A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO AMBIENTE CORPORATIVO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

 

Marília Barbosa dos Santos

Graduada em Geografia/FJAV,Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS.

E-mail: maryliabsantos@hotmail.com

Laiane Agne Nascimento

Graduada em Geografia/FJAV, Especialista em Educação Ambiental com Ênfase em Espaços Educadores Sustentáveis/UFS.

E-mail: agneslaiane@hotmail.com

Andréia Reis Fontes

Graduada em Geografia/UFS, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS.

E-mail: andreia.fontes@hotmail.com

Maria Gabriela Santos Oliveira

Graduada em Engenharia Florestal/UFS, Mestre em Desenvolvimento e MeioAmbiente/UFS.

E-mail: gabi_florestal@hotmail.com

 

RESUMO

 

Desenvolver um sistema consciente e eficaz sobre as devidas aplicações e gerenciamento dos recursos da natureza tem se tornado uma meta nas três ultimas décadas. Nessa perspectiva, as empresas que não interagem com esse sistema necessitam inserir metas de controle de recursos, buscando minimizar os impactos ambientais causados no ambiente empresarial. É no despertar do ambiente de trabalho que a importância de se investir no meio ambiente acaba sendo tarefa de todos. Ações simples podem se tornar um diferencial, pois através da resolução de problemas locais, pode-se alcançar patamares maiores, melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Deste modo, esta pesquisa justificou-se pela necessidade de se promover um diálogo ambiental dentro do ambiente corporativo (escritório), buscando desenvolver ações transformadas em mudança de comportamento, de comprometimento com a causa ambiental e de estímulo à tomada de consciência. Assim sendo, a respectiva pesquisa teve como objetivos analisar os desafios de inserção da Educação Ambiental num âmbito corporativo e apresentar ações que proporcionem mudanças de atitude mais sustentáveis por parte dos funcionários que compõem o ambiente empresarial.Os resultados apontaram que o público-alvo tem consciência do que significa interagir de forma sustentável com o meio ambiente, porém, as ações para concretização das atitudes ainda não se materializaram de forma plena no cotidiano empresarial.

 

Palavras-chave:Desafios; Educação Ambiental; Empresa.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A Educação Ambiental (EA) na contemporaneidade tem sido identificada como componente crítico para a promoção de modelos de desenvolvimento voltados para os discursos ambientais.  Com isso, é perceptível uma cadeia de reflexões e discussões nas últimas três décadas sobre a referida temática (SANTOS; FARIA, 2004).

Despertar no ambiente em que se vive a importância de se investir no meio ambiente é tarefa de todos: empresas, escolas, igrejas, poder público. Incentivar ações simples podem se tornar um diferencial, pois através da resolução de problemas locais, pode-se alcançar patamares maiores, melhorando a qualidade de vida dos cidadãos.

Meyer (1991) relata que o mapeamento ambiental, da descoberta do problema e da situação, significa um inventário, um levantamento e um registro da situação ambiental que se vive em seus múltiplos aspectos. Nesta perspectiva, o problema desta pesquisa se apresentou com a seguinte indagação:de que forma a Educação Ambiental influencia na vida e nas decisões das pessoas em um ambiente corporativo? 

A respectiva pesquisa teve como objetivoanalisar os desafios de inserção da Educação Ambiental num âmbito corporativo e apresentar ações que proporcionem mudanças de atitude mais sustentáveis por parte dos funcionários que compõem o ambiente empresarial.

Diante das realidades que se apresentam nos dias de hoje, a EA se apresenta como a saída mais pertinente e decidida de se construir uma sociedade mais consciente e preocupada com a questão ambiental a fim de manter viva e presente para as futuras gerações os frutos do desenvolvimento e da vida.

            Por isso, justifica-se a importância de se promover um diálogo dentro do ambiente corporativo, seja ele qual for, uma empresa, um escritório ou até mesmo um setor departamental, para que assim outras ações sejam transformadas em reais decisões de mudança, de comprometimento com a causa e de estimulo a tomada de decisões simples, porém, eficazes.

