ANTROPOCENO E A ESCALA DA INTERFERÊNCIA HUMANA DE PIERRE DANSEREAU:
ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Clara Cardoso de Oliveira,
Gisele Inacio da Silva,
Ivandro Martins,
Alunos da Pós-Graduação em
Educação Ambiental para Sustentabilidade
do Centro Universitário Senac, São Paulo-SP
Valdir Lamim-Guedes
Docente da Pós-Graduação em
Educação Ambiental para Sustentabilidade
do Centro Universitário Senac, São Paulo-SP
Resumo: Perceber o papel da humanidade no funcionamento e degradação do planeta é uma ação importante e que favorece a tomada de consciência crítica e mudanças de comportamento e uma maior participação na vida democrática. Neste texto apresentamos três propostas de atividades que envolvem o debate sobre o Antropoceno e a Escala de Interferência Humana de Pierre Dansereau. A primeira proposta é uma oficina que pode ser realizada durante uma ou algumas aulas no ensino formal. As outras duas atividades, a partir da apresentação de conceitos, seguida por debates, os alunos desenvolverão desenhos ou tirar fotos de forma que os produtos finais podem ser uma exposição fotográfica ou um vídeo a ser publicado on-line. Objetiva-se com este texto apresentar conceitos e propor formas de problematizá-los em ações de educação ambiental, sendo que as propostas não são apresentadas como fechadas, mas como ideias iniciais para que os educadores se inspirarem e modificarem conforme a sua realidade.
Palavras-chave: Antropoceno; Degradação Ambiental; Pierre Dansereau, Ecologia Humana.
A necessidade de definir uma nova “época” devido aos impactos das ações humanas sobre a paisagem terrestre foi apontada pela primeira vez durante o encontro do Programa Internacional de Geofera e Biosfera (IGBP, na sigla em inglês), no México, em 2000, que teve como objetivo discutir os problemas do Holoceno, a época em que nos encontramos há cerca de 11700 anos, desde o fim da última era glacial e que faz parte do Quaternário, que por sua vez é um período da era Cenozoica do éon Fanerozóico, divididos nas épocas Pleistocena e Holocena. Neste evento, o químico atmosférico Paul J. Crutzen, prêmio Nobel de química em 1995, sugeriu o termo Antropoceno – termo cunhado pelo biólogo e ecologista Eugene Stoermer (1934-2012) em 1980 - para indicar a época atual, distinta do Holoceno, caracterizada pela interferência humana no planeta que tomou vultos de força geológica (KLEBIS, 2014; veja COSTA, 2016, e a figura 1para ter uma explicação didática sobre a divisão da história do planeta, veja CRUTZEN; STOERMER, 2000, para uma explicação geral sobre a proposta de se criar uma nova época).
Figura 1: divisão da história do planeta. Fonte: Costa (2016).
“A expansão da humanidade, tanto em números quanto em exploração per capita dos recursos da Terra, tem sido impressionante” (CRUTZEN; STOERMER, 2000). Neste sentido, a proposta desta nova época se baseia nas observações sobre as mudanças causadas pelo homem sobre o ambiente obtidas a partir de diversas evidências geológicas e biológicas que retratam o grande impacto humano na história recente do planeta. Mudanças reais na biota (a chamada crise de perda de biodiversidade), na sedimentação e na geoquímica do planeta tem sido extensamente documentadas por cientistas. Desde o início da Revolução Industrial, existem marcas suficientes para deixar uma assinatura estratigráfica nas camadas de rochas e sedimentos, muito distintas do Holoceno. Contudo, para que haja a separação das duas épocas, outro aspecto importante seria determinar o limite inicial do novo período, para alguns pesquisadores uma hipótese são os testes atômicos dos anos 60, que disseminaram isótopos radioativos globalmente ou o aumento das emissões de gases causados de efeitos estufa a partir do século XVIII. Mas, para que de fato o Antropoceno possa ser cunhado como uma nova época, vai depender da utilidade do termo, em particular para os geólogos (PARDINI, 2008).
