O MEIO AMBIENTE E IMPACTO AMBIENTAL NA CONCEPÇÃO DE EDUCANDOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE URUGUAIANA–RS
Jeferson Rosa Soares1, Diana Paula Salomão de Freitas2
Edward Frederico Castro Pessano1, Débora Faoro1
1: Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA - Campus Uruguaiana/RS
2: Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA - Campus Bagé/RS
Correspondência: deborafaoro@gmail.com; Laboratório de Farmacognosia e Química Orgânica - Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA - Campus Uruguaiana/RS, BR 472, KM 592, 97500-970, Brasil, CX Postal 118.
Resumo
Ao realizar trabalhos em Educação Ambiental recomendam-se considerar quais são as condições de desenvolvimento da região ou do local a ser trabalhado, na perspectiva histórica que estabelece os princípios da Educação Ambiental. Quando não há o conhecimento da realidade local, e não há informações de como as pessoas percebem o meio o qual estão inseridos, suas atitudes, valores, hábitos e necessidades, a pesquisa é um meio de trazer e fornecer informações úteis e importantes. Neste momento, entra o papel da escola, onde a mesma é o lugar que acontece a formação básica de todo ser humano, sem ela fica difícil pensar nessa constatação, entender que a educação une os processos de ensinar e aprender. Neste sentido, foi realizado um estudo sobre o conhecimento de meio ambiente e problema ambiental de 120 educandos do ensino fundamental de uma escola pública rural e uma escola pública urbana do município de Uruguaiana-RS. A partir das respostas oriundas do questionário aplicado foi possível identificar uma grande divergência conceitual, o que evidencia que a maioria dos educandos não tem uma visão holística sobre os referidos temas, fato que demanda a necessidade de uma melhor abordagem destas temáticas dentro dos estabelecimentos educacionais, especialmente no ensino fundamental, onde ocorre a formação inicial dos atores sociais.
Palavras-chave: concepção; escola, educação ambiental.
INTRODUÇÃO
A atual situação do meio ambiente no mundo pode ser percebida nas catástrofes, inundações, desmoronamentos de encostas, enchentes, assoreamentos dos rios, lixões a céu aberto, poluição das águas, desmatamentos, aumento das desigualdades sociais e discrepantes impactos estruturais que, de diferentes modos condicionam o desenvolvimento social no Brasil (PORTO-GONÇALVES, 2006).
A percepção das relações intrínsecas entre o ser humano, a sociedade e a natureza não humana, a (re) avaliação de atitudes e valores pertinentes ao convívio social e a necessidade de participação ativa e democrática na busca de soluções para os problemas ambientais locais e nacionais são possíveis com a incorporação das questões ambientais no cotidiano das pessoas (DIAS, 2003; SATO, 2001).
Nesse contexto, Loureiro (2004, p.66), educador ambiental ocupado com as discussões e críticas a esse modo de subsistência, expressa-se, dizendo que:
A educação ambiental deve ser um elemento de transformação social, integrando mudanças de padrões cognitivos, inspirada no fortalecimento dos sujeitos para o exercício da cidadania e compreendendo o mundo em sua complexidade e totalidade.
Conforme discutido no estudo de Maroti et al. (2000), a investigação da concepção ambiental dos grupos socioculturais deve fazer parte de projetos de pesquisa que tratam do gerenciamento de ecossistemas e da relação homem-ambiente.
Ai entra o papel da escola, onde a mesma é o lugar onde acontece a formação básica de todo ser humano, sem ela fica difícil pensar nessa constatação, entendeu que a educação une os processos de ensinar e aprender.
A escola tem sido historicamente, um local privilegiado para as discussões das questões ambientais e para o desenvolvimento de projetos pedagógicos que busquem contribuir para que educandos e educadores atuem de modo consciente, refletindo sobre o seu papel em nossa plural sociedade (REIGOTA, 1998; MANZANO e DINIZ, 2004). Assim, nas escolas encontra-se um território fértil para que sejam promovidas práticas educativas que respondam aos atuais problemas da realidade (DÍAZ, 2002).