 

 

REFERENCIAL TEÓRICO

 

Os vários caminhos da Educação Ambiental

 

A Educação Ambiental propõe fazer do homem um transformador de seu meio, livre e consciente de suas responsabilidades. É notório isto quando se vê a afirmação de Layrargues (2004), apresentandoum dos caminhos dessa transformação que desponta da convergência entre mudança social e ambiental. Ao ressignificar o cuidado para com a natureza e para com o Outro humano, como valores ético-políticos, a EA Crítica propõe uma ética ambiental, balizadora das decisões sociais e reorientadora dos estilos de vida individuais e coletivos, delineando novas racionalidades e constituindo os laços identitários de uma cultura política ambiental eficaz.

É notório que a proposta da EA vai além de um simples cuidar e/ou preservar/conservar. A participação do homem enquanto autor do processo é indispensável, sendo este o transformador do seu próprio habitat. Layrargues (2004) reitera que a EA Crítica objetiva promover ambientes educativos de mobilização desses processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que se possa superar as armadilhas paradigmáticas deste ambiente e propiciar um processo educativo, em que nesse exercício, possam-se inserir educandos e educadores que sejam capazes de contribuir para o exercício de uma cidadania ativa na transformação da grave crise socioambiental atual.

Para Loureiro (2004), a EA é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que tem no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Tendo em vista a mudança político-social que se espera da sociedade, este passo já é um começo para uma transformação futura, mas que já está enraizada no principio da criticidade.

Para se cumprir tal princípio desdobra-se do outroa complexidade, que segundo Morin; Lisboa (2006) se apresenta com os traços inquietantes do emaranhado, do inextricável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza. Por isso, o conhecimento necessita ordenar os fenômenos, afastando a desordem, o incerto, isto é, selecionar elementos de ordem e de certeza.Estando organizados os fatos, entendendo e reconhecendo os sujeitos complexos fica mais fácil intervir com uma proposta que estimule a consciência e a criticidade humana, social e pessoal, conjunto este que é chamado, sociedade.

 

O ambiente está em processo contínuo e dinâmico de transformação, resultante de fenômenos naturais e ações antrópicas. Uma proposta pedagógica de educação ambiental tem que contemplar essas alterações, considerando que os grupos sociais se apropriam de maneiras diferentes dos recursos naturais, em função de fatores históricos, econômicos e culturais. As leituras e releituras que fazemos do ambiente se insere nesse contexto de formas diferenciadas, sendo balizadas pelo processo de produção e peto mundo do trabalho, do lúdico, do imaginário, das crenças e dos rituais (MEYER, 1991, p. 42).

 

De acordo com esta premissa, reflete-se sobre a importância da continuidade do trabalho, e que este é um processo constante e árduo, porém necessário. A transformação do meio e das pessoas se dá desde o princípio de sua estadia no ceio materno da Terra. O agora é uma consequência boa ou ruim do ontem. Meyer (1991, p 41), reforça que a educação se constitui como princípio de tudo quando relata que “A educação é um processo contínuo de aprendizagem de conhecimento e exercício da cidadania, capacitando o indivíduo para uma visão crítica da realidade e uma atuação consciente no espaço social”.

 

A importância da Educação ambiental nas empresas

 

            É sabido e de suma importância notar os benefícios que a sociedade colhe quando se utiliza da educação para transformar e despertar nas pessoas o desejo de mudança de comportamento e de atitudes. Para Vieira (2016, s.p.), a educação ambiental conduz os profissionais a uma mudança de comportamento e atitudes em relação ao meio ambiente interno e externo às organizações. A EA nas empresas tem um papel muito importante porque desperta cada funcionário para a ação e a busca de soluções concretas para os problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu dia a dia, no seu local de trabalho, na execução de sua tarefa, portanto, onde tem poder de atuação para a melhoria da qualidade ambiental própria e dos colegas. Esse tipo de educação extrapola a simples aquisição de conhecimento.

O papel da EA é, dentro desse contexto, promover uma reflexão a cerca do papel que cada ser humano, membro de uma sociedade, comunidade, pode desempenhar em relação ao seu meio, ao seu local de trabalho e até mesmo a sua casa.

Leff (2001) vem afirmar e consolidar essa tomada de consciência quando afirma que:

 

A educação ambiental fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais, e novos critérios de tomada de decisões dos governos, guiados pelos princípios de sustentabilidade ecológica e diversidade cultural, internalizando-os na racionalidade econômica e no planejamento do desenvolvimento. Isto implica em educar para formar um pensamento crítico, criativo e prospectivo, capaz de analisar as complexas relações entre processos naturais e sociais, para atuar no ambiente com uma perspectiva global, mas diferenciada pelas diversas condições naturais e culturais que o definem (LEFF, 2001, p.256).

