ÁRVORES LITERÁRIAS SOBRE ARIANO SUASSUNA: NATUREZA E ARTE COM LITERATURA NO AMBIENTE ESCOLAR
Fernando Antonio Abath Luna Cardoso Cananéa
Doutor em Educação/UFPB
Professor do Mestrado Profissional em Artes/UFPB
Professor da Especialização em Gestão Educacional e Supervisão Escolar-IESP/UNAVIDA/PB
fernando_abath@hotmail.com
Ailza de Freitas Oliveira
Doutoranda em Educação/UFPB
Mestra em Linguística e Ensino/UFPB
Professora de Artes Cênicas-PMJP/PB
ailzafreitas@hotmail.com
Palavras-chave: Arte Educação.Projetos Pedagógicos. Árvores Literárias.Educação Ambiental.
Resumo
Árvores Literárias sobre Ariano Suassuna é uma experiência desenvolvida no âmbito escolar que promoveu a integração entre arte, literatura e educação ambiental por intermédio da realização de projetos pedagógicos em Arte Educação. Pautada na criatividade, preservação e experimentação prática pós-teoria, estudantes realizaram intervenções pedagógicas transformando as árvores do pátio escolar em suportes educacionais.
Diálogos iniciais
Desenvolver as habilidades artísticas e literárias dos estudantes no ambiente escolar é um desejo que acreditamos ser unânime entre os educadores. Percebemos que projetos, ações, aulas motivacionais e demais intervenções que reforcem o contato e desejo pela arte e pela literatura são continuamente desenvolvidos nas escolas; assim, pautando-se na leitura e na escrita, educadores realizam iniciativas criativas, num desejo crescente – e por vezes desesperado – por incentivar a espontaneidade em ler e escrever, em produzir artística e literariamente, em desenvolver habilidades que secularmente são cobradas de produção no ambiente escolar.
Além das demandas literárias e artísticas, outro aspecto que está em pauta contínua como tema transversal nas unidades de ensino é a questão ambiental; a natureza e o respeito ao meio ambiente tem sido trabalhado em inúmeras experiências didático pedagógicas no país e no mundo.“E nossa percepção é cotidianamente ampliada (ou não) por vivências, conhecimentos, contatos e trocas de experiências. Inclusive, as realizadas nos ambientes social, doméstico e escolar” (CANANÉA; OLIVEIRA, 2016, p.01).Nosso cotidiano e as práticas exercidas nele nos conduzem à constituição do que somos, porque somos o que dizemos, mas somos, sobretudo, o que fazemos independente do que dizemos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN que tratam dos Temas Transversais apontam que “São grandes os desafios a enfrentar quando se procura direcionar as ações para a melhoria das condições de vida no mundo. Um deles é relativo à mudança de atitudes na interação com o patrimônio básico para a vida humana: o meio ambiente” (PCN, 1998, p. 169).O meio ambiente precisa ser visualizado como patrimônio de necessidade básica e cuidado com a consciência de que é um bem finito, destrutível e em contraponto, é também vital.
A consciência da necessidade de preservação ambiental além de ser imprescindível na formação humana é também mister para a sobrevivência integrada e integral das espécies. “A melhoria de nossas práticas ambientais está diretamente relacionada à forma que percebemos o ambiente que nos cerca” (CANANÉA;OLIVEIRA, 2016,p. 01). As catástrofes ambientais demandam lacunas por vezes irreparáveis à espécie humana e, infelizmente, muitas delas ocorrem por atos praticados paulatinamente por homens e mulheres que poluem, destroem, desmatam, extinguem, e promovem as mais variadas insanidades em nome de um progresso desordenado e alimentado pela indústria cultural com o consumismo desenfreado e o capitalismo selvagem, uma vez que:
Em todos os espaços, os recursos naturais e o próprio meio ambiente tornam-se uma prioridade, um dos componentes mais importantes para o planejamento político e econômico dos governos, passando então a ser analisados em seu potencial econômico e vistos como fatores estratégicos (PCN, 1998, p. 176-177).
