Cláudia
Mariza Mattos Brandão[1]
As civilizações sempre reconheceram que a água desempenha um papel determinante como suporte da vida sobre o planeta. Na Antigüidade a consciência social da necessidade de preservação da qualidade dos mananciais e o caráter mítico da água foram fatores que favoreceram sua preservação. Inúmeros são os indícios da importância que se conferia à água, sendo que os primeiros documentos escritos, obras dos sumérios, são códigos que regulam o uso da água.
Embora a relação mística entre o homem e a água persista até hoje, ela não conseguiu evitar a poluição dos mananciais ... das águas superficiais ... e de nossos oceanos, que estão se transformando em verdadeiras “lixeiras”, num fenômeno de amplitude mundial. Tanto na proximidade da orla marítima como em alto-mar, todos os tipos de poluentes, com as mais diferentes origens, se acumulam; porém, a poluição dos mares só parece despertar o interesse da população quando tem origem nos grandes derramamentos de óleos. Geralmente, são desconsideradas as ações cotidianas que provocam o aumento constante na quantidade de detritos, algumas caracterizando nitidamente uma ligação mística entre o homem e seus deuses.
Num país como o nosso, com extensa faixa litorânea, esse é um fato de fácil comprovação, principalmente na temporada de verão. Seja por motivos religiosos ou descaso com o meio ambiente, a verdade é que em nossas praias o lixo se acumula, transformando a paisagem e mobilizando os olhares sensíveis. A percepção da narratividade implícita nesses mise-en-scène discorre sobre a necessidade de uma mudança na mentalidade contemporânea.
Muitas vezes o modo de dar forma à experiência do olhar nos revela um comportamento, que apesar de todo o conhecimento científico, parece não perceber as relações entre a água e a vida, como se fôssemos turistas na placenta do planeta azulzinho.