EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERCEPÇÃO DE PROFESSORES EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNCÍPIO DE IGUATU, CE
Anny Kariny Feitosa, Instituto Federal do Ceará, IFCE, akfeitosa@hotmail.com
Cláudia Maria da Silva, Rede Municipal de Ensino de Iguatu, CE, cms@hotmail.com
Jorge Luiz da Silva, Rede Municipal de Ensino de Iguatu, CE, jorge.ce@hotmail.com
RESUMO
O presente artigo teve como objetivo analisar a percepção dos professores de uma escola pública de ensino fundamental no município de Iguatu, CE, acerca da Educação Ambiental Para tanto, foi aplicado um questionário, contendo questões fechadas e abertas, abordando a temática. Como resultados, observa-se um perfil docente que, tendo a função de multiplicar as ideias sobre Educação Ambiental, compreende seu conceito, realiza algumas ações pontuais nos projetos desenvolvidos no espaço escolar, mas não se sente suficientemente preparado para trabalhar com a temática, recorrendo, na medida do possível, às buscas em livros e sites especializados para se qualificar. Tal feito aponta para a necessidade do investimento em capacitações e formação continuada docente, que abordem o tema Educação Ambiental.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Ensino. Docência. Escola.
INTRODUÇÃO
No Brasil, a Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), foi “um grande marco na história do País […] e por meio dela, parte dos nossos recursos ambientais passaram a ser preservados”. Foi responsável pela inclusão do componente ambiental na gestão das políticas públicas e decisiva inspiradora do Capítulo do Meio Ambiente na Constituição Federal do Brasil, de 1988. (SILVA, 2008, p.48).
No âmbito da educação, a lei 9.795, de 27 de abril de 1999, instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, e, através do art. 2º, estabelece que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (BRASIL, 1999).
Tristão (2008, p. 20) corrobora com o debate afirmando que “a relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada vez mais desafiador demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais que se complexificam em riscos ambientais que se intensificam”.
Assim, a Educação Ambiental é tida como elemento de uma cidadania compreensiva, que está intrinsecamente relacionada com uma nova configuração de afinidade com o ser humano/natureza e a sua grandeza cotidiana, levando a pensá-la como totalização de aprendizados e, logo, entendê-la na grandeza de suas potencialidades de generalizações para a sociedade em si (TRISTÃO, 2008).
Deste modo, percebe-se uma forte relação do meio ambiente e a educação, que desempenha uma ação mútua exigindo novos conhecimentos e práticas de relações sociais que perpassem as questões de empoderamentos ambientais. A Educação Ambiental está intrinsecamente relacionada às questões afetivas e à capacidade cognitiva para o entendimento do mundo através do olhar ambiental, promovendo assim mediações para os diversos entendimentos das experiências e relações sociais com o meio ambiente.
Neste contexto, o presente artigo teve como objetivo analisar a percepção dos professores de uma escola pública de ensino fundamental no município de Iguatu, CE, acerca da Educação Ambiental.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi desenvolvido em uma escola pública no município de Iguatu, Ceará, no período de Maio a Junho de 2014. O instrumento utilizado para pesquisa foi a aplicação de um questionário, contendo questões abertas e fechadas, para o alcance do objetivo proposto e visando à reflexão sobre o tema.
Optou-se por restringir o local de estudo a apenas uma escola para que se possa conhecer a realidade pontual deste espaço sobre a temática em discussão. A este respeito, Bardin (2009) afirma que “nem todo o material de análise é suscetível de dar lugar a uma amostragem, e, nesse caso, mais vale abstermo-nos e reduzir o próprio universo (e, portanto, o alcance da análise) se este for demasiado importante” (BARDIN, 2009, p.123). A análise dos dados coletados foi realizada a partir da análise de conteúdo do discurso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A escola em estudo possui um corpo docente de 18 professores, sendo 15 possuidores de licenciatura e 3 com terceiro pedagógico. Dentre os detentores de nível superior, 60% são formados em Pedagogia, 10% em Letras, 10% em Matemática, 10% em Biologia e 10% em Geografia e História. Salienta-se que dos entrevistados, 80% exercem a profissão de docência há mais de 20 anos.