É grave e igualmente comum vermos em decorrência exclusiva da ação humana, águas poluídas, áreas de preservação destruídas, florestas desmatadas, espécies animais extintas, entre várias outras mazelas humanas, que na contra mão das práticas cruéis apontam a escola como o lugar social responsável de produção do milagre de aprender a preservar, cuidar, limpar, manter e viver harmonicamente com o meio ambiente. A sociedade atribui à escola o papel de conscientização que deve ser regado nos lares, no seio das famílias, no exemplo dos pais, na prática dos avós, na convivência consciente dos que valorizam o que precisam e, o meio ambiente preservado é necessidade humana.
No entanto, diante do insucesso familiar em propagar a preservação ambiental, a escola é apontada como espaço social responsável para tal feito e imperam as práticas de educação ambiental. Em oposição a isso,“Sabe-se que o maior bem-estar das pessoas não é diretamente proporcional à maior quantidade de bens consumidos. Entretanto, o atual modelo econômico estimula um consumo crescente e irresponsável condenando a vida na terra a uma rápida destruição” (PCN, 1998, p.177). Diante disso, afirma-se que na escola, os milagres acontecem, e dessa forma, os professores são responsáveis por ensinar quase tudo o que a sociedade deseja e rotula que seja aprendido.
Assim, “Estamos refletindo sobre uma temática urgente, pois o uso inadequado desses recursos naturais causam danos, por vezes, irreparáveis” (CANANÉA; OLIVEIRA, 2016, p.15). Embora esta não seja a pauta basilar deste artigo, nosso desabafo se fundamenta no dilúvio de demandas às escolas atribuídas atualmente. Pautas onde a escola deveria agir como coadjuvante e a família como protagonista têm seus papeis invertidos proposital e socialmente.
Neste artigo narraremos a aplicação de uma ação denominada “Árvores Literárias sobre Ariano Suassuna”, desenvolvida na disciplina de Artes Cênicas, dentro do Projeto Interdisciplinar “Literando com Ariano”, desenvolvido numa escola pública municipal da cidade de João Pessoa, nas modalidades de ensino Fundamental II e Educação de Jovens e Adultos, no 1º semestre do ano letivo de 2017, objetivando desenvolver leitura, escrita, literatura, arte e o cuidado com a natureza, além da criatividade, daintegração em grupo e familiaridade com as frases e pensamentos do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, conterrâneo que se notabilizou peladramaturgia de “O Auto da Compadecida”, obra que serviu de motivação para as produções desenvolvidas.
Créditos: fotos Ailza Freitas durante execução da atividade (2017)
Após apreciação estética do filme que teve como pauta o texto acima mencionado, realizamos debates coletivos orais e dentre outras atividades, a solicitação de que cada estudante, em casa, pesquisasse e anotasse em seu caderno frases e pensamentos do autor, contidas no referido texto ou não, para atividade posterior. Dessa forma, os estudantes realizaram a pesquisa das frases, escrevendo-as em seus cadernos as que mais se identificaram ou chamaram atenção, motivados pela apreciação estética que haviam realizado do filme que teve como texto a dramaturgia estudada.
Na aula seguinte, as frases foram compartilhadas em leituras individuais, transformando o momento em um sarau poético, assim, cada estudante realizou a leitura coletiva da frase escolhida, ao tempo em que o convite para a construção de árvores literárias sobre Ariano Suassuna foi realizado. Com a ideia de complementação da atividade lançada, a turma se mobilizou em planejar como ilustraria cada frase selecionada.
As ações teóricas e práticas aqui relatadas foram realizadas nas aulas de Artes Cênicas, mas lembramos de que como se tratou de um projeto interdisciplinar, ações complementares, diversificadas e também fundamentadas foram desenvolvidas nas demais disciplinas curriculares, fortalecendo e ampliando as aprendizagens sobre o autor Ariano Suassuna, sua biografia e a obra “O Auto da Compadecida”, selecionada para ênfase no projeto.
