ou "biblioteca de plantas". O Herbário é uma coleção de plantas que serve como fonte de pesquisas, e fica disponível para consulta para professores, pesquisadores e o público em geral.
As aulas de morfologia de raiz, caule, folha, flor e fruto, polinização e dispersão, e também de fisiologia vegetal, foram todas abordadas em atividades práticas realizadas nos Laboratórios de Lupas (figura 1B) e de Fisiologia Vegetal.
Os graduandos demonstraram grande interesse em conhecer, principalmente, as estruturas dos laboratórios específicos de cada área da Botânica. Como a Educação à Distância possui vários Polos em diversos municípios, muitos deles não apresentam boa estrutura de laboratórios nem equipamentos adequados e, quando os possuem, são em pequena quantidade e utilizados em todas as disciplinas do curso de Biologia de modo geral. Portanto, o curso foi essencial para promover o contato dos graduandos com laboratórios de ensino e a vivência de alguns experimentos práticos.
No questionário de avalição, todos os alunos classificaram seu aproveitamento como “ótimo” e atribuíram nota entre 8,5 e 10 para o curso. Os graduandos sugeriram, durante a avaliação do curso, que outras áreas da Biologia, como Genética, Histologia, Zoologia e Embriologia, também tivessem a iniciativa de realizar atividades dessa natureza.
Figura 1. A) Aula de campo sobre coleta, processamento e preservação de amostras vegetais; B) Aula prática em laboratório (visualização em lupa das estruturas reprodutivas das flores).
Etapa 2. Produção de materiais didáticos
Entre os materiais didáticos práticos confeccionados estão: modelo anatômico de caule produzido com canudinhos de plástico; jogo da memória com frutos nativos do Cerrado e Pantanal; brincadeira de montar a árvore, fazendo a correta identificação de raiz, caule e folhas; jogo de adivinhar os frutos; experimento de transporte do xilema; experimento da fotossíntese (PRADO e CASALI, 2006); tatuagem temporária com polpa do fruto jenipapo; sorvete e bolos de frutos do Cerrado e Pantanal (DAMASCENO-JUNIOR e SOUZA, 2010); montagem do cubo de madeira, com esquema ilustrativo em papel dos três planos de corte anatômico da madeira (CECCANTINI, 2006).
Parte dos materiais foi desenvolvida pela equipe do projeto de extensão, os quais serão descritos de forma mais detalhada para possíveis reproduções. Os demais podem ser encontrados segundo literatura especificada.
O modelo desenvolvido para representar a anatomia de um caule foi confeccionado com canudinhos de plástico em diversas cores para representar cada tipo de tecido vegetal. Partindo de dentro para fora, os canudinhos de cor amarela representam o parênquima medular, os vermelhos representam o xilema, os azuis o floema e, por fim, novamente os amarelos representando o parênquima do córtex. Este modelo foi montado utilizando fita adesiva para prender cada uma das partes formando círculos, para que as camadas ficassem fixas. Ao final, para representar a casca, os canudos foram envoltos por papel crepom marrom (figura 2A).
O jogo da memória foi confeccionado a partir de fotos de frutos do Cerrado e Pantanal. Cada tipo de fruto tinha duas fotos idênticas: em uma figura foi colocado o nome científico e na outra o nome popular. Este jogo foi montado com quinze tipos de frutos diferentes, formando um conjunto com trinta peças (figura 2B).
Para incentivar as crianças a conhecer e diferenciar as partes das plantas foi desenvolvida a brincadeira de montar a árvore. Durante a brincadeira cada grupo de alunos deve receber diversas partes de vegetais como folhas, caules e raízes para montar uma árvore. Ao final, o professor avalia qual árvore está mais completa e com as partes nos locais corretos (figura 2C).
O cubo de madeira foi montado segundo Ceccantini (2006). Trata-se de um cubo de papel em que cada lado apresenta uma imagem que ilustra um corte anatômico de madeira. Para a atividade, o desenho original foi ampliado para ser melhor visualizado e compreendido pelos alunos (figura 2A). Ao final, cada criança receberá uma figura do cubo para pintar e montar.
Figura 2. Parte dos materiais didáticos desenvolvidos. A) Modelo anatômico do caule e cubo de madeira (ao fundo); B) Jogo da memória com fotos de frutos nativos do Cerrado e Pantanal; C) Árvore montada pelas crianças na brincadeira de montar a árvore.
