A INDISSOCIABILIDADE ENTRE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO: EFICAZ FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR

 

Viviane de Souza Reis 1. profavivianereis@gmail.com

Luciana Teles Moura. lucianatmoura@gmail.com

 

1 Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional, pela Faculdade Vale do Cricaré – FVC, Professora das Faculdades Integradas de Aracruz – FAACZ e Técnica Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Aracruz/ ES

2 Doutorado em Psicologia, pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES e Orientadora do Núcleo Avançado de Comunicação da Universidade Vila Velha/ ES.

 

1 RESUMO

Este artigo fundamentou-se nos pressupostos da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como uma eficaz ferramenta para a educação ambiental. Buscou-se assim, trazer à tona uma discussão acerca da importância da integralidade dessa tríade, no contexto do ensino superior, com vistas a despertar a criticidade dos alunos, levando-os ao desenvolvimento da cultura da sustentabilidade. Para tanto, buscou-se demonstrar a necessidade de uma aproximação interdisciplinar, envolvendo a educação ambiental aos pressupostos da pesquisa e da extensão desenvolvidas pelas instituições de Ensino Superior. O referencial teórico deste estudo tem como base autores que discutem ambas as temáticas: Ensino, Pesquisa e Extensão e Educação Ambiental e Sustentabilidade, com aplicação dos conceitos e seu uso, bem como  a aquisição de informações no que se refere à realidade da sociedade e às probabilidades de discutir transformação, envolvendo toda comunidade universitária, contribuindo assim, para a implantação da bioconsciência, por meio de um envolvimento educativo, cujo alvo metodológico é criar, reconstruir, agregar, conciliar as intenções e valores das ações cotidianas em relação à educação ambiental.

Palavras-chave: Ensino; Pesquisa; Extensão; Educação Ambiental.

 

 

2 ABSTRACT

 This article was based on the assumptions of the indissociability between teaching, research and extension as an effective tool for environmental education. We sought to bring up a discussion about the importance of the integrality of this triad in the context of higher education, in order to awaken students' criticality, leading them to the development of a culture of sustainability. In order to do so, we sought to demonstrate the need for an interdisciplinary approach, involving environmental education to the research and extension assumptions developed by higher education institutions. The theoretical framework of this study is based on authors who discuss both themes: Teaching, Research and Extension and Environmental Education and Sustainability, with application of the concepts and their use, as well as the acquisition of information regarding the reality of society and the The possibility of discussing transformation, involving every university community, thus contributing to the implantation of bioconsciousness, through an educational involvement, whose methodological aim is to create, reconstruct, aggregate, reconcile the intentions and values ​​of daily actions in relation to environmental education.

 

Palavras-chave: Teaching; Search; Extension; Environmental education.

 

3 INTRODUÇÃO

O princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é um assunto relevante no contexto do sistema universitário expresso no art. 207 da Constituição de 1988, o qual afirma que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988).

Assim, a compreensão sobre a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, não se restringe em mera questão conceitual ou legislativa, mas fundamentalmente, paradigmática, epistemológica e político-pedagógica, uma vez que está relacionada às suas funções sócias educacionais e à razão existencial das universidades, que se constituíram, historicamente, vinculadas às aspirações e aos projetos nacionais de educação. Como ressalta Silva (2000), as relações entre ensino, pesquisa e extensão decorrem dos conflitos em torno da definição da identidade e do papel da universidade ao longo da história.

Nessa direção, pretende-se aqui articular tais princípios aos pressupostos da educação ambiental, pois esta tem a função de mostrar e sensibilizar as pessoas de que somos parte do meio ambiente, buscando superar a visão antropocêntrica – onde o homem é visto como centro de tudo – deixando de lado a importância da natureza, da qual somos parte integrante.

Tais ideais consistem numa ação educativa durável, em que a comunidade tenha consciência de suas decisões e da atual realidade do nosso planeta. Assim, essa prática amplia atitudes que atrela o estudante às problemáticas da sociedade, desenvolvendo valores que promovem transformação nos aspectos naturais e sociais.

Face ao exposto, a integralidade entre ensino pesquisa e extensão no contexto do ensino superior, reflete tomada de posturas para a conservação do meio ambiente, visando à qualidade de vida e a sustentabilidade.