Dessa forma, cada estudante, após correção ortográfica, transcreveu uma frase selecionada para plaquetas individuais de cartolina dupla face colorida que foram caprichosamente decoradas com ilustrações dos estudantes, perfuradas para colocação de barbante e cobertas por papel contacto para auxiliar na impermeabilização, possibilitando uma maior durabilidade diante do ambiente externo suscetívelaos fenômenos naturais do sol, sereno, vento e chuva.
Créditos: fotos Ailza Freitas durante execução da atividade (2017)
Em seguida, as plaquetas foram penduradas nas árvores existentes no pátio escolar, obedecendo à harmonia espacial entre uma e outra, bem como, a sincronia das cores aproximadas para que visualmente, nossas árvores obtivessem um impacto positivo diante da comunidade escolar e motivassem a aproximação e consequentemente, leitura das plaquetas com frases que permitiram a familiarização com o pensamento do autor estudado.
Nosso intuito foi transformar um aspecto da natureza, presente na escola, num suporte pedagógico, uma vez que as árvores já haviam sido utilizadas anteriormente em nossa disciplina curricular como cenário de espetáculos, outra vez como palco para performance cênica e agora pela primeira vez, como suporte para a ação pedagógica por intermédio da tríade natureza, literatura e arte. “Além disso, a grande função da arte é a comunicação, uma vez que o entendimento mútuo é uma força a unir as pessoas, e o espírito de comunhão é um dos mais importantes aspectos da criação artística” (CANANÉA, 2012, p.63). Assim, a arte na escola seguiu promovendo educação ambiental e familiaridade literária.
Abaixo, podemos visualizar imagens que registram de forma alternada os momentos de produção das árvores literárias e de consumo dos textos ilustrados, onde estudantes fazem fluir o saber literário adquirido em harmonia com as árvores que representam o meio ambiente e em sintonia com a arte de desenhar, pintar, ler e escrever. Dessa forma, fomos atribuindo ao verde das folhas, novas e diferentes cores que somadas, ofertaram outro movimento às árvores e a atividade desenvolvida.
Créditos: fotos Ailza Freitas durante execução da atividade (2017)
Sabemos que as conhecidas funções das árvores como decorativas, sombreiros ou frutíferas conduziram os nossos olhares a invisibilidade de suas presenças, tamanha habitualidade com os gigantescos cedros no pátio, no entanto, tratando-se de algo com vida e não de um mero objeto, buscamos renovar as impressões sobre as árvores ampliando as possibilidades de suas funções corriqueiras para uma função direcionada ao que se propõe na escola: aprender e ensinar.Portanto, através das experiências passadas com as árvores é que se efetivou a experiência presente de lê-las sobre um olhar atual, adquirindo novas formas e sentidos.
Assim, em um quadro plano bastam algumas sombras e algumas luzes para produzir um relevo, em uma adivinhação alguns galhos de árvore surgem um gato, nas nuvens algumas linhas confusas surgem um cavalo. Mas só depois a experiência passada pôde aparecer como causa da ilusão, foi preciso que a experiência presente primeiramente adquirisse forma e sentido para fazer voltar justamente esta recordação e não outras. É, portanto,sobre o meu olhar atual que nascem o gato, a palavra substituída, o revelo (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 45).
Dessa forma, é sobre o olhar atual pós-intervenção artística e literária nas árvores da escolaque nascem as novas árvores no pátio escolar, o novo olhar, fruto da reinvenção utilitária das árvores que fornecem as mesmas outros sentidos, diferentes de ornamentar, frutificar e sombrear, as árvores são agora também pedagógicas, espaços de aprendizagens e seu novo contexto induz estudantes e demais membros da comunidade escolar a observarem o que nas árvores foi escrito e desenhado, a cuidar das plaquetas, a comentar sobre elas, comparando, interagindo, apontando semelhanças e desigualdades, enfim, aprendendo.
