A ESCOLA NO CONTEXTO AMBIENTAL: ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E PRÁTICAS AMBIENTAIS DE PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FEIRA DE SANTANA-BA, ACERCA DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DAS LAGOAS URBANAS.
Thaise do Nascimento Santos
Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente – UEFS
Avenida
Transnordestina, s/n, Novo Horizonte, Feira de Santana-Bahia, 44036-900
Tel. (75) 31618325/31618371/82648645, e-mail: santostn2@gmail.com
Taise Bomfim de Jesus
Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação
em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente - UEFS
Avenida
Transnordestina, s/n, Novo Horizonte, Feira de Santana-Bahia, 44036-900
Tel. (75) 31618325/31618371/82648645, e-mail: taisebj@hotmail.com
Resumo: O objetivo desta pesquisa foi investigar as percepções e práticas ambientais de professores de uma escola localizada as margens da Lagoa do Subaé. Os professores demonstraram ter consciência da importância da inserção do tema degradação ambiental das lagoas da cidade, no conteúdo da escola, mais isso não se refletiu em práticas pedagógicas ambientais.
Palavras Chaves: Nascente, Educação Ambiental, Escola
Abstract: Environmental education is an emerging importance of themes in contemporary society due to the development of man and population growth that intensifies the exploitation of nature and its serious consequences side effects to the environment. The environmental problems of the nascent Pond Subaé illustrates these consequences of the economic and urban development in the city of Feira de Santana, Bahia. The objective of this research was to investigate the perceptions and environmental practices of teachers of a school on the shores of Subaé Pond, seeking to know the importance attributed the problems in the school environment and characterize the environmental education activities at school. To this end, we interviewed three professors. The results showed that teachers are aware of the gravity of the problems surrounding the school, the more this is not reflected in environmental teaching practices in order to build meaningful learning students in the neighborhood before these issues..
Key-words: Source, Environmental Education, School
1. Introdução
Não é de agora que adquirimos a consciência de que o desenvolvimento humano e o crescimento populacional acarretam graves efeitos colaterais provocados ao meio ambiente. Historicamente suas ambições econômicas tem sido traduzidas em ações transformadoras da natureza através do consumo de seus recursos naturais sem levar em conta a impossibilidade de renovação dos mesmos e as severas consequências que seu esgotamento pode vir a causar mais cedo ou mais tarde a seus semelhantes, sem contar os inúmeros danos já causados nos demais seres vivos. Essa realidade demanda mudanças urgentes entre o relacionamento das sociedades com o meio natural para prevenção de um futuro digno aos descendentes, evitando um colapso ambiental.
Tal problemática contemporânea é facilmente ilustrada no município de Feira de Santana, BA, no Bairro Parque Lagoa do Subaé. Neste bairro brota a nascente do Rio Subaé, apontado como o principal curso d’água da sua Bacia Hidrográfica. A sua nascente conhecida como ‘Lagoa do Subaé’, encontra-se drasticamente degradada em virtude das diversas interferências humanas datadas de vários anos não só na nascente, mas em toda bacia do rio.
A Lagoa do Subaé possui em seu entorno - inclusive em áreas que originalmente eram alagadas - algumas construções industriais e centenas de residências inicialmente ocupadas por pessoas de menor poder aquisitivo. Essa ocupação do espaço adjacente a lagoa, contribuiu para o assoreamento da mesma, devido o lançamento indiscriminado de efluentes domésticos e industriais nesses corpos d’agua em função da falta de esgotamento sanitário adequado na localidade (CRA, 2000; SANTOS, 2009). Atualmente, avalia-se que a Lagoa do Subaé encontra-se avançado estado de degradação ambiental. Essa realidade se torna cada vez mais preocupante, principalmente no tocante aos recursos hídricos, dada a necessidade constante da água para o consumo próprio, bem como para o desenvolvimento do setor produtivo.
