PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: ESTUDO DE CASO UTILIZANDO UM PROJETO SOBRE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA

Francisco Edilcarlos de Oliveira Lima¹. edilcarlosmax@hotmail.com

¹Especialista em Gestão Ambiental – Faculdade de Selvíria – FAS. Graduado em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas – FAFIDAM/UECE.

Com o aumento populacional, em decorrência ao desenvolvimento industrial e medicinal, a natureza vem sofrendo um grande desequilíbrio. Portanto, precisam-se instruir os jovens através de projetos ambientais desenvolvidos na escola a fim de aprimorar a percepção ambiental.

PALAVRAS-CHAVES: Percepção Ambiental, Poluição, Água, Sustentabilidade.

1.         INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento industrial e o aumento exponencial da população, problemas no meio ambiente foram intensificados e várias conferências surgiram na tentativa de minimizar esse impacto ambiental. Para Caldas (2005), atividades que promovem reflexões sobre mudanças de comportamento que permitam discutir e valorizar o quadro de percepção da comunidade pode ser um caminho para alterar uma realidade que degrada o meio ambiente.

No entanto, o antropocentrismo acaba atrapalhando o desenvolvimento de um pensamento sustentável. Ferreira e Bomfim (2010) relata que a postura antropocêntrica, visão onde o homem é o centro de tudo, interfere bastante nas políticas ambientais de sustentabilidade. Além disso, o terrorismo, as violações aos direitos humanos, o narcotráfico, o tráfico de armas, os conflitos étnicos, a proliferação de armas nucleares contribuem para degradação ambiental (SENHORAS & MOREIRA, 2008).

Para Medeiros (2011) a educação ambiental em séries iniciais é importante pelo fato das crianças serem “inocentes” e de maior facilidade em moldar novos conhecimentos. No Ensino Médio, Lucatto (2007) acrescenta que atividades, discussões desenvolvidas em conjunto, contribuem para ampliação dos conhecimentos e auxílio na formação de cidadãos mais conscientes e críticos da sua realidade. Assim, o senso crítico dos alunos e a sensibilidade para temáticas ambientais são desenvolvidos por auxílio de atividades lúdicas e participativas na escola (JESUS, 2016). Portanto, a ampliação dos conhecimentos dos alunos ao longo de sua jornada escolar, ajuda a desenvolver sua percepção ambiental. Desta maneira, o estudo objetivou verificar a percepção ambiental de alunos do ensino médio, antes e depois da execução de um projeto sobre parâmetros físico/químicos da água.

2.         MATERIAIS E MÉTODOS

Para verificar a percepção ambiental, foi criado um projeto para ser desenvolvido com 50 alunos, entre os cursos de aquicultura, agroindústria e administração de uma escola profissionalizante de Cariré – CE, que fica a mais ou menos 42 quilômetros da cidade de Sobral – Ceará, com o intuito de verificar os parâmetros físico/químicos da água dos mananciais, lagos e açudes próximos à escola.

Esse projeto foi realizado com encontros semanais no primeiro semestre de 2015 com duração de quatro meses. No início foram ministradas aulas teóricas sobre os parâmetros físico/químicos da água mostrando sua importância aos seres vivos e ao ambiente. Dentre os parâmetros estudados podemos destacar: pH, oxigênio dissolvido, nitrito, nitrato, amônia e turbidez. Após esse contato inicial, os alunos foram a campo para observar e conhecer a situação desses corpos aquáticos, e também coletar amostras para sua análise na escola. A análise da água foi realizada com o Ecokit – Água Doce/Salgada (Alfakit Ltda) de acordo com as normas do fabricante.

No final desse projeto, foi aplicado um questionário com dez perguntas fechadas para identificação dos hábitos com relação ao meio ambiente e como eles pensam a respeito de certas atitudes de degradação ambiental após observar, conhecer e analisar a água e o ambiente que tanto sofre poluição pela própria população.