Por meio de ordenamentos legais nacionais e documentos orientadores, os professores das escolas planejam o currículo para a implementação de políticas educacionais, que influenciam o desenvolvimento dos educandos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trazem o tema meio ambiente como um dos temas transversais, indicando que esses devem ser trabalhados de modo sistêmico e integrados às demais disciplinas desde os primeiros anos do Ensino Fundamental da Educação Básica. Tal documento enfatiza, também, a importância dos aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos envolvidos nas questões ambientais (BRASIL, 2001ab). Da mesma forma, os PCN indicam a necessidade de proporcionar situações que favoreçam a compreensão e o desenvolvimento de atitudes e valores individuais e coletivos com respeito ao meio em que se vive. Para tanto, faz-se necessário conhecer as condições desse ambiente, incluindo os diferentes saberes presentes num contexto estudado (BRASIL, 2001b).
No entanto, em muitas escolas a Educação Ambiental ainda acontece de forma disciplinar e fragmentada, privilegiando a dimensão natural e técnica. A incipiência dessa abordagem, por vezes justificada pela falta de clareza do que seja ‘meio ambiente’, pode ser realizada no sentido que propõe Reigota (1998, p. 14) que “o primeiro passo para a realização de uma educação ambiental deve ser a identificação das representações de meio ambiente das pessoas envolvidas no processo educativo”.
Ainda, Pessano et al. (2013) ressalta a importância do estudo das concepções para entendermos um determinado significado para um indivíduo ou para um grupo de indivíduos, através da compreensão do sentimento e das atitudes de pessoas em relação àquele ao meio. Pois, segundo o autor, esses significados poderão ser resultado dos interesses humanos sobre o objeto de estudo e podem favorecer a tomada de ação em busca da reconstrução do conhecimento, favorecendo novos valores e atitudes.
Nessa perspectiva, buscou-se investigar as ideias de meio ambiente e impacto ambiental explicitada por educandos das séries finais do Ensino Fundamental de uma escola pública rural e uma escola pública urbana de Uruguaiana–RS. Com isso, pretendeu-se apresentar informações para ampliar e subsidiar as discussões sobre a temática ambiental de modo a corroborar com práticas de Educação Ambiental.
METODOLOGIA
Os dados foram obtidos durante o período de julho a dezembro de 2012, de acordo com o funcionamento das escolas, através da aplicação de um questionário de caráter voluntário e anônimo aos educandos do 6º a 9º ano.
Assim, foram avaliadas concepções de 120 educandos, que responderam a duas perguntas abertas: (a) O que você entende por meio ambiente? e; (b) O que você considera como impacto ambiental?
A partir das respostas, os conceitos e palavras-chave foram analisados conforme sua frequência de incidência. Para o agrupamento e análise das respostas foram utilizadas cinco categorias, a priori, com base nas proposições de Reigota (1995), Brügger (1999), Tamaio (2000), e Sauvé (2005) e Rodrigues e Malafaia (2009), essas categorias são consideradas pertinentes e semelhantes para descrever os significados das concepções de meio ambiente reveladas pelos educandos investigados na pesquisa.
a) meio ambiente romântico: categoria que representa a visão de “super natureza”, mãe natureza, que o entrevistado tem sobre o ambiente. Aponta a grandiosidade da natureza, sempre harmônica, enaltecida, maravilhosa, com equilíbrio e beleza estética. Nessa visão, parece que o homem não está inserido na natureza. Dentro desta concepção está embutida uma visão dualística, homem versus natureza.
b) meio ambiente utilitarista: postura, também dualística, que interpreta a natureza apenas como fornecedora de vida para o homem, que numa leitura antropocêntrica, concebe-a como fonte de recursos.
c) meio ambiente abrangente: define o meio ambiente de forma mais ampla e complexa. Abrange uma totalidade que inclui os aspectos naturais e os resultantes das atividades humanas, o resultado da interação de fatores biológicos, físicos, econômicos e culturais.