No 35º. Congresso Geológico Internacional, realizado na Cidade do Cabo (África do Sul) em setembro de 2016, foi apresentado o relatório do Grupo de Trabalho do Antropoceno. Esta comissão reconheceu a validade de formalizar a fase geológica, mas a discussão sobre o ponto de início ainda se desenvolverá ao longo dos próximos três anos. 28 dos 30 membros da comissão acenaram que o registro de plutônio, devido a testes nucleares em diversas partes do mundo nos anos 1950, deva ser o ponto de início (LOPES, 2006).
Mesmo que o termo Antropoceno ainda não tenha sido oficialmente reconhecido, podemosnotar como as ações antrópicas causaram/causam mudanças no planeta. Um exemplo é a estimativa de que existam hoje aproximadamente 8,7 milhões de espécies de seres vivos no planeta. Desse total, apenas 1,2 milhão já foi catalogado, sendo que muitas dessas espécies serão extintas antes mesmo de serem conhecidas. Afirmamos isto porque as estimativas mais otimistas trabalham com uma taxa de extinção de aproximadamente mil espécies por ano, isto é, aproximadamente três espécies desaparecem por dia da face da Terra (FIGUEIRÓ, 2015).Esse alto índice de extinção tende a aumentar cada vez mais a medida que o avanço da fronteira agrícola e, consequentemente, o desmatamento vão produzindo a fragmentação e perda de habitats cada vez maiores, assim como a sobre-exploração e as diversas formas de poluição.
O pesquisador e educador canadense Pierre Dansereau (1911-2011) deu uma grande contribuição para distintas áreas do conhecimento, como biogeografia, ecologia humana e ética. Uma de suas contribuições mais conhecidas é a análise da integração ecológica dos humanos, baseada sobretudo na alteração de equilíbrios naturais através da formação de ambientes inteiramente novos e da manipulação de genótipos que gera alterações nos processos evolutivos das espécies, incluindo dos próprios homens. A partir desta perspectiva Dansereau propôs a Escala de Interferência Humana(Figuras 2 e 3).
Dansereau (1999), ao tratar do papel antrópico no planeta, utiliza o termo “intervenção”, ao invés de influência ou impacto, pois esta posição resulta do entendimento introduzido por ecologistas de que o “homem ‘destrói’ o equilíbrio da natureza” (p. 189) e completa seu raciocino afirmando que “ora, considerando-se o homem na natureza e o homem enquantoelemento da natureza, vê-se que não a destrói diversamente das formigas ou dos castores” (p. 189), no entanto, “encontramos meios cada vez mais poderosos para subjuga-lo e mesmo para destruí-lo” (p. 190).
A Escala da Interferência Humana, segundo Dansereau (1999, p. 190), foi constituída “estabelecendo uma escala do impacto do homem, aplicando-lhe as leis ecológicas tiradas do estudo dos animais e das plantas e enumerando os processos da ação do homem sobre o ‘seu’ planeta”.A escala representa um continuum que envolve o aumento da interferência humana no planeta, como também uma maior complexidade da relação dos homens com o seu ambiente e a dependência, cada vez maior, de recursos de locais distantes, reforçando a influência planetária das sociedades em rede. Os grupos humanos não necessariamente seguem todos os passos de forma gradativa, podendo alguns estarem ausentes, por exemplo, uma sociedade pode passar do pastoreio diretamente para a indústria, sem desenvolver a agricultura.
Os nove passos existentes na figura 2 são reunidos em 5 fases. Estes passos são detalhados por Dansereau em termos de organização social do homem, economia, ação sobre a paisagem, vestuário e abrigo no quadro 1.
Fase primitiva: submissão, que envolve os passos (a) Terras virgens (ausência humana), (b) coleta e (c) caça e pesca, está relacionada à dependência do homem dos produtos que encontra naturalmente, sem alterar o ambiente para aumentar a produção, estando portanto, submisso à natureza. As fases seguintes indicam a interferência do homem no planeta de forma mais clara.