Desse modo, faz-se necessário dizer que as instituições de ensino superior podem exercer vital importância nesse contexto, basta que  estruture a aplicabilidade de seu ensino, visando mudanças, práticas, estratégias e didáticas interdisciplinares, pautadas em  métodos para o exercício prático da cidadania, sintetizando as dimensões do processo socioambiental.

A educação ambiental consiste em um planejamento constante, refletindo a prática cotidiana numa aprendizagem significativa que conduzirá a mudanças no comportamento dos estudantes do ensino superior e na sociedade. Vale ressaltar que simultaneamente, é necessário agregar novos valores e atitudes, desempenhando o papel de cidadão em uma sociedade com inúmeros problemas socioambientais, levando a sociedade a uma reflexão acerca das bases da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável.

Dessa forma, as instituições de ensino superior podem contribuir, significativamente, articulando suas propostas de pesquisa e extensão a diferentes temas da atualidade voltados aos aspectos socioeconômicos, políticos e naturais.

A definição ampla do ambientalismo demanda diálogo entre teorias e práticas, incentivando a participação social. Nessa perspectiva, torna-se fundamental inserir o contexto da educação ambiental nas bases da integralidade do ensino, da pesquisa e da extensão, fundamentadas nos pressupostos da tríade norteadora do ensino superior.

4  PRESSUPOSTOS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, nos artigos 43 a 57, mostra que a educação superior tem por finalidade estimular a criação cultural e o desenvolvimento do pensamento científico e reflexivo; formar profissionais em diferentes áreas do conhecimento, aptos para serem inseridos no mercado de trabalho; incentivar a pesquisa e a iniciação científica; bem como o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e a difusão da cultura; suscitar o desejo de aperfeiçoar-se cultural e profissionalmente; propiciar o conhecimento e promover a abertura à participação de todos. Em outras palavras, Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 259) afirmam que a educação superior.

[...] tem por finalidade formar profissionais nas diferentes áreas do saber, promovendo a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos e comunicando-os por meio do ensino. Objetiva-se estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, incentivando o trabalho de pesquisa e a investigação científica e promovendo a extensão.

Face ao exposto, pelos Autores (2003, p. 259), é notória a importância da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, visto que a gestão de conhecimento requerida para os acadêmicos do Ensino Superior prevê uma formação com bases no desenvolvimento científico e no pensamento reflexivo, pautado nos princípios da pesquisa e da investigação científica, promovendo assim a extensão dos conhecimentos adquiridos ao longo da formação de nível superior.

Nessa direção, as instituições de ensino superior podem exercer um importante papel no contexto da educação ambienta, pois as relações com a gestão do conhecimento, a partir do ensino, da pesquisa e da extensão, tornam-se reconhecidas, sistematicamente pelos principais agentes na educação superior, permanecendo como uma meta a ser perseguida e, por outro lado, uma meta a ser alcançada pela sociedade. E foi frente a essa necessidade que os estudos aqui apresentados foram fundados e tem como finalidade ampliar o olhar dos atores que compõem o universo do Ensino Superior, tendo como intuito fortalecer e ampliar as práticas de gestão do conhecimento, a partir da indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão na perspectiva da educação ambiental.

 

5 A INDISSOSSIABILIDADE ENTRE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

 

A pesquisa universitária exerce importante papel, visto que funciona como um elo integrador entre o desempenho científico e técnico, bem como, o desenvolvimento da vida profissional dos estudantes. Dessa forma, a produção acadêmica está vinculada aos conhecimentos tácitos e explicito, sendo o primeiro, entendido como o conhecimento ou habilidade que pode ser passado entre cientistas por contatos pessoais, mas não podem ser exposto ou passado por meio de fórmulas, diagramas, descrições verbais ou instruções para ação (COLLINS, 2001).

Vale ressaltar que é por meio da pesquisa que a sociedade alcança, promove, e compartilha saberes capazes de gerar a modernização e as melhorias em nossa sociedade. Portanto, o conhecimento precisa ser a característica essencial do Ensino Superior, devendo ser esse universo um espaço privilegiado de desenvolvimento das pesquisas científicas e tecnológicas, estudos acadêmicos em ciências sociais, humanas, biológicas, exatas, dentre outras.