Nosso objetivo inicial de promover a leitura e escrita de pensamentos, frases e versos do autor estudado no Projeto Interdisciplinar “Literando com Ariano” se expandiu, pois por ser um suporte distinto dos demais anteriormente utilizados, conduziu à curiosidade especulativa de todos. Assim, tornou-se comum observamos estudantes sozinhos e em grupos manuseando as plaquetas em vários intervalos seguidos, comentando sobre elas, apontando, fotografando, sorrindo e também seriamente. E independente do conteúdo que movimentou tais diálogos, uma vez que não buscamos conhecê-lo, o que nos motiva pedagogicamente é percebermos que as árvores já não são as mesmas, nem as frases de Ariano são desconhecidas, e a leitura e escrita tomaram seus próprios rumos, para além do momento de produção de seus autores, ambas disseminam os fatores positivos que as integram.
Após a realização teórica do conteúdo e conclusão da prática na elaboração das árvores literárias, realizamos um questionário de pesquisa, contendo quatro questões abertas sobre a opinião dos estudantes em relação a atividade, para auto avaliação de nossa proposta, bem como, para observação com análise científica sobre o cumprimento de nossos objetivos com esta proposta pedagógica escolar. O questionário aberto foi aplicado com 136 estudantes no mês de julho de 2017, realizando-se de forma presencial e redigida, durante uma hora aula na disciplina de Artes Cênicas.
Como procedimento metodológico realizamos uma pesquisa de campo, segundo Romão, “Ela diz respeito à “empiria”, isto é, vamos a um determinado universo buscar dados que, coletados, selecionados, tabulados e interpretados, comprovarão as nossas hipóteses” (2015, p.183). Neste caso, a hipótese analisada é se e como ocorreu a aprendizagem diante da atividade desenvolvida nas árvores literárias.
Visando formatar a nossa análise, elaboramos gráficos com os dados obtidos na pesquisa, dividindo as respostas adquiridas entre positivas, negativas e comentadas, assim, além de refletirmos de forma escrita sobre os resultados do questionário, também podemos visualizar de forma ilustrada os retornos recebidos. Dessa forma, entre os textos a seguir observaremos também, os quatro gráficos, que correspondem a cada pergunta do questionário realizado em nossa pesquisa “Ainda que a relação de pesquisa se distinga da maioria das trocas da existência comum, já que tem por fim o mero conhecimento, ela continua, apesar de tudo, uma relação social que exerce efeitos” (BOURDIEU, 1997, p. 694). Neste caso, buscamos registrar os efeitos obtidos junto aos estudantes diante da atividade desenvolvida.
Em resposta a primeira questão, quando indagados sobre o que acharam da atividade, todos os estudantes responderam de forma positiva, classificando a atividade como divertida, boa, legal, ótima, criativa e interessante num total de 109 estudantes, conforme nos mostra o gráfico abaixo:
Algumas respostas positivas tiveram fundamentação que as complementaram, como por exemplo, um estudante redigiu: “Eu achei legal e criativa, pois eu nunca havia feito algo igual. Me diverti e achei que a árvore ficou bonita, até chamou a atenção de todos”. Outra justificativa foi complementada noutra resposta que foi redigida por três estudantes onde afirmam: “Adorei, porque eu e meus amigos nos divertimos”, enquanto que um outro estudante aponta que “Eu aprendi mais sobre Ariano Suassuna e gostei da frase dele”. Outros quatro estudantes afirmaram gostar de escrever, desenhar e pintar e por isso gostaram da atividade, ao tempo em que outros sete estudantes classificaram a atividade como especial, diferente e espetacular, apontando que por isso foi interessante participar. Dessa forma, percebemos que dos 136 estudantes, 16 complementaram suas respostas positivas na primeira questão do questionário.
Ainda no leque de respostas positivas, a atividade foi adjetivada como interativa, inteligente, educativa, precisa e instrutiva; tais adjetivos foram atribuídos por no mínimo um estudante cada um deles, totalizando mais cinco respostas positivas. Por fim, um estudante não respondeu a questão, deixando-a em branco, e três responderam justificando terem faltado no dia da execução. Percebemos com as respostas acima que, todos os estudantes responderam positivamente sobre suas impressões da atividade, demonstrando que houve uma excelente aceitação entre os participantes.
