A PALESTRA COMO FERRAMENTA PARA SENSIBILIZAÇÃO DE ALUNOS SOBREREUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM DE PAPELEMDUAS ESCOLAS
NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
Raiane dos Anjos Bezerra1; Artur Henrique Freitas Florentino De Souza2; Gil Dutra Furtado3
[1] Graduação em Licenciatura em Ciências biológicas pela Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Picos-PI. Email: raianebezerra89@yahoo.com.br
[2] Professor Assistente II do Curso de Ciências Biológicas da UFPI, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI; Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFPB e Bacharel/Licenciado em Ciências Biológicas pela UFPB. Email: ahffs@ufpi.edu.br
[3]Professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba; Pós-doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFPB; Doutor em Psicobiologia/UFRN;Mestre em Manejo de Solo e Água/UFPB; Especializado em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Internacional/UNINTER; Graduado em Agronomia/UFPB. Email: gdfurtado@hotmail.com
RESUMO
O papel é um dos recursos mais utilizados nas escolas para auxílio das atividades no processo de ensino aprendizagem e o seu uso desenfreado acarreta um grande desperdício. Objetivou-se, neste trabalho, saber se a palestra poderia ser uma ferramenta para sensibilizar alunos de duas escolas públicas a reutilizar e reciclar papel. O trabalho foi realizado durante o mês de março a abril de 2013, em duas Escolas Estaduais: Unidade Escolar Mário Martins e Unidade Escolar Miguel Lidiano, município de Picos – PI, com estudantes do ensino fundamental II. Houve, primeiramente, a aplicação de um questionário pré-teste para tais alunos sobre reciclagem e desperdício de papel. Logo após, foi feita a apresentação de palestras seguido da exibição um vídeo caseiro, confeccionado pelos autores deste trabalho, onde ensina a produção artesanal de papel. Em seguida, houve a aplicação dos questionários pós-testes para avaliar se houve diferenças nas respostas. Através da análise das respostas, percebeu-se que atividades práticas relacionadas à reciclagem não são desenvolvidas. Nestas mesmas escolas 100% afirmam nunca ter feito reciclagem artesanal de papel. O tema reciclagem despertou bastante interesse dos alunos e demonstrou uma pequena mudança na resposta dos alunos.
Palavras-Chave: Educação ambiental, corpo discente, papel.
LECTURE AS A TOOL FOR AWARENESS OF STUDENTS ON PAPER RECYCLING AND REUSE IN TWO SCHOOLS IN BRAZILIAN SEMIARID
ABSTRACT
Role isone of the materialsmost used resourcesin schools
toaidactivitiesin the teaching-learning process and itsrampantuse
bringsa verybig waste. The objective of this Paper know if lecture would
be a tool to educate students from two public schools to reuse and recycle role.
The work wasconducted during the monthsof March and April2013
intwostate schools: Mário Martins and Miguel Lidiano, municipality
ofPicos-PI, withstudentsof 6th to9th grade of Elementary Education. There was, first, the application
of apre-test questionnairefor suchstudents
aboutrecycling andwaste. Soon after, it was madea lecture, followed bya home videodisplay,
madeby the authorsof this work, which teaches handmade paper production. Then, there wasthe
application ofpost-test questionnaires to assesswhether
there were differencesin the responsesof students. Through
the analysisof the responses, it was realized
thatpractical activities relatedto recyclingare not developed. In thesesame schools, 100% claims to havenevermadehandmadepaper recycling. However, the topicrecyclingarousedgreat
interestof the students andshowedlittle changein their responses.
Keywords: Environmental Education. Students. role.
1. INTRODUÇÃO
A reciclagem e a reutilização estão sendo vistas como duas importantes alternativas para a redução de quantidade de lixo no futuro, criando com isso bons hábitos de preservação do meio ambiente (CURRIE, 2000).
Assim, a reciclagem estabelece um sistema de recuperação de recursos projetado para recuperar diversos resíduos, transformando-os novamente em substâncias e materiais úteis, que poderíamos denominar de matéria secundária. (RIBEIRO; LIMA, 2000).
O papel utilizado para a reciclagem é denominado apara. Este termo originalmente se destinava as sobras do papel cortado nas gráficas e ao papel usado pós-consumo (geralmente recolhidas por catadores de ruas). Hoje, o termo apara é utilizado para designar todo papel, usado ou não, que pode ser aproveitado como matéria-prima na reciclagem (FUNDACENTRO, 2002).