 

Sendo assim, dentro de um ambiente corporativo, aonde se encontram as mesmas pessoas pertencentes a esta mesma sociedade, devem sim estar atreladas a todo e qualquer projeto de conscientização a respeito da problemática em questão. O ambiente corporativo se torna para a maioria dos cidadãos economicamente ativos, a sua segunda família, passando mais tempo de sua vida com ela, por isso a importância de se trabalhar a pessoa, o indivíduo.

 

[...] Em uma concepção crítica de Educação, acreditasse que a transformação da sociedade é causa e consequência (relação dialética) da transformação de cada indivíduo, há uma reciprocidade dos processos no qual propicia a transformação de ambos (GUIMARÃES, 2000, p. 13).

 

Investir no indivíduo é o caminho mais eficaz de se promover a EA dentro de um ambiente corporativo, visto que esta não tem distâncias, nem lugares específicos para acontecer. Numa empresa, escola, comunidade, rua, todo e qualquer espaço pode se servir de facilitador para que a promoção de um diálogo aconteça, sendo visíveis pequenas mudanças, porém eficazes.

 

A educação ambiental no trabalho pode se transformar num completo programa educacional e pode ser adotada com eficácia e ser adaptada às necessidades de qualquer organização, com simplicidade e baixo custo [...] A Educação Ambiental conduz os profissionais a uma mudança de comportamento e atitudes em relação ao meio ambiente interno e externo às organizações. A educação ambiental nas empresas tem um papel muito importante, porque desperta cada funcionário para a ação e a busca de soluções concretas para os problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu dia-a-dia, no seu local de trabalho, na execução de sua tarefa, portanto onde ele tem poder de atuação para a melhoria da qualidade ambiental dele e dos colegas. Esse tipo de educação extrapola a simples aquisição de conhecimento (VIEIRA, 2016, p. 1).

 

O que se deseja é criar um ambiente corporativo preocupado e consciente das questões ambientais, a fim de que o próprio colaborador seja um estimulante e estenda suas práticas até sua casa, por exemplo. Seja, na verdade, mais um multiplicador a lançar a semente do cuidado e da responsabilidade ambiental. Projetos conscientes e bem estruturados na Educação Ambiental tem muitas chances de sucesso e frutos.

 

[...] programas de Educação Ambiental, desenvolvidos em empresas, podem obter resultados concretos e positivos desde que estejam, de fato, fundamentados teórica e metodologicamente, nos princípios e objetivos da Educação Ambiental (LIMA; SERRÃO 1999).

 

            Apesar de todo o contexto animador que perpassa a questão em destaque, sabe-se da dificuldade que se enfrenta para alcançar o objetivo. Não é tarefa fácil promover uma mudança, uma transformação, principalmente em um ambiente corporativo, aonde as pessoas, em sua maioria, só desejam apenas cumprir seu trabalho e receber seu salário. É preciso ter plena consciência dos desafios, embasamento teórico e legal sobre a questão e muita disponibilidade. Para isso, a Constituição Brasileira apresenta na Lei 9.795, em seu art. 3º os seguintes parágrafos:

 

V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;

VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais (BRASIL, 2016).

 

Como visto, a própria Constituição atribui a responsabilidade à sociedade, independente do meio que se vive e da atividade que se realize. O processo de conscientização deve ser promovido no ambiente coorporativo, alertando aos participantes do seu lugar no mundo.

Para Nascimento (2008), essa conscientização tem provocado investimentos em projetos de EA, reduzindo o risco de danos à natureza e, ao mesmo tempo, eliminando desperdícios, o que garante ganhos em competitividade, mostrando assim que a responsabilidade empresarial deixou de ter apenas características compulsórias para transformar em ação voluntária, superando expectativas de investidores, colaboradores, consumidores e sociedade como um todo.

Esse deve ser o objetivo das grandes e pequenas empresas, provocar nos seus colaboradores a consciência, incentivar a reflexão e o diálogo. Aguiar; Arrais (2008) reforça a necessidade de suscitar discussões e reflexões a respeitos da preservação ambiental e buscar alternativas para minorar e/ou evitar o aumento do desequilíbrio ambiental.