Na segunda pergunta do questionário indagamos sobre qual foi a aprendizagem dos estudantes e obtivemos nove tipos diferentes de respostas, das quais, seis julgamos positivas e três negativas. Entre as respostas que consideramos negativas, estão dois estudantes que não responderam, deixando a questão em branco, um que respondeu não saber qual foi a sua aprendizagem e cinco que responderam que não adquiriram nenhuma aprendizagem, assim, dos 136 estudantes que participaram do questionário, oito responderam de forma negativa sobre a aprendizagem adquirida com a atividade, conforme o gráfico aponta:
Entre as seis diferentes respostas positivas a esta segunda questão, observamos que a grande maioria, ou seja, trinta e quatro estudantes responderam que a aprendizagem foi muito boa sobre Ariano Suassuna e outros vinte e dois estudantes responderam que a aprendizagem foi divertida porque “aprendeu lindas frases de Ariano Suassuna”. Já outros sete estudantes responderam que aprenderam muitas frases do autor e cinco outros, responderam redigindo uma das frases estudadas.
Outros seis estudantes redigiram que esse tipo de atividade é muito legal e interessante. E cinco estudantes responderam que aprenderam muitas coisas, no entanto, o que nos surpreendeu foram as respostas de três estudantes que parafrasearam o autor, ao tempo em que interpretaram frases dele, demonstrando segurança e compreensão do conteúdo, um deles escreveu “que nunca troque nada por outro de ninguém”, em interpretação à frase “Nunca troque o seu oxente pelo ok de ninguém”, quando o autor sugere a valorização da cultura local e popular em oposição à cultura de massa. Sobre essa mesma frase, outro estudante escreveu que “Cada um tem seu sotaque e que não existe o certo de falar ou não”; e culminando as interpretações, outro estudante escreveu que “A minha aprendizagem foi que é muito bom ser esperançoso” também interpretando outra frase do autor, quando Ariano afirma que“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso…”. Ter esperança é ter fé e motivação para ser um agente de mudanças positivas, por isso, embora não concordemos que otimismo seja tolice nem tão pouco que pessimismo seja chatice, acreditamos que nossas escolas precisam ser povoadas em sua maioria por realistas esperançosos, profissionais e estudantes que consigam enxergar a realidade e que diante dela se fortaleçam na esperança por mudanças reais.
Dentre as respostas diversas e positivas, somamos dozeestudantes que responderam com seis respostas diferentes mas complementares. Apontando que é bom escrever e ler e que a atividade incentiva a leitura tivemos três respostas; concluindo que a atividade é “muito boa porque eu gosto de fazer atividades diferentes” percebemos quatro respostas; outros dois estudantes colocaram que “Eu aprendi que a linguagem de Ariano Suassuna é muito realista”; Sobre o estilo verbal, um estudante afirmou que “Eu aprendi língua matuta”; outro pontuou que “Eu gostei pois atividades interativas como essa nos fazem aprender melhor” e um último redigiu sobre um dos aspectos que objetivamos trabalhar, quando ao falar sobre o meio ambiente colocou que a atividade ajuda a “Dar valor a natureza”. O que nos faz percebermos a aproximação com uma das tríades das áreas do conhecimento trabalhadas na atividade: arte, literatura e natureza. Dar valor é cuidar e despertar para a necessidade de cuidar é um de nossos desejos.
Na terceira e penúltima pergunta do questionário, indagamos sobre que sugestões os estudantes acrescentariam a atividade. Para esta questão, obtivemos nove grupos de respostas distintas, sendo oito deles positivas e um negativa. Entre as respostas do grupo representado abaixo na cor rosa do gráfico, que corresponde as respostas que apontam falhas na atividade, estão dois estudantes, um redigiu que a atividade poderia ser mais divertida e o outro se referindo ao tempo de execução, lamentou sobre o acabamento dos trabalhos, quando pontuou “Que tivéssemos mais tempo, pois acho que os trabalhos poderiam ficar bem mais bonitos”, no entanto, podemos perceber no gráfico abaixo que este percentual de aspectos negativos é baixíssimo, em relação aos outros oito grupos de respostas classificadas como positivas.