A reciclagem artesanal é quando o processo de reciclagem não é muito sofisticado, passando por poucas modificações. A cartilha de reciclagem artesanal do papel (Anexo), elaborada pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO, 2002), ensina os procedimentos básicos de modo ilustrativo o passa a passo da produção artesanal do papel.
A reutilização do papel pode ser também uma forte aliada a combater o desperdício de papel, através das atividades práticas desenvolvidas nas escolas, pode-se aumentar o ciclo de vida do papel de forma que o mesmo seja novamente reutilizado em impressões e escritas, ou outras formas de reutilização (oficinas), representando assim ganhos a todos os segmentos da escola (GRIGOLETTO, 2012).
Um dos benefícios mais importantes da reciclagem é a recuperação de recursos naturais (matéria-prima) por meio da reutilização, reciclagem e reprocessamento de materiais antigamente tidos como lixo (SANTANA, 2009).
A reciclagem de papel é uma prática que gera uma série de vantagens econômicas, ecológicas e sociais para o ser humano, propiciam múltiplos benefícios, tanto ambientalmente quanto financeiramente falando (ALENCAR, 2005).
Do ponto de vista ambiental, evita a poluição do ambiente (água, ar e solos) provocada pelo lixo; aumenta a vida útil dos aterros sanitários, pois diminui a quantidade de resíduos a serem dispostos; diminui a exploração de recursos naturais, muitos não renováveis, como o petróleo; reduz o consumo de energia; e, ainda, gera oportunidades para conscientização em relação a inúmeros outros problemas ecológicos(OLIVEIRA; CARVALHO, 2004).
A escola corresponde ao melhor ambiente para implementar a consciência de que o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis. Para isso, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, habilidades e procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação (BRASIL, 2000).
Pode ser considerada uma forma de educar e fortalecer nas pessoas o vínculo afetivo com o meio ambiente, despertando o poder de cada um para modificar o meio em que vivem (RIBEIRO; LIMA, 2000).
O trabalho de reciclagem envolvendo a comunidade escolar tem como essência a preservação do meio ambiente, a promoção de uma educação ambiental nas escolas, a conscientização dos alunos, pais e educadores quanto à importância da reciclagem e da reutilização das diferentes partes do lixo produzido pela comunidade envolvida (CARVALHO, 2004).
O ambiente escolar tem como objetivo promover, por meio de práticas pedagógicas, a consciência ecológica, a estimulação da cultura da reciclagem e a possibilidade do desenvolvimento sustentável do meio ambiente, através de ações direcionadas (ALVES, 2010).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência da apresentação da palestra e vídeo quanto à aprendizagem do que seja reciclagem, com alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de duas Escolas Estaduais: Unidade Escolar Mário Martins e Unidade Escolar Miguel Lidiano.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Local de Estudo
O estudo foi realizado com alunos do Ensino Fundamental de duas Escolas Estaduais: Unidade Escolar Mário Martins (UEMM), localizada na Travessa Cicero Duarte, sem número, Bairro Junco; e a Unidade Escolar Miguel Lidiano (UEML), localizada no bairro Pedrinhas, ambas situadas na cidade de Picos–PI, conforme a Figura01.
O município de Picos, situado dentro do domínio fitogeográfico da Caatinga, situa-se na mesorregião sudeste piauiense. Está localizado na microrregião homônima, tendo como limites os municípios de Santana do Piauí e Sussuapara ao norte, ao sul com Itainópolis, a oeste com Dom Expedito Lopes e Paquetá, a leste com Sussuapara e Geminiano. (CPRM, 2004).
Figura 01 –Localização das Unidades escolares estudadas: Unidade Escolar Mário Martins (UEMM) (A); Unidade EscolarMiguel Lidiano (UEML) (B), Picos - PI, agosto de 2013.
Fonte: Adaptado do Google Maps (2013) e CPRM (2004).
2.2 Coleta de Dados
De um total de 140 alunos matriculados nas séries do Ensino Fundamental da Unidade Escolar Mário Martins. A pesquisa contou apenas com participação de 64discentes, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, que se propuseram a responder os questionários e assistir a palestra durante o turno da manhãem março de 2013.