A produção acadêmica constitui-se em um campo de motivação e liberdade para que a iniciativa individual se proponha, principalmente, para o alcance de resultados científicos importantes para a vida profissional, social e da ciência em geral. Segundo Schwartzman (1988),

O foco na motivação e liberdade na produção individual constitui-se em um dos mecanismos mais importantes de controle da atividade científica, controle esse que parece estar muito mais presente no próprio ambiente universitário do que fora dele.

Por tudo isso, é inegável que a relevância para o conhecimento produzido e compartilhado nas instituições de Ensino Superior, melhor acontecerão à medida que se buscar a eficácia da pesquisa e da extensão. A finalidade precípua da extensão precisa ser o elo do Ensino Superior com a sociedade, por meio dos resultados alcançados através das atividades de ensino e de pesquisa, reafirmando assim o compromisso social das instituições de Ensino Superior na garantia do desenvolvimento social, bem como, os anseios da comunidade.

 

Vale salientar que no Brasil, o termo extensão aparece no Estatuto das Universidades Brasileiras (Decreto n° 19.851,11/04/31), em seu art. 35:f) cursos de extensão universitária, destinados a prolongar, em benefício coletivo, a atividade técnica e científica dos institutos universitários. (BRASIL, 1931).

As ações de extensão que as instituições de Ensino Superior desenvolvem objetivam o acesso da comunidade aos saberes científicos, filosóficos, culturais e tecnológicos, que confere um caráter dialógico à relação dessas duas esferas sociais. Cavalcante (2000, p. 18) afirma que o “processo educativo, cultural e científico, articulado de forma indissociável ao Ensino e à Pesquisa é que viabiliza uma relação transformadora entre universidade e sociedade”.

De acordo com Saviani (1987), a extensão, por sua vez, significa a articulação da universidade com a sociedade, com o objetivo de que o conhecimento novo que ela produz pela pesquisa e difunde pelo ensino não fique restrito aos seus muros apenas.

Segundo Silva (2002), o conceito de extensão, também, apresenta-se ligado a função social da universidade, integrando um mecanismo de intervenção nos setores sociais, permitindo o apoio à comunidade no enfrentamento de carências, em respostas as suas demandas. Integrando, ainda, a universidade ao contexto regional e à realidade social, promovendo a troca de saberes com a atividade pedagógica, desenvolvendo uma metodologia de ação social na universidade.

 

Conforme a visão de alguns autores, como Silva (2002) e Nogueira (2005), as características da extensão apresentadas conceitualmente por alguns, exprimem a extensão como um espaço para formação acadêmica e o repassar do conhecimento anterior, no qual a universidade assume um compromisso de parceria entre universidade e sociedade de desenvolvimento social.

Nogueira (2005) reforça essa ideia, afirmando que o papel social da universidade passa pela extensão, podendo ser entendida como o meio por onde as Instituições de Ensino Superior (IES) podem cumprir seu compromisso social, indo além das atividades básicas relacionadas a sua atividade-fim por meio de seus cursos regulares.

 

6 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A educação não deve ser celeiro de conteúdo, ela implica em transformação, construção de um ambiente social e ecologicamente agradável a todos. Na educação, construímos conhecimentos e adquirimos informações que são base para a mudança no comportamento do indivíduo em prol do meio ambiente, e a Educação Ambiental é um instrumento diligente de transformação, tendo em vista que, para se ter qualidade de vida, é preciso conservar e preservar o meio ambiente.

Milaré descreve, (2004, p. 612) diz que: “[...] a tarefa de educar não compete somente à família e à escola: cabe a toda sociedade, representada por seus diversos segmentos [...]”. É necessidade de todos os indivíduos, pois o descuido com o meio ambiente só colabora para sua destruição. Desenvolver nas pessoas atitudes e habilidades direcionadas à conservação da natureza e de seus recursos é papel fundamental da Educação Ambiental e esta pode ocorrer em diferentes espaços: escola, empresa, repartições públicas etc. O importante é que a Educação Ambiental esteja presente em todos os níveis educacionais, na busca do desenvolvimento sustentável, preservando o meio ambiente e seus recursos.

A Educação Ambiental é uma área essencial na sociedade. Por meio dela, podemos despertar nas pessoas o cuidado e a conscientização dos malefícios decorrentes dos danos ambientais, tais como: poluição do ar, das águas, uso inadequado dos solos, o aquecimento global, o desmatamento e outros presentes em todos os países que buscam o desenvolvimento tecnológico e industrial.