Um índice elevado de estudantes responderam que não acrescentariam nenhuma atividade, o que corresponde a vinte e duas respostas e mais quatro que deixaram em branco, no entanto, 50% dessas respostas foram complementadas com frases como “Não acrescentaria nenhuma sugestão porque a atividade foi muito boa e legal”, ou gostaria “Que escrevêssemos frases para as pessoas que gostamos”, nos conduzindo a inferência de que não acrescentar sugestão significou achar que a atividade foi satisfatória.
Sugestões de ações que dessem continuidade também foram apontadas, vinte e quatro estudantes solicitaram a encenação das frases, leitura, musical, ilustrações e pinturas, demonstrando interesse por atividades práticas e diversificadas. Outros seis estudantes sugeriram a construção de outras árvores literárias sobre outros autores importantes, expandindo a ideia também para outras escolas e doze estudantes sugeriram “Que botasse pisca-pisca na árvore pra ficar mais brilhante”. Frases do autor foram as respostas ofertadas por dois estudantes e outros quatro estudantes redigiram respostas diversas, entre elas, a sugestão de estudarmos mais a biografia do autor, a cultura nordestina, bem como, a solicitação de fotografarmos todo o processo e realizarmos em todas as árvores da escola.
Frases espalhadas nas salas e corredores foi a sugestão de seis estudantes. Percebemos então o externar do desejo de formato tradicional de exposição escolar, voltando ao convencionalismo nos espaços físicos que utilizamos para montagem dos painéis expositivos. No entanto, quantidade similar de seis estudantes sugeriram outros jogos e brincadeiras, em consonância com outros nove que enfatizaram o desejo por mais aulas dinâmicas assim.
Na quarta e última pergunta do questionário, indagamos sobre a ocorrência de alguma mudança na opinião dos estudantes em relação às árvores e percebemos que a grande maioria respondeu de forma positiva, o que desejávamos e esperávamos, sendo que, para além de nossa satisfação, um percentual elevado de estudantes fundamentou as suas respostas, nos ofertando maior segurança nas respostas que com justificativas diversas apontam as mudanças decorrentes da realização da atividade junto às árvores do pátio escolar.
Apesar de 20% dos estudantes entrevistados terem respondido que não houveram mudanças e de 2% ter deixado a questão em branco, sem resposta, observamos que 14% responderam que sim, afirmando haver mudanças em sua opinião sobre as árvores e outros 64% dos estudantes justificaram suas respostas positivas com as mais variadas fundamentações. Entre as respostas fundamentadas pudemos observar que nove estudantes disseram que as árvores ficaram mais bonitas e mais vivas; onze estudantes afirmaram que ficou mais enfeitada e mais linda; oito estudantes escreveram que “sim, porque as pessoas estão reparando mais nelas, até vejo pessoas lendo”; outros cinco estudantes registraram que “sim, porque as pessoas olham para as arvores e leem as frases”; mais três estudantes redigiram “sim, porque todo dia quando eu chego eu vejo alguém olhando elas”; e ainda outros dois estudantes afirmaram que “sim, acabou enfeitando a escola, deu vida a escola” e também dois é o número de estudantes que redigiu “sim, foi legal, ótimo, gostei”. Assim obtivemos diversas fundamentações para o nosso questionamento.
Essas respostas acima, classificadas como positivas e fundamentadas reuniram o maior número de estudantes em cada uma das justificativas, mas observamos também respostas tão interessantes quanto essas, ofertadas de forma individual, por estudantes de forma isolada, em questionários entregues, como por exemplo: “Sim, porque a frase me fez conhecer novo amigo e hoje eu gosto mais de árvores”; “Muito bom que eu leio todo dia”, “Sim, o aprendizado”, “Sim, ficaram mais interessantes”, “Sim, elas me ajudam a viver”, “Sim, porque você passava por lá e nem dava bola, agora você passa por lá e tem vontade de ler as frases”, “Sim, porque agora eu reparo nelas depois da atividade”, “Sim, antes era só uma árvore comum, agora e mais bonita, interessante e divertida”, “Sim, elas viraram algo mais, as arvores viraram pedestais para nós”, “Sim, pois depois que colocamos as frases todos começaram a notar a “presença” das árvores”, “Sim, as pessoas não paravam para ver as árvores, agora os alunos param para olhar”, “Sim, antigamente ninguém olhava para as árvores, depois do nosso trabalho todo mundo vai ver”, “Sim, tem muitas frases que dá alegria e força emocional”. A diversidade e riqueza de respostas nos conduz a inferência de que nossa atividade obteve êxito junto aos estudantes e a aprendizagem adquirida com tais feitos, onde pudemos atingir nossos objetivos de ampliação da criatividade, promoção da leitura e escrita, incentivo ao cuidado com o meio ambiente, estímulo à produção literária e artística, bem como, familiaridade com as frases e pensamentos do autor estudado.