O mesmo ocorreuna Unidade Escolar Miguel Lidiano, no qual participaram da pesquisa 56 discentes de um total de 83 alunos matriculados no Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, no turno da tarde em abril de 2013.
Para a realização deste trabalho nas escolas,houve,primeiramente, aplicação de um questionário pré-teste para tais alunos sobre reciclagem e desperdício de papel em sala de aula.
Após serem recolhidos os questionários pré-teste, iniciou-se a apresentação de uma palestra com o tema“A Importância da Reciclagem”, e dando continuidade a este tema foi abordado outros relacionados à temática da reciclagem, entre eles redução e reutilização, prosseguiu-secom a palestra ensinando-os a diferenciação entre o processo de reciclagem artesanal do industrial, explanou-se também a importância da coleta seletiva conforme a natureza do material, depois continuou-se com a apresentação expondo alguns dos inúmeros benefícios que a reciclagem proporciona no aspecto social, econômico e ambiental e encerrou-se a palestra falando sobre a economia empregada na reciclagem do papel.
Logo após a apresentação da palestra foi exibido um vídeo caseiro confeccionado pela autora deste trabalho, onde ensina passa a passo à produção artesanal de papel reciclado, ao fim da exposição do vídeo, foram repassados alguns pedaços de papel reciclado, para que eles pudessem ver o resultado final do papel confeccionado na exibição do vídeo.
Em seguida, houve a aplicação dos questionários pós-testes, para avaliar se houve diferenças nas respostas dos discentes antes e logo depois da palestra.
Os questionários eram compostos de 09 quesitos, sendo seis delas objetivas e três subjetivas (Apêndices). Em nenhum momento foi solicitado o nome dos alunos, mantendo-se, desta forma, o sigilo para que os mesmo não se sentissem constrangidos em responder aos questionários.
Sendo que para as respostas objetivas, estas serãoanalisadas e discutidas asrespostas presentes no questionário pré-teste, já que estas não têm a finalidade de avaliar o conhecimento do tema abordado, enquanto que as subjetivas,estasserão analisadas e discutidas no pré-teste e pós-teste, afim avaliar o conhecimento dos entrevistados, sobre o tema reciclagem antes e depois das apresentações.
3. RESULTADOS
Na escola Mário Martins, dos 140 alunos matriculados no ensino fundamental, somente 64 deles se propuseram a responder e entregar o questionário pré-teste. Deste total, 61% foram representados pelo gênero feminino e 39% pelo gênero masculino.Já na escola Miguel Lidiano, participaram 56 alunos dos 83 matriculados. Deste total, 62% foram representados pelo gênero feminino e 38% pelo gênero masculino.
Quanto a idade dos discentes entrevistados na Escola Mário Martins variou entre 11 e 14 anos, sendo que (36%) apresentou-se com 13 anos; 23% com 12 anos; 25% com 14 anose 16% com 11 de idade. Por outro lado, na Escola Miguel Lidiano, a idade variou entre 11 e 15 anos, onde (38%) dos discentes entrevistados apresentou-secom 14 anos; 23% com 13 anos; 21% com 12 anos; 11%com 11 anos e 7% com 15 anos de idade.
O primeiro questionamento objetivo feito no pré-teste, foi se já haviam participado de alguma atividade prática de reciclagem na escola. Dentre as respostas,84%dos alunos entrevistados da escola Mário Martinsresponderam “Não”,havendo apenas16% que responderam já ter participado. Porém, na Escola Miguel Lidiano, 100% dos entrevistados, responderam que nunca participaram de atividades relacionadas à reciclagem.
Partindo-se para outra pergunta objetiva contida no questionário, quando questionados se, alguma vez, já haviam produzido papel artesanal, o que se obteve foi que em ambas as escolas, 100% dos alunos entrevistados responderam nunca ter feito este tipo de atividade.
Quando se questionou como os alunos costumam desperdiçar papel em sala de aula. Na Mário Martins, os resultados no total, apontaram que 50% do desperdício de papel, são com trocas de bilhetes entre os colegas, no entanto 50% dosentrevistados responderam que desperdiçam quando rasuram as folhas nas atividades e por este motivo rasga e joga fora.
Entretanto, na Escola Miguel Lidiano, 73% dos alunos responderam que desperdiçam papel com troca de bilhetes entre os colegas, enquantoque 27% dos entrevistados desperdiçampapel quando rasuram as folhas,amassam ou as rasgam e, depois,o jogam no lixo, como mostra a Figura 02.