Inúmeros são os benefícios para a empresa e para os colaboradores, além da redução nos custos com água e energia, por exemplo, para o meio ambiente o ganho é incalculável. Se pensar nos benefícios a longo prazo com a constância das práticas, dobra-se de valor. O meio ambiente ganha com o equilíbrio que será provocado: menos lixo, menos material poluente jogado, menos papel, enfim, o excesso que é convertido em educação.

Para os que chegam e se deparam com novos costumes, a empresa ganha com a imagem positiva que será passada e espalhada, tornando a sua marca uma referência diante de um cenário competitivo e de responsabilidade socioambiental.

 

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

A pesquisa realizou-se no escritório da empresa AGROPEC ALIMENTOS, situada no centro da cidade de Lagarto/SE (Figura 1).

 

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Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: GÓIS, 2016.

 

Para construção da pesquisa realizou-se observações técnicas no decorrer da jornada de trabalho semanal dos funcionários da empresa a fim de captar o maior número de informações necessárias para obtenção de um resultado concreto do objeto investigado.

As relações analisadas no ambiente de abordagem da pesquisa foram devidamente descritas, utilizando o procedimento técnico da observação participante, descrita por Gil (2012):

 

A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo (GIL, 2012, p. 103).

 

Como suporte para coleta de dados fez-se uso do instrumento técnico da entrevista semiestruturada. Demo (1995) enfatiza que a entrevista semiestruturada possibilita ao pesquisador descobrir a realidade. Minayo (1996) reitera que este procedimento pode ser compreendido como fenômeno que permite aproximar fatos ocorridos na realidade, da teoria existente para o assunto analisado a partir da interação entre os mesmos.

Para sistematização deste estudo utilizou os procedimentos metodológicos dispostos na Etnometodologia. Essa ferramenta metodológica tem como finalidade investigar os mecanismos que os sujeitos utilizam para realizar as atividades do seu cotidiano (COULON, 1995). Fonseca (2002) enfatiza que:

 

[A] etnometodologia se refere nas suas raízes gregas às estratégias que as pessoas utilizam cotidianamente para viver. Tendo essa referência por norte, a pesquisa etnometodológica visa compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a sua realidade social. Para a pesquisa etnometodológica, fenômenos sociais não determinam de fora a conduta humana. A conduta humana é o resultado da interação social que se produz continuamente através da sua prática quotidiana (FONSECA, 2002, p. 36).

 

Gerhardt; Silveira (2009, p. 41) enfatiza que “Para estudar as ações dos sujeitos na vida quotidiana, a pesquisa etnometodológica baseia-se em uma multiplicidade de instrumentos, entre os quais podemos citar: a observação direta, a observação participante, entrevistas, estudos de relatórios e documentos administrativos, gravações em vídeo e áudio”. Deste modo, as entrevistas gravadas são postas como um método capaz de diagnosticar o que os membros da empresa pensam a respeito da EA, levando a pesquisa para um caminho de análise mais concreta da realidade investigada.

A natureza da pesquisa apresentou-se de forma qualitativa. Raupp; Beuren (2003) ressalta que nesta pesquisa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno investigado, tal abordagem visa destacar características não observadas por meio de estudo quantitativo.

Quanto ao tipo de pesquisa, correspondeu à pesquisa-ação, caracterizando uma pesquisa de intervenção. SegundoThiollent (1985):

 

[A pesquisa-ação] é um tipo de pesquisa [...] com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos do modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 1985, p. 14).

 

As investigações preliminares se realizaram por fontes primárias (dados históricos, bibliográficos e estatísticos, informações, arquivos oficiais, registros em geral, correspondência pública ou privada, etc.) e por fontes secundárias (imprensa em geral e obras literárias) (LAKATOS; MARCONI, 2003).

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Atualmente no Brasil tem se falado significativamente em cidadão consciente, impostos, respeito às leis e da crise de valores que a população vem passando. Vale ressaltar que a questão ambiental está inserida nesse processo de consciência e de cidadania. Partindo desse pressuposto, os entrevistados afirmaram, de forma unânime, que para ser um cidadão consciente também está inserida a questão ambiental, vista como algo que extrapola as questões financeira e moral.