Fase nômade e pastoral: domesticação, composta pelo passo (d) pastoreio, indica o passo em que o homem passa a controlar grupos animais, com isto, tem mais recursos alimentares e um maior controle sobre a natureza, reduzindo, portanto, a submissão às condições naturais.
Fase de colonização: cultura, relacionada ao passo (e) agricultura, deve-se a uma maior compreensão do ambiente e com isto o plantio, colheitas e a fixação das populações humanas por mais tempo (sedentarismo).
Fase industrial e urbana: substituição, composta pelos passos (f) indústria e (g) urbanização, retrata uma acentuada alteração ambiental pelo homem, tanto na obtenção de matérias-primas e sua alteração, como na formação de cidades.
Fase climática e cósmica: fuga espacial, (h) controle climático e (i) fuga exobiológica. O passo de controle climático está relacionado às alterações realizadas ou propostas para o controle do clima, como a translocação de recursos hídricos e ações de geoengenharia, no caso das mudanças climáticas. Em relação à fuga exobiológica, Dansereau comenta em cima dos avanços da corrida espacial na década de 1970, já que o texto original deste período.
Figura 2: Escala de interferência humana na paisagem. A. Terras virgens; B. Coleta; C. Caça e pesca; D. Pastoreio; E. Agricultura; F. Indústria; G. Urbanização; H. Controle Climático; I. Fuga Exobiológica. Fonte: Dansereau (1999, p. 192).
Quadro 1: As etapas do domínio do homem sobre o seu ambiente e caracterização provisória de seu impacto. Fonte: Dansereau (1999, p. 193).
Para Dansereau (1999, p. 166), “alguns dos processos humanos podem ser rastreados em toda a extensão desta escala, permitindo a constatação de que, através deles, modalidades cada vez mais complexas de sustento em ambientes específicos podem ser viabilizadas, a exemplo da construção de moradias e da coleta de alimentos”. Além disto, os distintos níveis desta escala podem ser percebidos no planeta, conforme Ribeiro (2013, p. 33):
Um retrato tirado instantaneamente no planeta hoje nos revelaria a existência de seres humanos nessas diversas etapas de relação com o ambiente: desde os astronautas e cosmonautas que já saíram da biosfera e entraram na cosmosfera até os bilhões de indivíduos urbanos e que participam da Era Industrial, passando por agricultores, pastores e populações indígenas isoladas na Amazônia que se encontram na etapa da coleta e da caça.
Dansereau (1999) está focado na análise ecológica humana, sem focar na degradação do meio como usado no discurso ambientalista. Esta observação é importante por dois motivos, primeiro, o autor não ignorou tal visão, apenas não foi o foco do seu ensaio; segundo, apesar de não fazer tal relação de forma extensa no texto, nós podemos utilizar a sua escala como explicação para a atual crise ambiental/civilizatória. Lembrando que nos anos 1970, quando o texto foi originalmente publicado, a Educação Ambiental ainda era algo embrionário, pois importantes marcos, como a Conferência de Tbilisi (1977) ainda não tinham acontecido. Apesar disto, no contexto do nosso texto, a relação entre o Antropoceno e a escala proposta por Dansereau é direta. No entanto, estes motivos não impedem o uso educativo do texto e da escala proposta por Dansereau, assim, o aumento da interferência humana no planeta acentua a degradação planetária, sendo que a compreensão destes processos é um fato que favorece a interpretação crítica da realidade e a educação ambiental.
Os seres humanos dominam hoje os sistemas naturais e têm apropriado dos recursos vitais dos ecossistemas do planeta, sendo responsável pela transformação do solo, utilização da água, fixação do nitrogênio, extinções e etc., deixando para o resto das espécies uma plataforma de recursos cada vez mais estreita, portanto hoje o homem é responsável pelo futuro do planeta, e de tudo o que nele habita, se sentindo assim o centro, o personagem principal, o que também consolida a chegada do Antropoceno, e nos torna responsáveis por cuidar do planeta, e é neste cuidado que a educação ambiental se torna fundamental (VILCHES; PRAIA; GIL- PÉREZ, 2008).