Figura 02 - Respostas dos discentes do ensino fundamental da U. E. Mário Martins e da U. E. Miguel Lidiano, referente à como os mesmo desperdiçam papel na sua vida escolar aplicado no período de março a abril de 2013, no município de Picos – PI.
Partindo para o próximo questionamento, foi questionado aos entrevistadosse utilizavam os versos das folhas dos cadernos nas atividades escolares. Dentre os resultados obtidosna Escola Mário Martins, 79% dos entrevistados afirmaramque utilizam os versos das folhas; 15% responderam não utilizar o verso da folha e apenas 6% dos alunos utilizavamde forma ocasional.
Os resultados na Escola Miguel Lidiano, 73% dos entrevistados responderam que utilizam os versos das folhas nas atividades; já 18% dos alunosnão utilizam os versos das folhaseapenas 9% só usam ocasionalmente.
O próximo questionamento, indagou-se qual seria atitude dos alunos ao verem os colegas jogarem papel no chão. Os resultados revelaram que 84% do total de entrevistados na Mário Martins responderam fingir não ver a atitude do colega. No entanto, 16% afirmou que apanharia o papel do chão e o colocaria na lixeira. Na Miguel Lidiano, os resultados foram respectivamente, 77% e 23% responderam os mesmos itens supracitados na escola anterior.
Naúltimapergunta objetiva, questionou-se o que os alunos faziam com seus cadernos quando acabava o ano letivo. Na Mário Martins,55% do total de entrevistadosresponderam que guardavam o caderno, mas não o reutilizavam; 37% dos entrevistados jogam o caderno fora e, apenas 8% deles, responderam que reutilizavam as folhas que sobravam.
Os resultados na Miguel Lidianonão foram tão diferentes. No total,61% dos entrevistados responderam queguardam o caderno, mas também não o reutilizam, enquanto que27%descartam o caderno. Entretanto,apenas 12%dos alunos informaram que reutilizam as folhas que sobram dos cadernos para alguma finalidade.
3.2. Apresentação da Palestra e Exposição do Vídeo
Nas duas escolas, foram apresentadas palestras sobre a reutilização e reciclagem do papel, como mostrado na Figura 03.
A
Figura03. Apresentação da
palestra aos alunos do ensino fundamental da Unidade Escolar Mário Martins, em
março de 2013(A); na U.E. Miguel Lidiano em abril de 2013 (B), no município de
Picos PI.
Na Escola Mário Martins, a apresentação da palestra e a exposição do vídeo confeccionado caseiramente para tiveram uma aceitação muito boa dos discentes, foi uma atividade prazerosa de ser desenvolvida, pois os mesmos assistiram atentos e participativos.
Observou-se que vídeo chamou muito mais a atenção, pois para eles foi algo fora da rotina escolar, de acordo com os depoimentos dos mesmos, não sabiam como era feito o papel artesanal.
O que ficou evidente que por ser algo novo desenvolvido na escola foi muito mais atrativo e despertou a curiosidade os motivando a fazerem perguntas, entre os questionamentos mais frequentes foram: Quais os tipos de papel poderiam ser utilizados para fabricar o papel reciclado em casa?Se era possível colorir o papel?Porque o papel fica com aspecto rugoso depois de seco?
Já na Escola Miguel Lidiano, as apresentações não tiveram a mesma aceitaçãocomona outra escola, embora osalunos tenham permanecido dentro da sala de aula durante toda a apresentação.
A maioria deles passaram a maior parte do tempo com conversas paralelas, principalmentedurante a exposição do vídeo.Ao término desta exibição,os alunos da Miguel Lidiano não se interessaram em questionar sobre a atividade de intervenção.
Ao final de cada palestra e da apresentação do vídeo nasrespectivas escolas, foram aplicados novamente os questionários semiestruturados(pós-teste).
A
3.3.
Questões Subjetivas do Pré-teste e Pós-teste
Ao questionar através de uma pergunta subjetiva, se os discentes sabiam o que é a reciclagem, houve 56% de respostas no pré-teste da Escola Mário Martins escritas apenas com a palavra “SIM”. Registrou-se também, na mesma escola, 30% de questionários que permaneceram em branco, 9% discentes responderam de forma desconexa e apenas 5% conceituaram que seria a reciclagem.