Quando questionados sobre o que entendem por Educação Ambiental”, destacaram-se as afirmativas:
“[...] disciplina que trata dos conceitos fundamentais de mudanças do clima, buscando maneiras de orientar as pessoas maneiras de convívio com o ambiente que habitamos” (Professor A).
“[...] a educação voltada à compreensão do meio ambiente e tudo relacionado a ele, bem como sua preservação” (Professor B).
“[...] o comportamento ético que devemos ter diante dos fatores naturais, bem como, entender a importância desses fatores para a nossa sobrevivência” (Professora C).
“[...] são ações que cuida do meio ambiente, preservando a natureza, com atitudes de consciência da necessidade de preservar” (Professor D).
“[…] um processo dinâmico em permanente construção que deve propiciar a reflexão, o debate e a autotransformação das pessoas (Professor E).”
Os professores participantes, a partir da exposição do seu conceito sobre Educação Ambiental, deixaram claro compreender o verdadeiro sentido da temática, o que pode ser considerado ponto de partida e ferramenta fundamental para a efetivação do processo da Educação Ambiental dentro da escola pesquisada. Neste sentido, Carvalho (2008, p. 41) afirma que a Educação Ambiental “vem sendo valorizada como uma ação educativa que deveria estar presente, de forma transversal e interdisciplinar, articulando o conjunto de saberes, formação de atitudes e sensibilidades ambientais”. Ou seja, o autor nos chama atenção para a importância que a Educação Ambiental exerce no sentido de nos possibilitar a formação de cidadãos com atitudes e sensibilidades ambientais. Assim, é necessário que o docente esteja empoderado deste conceito para permear sua prática.
Na questão seguinte os professores foram abordados sobre o fato de já terem trabalhado na escola algum projeto sobre o tema Educação Ambiental e este tema é componente curricular. As principais respostas foram:
“[...] Sim. A escola em si não tem a disciplina, mas a escola sempre trabalha a questão da poluição e preservação do Açude Trussu, o destino do lixo da comunidade, a preservação das matas ciliares, etc. Campanhas nas salas, visita no rio, aulas em data show, dramatização e confecções de cartaz, durante todo o ano” (Professor A).
“[...] Sim. Recentemente trabalhamos na escola o projeto 'Dengue' que de certa forma está ligado ao meio ambiente já que precisamos cuidar do nosso entorno para evitar que o mosquito nasça. É a saúde pública ligada aos cuidados com o meio ambiente. Como eu falei a dengue é um problema de saúde pública, mas requer cuidados especiais com o ambiente em que vivemos. Mas não aborda o meio ambiente em sua plenitude. Informar sobre os cuidados para evitar a dengue; informar sobre os procedimentos após o aparecimento dos sintomas” (Professor B).
“[...] Sim. Toda escola trabalha esse tema desde as aulas de ciências até os projetos como meio ambiente, Dengue, e outros. Se o assunto for relacionado a observar a natureza, a detectar sua importância para todo ser vivo e os impactos que a globalização vem prejudicando a natureza. Observar o espaço ambiental em que vive; Identificar os tipos de poluição do meio ambiente; Sensibilizar a comunidade sobre os impactos ambientais (desmatamentos, queimadas, poluição)” (Professor D).
Pode-se perceber que, apesar da Educação Ambiental não ser uma disciplina do componente curricular, todos os entrevistados afirmaram trabalhar com alguns projetos que têm aproximações com a temática ambiental. Além disso, demonstraram compreender que as características dos projetos permitiriam designá-los como sendo de Educação Ambiental, principalmente em trabalhar numa perspectiva de ações pontuais locais, sejam em sala de aula, bem como na comunidade local, possibilitando aos educandos e à comunidade escolar serem conscientes das problemáticas que giram em torno da questão ambiental, como também oportunizando o mundo da diversidade escolar como um espaço propício a aprendizagem de forma crítica.
A partir dessa análise, Campos (2006, p. 15) corrobora com este resultado, afirmando que “a inserção da educação em uma dimensão ambiental, junto a educadores e educandos, tendo a escola/universidade como lócus da formação do indivíduo, auxiliará na construção de um conhecimento crítico”.
No âmbito da pesquisa, foi perguntado ainda se os professores acreditavam estar preparados para trabalhar com o tema Educação Ambiental. Destacaram-se as respostas:
“[…] Penso que sim, mas ainda preciso de suportes para desenvolver melhor as aulas” (Professora A).