Segundo Latour (2014), o Antropoceno é um termo híbrido que mistura geologia, filosofia, teologia e ciência social e serve como um alento para se despertar para a necessidade de tomar atitudes reais em prol das questões socioambientais. Nesta perspectiva, podemos reconhecer que “a atual crise ecológica, com o esgotamento dos recursos naturais, o aquecimento global, a insegurança alimentar, a injustiça ambiental, as estratégias de desinformação científica, entre outros fatores, são crises da cultura” (ISSBERNER, 2016). Esta crise de cultura podemos entender como sinônimo ou, pelos menos, algo relacionado à crise civilizatória, tratada por autores como Porto-Gonçalves (2013), no sentido de que a superação dos problemas socioambientais acarretados pela crise ambiental exigirá mudanças profundas na atual concepção de mundo, de natureza, de poder e de bem-estar, tendo por base novos valores individuais e sociais.
Através da educação ambiental, podemos compreender o papel de cada um nas mudanças que ocorrem no planeta, entendendo o Antropoceno como resultado de ações coletivas e individuais ao longo dos anos e adotando a escala de Dansereau como forma de análise. A apropriação deste entendimento contribui para a busca por formas de minimizar os efeitos das ações humanas, pensando em soluções sustentáveis (não apenas tecnologias, mas comportamentais e políticas) que possam ser adotadas no nosso cotidiano. Contudo, a percepção de que cada pessoa tem uma parcela de culpa na existência da crise ambiental/civilizatória e tem papéis a serem cumpridos visando, pelo menos, minimizar os seus impactos, não pode cair em um discurso vago “cada um tem que fazer a sua parte”, como se todas estas partes fossem iguais. O cálculo da pegada ecológica, por exemplo, permite-nos perceber que há uma grande diferença entre a degradação causada por ricos e pobres (LAMIM-GUEDES, 2011). Assim, temas como justiça socioambiental, igualdade, distribuição de renda, são temas ainda atuais, mesmo no contexto do Antropoceno, que diz respeito ao planeta como um todo.
A partir deste contexto apresentado acima, propomos 3 atividades de educação ambiental que são interdisciplinares, reúnem reflexões sociais, culturais e éticas com conceitos históricos e ambientais, e que estimulam a transversalidade, alcançando um grande potencial de mudanças de comportamento, na responsabilidade socioambiental e na ética ambiental, o que favorece outro olhar, resultando em ações positivas. Os Objetivos destas atividades são: a) Compreender o papel de cada uma nas mudanças que ocorrem no planeta que levaram ao Antropoceno; b) Entender o Antropoceno como causa de ações coletivas e individuais, e através da educação ambiental refletir sobre ações cotidianas buscando encontrar uma solução sustentável, ou que diminua o impacto de nossas ações.
É importante obter a autorização dos responsáveis pelas crianças do uso de imagem e som, devido à exposição de trabalhos ou por causa da veiculação na internet de algum produto final. Apesar de propormos uma ação sem fins lucrativos, este tipo de documento ainda é necessário.
Esta proposta trata-se de uma atividade que poderá ocupar uma ou algumas aulas ou, então, encontros, se for uma ação não-formal. O início desta atividade está focado em uma abordagem ecológica da evolução do homem e se baseia na teoria dos nove passos na relação da espécie humana com o ambiente de Pierre Dansereau. Depois de abordar esta teoria, será feita uma reflexão junto aos alunos para que esses compreendam o quanto o homem modificou o planeta ao longo dos anos. A seguir, será inserido o tema Antropoceno, explicando pontos importantes como: o que é? O que o caracteriza? Qual é o nosso papel neste cenário? Para depois, levantar o debate entre os alunos sobre a concordância ou não com a nessa nova época, preparando dessa forma os alunos para uma reflexão mais profunda na qual, estes irão se incluir na temática do Antropoceno. Nesta altura desta atividade, além dos aspectos das ciências ambientais, também pode-se explicar sobre a divisão da história do planeta em períodos, como Éons e Eras (Figura 1; COSTA, 2016).