Os resultados encontrados no pré-teste dos discentes da Escola Miguel Lidiano foi semelhante ao da outra escola supracitada, pois 64% responderam apenas com a palavra “SIM” e 32% deixaram sem respostas, havendo apenas 4% de alunos que conceituaram o termo reciclagem (veja os dois resultados naFigura 03 e o Quadro 01).
Já se tratando do questionário pós-teste, aplicados com os alunos da U. E. Mário Martins foi possível perceber que houve um aumento para 74%, nas respostas apenas com a palavra “SIM”, diminui-se o número de questionamentos deixados em branco para 17%, havendo um acréscimo para 9% nas respostas dos participantes que conceituaram o termo “reciclagem”.
Já no pós-teste aplicado na Miguel Lidiano, o número de respostas apenas com a palavra “sim”, subiu para 71% e um decréscimo para 29% nos questionários deixados em branco, não havendo respostas conceituadas, como mostra a Figura 04.
Figura 04 - Respostas pré-teste e pós-teste dos discentes do ensino fundamental da U. E. Mário Martins e da U. E. Miguel Lidiano, referente à primeira pergunta: “Você sabe o que é reciclagem? ”, aplicados no período de março a abril de 2013, no município de Picos – PI.
Quadro 01 - Respostas dos discentes do ensino fundamental da U. E. Mário Martins e U.E. Miguel Lidiano, referente à primeira pergunta: “Você sabe o que é reciclagem?”, do questionário pré-teste e pós-teste, aplicados de março a abril de 2013, no município de Picos-PI.
* UEMM – Unidade Escolar Mário Martins; UEML – Unidade Escolar Miguel Lidiano.
No segundo quesito subjetivo, abordou-se sobre a importância da reciclagem na visão dos entrevistados, os resultados obtidos no pré-teste nasEscolas Mário Martins e na Miguel Lidiano, foi de 100% das respostas deixados em branco.
Entretanto, no pós-teste houve o registro de apenas 6% de alunos da Escola Mário Martins que tentaram descrever a importância da reciclagem, (ver Quadro 02), havendo 94% dos questionários deixado este quesito em branco. Já na escola Miguel Lidiano, os entrevistados não se comprometeram em responder este questionamento e o deixaram em branco.
Na última pergunta do questionário, perguntaram-se aos discentes(Você acha que trabalhar com palestras e práticas de reciclagem nas escolas ajudaria a sensibilizar os alunos sobre o não desperdiçar papel por parte dos alunos? Por quê?).
Neste quesito, não houve diferenças entre as escolas entrevistadas, pois no questionário pré-teste, os 100% dos discentes entrevistados em ambas as escolas responderam apenas a palavra “sim”, sem justificarem suas respostas.
Quando reaplicados os questionário pós-teste, em ambas as escolas, os alunos entrevistados responderam apenas a palavra “SIM”. Estes optaram, mais uma vez, por não justificar suas respostas. Somente quatro os alunos entrevistados,todos da Escola Mário Martins, se dispuseram a escrever uma justificativa(ver Quadro 03).
Quadro 02 - Respostas dos discentes do ensino fundamental da U. E. Mário Martins e U.E. Miguel Lidiano, referente à segunda pergunta: “Em sua opinião, qual a importância da reciclagem? ”, do questionário pré-teste (lado esquerdo) e pós-teste (lado-direito), aplicados de março a abril de 2013, no município de Picos-PI.
* UEMM – Unidade Escolar Mário Martins
Quadro 03 - Respostas dos discentes do ensino fundamental da U. E. Mário Martins e U.E. Miguel Lidiano, referente à nona pergunta: “Você acha que trabalhar com palestras e práticas de reciclagem nas escolas ajuda a sensibilizar os alunos sobre o não desperdiçar papel? por quê?”. Respostas do questionário pré-teste (lado esquerdo) e pós-teste (lado-direito), aplicados de março a abril de 2013, no município de Picos-PI.
* UEMM – Unidade Escolar Mário Martins;
4. DISCUSSÃO
As análises das respostas dos alunos nos questionários mostraram que, em ambas as Escolas estudadas, não é comum desenvolver atividades relacionadas à reciclagem.