3.         RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes da execução do projeto, 36% dos alunos não viam importância nos mananciais para o seu ambiente. Após a convivência e atividades desenvolvidas fora da escola, o projeto foi primordial para a nova forma de ver a realidade. A educação ambiental deve ser trabalhada na escola como uma abordagem transversal e interdisciplinar envolvendo a família, comunidade e o meio ao redor do aluno (OLIVEIRA, 2016).

Com o projeto em execução, os alunos adquiriram uma percepção diferente ao consumir água, onde 96% dos alunos responderam que após estudar os parâmetros físico/químicos da água, ficaram mais atentos ao consumi-la. E todos relataram ser de extrema importância cuidar dos mananciais da região. Fernandes (2009) reforça que as pessoas percebem, reagem e respondem diferentemente de acordo com o ambiente em que vivem. Além disso, 98% responderam que esse senso de responsabilidade em não degradar foi melhorado pelo projeto desenvolvido na escola. A apropriação da pessoa em relação ao seu meio ambiente é o primeiro passo para a sensibilização sobre as questões ambientais (MARTINS, 2016).

tabelas1.tifCom relação à distribuição de água nas comunidades e o cuidado das pessoais com os mananciais, 80% disseram que sofrem com a falta de água, mas isso não é suficiente para que a população tenha mais cuidados com os açudes, rios e lagoas, pois 98% dos alunos afirmam que esses corpos aquáticos não são bem cuidados pela população. Esse fato foi confirmado por eles ao encontrar focos de poluição no rio e nos açudes em uma das atividades propostas pelo projeto. Mas analisando os próprios alunos, que fazem parte dessas comunidades, percebeu-se que 52% desses alunos antes do projeto, jogavam lixo em seu ambiente, sendo que essa frequência foi distribuída em raramente, às vezes e sempre, com 22%, 24% e 6%, respectivamente. Os alunos que já tinham uma percepção ambiental sustentável foram representados por 48%, sendo que desse percentual, 36% relataram que já poluíram, mas perceberam que é errado e não cometem mais esse equívoco e 12% relataram nunca ter poluído o ambiente. Essa frequência é observada na TABELA 1.

 

 

 

 

tabelas1.tifBuscando saber como seria ação dos alunos ao ver alguém poluindo ou degradando o meio ambiente, a TABELA 2 mostra as possíveis reações. A reação de 58% dos alunos seria dialogar com a pessoa mostrando que sua atitude está errada. Outros 26% esperaria o indivíduo sair do local para depois coletar o lixo jogado. E apenas 16% ignoraria a situação para não ter nenhum atrito, mas não pegaria a situação como exemplo para si. Vale ressaltar que nenhum aluno respondeu “fazer o mesmo” e nem ficar apenas observando.  

 

 

 

 

 

 No entanto, buscando saber qual seria a atitude do aluno quando estivesse com algo descartável em mãos, 78% responderam que não jogaria no chão e 22% jogaria no chão se não encontrasse uma lixeira perto. O último resultado entra em conflito com a TABELA 2 onde todos os alunos ao ver alguém poluindo percebe que é errado e tomam atitudes de dialogar, esperar sair para coletar ou ignorar a atitude sem pegar como exemplo. Porém, esses 22% quando estão no lugar do poluidor, o lixo é descartado no chão se não houver lugar apropriado para o descarte. Isso demonstra que a educação deve ser intensiva com relação a essas atitudes. Segundo Freire (2007) a educação para a sustentabilidade e a necessidade de mudar realidades insustentáveis, em nível de sistema educativo, requerem o empenhamento de todos aqueles que se preocupam com o futuro dos jovens. Em compensação, o percentual de 48% (TABELA 1) que não jogam o lixo em ambientes inadequados melhorou para 78% após a realização do projeto.