Utilizando como base a escala criada por Dansereau, os alunos deverão analisar cada um dos passos, identificando a inserção do modo de vida deles em um ou mais. Cada aluno deverá produzir um texto dando exemplos de ações pessoais que se encaixam em um ou mais passos, apontando o que a ação pode influenciar nas mudanças do planeta e encontrar uma solução sustentável, ou que minimize o impacto de sua ação. A seguir, divididos em grupos, os alunos compartilharão seus textos e o grupo terá que encontrar mais soluções e/ou encontrar outros aspectos que devem ser levados em conta na análise dos passos, adicionando ao texto do colega. Os autores dos textos deverão reformulá-los de forma a inserir as sugestões dos colegas. Por fim, os textos devem ficar expostos para que todos possam ler e aprender com as ações dos colegas, dessa forma, todos irão se incluir no problema, repensando as atitudes do seu cotidiano.
É interessante ressaltar que esta atividade, assim como as outras duas propostas aqui, possibilita momentos para acentuada contextualização das informações. A contextualização pode ser resumida como “fazer relação com a vida do aluno”, mas não é apenas isto, conforme Kato e Kawasaki (2011). Estes autores dividiram a análise de concepções de contextualização em documentos oficiais em 5 categorias: cotidiano do auno; disciplina(s) escolar(es); ciência; ensino; e contexto histórico, social e cultural. Desta forma, temos um cenário mais amplo de possibilidade de contextualizar as informações trabalhadas em ações educativas.
Está atividade é uma proposta para grupo pequenos, até 10 crianças, com idade entre 7 e 12 anos a ser realizada em Instituição de ensino formal ou não-formal. Fases: a) apresentação introdutória da questão socioambiental, através do conceito de Antropoceno e o contato com a escala da interferência humana de Pierre Dansereau (Figura 2); b) debates; c) oficina fotográfica e d) exposição.
Fase A. Apresentação do conceito da nova época geológica (Antropoceno); bem como a jornada humana, desde a pré-história até a atualidade através da exposição lúdica (jogos e brincadeiras que remetam ao conteúdo), acompanhada por debates iniciais acerca do tema (fase b).A fase B é um momento para realizar atividades que permitem uma maior contextualização dos assuntos tratados, seja pela abordagem fazendo relação com o cotidiano dos alunos, seja por criar interligações com outros conteúdos de várias disciplinas.
A fase c é destinada à obtenção de imagens por parte dos alunos. Os alunos receberão recortes do diagrama de Dansereau. A partir da imagem de referência, cada aluno, portando máquina fotográfica ou celular com câmera embutida, deverá obter, pelo menos, uma imagem que considera relacionada ao passo que recebeu. A obtenção das imagens pelos alunos poderá ser uma atividade de estudo do meio ou como “dever de casa”.
As imagens obtidas irão compor uma atividade coletiva final, que sugerimos a montagem de uma exposição fotográfica acerca do tema “Antropoceno”, cujo objetivo será divulgar esta temática, assim como, divulgar a percepção dos alunos, registrada a partir das imagens obtidas por estes. Desta forma, espera-se educar o olhar e a sensibilidade para as questões relacionadas a visão do aluno tem da natureza,do meio ambiente e do futuro da existência humana no planeta.
Muito da ação humana decorre de como se percebe e compreende o mundo, das cosmovisões, do autointeresse e de motivações mentais e emocionais. Dansereau (1999) também tratou das paisagens interiores. Elas constituem o espírito de cada indivíduo de modo pessoal, em função de sua história, formações e interesses. Espera-se que esta atividade possa contribuir com a Educação Ambiental no sentido de revelar como uma mesma paisagem é percebida de modo distinto por uma criança em função da história pessoal, da cultura, de sua história familiar, psicológica e social e de que se devem levar em consideração as diferenças na percepção sensorial de um para outro indivíduo. Através da linguagem artística, pode-se afinar e educar este olhar para a natureza e conservação do meio ambiente.