Concomitante a isso, ultimamente tem-se percebido um avanço nas discussões em meio acadêmico e também por parte da população em geral sobre a importância dos recursos hídricos, entretanto, ainda há escassez de estudos que analisem percepções sobre as nascentes dos rios, um dos sistemas naturais que tem sofrido intensamente com a ocupação humana destacadamente devido ao crescimento da ocupação urbana (RODRIGUES et al, 2010). Nessa perspectiva, no contexto escolar Carvalho (2001), salienta a importância de conhecer o que pensam os professores sobre Meio Ambiente (MA) e Educação Ambiental (EA), pois isso tem sido apontado pela literatura como uma estratégia fundamental para se direcionarem ações e propostas a programas de EA. Visto que um trabalho de EA será mais rico se tiver como base um levantamento das formas e percepção do ambiente. Sendo assim, faz-se necessário conhecer a visão que o outro tem tanto do seu lugar como do espaço antes de se realizar qualquer trabalho que aborde a EA.
Moreira e Colaboradores (2009) reconhecem que a modificação de postura a adesão de novos valores pela sociedade frente ao ambiente e em especial ao uso racional da água, ocorrerão pela via da EA. E a escola desempenha importante papel na construção destas mudanças, pois os professores, na condição de mediadores de conhecimento, acarretam grande responsabilidade na formação de cidadãos mais conscientes e além de tudo, críticos perante os problemas presentes em sua própria realidade. Além do mais, o trabalho educativo com problemas ambientais locais carrega um valor altamente positivo, pois foge da tendência desmobilizadora da percepção dos problemas globais, distantes da realidade local, e parte do princípio de que é indispensável que o cidadão participe da organização e gestão do seu ambiente de vida cotidiano, pois acima de tudo, a escola deve formar o aluno para o exercício da cidadania.
Portanto, as atividades de EA no ambiente escolar e fora dele, emergem como possibilidades de inserção dos seres humanos na busca do fortalecimento da relação entre meio ambiente e educação para a cidadania, numa perspectiva emancipatória. Assim, como propõe Magnani (2002) as ações de EA que se pretendam eficazes devem estar pautadas na autonomia, liberdade e, principalmente, no entendimento do espaço por meio da percepção do lugar levando-se em consideração os atores sociais e sua intimidade com esse espaço. Mediante esse cenário, o presente estudo teve como objetivou diagnosticar as percepções ambientais de professores de uma escola pública do Bairro Parque Lagoa do Subaé, em Feira de Santana – BA, sobre à problemática da nascente localizada neste bairro e analisar se essa realidade é abordada através da escola e como isso reflete na educação transmitida para os alunos.
2. Metodologia
Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa. Este tipo de pesquisa, segundo Andre (1995), tem como foco a investigação para compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos as suas ações, inseridos dentro de um contexto particular.
A proposta inicial quanto aos participantes, seria escolher professores de uma escola pública do Bairro Parque Lagoa do Subaé que abrangesse as séries finais do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio, entretanto, na ausência desse tipo de unidade escolar nas proximidades, foi necessário escolher uma escola dentre as poucas unidades existentes na região que oferecem apenas a educação primária no bairro, então, mediante as circunstâncias, optou-se pela unidade escolar mais próxima a nascente: a Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro (Figura 1). Por esse motivo, os participantes escolhidos são professores das séries iniciais do Ensino Fundamental que lecionam na escola supracitada. Esta escola foi fundada há 23 anos e é uma unidade de pequeno porte onde trabalham quatro professores que lecionam em quatro turmas diferentes, nas quais são distribuídos os 72 alunos matriculados. A diretora intermediou o contato inicial com os participantes da pesquisa, indicando três dos professores para participarem, sendo eles os professores do 3º, 4º e 5º ano.
Entrevistas foram utilizadas para obtenção dos dados da pesquisa. As entrevistas são instrumentos que tem sido empregados em pesquisas qualitativas como uma solução para o estudo de significados subjetivos, através do qual é possível serem investigados fatos, opiniões sobre fatos, sentimentos, planos de ação, condutas atuais ou do passado, motivos conscientes para opiniões e sentimentos (LAKATOS e MARCONI, 1993). Optou-se por entrevista do tipo semiestruturada, pois esta articula a modalidade mais ou menos dirigida e pressupõe perguntas previamente formuladas. Então, mesmo com o roteiro prévio da entrevista, houve o incentivo a abordagem livre dos informantes. Além disso, uma ficha de identificação foi entregue aos professores no início da entrevista, contendo questionamentos referentes ao tempo de serviço do professor, a formação de cada um e outras questões para obter uma breve caracterização do participante.