Segundo os discentes da Mário Martins que responderam já ter participado deste tipo de atividade na escola, relataram que as oficinas de reciclagem de papel e garrafas PET desenvolvidas pelos alunos da Universidade Federal do Piauí-UFPI.
Embora as duas escolas não desenvolvam com frequência tais atividades sobre o contexto ambiental,sem dúvida, estas permitem uma boa aceitação por parte dos alunos em trabalhar com temas relacionados ao meio ambiente, como, por exemplo, redução e reciclagem de papel.
Isso pode ser confirmado em Cavalheiro (2008), que trabalhou com 32 alunos da quinta-série, com faixa etária entre 10 e 12 anos, sobre a Consciência Ambiental entre alunos e professores de uma Escola Estadual, em que ele questionou como os estudantes prefeririam discutir e assimilar os problemas ambientais, ele obteve como resultados a escolha por trabalhos práticos como opção mais aceita entre os entrevistados.
Entretanto, Carvalho (2009), diz que trabalhar com atividades práticas como instrumento pedagógico para o reforço da aprendizagem é, sem dúvida, uma prática necessária para favorecer o ensino-aprendizagem e, ao ser utilizado como recurso, tornar as aulas mais atrativas e produtivas, reforçando o objetivo de formar cidadão críticos.
De fato, existe uma carência muito grande que impossibilita as escolas de desenvolverem atividades como as de produzir papel artesanal, já que, para pôr em prática este tipo de atividade a escola necessitaria de um liquidificador industrial, o qual só é disponível em cooperativas que trabalham com grande demanda de produção de papel artesanal.
E quando as atividades de reciclagem, como as de produzir papel artesanal são desenvolvidas nas escolas, observou-se em alguns trabalhos pesquisados, que estes tipos de atividades são realizados apenas com um pequeno número de alunos, como mostra o trabalho “Não” ao Desperdício de Papel, Almeida (2011), com crianças de 1º Ano, na faixa etária de 6 e 7 anos de idade, numa escola municipal da cidade de São Carlos.
De forma similar, Grigoletto (2012), realizou uma atividade prática de produzir papel artesanal apenas com alunos do 4º ano de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental.
Provavelmente, o difícil acesso aos materiais como, por exemplo, do liquidificador Industrial para a confecção do papel artesanal, impossibilita este tipo de atividade de ser realizada com um maior número de alunos.
Observou-se também que as atividades de reciclagem realizadas dentro das escolas sãona maioria, promovidas por meio de oficinas de reutilização de papel; palestras; exposição de vídeo didático, entre outros. Estas, por sua vez, se tornam mais viáveis de serem desenvolvidas com um maior número de alunos, como mostra o trabalho de Maciel; Terán (2010), sobre a reciclagem de papel, no qual desenvolveram atividades de palestra, exposição de vídeo, produção de folhetos informativos e folder, com 265 estudantes do 6º ao 9º ano de uma Escola Estadual.
Embora estas atitudes passem despercebidas, são grandes colaboradoras para o grande desperdício de papel nas escolas. É o que mostra um levantamento realizado em uma sala de aula, com 51 alunos de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental, onde foi apontado que tais atitudes são responsáveis pela maior causa de desperdício de papel em sala de aula, onde ela afirmou que num período de 4 horas, mais de 15 folhas brancas eram desperdiçadas com brincadeiras (CORRÊA, 2008).
Os alunos assumem então uma postura correta ao afirmarem que utilizam os versos das folhas dos cadernos, assim estão contribuindo para o não desperdício uma vez que aproveitam ao máximo a matéria e evitam gastos desnecessários.
No entanto observou durante as análises dos questionários que os entrevistados que responderam não utilizar os versos das folhas, eram todos do gênero feminino. Provavelmente acredita-se que esta seja uma postura adota pelas alunas, talvez pela questão de organização dos cadernos, mais o certo não se sabe, já que essa não foi uma pergunta questionada durante o desenvolvimento do trabalho.
Diante disso, o que se pode observar é que não houve flexibilidade, por parte dos discentes, quanto aos seus maus hábitos, visto que os mesmos não fazem a sua parte como também não colaboram ao ver os demais agindo de forma errônea. Dessa forma acabam contribuindo com o acúmulo de lixo e o desperdício de papel.