Esta ação educativa ambiental, baseada no esquema desenvolvido por Pierre Dansereau sobre a escala de interferência humana na paisagem, será desenvolvida com crianças na faixa etária de 07 a 10 anos e tem como objetivo levar a criança a refletir sobre as questões ambientais no contexto do Antropoceno, tendo como referência as eras anteriores, compreendendo as principais causas que transformaram o planeta em que vivem. Esta ação poderá ser desenvolvida em ambientes escolares, parques ou museus. Sugerimos que a ação seja realizada com um grupo de 5 crianças. A composição dos grupos deve favorecer a diversidade, seja étnica, gênero, renda e/ou local de moradia.
Escolha, montagem do ambiente e execução da ação
Serão montados 2 ambientes em um parque, jardim ou alguma outra área, de preferência a céu aberto.
1º ambiente – Espaço para elucidação educativa do tema.
Neste ambiente, será montado uma roda com almofadas e pufes para que as crianças se sintam à vontade e assim estimuladas a debaterem sobre o tema. Na ausência de um espaço neste formato, a organização das carteiras da sala de aula em forma de U favorece a interação entre os participantes. Neste ambiente, um educador mediará uma conversa sobre o tema da crise ambiental/civilizatória, apresentando o conceito de Antropoceno. A temática da interferência humana no planeta será, portanto, o assunto transversal a toda esta ação. Apesar de inspirada no esquema de Pierre Dansereau sobre a interferência humana na paisagem, a figura em si ainda não será apresentada neste momento aos alunos. Esta ação deve ser conduzida de forma lúdica e educativa com duração de cerca de 30 minutos.
2º ambiente – Ateliê de artes.
Um grande ateliê de artes a céu aberto deverá ser montado para esta parte da atividade. Nele, estarão à disposição das crianças, gizes de cera, tintas, cartolinas e colas. Haverá, neste mesmo ambiente, um painel (tamanho A3 ou maior) com a imagem do esquema de Dansereau. Durante a orientação desta parte da atividade, o educador deverá explicar a relação entre a fase anterior com a figura.
Serãoentregues às crianças, em tiras de papel, reproduções de partes (passos) da escala de interferência humana na paisagem de Pierre Dansereau.As crianças usarão livremente os materiais disponíveis no ateliê para colorir estas tiras de papel com as figuras representando cada uma das eras.Num segundo momento, as crianças deverão, cada uma, colar estas tiras numa cartolina. Seguindo a ordem correta do esquema de Dansereau, conforme o painel disponibilizado.Em seguida, cada criança, separadamente, ficará diante do grande painel e serão realizadas duas perguntas a elas.
1ª pergunta: O que você vê neste painel?
2ª pergunta: Como você acredita que será a vida no planeta Terra daqui a alguns anos?
Vídeo
A nossa sugestão é de que seja produzido um produto final: um vídeo com duração de cerca 10 minutos, o qual será disponibilizado em ambiente virtual com o objetivo de alcançar um público mais amplo, indo além das pessoas envolvidas diretamente na ação. Para que isto se concretize, todo o processo de execução da ação deverá ser gravado. As câmeras de celular é uma alternativa, caso não estejam disponíveis câmeras filmadoras ou fotográficas, com modo vídeo. Neste vídeo, será mostrado:1) Trechos da elucidação do tema do educador com as crianças, dando ênfase às intervenções das crianças sobre o tema;2) Processo de execução da arte das crianças no ateliê, mostrado todas as etapas: O contato com as tiras de cada era, o colorir das tiras e as colagens das tiras na cartolina;3) As reações das crianças diante do painel e trechos impactantes das respostas dadas de cada criança sobre as questões levantadas.