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Figura 1: Localização da Lagoa do Subaé a aproximadamente 100m da Escola Municipal Prof. Luciano Ribeiro, Bairro Lagoa do Subaé, Feira de Santana, Bahia - Brasil. Fonte: Grupo Geoquímica Ambiental- UEFS
Para poder realizar as análises optou-se por separar os dados de acordo com os objetivos estabelecidos para cada grupo de questões do roteiro na tentativa de fazer análise horizontal dos dados, pois Michelat (1987) ressalta a importância de se alternar as leituras verticais dos dados, ou seja, aquelas que guardam a lógica particular de cada uma. A metodologia de análise também foi norteada pela pesquisa de Manzano (2003), a qual trabalhou com blocos de análises, através dos quais foi possível explorar os dados em suas particularidades e ao mesmo tempo vincula-los a partir dos objetivos comuns das questões, estabelecendo categorias e entrando em contato com os dados na intenção de buscar as respostas das questões colocadas no início do trabalho. Após a realização das entrevistas, a fala de cada professor foi transcrita fielmente. O passo seguinte foi organizar um documento contendo as transcrições para posteriormente utiliza-lo para análise junto com os questionários dos alunos. Depois de agregar dados de interesse comum na discussão, categorizando -os, os resultados foram apresentados através de eixos de análises.
3. Resultado e Discussão
Ø 1º Eixo - Perfil do Professor
A partir de fichas que os professores preencheram antes de serem iniciadas as entrevistas, foi possível fazer uma breve caracterização dos educadores da escola que participaram da pesquisa. Esse material nos trouxe informações que diz respeito a idade, a formação, ao tempo de serviço na área e na escola em questão (Quadro 1). Para facilitar a apresentação e discussão dos dados, os professores foram referidos como P1, P2 e P3.
Quadro 1- Frequência absoluta do perfil dos professores da E. Municipal Prof.º Luciano Ribeiro.
Perfil |
Professor (n) |
Sexo Feminino Masculino |
2 1 |
Idade 25 a 30 anos |
3 |
Morador da localidade Sim Não |
2 1 |
Formação Licenciatura em Geografia Licenciatura em Biologia Licenciatura em Letras |
1 1 1 |
Pós-graduação Especialização concluída Especialização em curso Sem pós-graduação |
1 1 1 |
Anos de atuação em educação 1- 5 6 -10 >10 |
1 1 1 |
Anos de atuação na Escola 1-5 6-10 |
1 2
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Sobre esse perfil apresentado, poder-se destacar que os professores são jovens, mas a maioria já possui uma relevante experiência na área da educação. Apesar disso, é sabido que ambos ainda têm muito a desenvolver em suas carreiras profissionais. Outro destaque diz respeito a formação dos professores, eles são formados em licenciaturas diferentes, mas exercem a mesma função de professor da Educação Primária. Esse fato revela uma situação comum no sistema educacional brasileiro, onde profissionais atuam em funções não específicas da sua formação. Além disso, só um dos professores possui um curso de pós-graduação concluído. Isso demonstra que supostamente os demais participantes não priorizaram a formação continuada em suas carreiras profissionais ou mesmo, que existiram empecilhos que dificultaram o exercício de novas qualificações por estes professores. Quanto a essas questões Chimentão (2009) ressalva a importância da formação continuada alertando que a mesma é considerada como um processo permanente de aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade profissional, realizado após a formação inicial, com o objetivo de assegurar um ensino de melhor qualidade aos educandos.
Um ultimo aspecto que se achou interessante analisar nesse eixo, foi o tempo de serviço que os professores atuam Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro. Isso influencia no nível de familiaridade que os educadores têm com o espaço escolar e seu entorno, principalmente porque dois deles afirmaram morar nas redondezas. Devido à familiaridade com o espaço, estima-se que o envolvimento com as questões ambientais do bairro possuam mais significado e relevância para os membros da escola.