Diante de todos os critérios avaliados anteriormente, detectou-se que, atualmente, boa parte do desperdício de papel é proveniente do âmbito escolar, pois até mesmo quando as folhas de um caderno sobram de um ano letivo para o outro estas não são reutilizadas, quando, na verdade, poderiam ser empregadas em diversas outras finalidades.
Diante dos resultados observados, em ambas as escolas, percebeu-se que os discentes possuem um conhecimento muito básico sobre o tema reciclagem, onde os mesmos a conceituaram com termos relacionados à reutilização, transformação e reaproveitamento. De fato, os conceitos dos poucos alunos que responderam estão corretos, uma vez que a reciclagem é o termo geralmente utilizado para designar o reaproveitamento de materiais beneficiados como matéria-prima para um novo produto (AMBIENTE BRASIL, 2011), porém pôde se perceber que eles apresentaram dificuldades em distinguir os termos “reciclar” e “reutilizar”.
Resultados semelhantes podem ser observados no trabalho de Alves (2010) abordando o tema reciclagem na escola, com alunos do ensino fundamental, onde resultados mostram que entrevistados demonstraram não conhecer o termo “reciclagem” quando questionado subjetivamente.
Nos questionários pós-teste, as mudanças nas concepções dos alunos foram pouco expressíveis, embora tenham sido aplicados após a apresentação da palestra e exposição do vídeo, onde o conceito de reciclagem foi bastante explanado. Considerando o grande número de respostas “sim” e os questionários deixados em branco, supõe-se que o alunado deixou de responder pela falta de comprometimento em ajudar no desenvolvimento do trabalho.
Em virtude da totalidade de questionários deixados em branco no pré-teste, supõem-se a falta de conhecimento que os alunos têm sobre a temática reciclagem, já que 100% dos participantes não souberam relatar a importância da reciclagem.
Observaram-se nas poucas respostas dosquestionários pós-teste que os alunos da Escola Mário Martins, relataram a importância da reciclagem relacionada apenas com a limpeza da cidade e o do ambiente.
Diante destes resultados, supõem-se a falta de comprometimento dos alunos, já que este foi outro ponto abordado no decorrer da palestra, onde a reciclagem esteve associada a outros aspectos sociais, financeiros, a geração de empregos, a preservação dos recursos naturais e vários outros exemplos foram trabalhados no momento da apresentação da palestra e mesma assim os alunos optaram por deixar sem responder.
Embora a falta de comprometimento dos alunos tenha dificultado na discussão não apenas deste quesito, mas nos demais questionários, ficou evidente, durante a realização deste trabalho, que as palestras tiveram uma aceitação melhor por parte dos discentes.Isso foi um fato comprovado durante a apresentação da palestra, onde os mesmos assistiram atentos e mostraram interesse pelo tema exposto, talvez por ser algo diferente da rotina escolar.
Podemos então citar mais uma vez o trabalho realizado por (Cavalheiro, 2008), onde as palestras são a segunda opção mais aceita pelos alunos para trabalhar com temas relacionados ao meio ambiente.
O mesmo autor ainda acrescenta que é notório que o ensino tradicional através dos métodos de leituras de livros não desperta interesse nenhum dos alunos, pois estes com as novas metodologias de ensino como trabalhos práticos com jogos e brincadeiras educacionais, palestras, vídeos e internet. Propiciam uma melhor assimilação.
5. CONCLUSÃO
Por meio da realização deste trabalhopercebeu-se que,em ambas as escolas, não são comuns realizarem atividades práticas e educativas de reciclagem, assim como foi perceptível que há pouco conhecimento dos entrevistados sobreo tema reciclagem de papel e que os mesmos desconhecem a reciclagem artesanal do papel.
Houve a falta de comprometimento dos alunos em responderem aos quesitos subjetivos aplicados no questionário pré-teste e pós-teste, o que influencioua análise dos resultados.
A palestra abordando o tema reciclagem despertou bastante interesse dos alunos e demonstrou uma pequena mudança na resposta dos alunos.
Sugere-se que estas informações sirvam para nortear ações educativas e cotidianas no qual a escola possa a vir desenvolver com os alunos não apenas da temática reciclagem, mais de outros temas relacionados com a educação ambiental.
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Agradecimentos
Agradecimentos aos diretores, aos docentes e ao corpo discente do fundamental II das duas Unidades Escolares estudadas que apoiaram a esta intervenção.