Vive-se em um sistema capitalista, onde o consumo e a concentração de riquezas necessitam cada vez mais dos recursos naturais. Existe uma necessidade de melhorar a distribuição de renda, devendo esta ser mais justa e equitativa, proporcionando uma vida mais digna às pessoas. Na verdade, precisamos frear o consumo exagerado e o desperdício.

Dessa forma, Reigota diz que o:

Argumento muito presente na educação ambiental nas suas primeiras décadas era a de relacioná-la, prioritariamente, com a proteção e a conservação de espécies animais e vegetais. A educação ambiental estava muito próxima da ecologia biológica, sem que ela tivesse de se preocupar com os problemas sociais e políticos que provocaram esta situação de desaparecimento de espécies (2012, p. 12).

Para Reigota (2012), a Educação Ambiental é definida como educação política, priorizando as relações econômicas, cultural e social entre os seres humanos e a natureza de forma consciente, participativa e democrática. Assim, a Educação Ambiental política expande a cidadania, a liberdade, a autonomia dos cidadãos na procura de recursos e de vicissitudes que permitam a coexistência correta e volvida para o bem social.

A Educação Ambiental necessita ser vista de maneira ampliada, não apenas voltada para o cuidado com os recursos naturais; abrange muito mais do que a conservação da fauna e flora, envolve as questões relacionadas ao favorável convívio e interação do ser humano em sociedade.

A vida é um ato de sucessivas e duradouras experiências de Educação Ambiental. Por meio de atitudes e ações conscientes, o ser humano aprende a interagir de forma correta com o meio ambiente. Dessa forma, não se pode permitir que a cultura da depredação da natureza, das injustiças sociais e do consumo exagerado continue sendo divulgada indiscriminadamente. A necessidade de mudança de valores, comportamentos e atitudes é evidente e aumentam a cada dia.  Assim, por meio da educação ambiental, é possível promover o respeito ao meio ambiente e aos seus recursos através do desenvolvimento sustentável, fortalecendo a relação homem e natureza.

GUIMARÃES (1995; p. 107) conceitua a Educação Ambiental da seguinte forma: “é um processo longo e contínuo de aprendizagem, de uma filosofia de trabalho participativo, em que todos, família, escola e comunidade, devam estar envolvidos”. Para isso, a educação ambiental deve superar as relações existentes entre homem e natureza, estabelecendo uma reflexão consciente da importância do meio ambiente e de sua conservação.

Segundo esse autor, o princípio básico da Educação Ambiental:

É a atenção com o meio natural e artificial, considerando fatores ecológicos, políticos, sociais, culturais e estéticos. A Educação Ambiental deve ser contínua, multidisciplinar, integrada dentro das diferenças regionais, voltada para interesses nacionais e centrada no questionamento sobre o tipo de desenvolvimento. Tem como meta prioritária a formação nos indivíduos de uma consciência coletiva, capaz de discernir a importância ambiental na preservação da espécie humana e, sobretudo, estimular um comportamento cooperativo nas diferentes elações inter e intranações. (GUIMARÃES, 1995; p. 107).

Esse é um princípio que deve ser desejado por todas as nações que procuram desenvolvimento tecnológico, sem esgotar os recursos naturais, criando amostras de crescimento não somente na relação homem e natureza, mas também na relação homem pelo homem, onde existem imensas desigualdades sociais a serem minimizadas.

No que diz respeito à Educação Ambiental, Loureiro afirma que:

Educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não-dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc. (2004; p.82).

Todo esse preâmbulo surge para demonstrar que, para produzir sentidos, é imprescindível relacionar o meio ambiente com o espaço social, considerando as afinidades implantadas nesse universo e destacando a eficácia do espaço escolar na edificação de uma educação ambiental voltada para a sustentabilidade.

A educação permite informação e transformação na vida social, possibilita relação entre homens e natureza. Nesse sentido, escola e sociedade necessitam ser coligadas criando ambientes de debates e treino de cidadania voltada para a construção efetiva nas decisões políticas, lutando por uma educação acessível a todos, estabelecendo relações de respeito e solidariedade no mundo. A escola se destina à ascensão do indivíduo, a efetivação do ensino-aprendizagem, capaz de desafiar, de fazer pensar de maneira crítica a realidade social e política, na luta por uma sociedade igualitária.