Ø 2º Eixo - Percepção dos professores sobre a situação ambiental nas proximidades da escola
Neste segundo segmento de análise serão apresentados os resultados referentes à percepção dos professores sobres os problemas ambientais nas proximidades da Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro. As primeiras questões da entrevista objetivaram diagnosticar a visão destes educadores sobre o ambiente que cerca o seu local de trabalho, explorando seus conhecimentos sobre a localidade e sobre aspectos da Lagoa do Subaé (Quadro 3).
Quadro 3- Dados referentes à percepção ambiental dos professores sobre os problemas ambientais do Bairro Parque Lagoa do Subaé.
Professor |
Problemas ambientais na região |
Causas da Poluição da L. do Subaé |
Importância da Lagoa do Subaé |
P1 |
Existem vários problemas ambientais, lixo, a falta de uma mata ciliar ao redor da lagoa, descarte de esgoto doméstico.
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Bom, o problema maior é como eu falei, o esgoto doméstico que é descartado por aí e a invasão , o pessoal vai invadindo, vai aterrando, então, são os maiores problemas atualmente que eu identifico. |
[...] é importante por que a população, ela poderia utilizar dessa água pro seu próprio uso doméstico, né? E hoje em dia com a escassez de água é importante a gente poder preservar tudo pelo ambiente. |
P2 |
Sim, principalmente a rede de esgoto que vai direto para a lagoa. Desmatamento, queimadas, as vezes tocam fogo aqui na região vizinha a lagoa. |
Principalmente pela jogada de lixo. A retirada de solo do leito, o povo dá banho em animais, as redes fluviais que vão carregando lixo ao longo de todo o bairro, vai carregando o lixo e depositando na lagoa. |
É muito importante a lagoa por conta de que ela, tanto é importante a longo prazo pra o meio ambiente, quanto a curto prazo pras pessoas que poderiam sobreviver dela a partir da pesca , a partir de outras atividades na beira da lagoa.
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P3 |
Sim, as lagoas que são além de poluídas, estão também secando. E o lixo, não só em torno da lagoa, mas também por todo o bairro, lixo e esgoto. |
Por conta do crescente número de pessoas que vieram pro bairro nos últimos anos, tentando aterrar, né? O entorno da lagoa. [...]O desmatamento também e essas próprias casas por não ter sistema de esgoto, jogam o esgoto das próprias casas no entorno da lagoa.
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Eu conheço de maneira geral, que é umas das, se não em engano, uma das duas ou três lagoas mais importantes de Feira. As lagoas de Feira eram elas eram importantes até pro clima da cidade.
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As declarações dos professores descritas acima, demonstram que eles conhecem os principais problemas da Lagoa do Subaé e os agentes que contribuíram para a degradação, mesmo que superficialmente em algumas falas. As causas apontadas por eles são corroboradas pelas declarações de Vilas Boas (2006), que aponta as possíveis causas do assoreamento da Lagoa do Subaé, atribuindo-as principalmente ao intenso processo de urbanização e industrialização que o município foi submetido em poucos anos. Segundo o autor, esses processos tiveram como consequência o uso e ocupação indevidos do solo às margens da lagoa; o desmatamento das reservas florestais ao longo do seu curso; a utilização do mesmo como receptor de dejetos, sejam eles de natureza industrial ou residencial; dentre outras ações que contribuíram para o aumento da poluição ambiental e o assoreamento das lagoas.
De fato, historicamente o aumento das taxas de crescimento populacional na área urbana da Feira de Santana ocasionada pela implantação do CIS, não foi contido pelo poder público e teve como consequência a instalação das comunidades nas nascentes do Rio Subaé, o que acabou por fomentar ainda mais a degradação dessas áreas. Em visitas de campo realizadas na nascente, foi comprovada a extração de mata ciliar, de areia no entorno da lagoa, de despejos, entulhos e a ocupação urbana da Área de Proteção Permanente (APP).