d) meio ambiente reducionista: sem enaltecer a natureza, ressalta a ideia de que o meio ambiente refere-se estritamente aos aspectos físicos naturais, como água, o solo, o ar, as rochas, a fauna e flora, excluindo o ser humano e todas as suas relações.
e) meio ambiente socioambiental: desenvolve uma abordagem histórico-cultural. Essa leitura apresenta o homem e a paisagem construída como elementos constitutivos da natureza. Postula uma compreensão de que homem apropria-se da natureza e que o resultado dessa ação foi gerada e construída no processo histórico. Nessa visão, muitas vezes o homem surge como destruidor e responsável pela degradação ambiental.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A escola urbana investigada está localizada em um bairro da periferia de Uruguaiana, ao lado de uma rodovia federal. Suas atividades são realizadas nos turnos diurno e noturno. Possui 67 professores no geral e nos anos pesquisados possui 18 professores e 13 funcionários. Possui aproximadamente, 3,533 metros quadrados de área e 4 prédios com salas de aula, laboratório de ciências, laboratório de informática, sala de vídeo, refeitório, sala de recursos e biblioteca. Do lado externo aos prédios o espaço é amplo, com quadra poliesportiva, campo de futebol, estacionamento, a área externa é fechada por cerca de arame. Estão matriculados na escola 1219 educandos no geral e nas séries pesquisadas do Ensino Fundamental: 6º, 7º, 8º e 9º ano estudam 553 educandos. Foram definidos 1 turma por ano a serem investigados, em um total de 118 educandos, desses responderam o questionário 80 educandos que tiveram seu TCLE assinado pelo responsável.
É fundamental que o espaço vivido pelos alunos continue sendo o ponto de partida dos estudos ao longo do terceiro e quarto ciclos e que este estudo permita compreender como o local, o regional e o global relacionam-se nesse espaço (BRASIL, 1998, p. 30).
A escola rural investigada está localizada na área rural de Uruguaiana, separada do restante da cidade por uma rodovia federal. Funciona nos turnos manhã e tarde, e tem 20 professores e 06 funcionários. Possui, aproximadamente, 7000 metros quadrados de área e um prédio com salas de aula, laboratório de ciências, laboratório de informática, refeitório, sala de recursos e biblioteca. Do lado externo ao prédio o espaço é amplo, com quadra poliesportiva, campo de futebol, horta, açude para criação de peixes, ranário, pomar e pracinha. A área externa é fechada por cercas de arame. Estão matriculados na escola 114 educandos entre os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental: 6º, 7º, 8º e 9º ano. Nos anos finais estudam 57 educandos. Foram definidos 40 educandos a serem investigados que tiveram o seu TCLE assinado pelo responsável.
A escolha do meio urbano e rural destaca-se por ambas as culturas serem portadoras de um saber com diferentes significados em suas realidades, contribuindo assim para diferentes níveis de conhecimento e de uma consciência crítica desses educandos, que esses saberes e leituras sobre o ambiente são diferentes nos dois meios da pesquisa e vários fatores convergem para esta diferença, tais como: o meio econômico, social, cultural, estético, estilos de vida, acesso a informação e a educação e a influência dos meios de comunicação em ambas às realidades.
Seja por meio dos professores que se apoiam também nos livros didáticos, no cotidiano escolar, seja pelos meios de comunicação ou outras fontes, o termo meio ambiente é amplamente utilizado com grande diversidade conceitual. Cada pessoa/indivíduo apresenta sua definição, influenciado pela vivência pessoal e profissional, construída nos coletivos que participa (BEZERRA e GONÇALVES, 2007).
Travassos (2004, p. 21) pontua que a falta de um trabalho coerente de EA nas escolas é decorrente da dificuldade de definição do termo meio ambiente e, consequentemente o entendimento do que seja a educação ambiental.
Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos (BRASIL, 1997).
Segundo Reigota (2009, p.36) o meio ambiente não é apenas sinônimo de meio natural, e sim:
[...] um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relação dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformações da natureza e da sociedade.