A tatuagem de jenipapo fez muito sucesso entre os estudantes durante as oficinas (figura 3A). Frutos de jenipapo (Genipa americana - Rubiaceae) foram coletados, sua polpa foi ralada, misturada com uma pequena quantidade de água e reservada por 30 minutos para reagir com o ar e oxidar. Com o auxílio de um cotonete molhado na mistura de jenipapo, faziam-se desenhos nos braços dos alunos. Após alguns minutos o desenho surgia na pele na coloração azul (tintura de pele utilizada por tribos indígenas). Os alunos, antes de serem tatuados, eram informados de que o período de permanência da tatuagem era de 5 à 7 dias. Todas as crianças demonstraram interesse em saber onde há a planta para coletar frutos e sementes.
Outra brincadeira de que as crianças gostaram muito foi o jogo de adivinhar os frutos (figura 3B). Em uma caixa foram colocados diversos frutos, alguns típicos do Cerrado. Entre os frutos foram adicionados algumas raízes e caules. O aluno colocava a mão no interior da caixa por uma abertura, escolhia um objeto, o apalpava sem retirá-lo, e tentava adivinhar o que pegou. Depois, retirava o objeto da caixa, verificava se havia acertado e dizia se o objeto escolhido era ou não um fruto e o porquê. Caso não fosse um fruto, o aluno deveria dizer qual parte da planta era.
Figura 3. A) Acadêmica fazendo tatuagem de jenipapo no braço de aluno; B) Jogo de adivinhar frutos.
Etapa 3. Evento Botânica na Escola
As atividades foram desenvolvidas em escolas da Rede Municipal de Ensino de dois municípios de Mato Grosso do Sul: São Gabriel do Oeste e Campo Grande.
Em São Gabriel do Oeste o evento ocorreu na Escola Municipal Pingo de Gente, nos períodos matutino e vespertino recebendo um total de 36 alunos. O evento ocorreu em um sábado, comparecendo somente os alunos que se interessaram em participar das atividades. Como a escola estava com todas as salas de aula disponíveis, cada oficina foi montada em uma sala diferente, e os alunos faziam rodízio entre elas.
Em Campo Grande as oficinas foram realizadas em três escolas municipais: Licurgo de Oliveira Bastos, atendendo 185 alunos; Danda Nunes, com 127 alunos e Elizio Ramirez Vieira, 135 alunos. O evento ocorreu no período de aula normal. Algumas turmas foram selecionadas e direcionadas ao local onde foram montadas as oficinas. Duas das escolas tinham Laboratório de Ciências, onde as oficinas puderam ser montadas. Somente a Escola Elizio Ramirez Vieira não possuía laboratório, portanto as oficinas foram realizadas em sala de aula. Dentro do terreno da escola, Elizio Ramirez Vieira, próximo à quadra de esportes há uma nascente, a Direção da escola nos informou de seu interesse em realizar o plantio de mudas com os alunos nesse local. Após as oficinas, cada aluno plantou duas mudas de árvores nativas ao redor da nascente.
As atividades durante o evento foram divididas em cinco diferentes oficinas:
Oficina I – “Morfologia Vegetal”: apresentação das partes constituintes do corpo das plantas (raiz, caule e folha). Foram utilizados modelos didáticos como o modelo anatômico do caule, disco de madeira e cubo de madeira (figura 4A). Para maior interação com os alunos foi realizada a brincadeira de montar a árvore e confecção do cubo de madeira por cada aluno.
Oficina II – “Flor e Fruto”: apresentação da forma e constituição geral de diversas flores e frutos (figura 4B), classificando suas partes. Os alunos puderam interagir com o jogo de adivinhar os frutos (figura 3A).
Oficina III – “Vegetais Inferiores (briófitas e pteridófitas)”: visualização de amostras de musgos e samambaias (figura 4C). Os alunos tiveram contato com uma lupa de laboratório (estereomicroscópio), onde puderam visualizar as estruturas das plantas em detalhes mais ampliados. Para estimular o reconhecimento das características básicas de cada grupo e de sua importância, os alunos montaram um pequeno terrário com musgos e samambaias para levarem para casa.