As declarações de alguns dos participantes que comentaram sobre as suas lembranças de uma lagoa grande e limpa, onde a população usufruía dela em seu benefício através da pesca, do uso doméstico da água e com o lazer, são memórias de tempos remotos, quando a urbanização na região da lagoa ainda era recente e os efeitos das interferências não eram tão desastrosos. Ao longo dos anos, o crescente número de irregularidades na região e a ausência de um posicionamento efetivo do poder público, resultaram no intenso assoreamento da nascente, a qual se encontra atualmente em elevado nível de degradação, apresentando um espelho d’água muito reduzido e dominado por macrófitas e lixo, contribuindo também na alteração da qualidade de vida da população que outrora se beneficiava com suas águas (Figura 2).
Figura 2: Lagoa do Subaé em período de estiagem, Maio/2014. Fonte: Grupo Geoquímica Ambiental- UEFS
Outro aspecto interessante a se destacar sobre as declarações dos entrevistados relacionadas à poluição da lagoa, é o fato do professor licenciado em Letras, ter sido o participante que mais demonstrou conhecimentos específicos sobre legislação ambiental de proteção a nascente e aos recursos hídricos. Os demais, licenciados em Biologia e Geografia, demonstraram saber informações mais superficiais ou insuficientes sobre as questões legislativas. Isso é de certa forma contraditório, pois é de se esperar que nos cursos de Ciências Naturais exista maior chance de se aprofundar os estudos sobre aspectos relativos ao meio ambiente, inclusive sobre os recursos hídricos, tema tão importante para o cotidiano das pessoas e os demais seres vivos. Com isso pode-se induzir que os professores não estão familiarizados com esses aspectos que deveriam estar presentes na formação do educador ambiental, bem como nas licenciaturas em geral, pois estes são aspectos necessários de serem abordados já que Meio Ambiente é um tema transversal. Nesse contexto, é necessário enfatizar a importância de uma graduação não só bem contextualizada, mas com um teor prático mais presente, proporcionando ao estudante uma convivência com seu futuro ambiente onde este possa ir construindo seu perfil e conhecendo todas as limitações que possam vir a ser encontradas.
Quanto a legislação relacionada às nascentes e aos outros recursos hídricos, estas são trâmites necessários para legalizar ações interferentes nesses ambientes. Calheiros e colaboradores (2006) explicitam os principais aspectos legais da legalização/regularização de interferências relacionadas aos corpos hídricos. Portanto, estipula-se que toda intervenção em nascente, bem como nas demais APPs deve ser precedida de consulta e respectiva autorização por parte dos órgãos competentes de controle, orientação e fiscalização das atividades de uso e exploração dos recursos naturais. Como era previsível, essa legislação é contraditória a realidade das lagoas de Feira de Santana. Observando-se a situação atual da Lagoa do Subaé, pode-se notar a quantidade de irregularidades e de leis de crimes ambientais violadas no local, culminado em danos irreversíveis a nascente a aos corpos d’água adjacentes.
Ø 3º EIXO - Abordagens e práticas na escola sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental local
Nesse segmento de análise, serão apresentadas as abordagens e práticas dos professores da Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro com o tema Meio Ambiente e EA no que diz respeito a Lagoa do Subaé (Quadro 3).