Diante dessa compreensão, acredita-se que para realizar práticas efetivas de Educação Ambiental de modo sistêmico e integrado é preciso investir em situações pedagógicas para o desenvolvimento de atitudes, habilidades e conhecimentos críticos e relacionados com a realidade socioambiental do meio em que os educandos vivem.
Portanto, para que os alunos possam compreender a complexidade e a amplitude das questões ambientais, é fundamental oferecer-lhes, além da maior diversidade possível de experiências, uma visão abrangente que englobe diversas realidades e, ao mesmo tempo, uma visão contextualizada da realidade ambiental, o que inclui, além do ambiente físico, as suas condições sociais e culturais. (BRASIL, 1997).
Dentro desse contexto, foi realizada a investigação sobre as ideias dos educandos acerca de meio ambiente, detalhadas a seguir.
A escola rural possui 57 educandos com idade entre 10 e 19 anos, nas séries estudadas, desses 40 (70%) educandos responderam ao questionário. A escola urbana possui 118 educandos na mesma faixa etária, dos quais 81 (68%) responderam ao questionário.
Gráfico 1: Concepções de meio ambiente reveladas pelos educandos de duas escolas de Uruguaiana-RS
Foi observado (gráfico 1) que 50,0% dos educandos investigados da escola rural apresentaram uma concepção enquadrada na categoria c) meio ambiente abrangente. Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de Alencar et al. (2012) em que a maioria dos educandos que apresentaram esta visão, também residia na zona rural. Esse resultado deve se dar, tendo em vista o caráter pluralista de meio ambiente dentro das relações destes educandos em uma área rural, onde variadas situações podem ser responsáveis por uma concepção abrangente, onde o ser humana se insere em diferentes contextos e se vê como parte integrante da natureza. Para a categoria b) meio ambiente utilitarista, foi encontrado o percentual de 22,5% assim, mediante as respostas descritas pelos educandos, o meio ambiente se restringe aos recursos a serem utilizados pelos seres vivos, até os seres humanos, em busca de garantir a sua sobrevivência. Neste caso, as concepções podem estar relacionadas com as vivências dos educandos em relação à exploração do meio para a produção de alimentos. Característica que é uma realidade na região onde a escola rural está inserida, onde a produção de arroz e de pastagens para o gado é fortemente explorada, e deve ter sido interiorizado pelos educandos. Contudo, para as categorias: a) meio ambiente reducionista, d) meio ambiente romântico e e) meio ambiente socioambiental, apresentam respectivamente 12,5%, 7,5% e 7,5% das respostas encontradas. Caracteriza-se assim, que uma pequena parcela dos educandos consegue perceber as relações sociais, biológicas e naturais do meio ambiente, sendo que a percepção do homem como integrante da natureza, pode favorecer a construção de conhecimentos e valores que permitam a sua exploração de modo adequado e minimizador das alterações sobre o mesmo, respeitando suas características elementares e em busca da sustentabilidade.
A tabela 1 apresenta algumas citações dos educandos da escola rural, que permitiram classificá-las nas categorias utilizadas no estudo.