O vídeo poderá ser publicado em ferramentas on-line como Youtube(https://www.youtube.com/) ou Vimeo (https://vimeo.com/) e divulgado em redes sociais, alcançando assim um maior número de pessoas, de todas as idades e classes sociais, levando o tema a ser discutido dentro de casa e nas instituições de ensino. A divulgação também pode contar com pequenos cartazes (flyers), contendo o título da ação, link para o vídeo on-line ou um QR-Code.
Esta ação educativa possibilitará um maior entendimento do tema Antropoceno, através de debates em diversos ambientes, criando novas formas de pensar e agir diante dos desafios desta nova era geológica, preparando assim as novas e futuras gerações para o desenvolvimento de soluções que diminuam os impactos das interferências humanas no meio ambiente.
O entendimento de que estamos em uma nova época, o Antropoceno, é uma situação dúbia. Inicialmente, é alarmante perceber o status de força geológica que a humanidade tomou, passando a influenciar e degradar o planeta cada vez mais; por outro lado, também possibilita uma nova postura ética, pois percebe-se que não existe uma dissociação entre homem-natureza (LATOUR, 2014), sendo portanto uma situação que exige mobilização para que ações para reverter este quadro sejam postas em prática.
Neste texto apresentamos uma discussão envolvendo o Antropoceno e a escala de interferência humana de Pierre Dansereau. A partir desta perspectiva, propomos três atividades de educação ambiental. Estas propostas não são apresentadas como fechadas, mas como ideias iniciais para os educadores se inspirarem e modificar conforme a sua realidade.
COSTA, Antonio Luiz M. Nós, humanos, criamos uma nova época geológica. Carta Capital. Edição 917. 2016. Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/revista/917/antropoceno-nos-humanos-criamos-uma-nova-epoca-geologica>. Acesso em: 24 nov. 2016.
CRUTZEN, Paul J.; STOERMER, Eugene F. O Antropoceno. Piseagrama. 2000. Disponível em <http://piseagrama.org/o-antropoceno/>. Acesso em: 24 nov. 2016.
DANSEREAU, Pierre. Na rota da ecologia humana. VIEIRA, Paulo Freire; RIBEIRO, Maurício Marques. Ecologia Humana, Ética e Educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Porto Alegre: Pallotti; Florianópolis: APED, 1999, pp. 121-293.
FIGUEIRÓ, Adriano S. Biogeografia: dinâmicas e transformações da natureza. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.
ISSBERNER, Liz-Rejane. [Comentário pessoal]. Facebook. 21 novembro 2016.Disponível em: <https://www.facebook.com/lizrejane.issberner/posts/1027799597345657>. Acesso em: 24 nov. 2016.
KATO, Danilo Seithi; KAWASAKI, Clarice Sumi. As concepções de contextualização do ensino em documentos curriculares oficiais e de professores de ciências. Ciência & Educação, v. 17, n. 1, p. 35-50, 2011.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132011000100003>. Acesso em: 04 abr. 2016
KLEBIS, Daniela. Antropoceno, Capitaloceno, Cthulhuceno: o que caracteriza uma nova época? ClimaCom, Campinas, 28 out. 2014. Disponível em: <http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/?p=918>. Acesso em: 04 abr. 2016
LAMIM-GUEDES, Valdir. Pegada ecológica: consumo de recursos naturais e meio ambiente. Educação Ambiental em Ação, v. 38, 2011. Disponível em <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1168&class=41>. Acesso em: 24 nov. 2016.
LATOUR, Bruno. Para distinguir amigos e inimigos no tempo do Antropoceno, Revista de Antropologia, São Paulo, 2014. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/87702/90680>. Acesso em: 24 nov. 2016.
LOPES, Reinaldo José. Cientistas querem criar oficialmente a era geológica do homem. Folha de São Paulo, 09/09/2016. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/09/1811580-cientistas-querem-criar-oficialmente-a-era-geologica-do-homem.shtml>. Acesso em: 24 nov. 2016.
PARDINI, Flavia. O Mundo Conosco. Pagina 22, 1 abr. 2008. Disponível em: <http://www.pagina22.com.br/2008/04/01/o-mundo-conosco/>. Acesso em: 24 nov. 2016.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
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