Quadro 3 - Dados referentes a abordagem dos professos com o tema Meio Ambiente na Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro
Professor |
Abordagem sobe a Lagoa do Subaé |
Interdisciplinaridade da temática |
Atividades extracurriculares |
P1 |
Bom, essa questão da Lagoa do Subaé ela é abordado aqui durante o ano todo, só que não faz nenhum projeto específico. A gente ta sempre trabalhando incluindo aqui nos temas da gente. |
Na verdade é possível e é feito, né? A gente aqui discute sempre na questão de Ciências, História, Matemática e Português. E Geografia, é na verdade todas as matérias. |
Esse ano a gente não trabalhou. Ano passado a gente teve um projeto de plantio de árvores. [...] Mas não adianta chegar lá, plantar árvores e não ter a sensibilização, as próprias pessoas vão lá e retiram a árvore. |
P2 |
Sempre a gente procura esta adequando o conteúdo a lagoa, sempre estou. Eu não tenho um conteúdo específico ‘Lagoa do Subaé’, mas sempre quando a gente fala de água, de clima e de vegetação, eu to falando da Lagoa do Subaé e também da poluição, né? |
Olha, eu trabalho com todas as disciplinas e principalmente Geografia e Ciências é que a gente mais aborda esse assunto, mas sempre que possível, as vezes em Português com textos, a gente trabalha em cima disso. |
Na maioria das vezes não, muito pouco. |
P3 |
A gente aborda de maneira interdisciplinar quando trata dos problemas ambientais, dos problemas do lixo, de questões como a dengue, aí sempre aborda. |
Assim, Geografia que ta totalmente relacionada, História, né? Porque a gente percebe como foi esse processo de descuido com essa questão ambiental no bairro. |
Eu mesma já fiz um projeto, mas não foi esse ano, que foi de conscientização das condições ambientais do bairro deles. |
Os dados apresentados dão subsídio para entender como os temas relativos a Lagoa do Subaé são trabalhados na Escola Municipal Prof. Luciano Ribeiro, e por consequência, também a EA. A lagoa, como mencionado anteriormente, é uma importante nascente da Bacia Hidrográfica do Rio Subaé e a escola alvo desta pesquisa está localizada praticamente as suas margens. Quando os professores declaram que costumam trabalhar sobre a Lagoa do Subaé correlacionando a outros conteúdos nas aulas, eles estão seguindo um modelo de ensino contextualizado.
Para Pinheiro (2012) a contextualização é entendida como uma forma de aproximar os processos de ensino-aprendizagem da realidade dos alunos e é necessária na abordagem dos conteúdos e na organização das atividades a desenvolver na sala de aula. Essa conduta contribui para que os alunos relacionem os conteúdos educativos com os seus saberes e vivências, facilitando a interligação entre a teoria e a prática e permitindo que os alunos percebam sentido e utilidade ao que aprendem.
Em estudo feito em diferentes escolas por Tristão (2004), observou-se que os professores abordam a EA em suas disciplinas, trabalhando o tema isoladamente. O mesmo acontece com os professores entrevistados nesta pesquisa quando se trata de temas que podem ser abordados através da EA, como a Lagoa do Subaé. Esses temas são abordados segundo as demandas que surgem durantes as aulas, mas nunca em um momento específico pra o trabalho com atividades ambientais. Essa é uma realidade comum em muitas práticas educativas quando diz respeito a EA. Benetti (1998) já destacava a aula expositiva como a estratégia mais frequente de abordagem dos temas relacionados ao Meio Ambiente. Entretanto, essa realidade pode ser reflexo das dificuldades que os professores enfrentam ao trabalhar idealmente com esse tema.
No caso dos entrevistados nesta pesquisa, várias dessas dificuldades são presentes em seu cotidiano escolar, inclusive a carência de diálogo entre os próprios professores e a escola para a promoção de trabalhos práticos extraclasse de forma contextualizada com realidade dos alunos. Pois, em suas declarações as perguntas da pesquisa, afirmaram que a escola por si só não tem nenhum tipo de projeto que trabalhe com temas ambientais, e que quando eles trabalham, é na sala de aula de forma independente, mediante a sua própria iniciativa. Tristão (2004) reconhece tais dificuldades na prática docente, mas afirma que mesmo que faltem mobilizações de outros professores envolvidos nos projetos ou que falte tempo para um planejamento conjunto entre áreas e material para trabalho, suas práticas devem-se revelar em táticas para atender às demandas emergentes nas redes de saberes do cotidiano.
Os professores entrevistados também afirmaram que geralmente trabalham com as questões ambientais do bairro durantes as aulas apenas quando se é possível fazer uma correlação entre o conteúdo estudado. As atividades extracurriculares são comuns apenas quando a escola é envolvida em projetos maiores, geralmente através de campanhas municipais. Então, uma problemática tão próxima a realidade das crianças, que poderia ser bastante explorada, fica a mercê das adaptações dos conteúdos curriculares ou de projetos esporádicos que por ventura trabalhe com a problemática específica do bairro.
Nesse sentido, Reigota (2012) discute sobre essas questões, pois para o autor, as práticas pedagógicas de EA precisam estimular o contado e as relações com a comunidade. As saídas de aula ou mesmo da escola devem, sempre que possível, ser realizadas, mas não necessariamente só em visitas as áreas preservadas.