Tabela 1: Exemplos de citações dos educandos da escola rural, referentes à concepção de meio ambiente
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Concepções |
Série do Educando |
Exemplos de citações |
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Meio ambiente abrangente |
6º ano |
“Local onde vivemos, é o mundo” |
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Meio ambiente utilitarista |
7º ano |
“Lugar onde plantamos” |
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Meio ambiente reducionista |
8º ano |
“Animais, florestas e plantas” |
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Meio ambiente socioambiental |
9º ano |
“É um ecossistema que a humanidade está matando pouco a pouco” |
Na análise dos questionários da escola urbana, percebeu-se a presença de uma concepção mais heterogênea de meio ambiente, sendo que 25,9% dos educandos apresentaram a concepção e) meio ambiente socioambiental. Está percepção deve estar provavelmente relacionada, pela própria característica do ambiente urbano, o qual as ações antrópicas alteram a paisagem natural, ao mesmo tempo em que inserem aspectos socioculturais na natureza, “alterando e/ou destruindo” o meio, seja pela construção civil, produção de resíduos ou pela poluição do ar pelo crescente número de veículos. Também, encontrou-se um percentual de 21,0% para a categoria c) meio ambiente abrangente, o que caracteriza que partes dos educandos também conseguem perceber as complexidades que envolvem o meio natural. Esta percepção pode estar relacionada com a vivência além da educação formal, mas como uma concepção que surge das experiências históricas e culturais que se estabeleceram no processo de formação destes educandos, seja no ambiente familiar ou na totalidade da comunidade em que vive. Ainda, para a categoria d) meio ambiente reducionista, encontramos o percentual de 22,2%, o que caracteriza um percentual mais elevado quando comparado a escola rural. Essa concepção mostra o meio ambiente como recurso natural a ser utilizado pelo homem, sendo que ele próprio não pertence ao meio e, está relacionado com a paisagem e cultura favorecida pelo ambiente urbanizado. Para a categoria b) meio ambiente utilitarista, obteve-se 19,8% das citações dos educandos. Mais uma vez relacionado com a exploração e uso inadequado dos recursos naturais pelo homem, como pode ser vivenciado na maioria das cidades e por fim, encontrado um percentual de 11,1% para a categoria a) meio ambiente romântico. Onde alguns educandos percebem o meio como algo além do ser humano, onde o meio ambiente é exclusivamente o meio natural. Algumas citações dos educandos entrevistados, da escola urbana, estão exemplificadas na tabela 2.
Tabela 2: Exemplos de citações dos educandos da escola urbana, referentes à concepção de meio ambiente
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Concepções |
Série do Educando |
Exemplos de citações |
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Meio ambiente reducionista |
6º ano |
“É a natureza, as árvores, os rios e o ar que respiramos.” |
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Meio ambiente romântico |
6º ano |
“São os pássaros cantando na manhã, os rios e as flores” |
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Meio ambiente utilitarista |
7º ano |
“É a natureza e sem ela a gente não vive.” |
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Meio ambiente abrangente |
8º ano |
“É a nossa natureza, onde nós vivemos, tudo que nos cerca, as árvores, o solo, a escola e as ruas...” |
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Meio ambiente socioambiental |
9º ano |
“É o lugar que a gente vive e está destruindo.” |
Este estudo corrobora com a maioria dos trabalhos encontrados sobre o tema, os quais descrevem que a maioria dos educandos não insere o ser humano e as modificações que ele faz no ambiente (COSTA, PAIVA e FILGUEIRA, 2006; SPAZZIANI, 2006, MOLIN; PASQUALI e VALDUGA, 2007; MALAFAIA e RODRIGUES, 2009; RODRIGUES e MALAFAIA, 2009). Essa ideia é muitas vezes compartilhada pelos professores como mostram alguns estudos, em que os autores enfatizam a necessidade de formação continuada de professores, que abarque a importância de abordar a Educação Ambiental de modo interdisciplinar para o desenvolvimento integral dos estudantes (FERNANDES, CUNHA e MARÇAL JUNIOR, 2002; MAIA e OLIVEIRA, 2003; OLIVEIRA; OBARA e RODRIGUES, 2007).
Essas análises mostram maiores especificidades quando comparadas as séries separadamente (gráfico 2).
Gráfico 2: Concepções de meio ambiente dos educandos investigados de 6º ao 9º ano
Pode-se observar que na escola rural houve uma predominância da concepção c) meio ambiente abrangente em todas as séries, o qual destaca-se não apenas os aspectos naturais, mas, também, os resultantes das atividades humanas, resultando na interação de fatores biológicos, físicos, econômicos e culturais em uma visão abrangente. Na escola urbana, a concepção de meio ambiente é variada entre os anos, com destaque ao 8º ano na qual 45,0% das citações se enquadraram na categoria e) meio ambiente socioambiental e a categoria a) meio ambiente reducionista apareceu com 38,1% das citações dos educandos do 6º ano.