O primeiro passo para construção da pesquisa se deu por meio da aplicação das entrevistas semiestruturadas, realizadascom os funcionários que compõem o quadro da empresa. Para a manutenção do sigilo de cada entrevistado que concedeu a gravação, as citações foram abreviadas por E1, E2 (Entrevistado 1, Entrevistado 2...).

As entrevistas foram feitas de forma oral, através da gravação por áudio com três participantes e uma de forma escrita, totalizando quatro entrevistados. As entrevistas foram feitas com total liberdade por parte dos participantes, já que este tema já vinha sendo debatido no escritório por meio de rodas de conversas informais.

A entrevista teve o objetivo de diagnosticar e conhecer a opinião de cada participante, identificando o que eles trazem de conhecimento acerca da Educação Ambiental e, principalmente, sobre o que eles têm visto e pensado a respeito da intervenção por meio do projeto no escritório, suas perspectivas e desafios.

Diante das análises das atitudes no cotidiano dos investigados, pode-se notar que a maioria dos funcionários da empresa se preocupa com a consciência ecológica. Quando questionados sobre o cuidado com a conservação dos recursos da natureza, 100% dos entrevistados afirmou se preocupar com a conservação destes recursos.

Uma das perguntas trouxe um apanhado geral sobre o que cada participante sabe sobre EA. As respostas revelaram a EA como alvo para se alcançar a conservação ambiental e obter qualidade de vida. Alguns dos entrevistados deram as seguintes respostas:

 

E1 “´É você saber cuidar né, do meio ambiente que vive, preservar da melhor maneira possível”.

 

E2 “Bom, sobre Educação Ambiental, o que vem na minha cabeça, a princípio, é na verdade uma nova maneira de você adaptar o seu padrão de vida, fazendo a coleta seletiva, por exemplo, repassando para as novas gerações o que deve ser destinado para determinado local, o lixo, no caso.”

 

E3 “Educação Ambiental é educar as pessoas, como a educação no trânsito”.

 

Sobre o interesse que o indivíduo tem em relação ao meio ambiente, afirmou-se:

 

E3 “O interesse de ter uma vida melhor porque se você não cuida né, você entope o esgoto, aí você vai sofrer as consequências daquilo, então o interesse é o melhor possível para que você também se sinta bem com o ambiente cuidado”.

 

E4 “O interesse deve ser todos porque as coisas no meio ambiente acontecem justamente por isso, os desastres, eu acho que a preocupação mais importante é essa, e a gente vai pagar por isso. Acaba pagando por tudo que a gente faz”.

 

Não basta apenas preocupar-se com a questão ambiental é necessário antes de tudo esforçar-se para tal, como mostra a fala da participante E2 em uma de suas respostas:

 

E2 “Sim, lógico! Procuro me esforçar o máximo possível”.

 

Sobre a importância de inserir a EA no escritório, percebeu-se que os entrevistados se preocupam com o meio ambiente, porém enfrentam algumas dificuldades na inserção de práticas de conservação no ambiente corporativo, como verificou-se nas falas abaixo:

 

E1: “Eu acho correto pensar no meio ambiente, mas ainda tenho preguiça de exercitar tal prática no trabalho. Em casa às vezes eu ainda faço alguma coisa, mas aqui na empresa acho complicado, sei lá”.

 

E2: “Se a gente não vê ninguém fazendo não consigo fazer nada, não tenho estímulo nem motivação, mesmo achando importante”.

 

Os cuidados com o meio ambiente no ambiente corporativo merecem uma atenção especial, pois mesmo com atitudes aparentemente pequenas, estas podem ser capazes de promover mudanças de comportamento ainda maior, além dos limites empresariais. Rodrigues (2012) enfatiza que:

 

No processo de sensibilização através da EA, os colaboradores da empresa recebem informações que trazem o despertar para as ações ambientais, trabalhando a coletividade em práticas sustentáveis, promovendo sua transformação em cidadãos conscientizados. Outro ganho importante para a empresa é a construção de uma imagem positiva e ecologicamente correta, a partir da evolução do conhecimento de seu público interno sobre as questões ambientais(RODRIGUES, 2012, p. 7).