Nas imediações da escola pode-se estudar atividades de indústrias vizinhas e umas fontes de poluidores ou ainda atividades agrícolas, o comércio e o movimento do transito, além das poluições sonora, visual, da água e do ar, o crescimento da população, a rede de saneamento básico, entre tantos outros temas. O importante é incluir nas atividades de educação ambiental uma temática próxima ou distante, mas relacionada com o cotidiano das pessoas daquele lugar (REIGOTA, 2012, p.48).
Dessa forma, podemos visualizar que a EA como uma importante meio para a promoção da consciência crítica dos educandos. Vale ressaltar o papel fundamental do professor na posição de mediador deste processo, pois mesmo perante as inúmeras dificuldades, é necessário que estes profissionais tentem explorar sua autonomia no sentido de promover o desenvolvimento de uma prática transformadora para os fins da EA significativa.
Ø 4ª EIXO – Meio Ambiente e escola
O quarto eixo tratará sobre às questões relacionadas ao papel da escola na discussão sobre Meio Ambiente. Serão apresentados os resultados referentes ao pensamento dos professores sobre a EA e a importância que atribuem a essa temática na escola, além de analisar as perspectivas da escola sobre o tema (Quadro 4).
Quadro 4- Dados referentes sobre a implantação da EA através da problemática da Lagoa do Subaé na Escola Municipal Prof. Luciene Ribeiro.
Professor |
Implantação da temática Lagoa do Subaé no currículo |
Projetos e incentivo da escola |
P1 |
É de grande importância, é fundamental isso. Eu sempre trabalho aqui durante o ano com os alunos, e se outras escolas, outras turmas seguirem é interessante também. |
Acredito que a iniciativa é de cada um, não existe nenhum plano voltado para isso, nenhum planejamento. |
P2 |
Considero, para que os alunos tenham maior consciência e passe para suas famílias, né? |
Sim, geralmente, todo ano a gente trabalha alguma atividade relacionada a comunidade. Esse ano mesmo, não foi relacionado ao Meio Ambiente, mas a gente trabalhou, foi sobre paz. |
P3 |
[...] é importante tanto pra eles perceberem não só uma coisa muito ampla e distante, parecendo distante deles, mas também pra os alunos se tornarem conscientes e até passarem a se relacionar de maneira mais consciente no meio em que eles estão. |
Acho que a iniciativa é mais do próprio professor da escola. [....] Esse ano especificamente não teve, esse ano a gente trabalhou outro tema voltado ao bairro . |
Analisando as declarações dos professores sobre as perguntas desse eixo, observou-se que na Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro a EA fundamentada em temas locais não vem sendo muito discutido no trabalho pedagógico com os alunos, mesmo estes estando inseridos em uma realidade tão delicada quando a do bairro deles, com a degradação da Lagoa do Subaé. Por outro lado também se pôde observar que eles consideram de grande importância à implantação de uma temática específica sobre questões ambientais na escola, pois tem consciência do impacto positivo e de longo prazo que esse tipo de educação exerce na vida dos alunos, não só pelo aprendizado significativo, mas principalmente pela consciência crítica sobre os problemas ambientais a nível local e global. Entretanto, Tristão (2004) afirma que devido a atual estrutura dos currículos, organizado por disciplinas, os educadores não sabem muito bem onde encaixar a EA, por isso, esses temas são geralmente inseridos por meio de projetos e/ou atividades extracurriculares.
Segura (2001) em sua pesquisa analisou projetos de EA em escolas da rede pública e verificou que nestes predominavam temas como saúde, água e lixo, não apresentando em sua maioria vínculos com as questões ambientais locais, restringindo-se aos conteúdos do currículo tradicional. Estes resultados listados pelo autor aponta direção semelhante aos resultados da pesquisa com os professores da Escola Municipal Prof.º Luciano Ribeiro, uma vez que a maioria dos projetos citados pelos professores não se tratavam de problemáticas ambientais, mas sim de questões relacionadas a saúde e violência, que como disse o autor anteriormente, são questões típicas do currículo tradicional, deixando de lado as problemáticas ambientais locais.