Podemos perceber como fatores presentes na prática da leitura que“A fita métrica que mensura minhas leituras entre prazerosas, necessárias e/ou obrigatórias oscila conforme o contexto, pretexto, momento de consumo da leitura e função de realização da mesma” (OLIVEIRA, 2013, p.16). Saberem que subiriam em árvores para colori-las foramàs práticas que motivaram ler para selecionar a plaqueta, escrever para ilustrar a frase. Não interessava mais aos estudantes se a leitura das frases do autor estudado foi obrigatória, uma vez que se tornou necessária e prazerosa a partir do momento que foram estabelecidos os objetivos após a prática da leitura. Ler é um verbo e envolve ação, movimento.
Fatores positivos na prática da leitura e da escrita como o desenvolvimento da criatividade, do vocabulário, do raciocínio alfabético e ortográfico, nos fazem perceber também que “A experiência de aprendizagem implica, além da instrução normativa, a reinvenção e construção personalizada do conhecimento”(CANANÉA, 2013, p.81), um conhecimento significativo, motivador e transformador que construa outras formas de atuação dos estudantes e professores; outras formas de olharmos para as árvores, outro desejo de intervir no meio ambiente, preservando-o; na arte, criando; e na literatura, conhecendo-a.
Créditos: fotos Ailza Freitas durante execução da atividade (2017)
Com uma nova utilização para as árvores do pátio escolar tornou-se interessante aos estudantes realizarem as leituras das plaquetas que não estavam fixadas nas paredes das salas, corredores e/ou área do refeitório, esses ambientes habituais de exposição dos trabalhos uma vez substituídos pelas árvores do pátio deram espaço para a constituição de novos olhares sobre antigos elementos de que dispunham a escola. “Inversamente, o funcionamento normal deve ser compreendido como um processo de integração em que o texto do mundo exterior não é recopiado, mas constituído”(MERLEAU-PONTY, 2006, p. 31). Nosso texto educacional e pedagógico foi constituído a partir da inovação espacial, com os mesmos elementos, mas com novas utilizações.
Há tempos não estávamos vendo as árvores, em nossos olhos, estavam às névoas da habitualidade e do costume, mas sabemos que “O visível é o que se aprende com os olhos, o sensível é o que se apreende pelos sentidos” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 28). A partir do momento em que subimos nas árvores, pintamos, colamos, pregamos, escrevemos, lemos, também vimos, enxergamos, sentimos, e assim, aprendemos.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierreet. al. A Miséria do Mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso; OLIVEIRA, Ailza de Freitas. Ampliando a Percepção Ambiental e Promovendo Educação Significativa. Disponível em: <http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=2338> Acesso em: 04 jul. 2017.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. Embarca(ações) sobre Arte e Educação. João Pessoa: Imprell, 2012.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso.O Sujeito (O)Culto da Educação. João Pessoa: Imprell, 2013.
OLIVEIRA, Ailza de Freitas. Compartilhando Experiências Leitoras In: CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso (Org.). Educação (Re)Construída: teoria fundamentando a práxis. João Pessoa: Imprell, 2013.
PONTY-MERLEAU, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
ROMÃO, José Eustáquio. Pesquisa na Instituição de Ensino Superior: referencial teórico, que bicho é este? In: RICHARDSON, Roberto Jarry; TAVARES, Manuel (Orgs.). Metodologias Qualitativas: teoria e prática. Curitiba, PR: CRV, 2015.