4.         CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola pode ser um meio fundamental e influenciador de conceitos sustentáveis a respeito do meio ambiente quando os alunos adquirem o conhecimento e colocam em prática de maneira contínua. Experiências são vividas e transformadas em conhecimento que acompanham os indivíduos para qualquer lugar, independentemente de uma cultura diferente. A percepção ambiental das pessoas nem sempre é favorável à preservação do meio ambiente, mas projetos na área ambiental podem despertar uma maneira sustentável de ver e agir com o meio ambiente. Dessa forma, o projeto sobre os parâmetros físico/químicos da água foi satisfatório no aprimoramento da percepção ambiental desses alunos em relação ao seu ambiente, mas é importante que projetos como esse sejam desenvolvidos durante todo o ano letivo.

REFERÊNCIAS

CALDAS, Ana Luiza Rios; RODRIGUES, Maria do Socorro. Avaliação da percepção ambiental: estudo de caso da comunidade ribeirinha da microbacia do rio Magu. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. V. 15, p.181-195, 2005.

FERNANDES, R. S.; SOUSA, V. J.; PELISSARI, V. B.; FERNANDES, S. T. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental, 2009. Disponível em: http://www.redeceas.esalq.usp.br/noticias/Percepcao_Ambiental.pdf Acesso em: 28 de novembro de 2016.

FERREIRA, F.; BOMFIM, Z. A. Sustentabilidade Ambiental: visão antropocêntrica ou biocêntrica?. Universidade Federal do Ceará (Brasil). AmbientalMENTEsustentable. Xaneiro-decembro 2010, ano V, vol. I, num. 9-10, páginas 37-51. Disponível em: http://ruc.udc.es/dspace/bitstream/2183/8335/1/AS%209-10%202010%20art%202.pdf Acesso em: 18/10/2013.

FREIRE, Ana Maria. Educação para a Sustentabilidade: Implicações para o Currículo Escolar e para a Formação de Professores. Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 2, n. 1, p. 141-154, 2007.

JESUS, Edilma Nunes de; FEITOSA, Flavia Regina Sobral; SOBRAL, Ivana Silva; SILVA, Haiane Pessoa da; FONTES, Andréia Reis; SANTOS, Fernanda Flores Silva. Percepção ambiental & as práticas sustentáveis: um estudo de caso com a modalidade da educação para jovens e adultos (EJA). Eucação Ambiental em Ação, n.57, ano XV, 2016. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2453  Acesso em: 02 de dezembro de 2016.

LUCATTO, Luis Gustavo; TALAMONI, Jandira Liria Biscalquini. A construção coletiva interdisciplinar em educação ambiental no ensino médio: a microbacia hidrográfica do Ribeirão dos Peixes como tema gerador. Ciência & Educação, v. 13, n. 3, p. 389-398, 2007.

MARTINS, Danielle Paula; BRITO, Alessandra Migliori do Amaral; REIS, Adriana Neves dos; BERETTA, Elisa Marangon; BUGS, Geisa Tamara; GIEHL, Isabel Cristina; HEINZELMAN, Larissa Schemes.Educação ambiental como estratégia para atuação em desastres naturais – estudo de caso em Novo Hamburgo/RS. Educação Ambiental em Ação, n.58, ano XV, 2016. Disponível em: < http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2584> Acesso em: 05 de Janeiro de 2017.

MEDEIROS, Aurélia Barbosa de; MENDONÇA, Maria José da Silva Lemes; SOUSA, Gláucia Lourenço de; OLIVEIRA, Itamar Pereira de. A Importância da educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1, 2011.

OLIVEIRA, Italo Diego Rodrigues. Educação ambiental e cidadania: percepção do meio ambiente por alunos do ensino médio de uma escola pública do distrito federal. Educação Ambiental em Ação, n.58, ano XV, 2016. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2596 Acesso em: 05 de Janeiro de 2017.

SENHORAS, E. M. & MOREIRA, F. de. Fundamentos normativos para uma geopolítica ambiental nas relações internacionais. 1° SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, Rio Claro, 2008.