O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido, a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio, para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso, é importante que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão ambiental (PCN’s, 2001; p.47, 48).

 

7 SUSTENTABILIDADE: HISTÓRICO E SEUS CONCEITOS

Entende-se por sustentabilidade: “O desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades." (BRUNDTLAND, 1987).

As ansiedades relacionadas ao meio ambiente iniciaram-se na década de 50 do século passado, mas somente em 1960 houve efetivamente consciência ambiental em escala global, com convenções, documentos, quando foi discutida a possibilidade real do desenvolvimento sustentável. Nesse período, o aumento da demanda por matérias-primas e energia nos países industrializados e a explosão demográfica nos países em desenvolvimento foram destaques e causaram preocupação, pois dessa maneira seria difícil conciliar crescimento econômico com desenvolvimento sustentável. Dessa forma, na conjuntura da globalização, surge a sustentabilidade, marcando o progresso da sociedade, explorando o meio ambiente sem que haja deterioração.

O desenvolvimento sustentável é um processo de transformações onde o uso dos recursos naturais atenda às necessidades da sociedade atual e do futuro, em condição de harmonia, e não no padrão de ampliação adotado pela sociedade fundamentado no consumismo e no egocentrismo.

Em seu ensaio sobre “O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a educação”, Lima destaca que:

À medida que o debate da sustentabilidade vai se tornando mais complexo e é difundido socialmente, ele vai sendo apropriado por diferentes forças sociais que passam a lhe imprimir o significado que melhor expressa seus valores e interesses particulares (2003, p. 107).

A sustentabilidade surge como uma crítica à ordem econômica, como uma maneira do ser humano sobreviver e como apoio para que haja um crescimento permanente e duradouro do processo de produção.

O desenvolvimento ambiental adere-se ao Desenvolvimento Sustentável, preocupando-se com o respeito às diversas formas de vida, à eficiência econômica e à justiça social. É preciso estar consciente das próprias ações, dos problemas socioambientais e, consequentemente, lutar mais para superá-los.

De acordo com Leff,

[...] O desenvolvimento sustentável é um projeto social e político que aponta para o ordenamento ecológico e descentralização territorial da produção, assim como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das populações que habitam o planeta. Neste sentido, oferece novos princípios aos processos de democratização da sociedade que conduzem à participação direta das comunidades na apropriação e transformação de seus recursos ambientais (2005; p. 57).

Desenvolvimento Sustentável corresponde a um procedimento onde o desenvolvimento econômico, social e ambiental são instituídos às políticas comerciais, econômicas, industriais de forma integradas, utilizando os recursos naturais de forma a não comprometer seu esgotamento e onde se desenvolva uma sociedade mais justa e igualitária.   

  

8  PAPEL DO ENSINO SUPERIOR E O DESAFIO PARA A SUSTENTABILIDADE

Perante as instabilidades ambientais que estão acontecendo pelas desfavoráveis atividades humanas, é de extrema necessidade que os argumentos sobre educação ambiental evoluam de forma a acrescentar em uma melhor educação voltada aos princípios de sustentabilidade. Desse modo, é essencial que as IES abracem a educação ambiental como temática imprescindível, tentando desse modo fazer com que os estudantes se transformem em cidadãos com noção de conhecimento no que diz respeito à educação ambiental.

Atualmente, educar para o desenvolvimento sustentável é a única maneira de sensibilizar as pessoas a informação e participação na defesa do meio ambiente e da vida em sociedade. A educação é uma ferramenta indispensável à sustentabilidade, ela é um meio para se conquistar o escopo: o desenvolvimento sustentável em todos os setores de atividades (AGENDA 21, 2001).

O conhecimento de desenvolvimento sustentável busca elucidar as analogias entre o homem e a natureza num desafio às ações humanas e suas consequências para o presente e o futuro de nossa civilização. Dessa forma, o conceito apresentado na educação ambiental reflete em ações de sustentabilidade, assumindo um papel transformador, acarretando um mundo sustentável.

O papel do professor diante de um contexto marcado pela degradação constante da natureza é de uma imensa responsabilidade. A educação ambiental configura-se necessária, é uma ferramenta de transformação, potencializando o envolvimento de todos numa perspectiva interdisciplinar, inovadora e crítica, voltada para a transformação social. Sua abordagem deve ser numa perspectiva de ação holística, relacionando o homem, a natureza e sua responsabilidade de ação no uso dos recursos naturais.