“[...] Não completamente. Essa temática é ampla e requer muito estudo e dedicação, visto que essa não é a minha área de atuação” (Professora B).
“[...] Não. Pois, sempre precisamos estudar e aprender mais” (Professora C).
“[...] Não. Porém, todo ser humano, independente do trabalho tem obrigação de defender a preservação da natureza, porque preservar a natureza é cuidar da própria vida” (Professora D).
“[...] Sim. Enquanto objeto do conhecimento é resultado de transformações socioambientais que colocaram a questão ambiental para ser pensada pela sociedade no sentido das exigências colocadas por uma crise ambiental que apresenta na forma de ruptura e articulação científica – conceituais, simbólicas – ideológica” (Professora E).
Mediante as colocações feitas pelos professores participantes, cerca de 90% demonstram não se sentir preparados para trabalhar com a temática Educação Ambiental. Essa constatação nos faz concordar com Campos (2006, p. 44) que afirma: “Faz-se necessário repensar a formação inicial e continuada dos professores, analisando as práticas pedagógicas destes docentes, auxiliando no processo de superação diante das condições apresentadas”.
Sobre as fontes de pesquisa para buscar informações e estudar sobre o tema em questão, bem como preparar material para a prática docente, as respostas foram:
“[...] Através da internet e livros na biblioteca da escola” (Professora A).
“[...] Quando preciso trabalhar subtemas ligados à Educação Ambiental busco ler livros diversos, vejo sites, documentários e outros” (Professora B).
“[...] Leituras diversificadas em diferentes livros” (Professora C).
“[...] Pesquisa em livros, redes sociais, entrevistas com pessoas da área ambiental e também através de visitas a locais que serão abordados” (Professora D).
“[...] livros Ecologia “Uma proposta para o ensino 1º e 2º grau, leituras da Politica Nacional do Meio Ambiente e também através do Plano Decimal de Educação para todos”( Professora E).
Diante dos discursos apresentados, verifica-se que todos estão preocupados em estudar sobre a temática e procuram diversas fontes de estudos, a fim de se aprofundarem no tema, com predominância no uso de livros (55%), buscas na internet (23%), entrevista a profissionais (11%) e visita técnica (11%). Tal resultado apresenta uma salutar diversificação nas fontes, o que conforme Tristão (2008, p. 20) nos apresenta, a Educação Ambiental com “propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento e desenvolvimento de competências”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa pesquisa, encontramos um perfil docente, para o estudo de caso realizado, que, tendo a função de multiplicar as ideias sobre Educação Ambiental, compreende seu conceito, realiza algumas ações pontuais nos projetos desenvolvidos no espaço escolar, mas não se sente suficientemente preparado para trabalhar com a temática, recorrendo, na medida do possível, às buscas em livros e sites especializados para se qualificar. Tal feito aponta para a necessidade do investimento em capacitações e formação continuada docente, que abordem o tema Educação Ambiental.
Espera-se que este estudo possa permitir novas indagações e novas visões que aprofundem o pensar e o agir relacionado às questões ambientais, auxiliando a trilhar caminhos, direcionando para a consolidação da Educação Ambiental crítica nos ambientes múltiplos de formação.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
_______. Política
Nacional de Educação Ambiental. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999.
Disponível em:
_________. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
________. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. Brasília: A Secretaria, 2001.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.
CAMPOS, R. A. A Educação Ambiental e a Formação do Educador Crítico: estudo de caso em uma escola da Rede Pública. Dissertação de mestrado em Educação. PUC – Campina, 2006, 110 p.
CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4. ed. – São Paulo: Cortez, 2008.
SILVA, Aguinaldo Salomão. Educação Ambiental: Aspectos Teóricos-Conceituais, Legais E Metodológicos: Revista em destaque. Juiz de Fora, v. 1, n. 2, p. 45-61, 2. sem. 2008.
TRISTÃO, M. A educação ambiental na formação de professores: redes de saberes. 2ª edição. São Paulo: Annablume; Vitória: Facitec, 2008.
VEIGA, J. E. Meio ambiente & desenvolvimento. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006. – (Série Meio Ambiente; José de Ávila Aguiar Coimbra).