Destaca-se que os resultados acima podem estar relacionados com a própria formação dos educandos ao longo do ensino fundamental, proporcionando diferentes concepções a medida que aumenta sua escolaridade. Contudo, a concepção de meio ambiente abrangente permanece predominante e como já destacado anteriormente, deve estar relacionada com as relações, vivências e experiências estabelecidas no ambiente rural.
No presente estudo, percebeu-se que a concepção de meio ambiente dos educandos investigados é variada entre as categorias, com considerável percentual de educandos com as concepções “reducionista”, “romântica” e “utilitarista” do meio ambiente, que juntas somam 57%. Essa diversidade de concepções, segundo Malafaia e Rodrigues (2009) é muito importante, pois pode apresentar um aspecto positivo no sentido de promover um debate em sala de aula, pois se constitui um grupo mais flexível em relação às suas opiniões. A problemática a cerca destas concepções, relaciona-se ao fato de os educandos não apresentarem atitudes que favoreçam a minimização dos impactos sobre o meio, bem como, pela busca de ações consideradas sustentáveis, pois, se suas concepções manifestam as categorias acima, o homem não se inclui como agente transformador.
Outra questão investigada, no presente estudo, diz respeito ao que os educandos consideram como Impacto Ambiental. Segundo a resolução 001/86 do CONAMA, em seu artigo 1º, impacto ambiental é definido como:
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante da atividade humana que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as atividades sociais e econômicas, as biotas, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade das condições ambientais (BRASIL, 1986).
Uma pequena parcela de educandos investigados, das escolas rural (25,0%) e urbana (13,1%) preferiu definir o termo impacto ambiental. Na tabela 3, estão citadas na íntegra algumas respostas dos educandos, em que se notou uma grande dificuldade de expressar um conceito para este termo.
Tabela 3: Exemplos de citações dos educandos referentes a impacto ambiental em duas escolas de Uruguaiana
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Série do Educando |
Escola do Educando |
Exemplos de citações |
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6º ano |
rural |
“Que as pessoas não se conscientizam que devem cuidar.” |
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7º ano |
rural |
“É tudo aquilo que fazemos para prejudicar o meio ambiente.” |
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7º ano |
rural |
“É um dano ambiental que prejudique a natureza e as pessoas que nele convivem.” |
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8º ano |
rural |
“É todo problema que as pessoas fazem para prejudicar o meio ambiente.” |
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8º ano |
rural |
“É todo dano que prejudique o meio ambiente.” |
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6º ano |
urbana |
“Algo que está causando problemas à natureza.” |
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6º ano |
urbana |
“É alguma coisa que a gente causa ao meio ambiente ou a natureza.” |
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7º ano |
urbana |
O meio ambiente precisa ser tratado e os seres humanos não fazem isso, e ai causam um problema ambiental.” |
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8º ano |
urbana |
“Tudo que fazemos ao nosso redor é um impacto ambiental.” |
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8º ano |
urbana |
“Problemas que o homem provoca ao meio ambiente.” |
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9º ano |
urbana |
“É aonde tem problemas com a natureza, e as pessoas devem cuidar mais do meio ambiente.” |
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9º ano |
urbana |
“Todo tipo de ação que comprometa ou interfira em um ambiente de uma maneira ruim e que não trás benefício nenhum.” |
Ainda que não se definisse o significado de problema/impacto ambiental, os educandos apontaram os principais problemas ambientais discutidos atualmente. Os educandos das duas escolas citaram o “lixo”, “desmatamento”, “poluição da água”, “ar” e “queimadas” como problemas ambientais (gráfico 3).
Gráfico 3: Principais problemas ambientais citados pelos educandos das escolas rural e urbana
Na escola rural (46,8%) na escola urbana (27,0%), o tema “lixo” foi o mais citado, pois embora o município de Uruguaiana tenha um programa de coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis, muito desse resíduo ainda é enviado para o Lixão Municipal ou uma parcela da população, principalmente na zona rural, tem o costume de queimar ou enterrar seus resíduos, pois a coleta no município não se estende a área rural.