 

            A visibilidade frente ao mercado promove um status de empresa ecologicamente correta, ampliando a sensibilização dos funcionários. A Lei nº. 9.765 de 27 de abril de 1999, que dispõem sobre a Política Nacional de Educação Ambiental no seu Art. 3° no parágrafo V enfatiza que:

 

Às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, devem promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente (BRASIL, 2016).

 

Deste modo, busca-se motivar os funcionários da empresa             a compreender que estão práticas vão além dos discursos televisivos e que cada um é responsável pelo local que habita e desenvolve suas atividades cotidianas.

O esforço particular de cada participante pôde ser verificada no questionamento seguinte, que trouxe à tona as práticas que eles realizavam em favor do meio ambiente fora da empresa. A questão do racionamento de água foi a resposta comum a todos, com as medidas de evitar o desperdício, além da separação do lixo, nesse caso o orgânico do comum e o óleo no esgoto.

Buscou-se identificar o que os colaboradores do escritório pensam a respeito do meio ambiente e das práticas realizadas em favor dessa mudança. Com efeito, a pergunta que evidencia bem essa proposta tiveram respostas favoráveis, 100% dos participantes foram a favor das mudanças, como mostra na fala da participante a seguir:

 

E2: “Aqui no escritório é importante porque tem que começar no trabalho da gente porque não adianta agente fazer em casa e no trabalho fazer totalmente o contrário, apesar de que aqui falta muita coisa”.

 

A segunda etapa contemplou a aplicação, dentro do escritório, de tudo aquilo que pode ser melhorado, como novas ideias acerca da mudança de pensamento em relação à EA e a nossa responsabilidade em meio ao processo. 

Foi proposto como mudança, a separação do lixo tóxico, como pilhas, carregadores, baterias, celulares e computadores do lixo comum, que antes eram descartados sem nenhum tratamento ou separação. A troca de centenas de envelopes por malotes, que são fixos, apenas lavados. A sensibilização na economia de água durante a limpeza no escritório. O lixo orgânico que ganhou destino certo, separado dos demais. A economia de energia com o desligamento das luzes e computadores na saída de cada intervalo. A economia de papel durante as impressões, reutilizando quase que 90% de todo a impressão que antes era descartada (Figuras 2, 3, 4, 5 e 6).

 

 

Figura 2. Descarte específico de lixo orgânico. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

 

 

Figura 3.Substituição de envelopes de papel por malotes de plástico. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

 

 

 

 

Figura 4. Descarte de pilhas e baterias. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

 

 

Figura 5. Descarte de material tecnológico. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

 


Figura 6. Reaproveitamento de papeis. Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

 

Dentro das mudanças sugeridas, a aceitação foi o primeiro passo, nada imposto. A sensibilização facilitou a aceitação destas novas práticas. As mudanças dentro do escritório foram visíveis. Entre as quais destacam-se a economia de água na limpeza, a separação do lixo tóxico (pilhas, baterias, carregadores e etc.), além das transformações comportamentais. De acordo com um dos participantes:

 

E2: “Cada vez mais que eu vejo alguma ação em relação a isso, eu fico mais consciente, me sinto mais obrigado a contribuir”.

           

As práticas, até então atreladas ao comodismo e à ausência de proatividade nas pessoas, foram fatores fundamentais para que medidas mitigadoras não tenham sido implantadas anteriormente.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Por conseguinte, foi possível atribuir a importância significativa da educação como papel transformador de uma sociedade capitalista e de consumo. A educação tida como mola mestra e propulsora de equilíbrio ambiental, sensibilização e harmonia social.

AEA propiciou os indivíduos a enxergarem-se como pertencentes do meio e responsáveis pelo mesmo. O estímulo e a sensibilização são fundamentais nesse processo, pois faz com que o homem reflita sobre seu papel.

Em um ambiente coorporativo não é diferente, pelo contrário, cada colaborador pensa em si primeiramente e nega-se, muitas vezes, a tomar decisões simples em favor do meio ambiente. Para a empresa, a relação lucro/benefícios é tida como objetivo principal, deixando os interesses ambientais em segundo ou terceiro plano.

O meio ambiente clama por socorro, os problemas são visíveis e a necessidade de ações mitigadores é urgente, repercutindo nos ambientes familiares, educacionais, corporativos, isto é, cada meio deve ser responsável por incentivar e motivar a tomada de decisão nas mais diversas instâncias sociais.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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