Diante dessa realidade, Medina (2002), discute sobre os passos necessários para viabilizar o desenvolvimento da inserção da dimensão ambiental no currículo escolar, começando com a análise da instituição escolar e com o conhecimento das relações interescolares e dos diversos agentes sociais envolvidos no processo de inovação curricular. A autora também alerta que deve-se levar em consideração que a escola é inserida em um dado sistema educativo que por sua vez relaciona-se com um ambiente sociocultural, histórico e econômico, com características complexas e inter-relações dinâmicas. Entretanto, as escolas podem e devem ter autonomia suficiente pra criar seus próprios projetos, inclusive, de repensar as práticas mais viáveis e eficazes na comunidade, para que o trabalho não seja em vão com já aconteceu com outros projetos superficialmente fundamentados.
Silva e colaboradores (2011), corrobora essa ideia quando afirma que através do sistema de ensino descentralizado das secretarias gestoras, as escolas podem desenvolver projetos que integrem alunos, bem como toda a comunidade em práticas que possibilitem a reflexão sobre a realidade do meio em que vivem. Neste sentido, o processo educacional auxiliará na formação de novos atores sociais, capazes de conduzir a transição para um futuro democrático e sustentável. Pois, como um dos professores mesmo declarou, “também é dever da escola mostrar um resultado à comunidade em que está inserida, fazendo trabalhos relacionados à comunidade ”(P2).
Por isso, o conteúdo mais indicado é aquele originado do levantamento da problemática ambiental vivida cotidianamente pelos alunos e pelas alunas e que se queira resolver. Assim a Educação Ambiental é construída, fundamentada em problemáticas presentes na realidade dos educandos.
4. Considerações finais
Através deste trabalho foi possível observar que os professores reconhecem a magnitude da problemática que circunda a escola em que trabalham, entretanto, às causas que levaram a situação atual de degradação ambiental no bairro, ainda lhes é parcialmente desconhecidas. Sobre suas práticas pedagógicas que envolvem o meio ambiente e a EA com temas locais, estas são realizadas geralmente em sala de aula, através da inserção de temas ambientais na educação formal, porém nem todos os professores desta pesquisa incluem os assuntos relativos especificamente à Lagoa do Subaé em meio a esses conteúdos ou ainda, os professores que fazem essa inclusão abordam superficialmente sem problematizá-la, possivelmente por não existir nenhum planejamento ou projeto na escola que se dedique a trabalhar com essa questão. Tal realidade demonstra a necessidade da inclusão de projetos dessa natureza na escola, de modo a potencializar os trabalhos com atividades ambientais nas práticas pedagógicas dos professores.
Então, ciente de que a EA é considerada por muitos estudiosos com uma ferramenta promissora na mudança de mentalidades e de atitudes na relação homem-ambiente e que a mesma se faz com e para a comunidade, procurou-se contribuir com esta através da realização desta pesquisa no sentido de trabalhar com a percepção de membros da escola, pois a escola desempenha importante papel na construção destas mudanças e os professores na condição de mediadores de conhecimento, acarretam grande responsabilidade na formação de cidadãos mais conscientes e além de tudo, críticos perante os problemas presente em sua própria realidade.
5. Referências
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BENETI, B. A temática ambiental e a perspectiva do professor de ciências. 1998. 168f. Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira)- Faculdade em Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília.
CALHEIROS, R. R. O. et al. Preservação e recuperação das nascentes de água e de vida / Caderno de Mata Ciliar - 2.ed. - São Paulo : SMA, 2006. Disponível em: http://sigam.ambiente.sp.gov.br/Sigam2/repositorio/259/documentos/cadNascentes.pdf Acesso em>. 05 mar. 2013.
CARVALHO, I. A Invenção ecológica. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2001.
CRA-Centro de Recursos Ambientais. Caracterização ambiental da nascente do Rio Subaé. Feira de Santana, 2000.
CHIMENTÃO, L. K. O Significado Da Formação Continuada Docente. In: Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar, 4. 2009. Universidade Estadual e Londrina.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 6ª ed. 3. reimpr. São Paulo: Atlas, 2006.
MAGNANI, J. G. C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Nº 17 Vol. 49, 2002.
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