Os educandos também produziram citações sobre as formas de poluição do ar, na forma de fumaça de carros, queima de combustíveis e fábricas, pois é evidente o crescimento do número de carros/automóveis a cada ano. Em Uruguaiana–RS, a frota de automóveis teve um crescimento de 33% de 2005 a 2012, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, s.d.). Além disso, o terminal aduaneiro de Uruguaiana, popularmente conhecido como Porto Seco Rodoviário, é, atualmente, o maior da América Latina, e apresentou um fluxo médio diário de caminhões em 2012 de 572 veículos de carga para importação ou exportação (NINO, 2012).
Além dos problemas citados nas respostas dos educandos, cabe salientar que o município apresenta outros problemas ambientais locais, tais como: construções próximas ao rio, crescimento urbano sem planejamento, pobreza, esgoto a céu aberto, etc. Esses problemas não foram apresentados por nenhum dos entrevistados.
Ao comparar as duas escolas, os resultados demonstram que cada população envolvida na pesquisa percebe alguns dos problemas de sua realidade local, e também que o contexto que esses educandos habitam influencia diretamente na sua forma de percebê-lo. O envolvimento das pessoas é a base da cidadania, assim, por meio da participação, é possível ampliar as relações de pertencimento com o meio ambiente onde se está inserido, e transformar as condições objetivas e subjetivas que produzem os problemas socioambientais vivenciados (TREVISOL; FELIPINI e BARATIERI, 2010).
Assim, sugere-se que a minimização destas diferenças apresentadas pode ocorrer a partir de uma melhor abordagem dos conteúdos curriculares e a sua contextualização com a realidade local, bem como, para o estabelecimento de uma Educação Ambiental em uma visão crítica. Para tanto, pode-se estimular a promoção de cursos de formação continuada aos educadores destes estabelecimentos educacionais, possibilitando uma ação pedagógica interdisciplinar, transversal e embasada na realidade local, usando a Educação Ambiental como uma ferramenta na construção do conhecimento.
Ainda, compreende-se por Educação Ambiental um processo que busca:
[...] formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais e impedir que se repitam [...] (SEARA FILHO, 1987, p. 43).
Nesse sentido, os resultados desse estudo podem ser levados em consideração nos processos de planejamento e construção de conhecimento no ambiente escolar, pois, emergem das experiências e da realidade desses educandos e irão contribuir para a percepção do que ainda precisa ser mais bem trabalhado na sala de aula, de modo a colaborar com o desenvolvimento da consciência dos mesmos acerca dos atuais problemas ambientais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados mostraram uma grande divergência conceitual sobre algo tão controverso e polissêmico como o conceito de meio ambiente e demonstraram que a maioria dos educandos não tem uma visão holística sobre o tema. Apesar da complexidade do meio ambiente, faz-se necessário abordá-lo em seus aspectos sociais, econômicos e políticos e a escola tem papel fundamental para auxiliar na construção dessa compreensão, que favorece que o mundo e suas transformações sejam reconhecidos como integrante do universo dos conhecimentos dos educandos.
Com a investigação realizada, entendeu-se que é fundamental propor ações educacionais que considerem a realidade dos educandos para a realização de ações que venham transformar seus hábitos e/ou comportamentos individuais e coletivas e, desse modo, melhorar o meio em que vivem. Ainda, sugere-se que os problemas ambientais locais, destacados pelos educandos envolvidos na pesquisa, poderão ser utilizados como temas geradores para direcionar as atividades em Educação Ambiental em uma visão crítica. Esses problemas podem vir a ser problematizados em suas várias dimensões: cultural, econômica, biológica, política, legal, histórica, geográfica, estética etc.
O presente trabalho procurou trazer subsídios para a ampliação da esfera da discussão ambiental, trazendo dados e reflexões acerca das diferentes concepções ambientais dos educandos do ensino fundamental de Uruguaiana–RS.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente, saúde / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: 1997, 128p.
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BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente: saúde/ Ministério da Educação. 3. ed. Brasília: MEC, 2001b.
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