Segura afirma que:

A escola foi um dos primeiros espaços a absorver esse processo de “ambientalização” da sociedade, recebendo a sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de vida da população, por meio de informação e conscientização. (2001, p. 21)

Para despertar o empenho dos alunos, é preciso que o professor use a “bagagem de conhecimentos trazidos de casa” por estes.  Como dizia Freire (1987), direcionando-o a perceber os problemas ambientais existentes no mundo, que envolve todos e consequentemente lutar por possíveis soluções, para que haja equilíbrio no nosso planeta.

A sociedade atual precisa aprimorar o padrão de desenvolvimento econômico e social, poupando a natureza e o uso dos seus recursos, garantindo a preservação do meio ambiente para as gerações presentes e futuras, assumindo consciência da importância da educação ambiental, permitindo o prosseguimento da vida neste planeta. Para isto, é indispensável a mudança de hábitos de consumo, criando alternativas, novos parâmetros que agenciem o desenvolvimento sustentável, fazendo as escolhas conscientes para que a sociedade contemporânea tenha postura responsável e ética.

Este artigo tem a função de transmitir a real necessidade da escola, da qual afirma Paulo Freire, que é investir em conhecimento que funciona na prática com mudanças desejáveis na sociedade:

Se o meu compromisso é realmente com o homem concreto, com a causa de sua humanização, de sua libertação, não posso por isso mesmo prescindir da ciência, nem da tecnologia, com as quais me vou instrumentando para melhor lutar por esta causa. (2007, p. 22).

Assim, cabe a escola uma reflexão crítica da realidade, um lugar de constante aprendizagem, um espaço para pensar, superando as barreiras impostas na sociedade.

De acordo com Freire, o “conhecimento emerge apenas através da invenção e reinvenção, através de um questionamento inquieto, impaciente, continuado e esperançoso de homens no mundo, com o mundo e entre si”. Com o conhecimento, podemos transformar as mais adversas realidades.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante aos dados abordados neste artigo, conclui-se que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, articulada a  propostas que visem estimular a participação dos estudantes em atividades que tenham como propósito construir estratégias voltadas à Educação Ambiental, acrescentam no comportamento social e ambiental mais responsabilidade e consciente acerca desta temática.

Nesse sentido, algumas reflexões indicativas tornam-se emergentes no contexto do ensino superior, dentre as quais destacamos a necessidade de instaurar uma nova mentalidade pedagógica nessas instituições. Isso pressupõe assumir compromissos que levem o ensino superior na direção de propostas que capazes de mobilizar um conjunto de saberes, capacidades e informações, com vistas a solucionar as problemáticas sócio-ambientais encontradas atualmente no mundo.

 

Desse modo, apontamos como competências necessárias à formação do sujeito ambiental do século XXI, o envolvimento nas aprendizagens, no fazer produtivo e no trabalho em equipe; a adoção da inter e da transdisciplinaridade como pressuposto da produção do conhecimento e da prática pedagógica; a organização do currículo centrado em problemas da realidade; a implementação de planejamentos integrados participativos, dentre outras abordagens.

 

Vale salientar que essas ações são enriquecedoras do princípio formativo expresso nos pressupostos do ensino superior, visto que permitem as abordagens teóricas e prática dos saberes sobre questões e problemas reais, com resultado na construção colaborativa de soluções dos mesmos. Esse processo contínuo permite a aproximação da universidade com a sociedade e a renovação dos debates acadêmicos.

 

Em suma, é importante lembrar que o avanço da tecnologia e as novas descobertas que a ciência apresenta no cenário atual são evidentes. Dessa forma, é de fundamental importância que as instituições de ensino superior, investem na promoção de saberes que busquem caminhos para equacionar essa relação entre tal avanço e a preservação do Meio Ambiente que se faz  urgente e necessária.

 

Conclui-se assim, que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão pode ser este caminho, através dos projetos e programas elaborados e desenvolvidos pelas instituições de ensino superior. Tais projetos e programas, viabilizados por meio de  atividades que estabeleçam elo com a sociedade, poderão ser executados e transformados em excelente ferramenta para disseminar conhecimento e interação dos sujeitos inseridos no contexto do ensino superior  com os reais interesses e necessidades da comunidade.

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