Oficina IV – “Fisiologia Vegetal”: visualização de experimentos práticos de fisiologia vegetal como fotossíntese, respiração e transporte de água. Os alunos observaram a ocorrência da fotossíntese por meio da formação de bolhas de ar em um tubo de ensaio submerso em água contendo uma planta aquática (figura 4D). Para demonstrar a respiração, cada aluno colocou sacos plásticos transparentes nas folhas de uma planta do jardim da escola e observaram a formação de gotículas de água. O transporte de água no xilema foi observado por meio da imersão do caule da planta de jardim conhecida como “beijinho” (Impatiens sp. – Balsaminaceae) em solução de corante anilina vermelho. A solução subia lentamente pelos vasos condutores (fenômeno da capilaridade) até atingir as flores, o que era possível de ser visualizado, já que o caule da planta não é lenhoso e possui coloração verde bem clara. Além disso, nas pétalas brancas formavam-se linhas na cor vermelha, evidenciando o caminho por onde a solução percorreu nos vasos condutores.
Oficina V – “Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável”: apresentação de frutos nativos do Cerrado e Pantanal por meio de imagens, estimulando os alunos a participarem dizendo se reconheciam ou não e se os consumiam (figura 4E). Adicionalmente, foi destacada a importância desses frutos para a fauna e como fonte de renda para o homem, e discutida a necessidade de se conhecer e conservar esses dois biomas para a manutenção desses recursos. Foram desenvolvidas receitas para degustação, principalmente com frutos muito comuns na região, porém, pouco conhecidos e/ou aproveitados pelos alunos na sua alimentação, como bolo e suco de jatobá, bolo de bocaiuva (figura 4F), jenipapo e cumbaru, sorvete de bocaiuva e brigadeiro de cumbaru (DAMASCENO-JUNIOR e SOUZA, 2010). Durante a degustação, os alunos foram estimulados a sentir o cheiro e o sabor do fruto in natura e, depois, do alimento já processado. Segundo Fonseca (2007) a difusão de conhecimentos sobre biodiversidade geral e de conhecimentos relacionados a sustentabilidade precisam ser ampliadas no âmbito escolar. Desse modo, há a necessidade de se aproximar a escola dos conhecimentos científicos produzidos sobre questões ambientais regionais, assim como influir para o estabelecimento de políticas públicas, em nível escolar na região, que priorizem essas discussões (FONSECA, 2007).
Ainda, como atividade lúdica, foram desenvolvidos jogos da memória com imagens dos principais frutos nativos, conforme já descritos anteriormente. Ao final da oficina, os alunos foram convidados a brincar de fazer tatuagem com tinta extraída da polpa do jenipapo.
Práticas experimentais no Ensino de Ciências são importantes para, além de fixar o conteúdo, propiciar aos alunos a apropriação de um conhecimento mais próximo de situações cotidianas, identificadas com o contexto social e cultural do aluno (FEITOSA et al., 2011).
Pôde-se observar, em todas as oficinas, grande interesse dos alunos, e até mesmo de professores e alguns funcionários da escola, em se descobrir o universo das plantas, sua diversidade de formas, cores, cheiros e sabores. Além disso, pôde-se perceber que muitos alunos passaram a olhar as plantas não apenas como mais um ser vivo, mas sim como um ser que exerce muitas funções no ambiente, as quais se refletem também no bem-estar do homem.
Figura 4. A) Oficina “Morfologia Vegetal”, modelo anatômico do caule e disco de madeira; B) Oficina “Flor e Fruto”, visualização de estruturas em estereomicroscópio; C) Oficina “Vegetais Inferiores”, montagem do terrario; D) Oficina “Fisiologia Vegetal”, experimento da fotossíntese; E-F) Oficina “Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável” - E: apresentação de frutos nativos; F: degustação de produtos à base de frutos nativos.
Considerações finais
Ao final do projeto foi possível observar uma melhor desenvoltura dos acadêmicos durante as oficinas, principalmente os do primeiro ano de graduação, com falas mais espontâneas e maior interação com os alunos. A interação dos acadêmicos e dos mestrandos na elaboração do material didático e na execução das atividades nas escolas pode ser ressaltada como um dos pontos positivos do projeto, momento em que todos puderam trabalhar a criatividade e trocar experiências.
As oficinas realizadas nas escolas foram muito elogiadas pelos professores e diretores dos colégios, que comentaram sobre a importância de projetos que reforcem os conteúdos das aulas e que sejam atividades práticas para seus alunos.
A divulgação do conhecimento sobre os frutos nativos do Cerrado e Pantanal foi um grande atrativo do projeto para as crianças. Muitas delas se identificaram ao visualizar em aula frutos que encontram em seu quintal e conhecer um pouco mais sobre eles, principalmente como fonte nutricional.
Projetos dessa natureza estimulam os alunos de escolas públicas a conhecer mais sobre as plantas presentes em sua região, bem como conservar esses recursos que a cada dia tornam-se mais escassos.
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