IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS NO BRASIL E OS CAMINHOS PARA CIDADES SUSTENTÁVEIS

 

Nayara Pasqualotto1

1Licenciada em Geografia, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGExR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil.

Endereço: Rua Luiz Ferri, n. 10, Bairro Frizon, Coronel Vivida/PR, Brasil. CEP: 85550-000.

Contato: nayarapasqualotto@hotmail.com

 

 

 

Maurício Machado Sena2

2 Jornalista, mestrando em Extensão Rural no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGExR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil.

Endereço: Avenida Roraima, n. 1000, bloco 55, Bairro Camobi, Santa Maria/RS, Brasil. CEP: 97105-900.

Contato: jornal.sena@gmail.com

 

 

 

Resumo: Os impactos ambientais causados pelos seres humanos em prol de uma vida “confortável” nas cidades levaram a população a repensar os seus atos. Hoje, buscam-se alternativas para minimizar esses danos, tornando as cidades mais sustentáveis. Tentando refletir sobre essas e outras questões referentes aos impactos ambientais urbanos e os caminhos para cidades sustentáveis, o presente texto traz uma análise sobre o tema. Para isso, primeiramente faz-se uma abordagem sobre o ambiente urbano e os principais impactos ambientais no Brasil, logo após traz algumas alternativas para tornar nossas cidades mais sustentáveis.

 

Palavras – chave: sustentabilidade; impactos ambientais; cidades sustentáveis.

 

 

 

URBAN ENVIRONMENTAL IMPACTS IN BRAZIL AND PATHS TO SUSTAINABLE CITIES

 

Abstract: Environmental impacts caused by human beings in favor of a "comfortable" life in the cities led the population to rethink their actions. Today, alternatives are sought to minimize these damages, making cities more sustainable. Trying to reflect on these and other issues concerning urban environmental impacts and the paths to sustainable cities, an analysis on this topic is brought. For this, we first approach urban environment and the main environmental impacts in Brazil, soon after, some alternatives are proposed  to make our cities more sustainable.

 

 

 

1.Introdução

 

A população urbana aumentou consideravelmente a partir da década de 1960 no Brasil. Isso se deu devido ao fato de que foram implantados no campo os chamados “pacotes agrícolas”, os quais substituíram a mão de obra do trabalhador do campo, modernizando a agricultura. Esses, ao perceberem-se como excessos no campo, passaram então a migrar para os centros urbanos, os quais tinham como opção o trabalho nas indústrias que surgiram para abastecer tanto o campo como as cidades.

Desta forma, a concentração populacional nas cidades aumentou espantosamente a partir desse período, hoje grande parcela da população vive nos centros urbanos. É o que comprovam os dados do IBGE (2017), nos quais se estima que 81% da população vivem em áreas urbanas. Atualmente, uma significativa parcela da população urbana brasileira vive em regiões metropolitanas. Esse inchaço populacional, principalmente em algumas capitais do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, ocorreu, sobretudo no período de 1980-1991 (MOTA, 2003).

Hoje, verifica-se que o ritmo de crescimento das regiões metropolitanas estabilizou se comparadas as demais cidades do país. O que se constata no cenário populacional brasileiro é o crescimento dos demais centros urbanos que não as capitais (MOTA, 2003).

Todo esse processo de modernização e o relativo aumento populacional nos centros urbanos gerou a necessidade da utilização cada vez maior de território e recursos naturais. A concentração populacional aliada ao consumo exagerado de parte dessa população acarretaram sérios problemas ambientais, tais como a poluição das águas e do ar, a destruição de florestas nativas e a consequente extinção de espécies da fauna e da flora, construções em áreas de preservação, a impermeabilidade dos solos, bem como a produção exagerada de lixo.

Os impactos ambientais causados pelos seres humanos em prol de uma vida “confortável” nas cidades levaram a população a repensar os seus atos. Hoje, buscam-se alternativas para minimizar esses danos, tornando as cidades mais sustentáveis. Mas o que pode ser feito para que nossos centros urbanos se tornem efetivamente sustentáveis? Devido à proporção dos danos ambientais, há como reverter essa situação de fato? O que leva a população das cidades a causar tantos impactos no ambiente? Toda a população tem consciência dos danos que estão causando?

Tentando refletir sobre essas e outras questões referentes aos impactos ambientais urbanos e os caminhos para cidades sustentáveis, o presente texto traz uma análise de bibliografia sobre o tema. Para isso, primeiramente faz-se uma abordagem sobre o ambiente urbano e os principais impactos ambientais no Brasil, logo após traz algumas alternativas para tornar nossas cidades mais sustentáveis.

 

 

2. O ambiente urbano e seus impactos ambientais

 

            De acordo com Mota (2003), o ambiente urbano é composto por dois sistemas inter-relacionados, sendo o sistema antrópico e o sistema natural. O sistema antrópico é formado pelos seres humanos que habitam as cidades, já o sistema natural é composto pelos recursos naturais disponíveis no território que compõe um determinado espaço urbano.

            Os seres humanos têm o domínio dos recursos naturais existentes, apropriam-se deles e os utilizam como fontes de matéria prima e energia. Essa apropriação garante a sobrevivência dos homens nos centros urbanos.

            Porém, as cidades não funcionam como um ambiente fechado, pois os seres humanos não encontram tudo que necessitam para a sua sobrevivência em um determinado espaço. Desta forma, esses mantêm relações com os demais ambientes, formando um sistema aberto, com relações de dependência entre os sistemas (MOTA, 2003).

            Essa relação de dependência do homem, tanto no sistema onde está inserido como nos demais, acaba alterando o ambiente. Essas mudanças, que ocorrem através da intervenção humana, causam impactos que nenhum outro animal causa no espaço. Os demais animais geram ao ambiente pequenos impactos que são revertidos com o passar do tempo. Já o homem, através de seu modo de vida baseado no consumo exagerado de produtos e na exploração predatória dos recursos disponíveis, causam problemas muitas vezes irreversíveis ao seu local de vivência e aos demais.

            Sabe-se que as necessidades e desejos dos seres humanos mudam com o passar dos anos, mas algumas necessidades são vitais à eles, sendo que essas não podem ser substituídas e nem excluídas da vida humana. Entre essas necessidades estão a água de qualidade, o ar fresco, o solo adequado, os alimentos saudáveis e pessoas com quem possam conviver (NUCCI, 1999).

            Desta forma, muitas vezes o homem vai ao desencontro de suas necessidades essenciais, pois o padrão de vida imposto pela sociedade capitalista preza pelo status econômico, político e social, deixando de lado quanto e como os recursos naturais vão ser explorados em busca de sua vida confortável.

            Assim, podemos dizer que os problemas ambientais que surgem nas cidades são sempre decorrentes da ação humana, através do uso e apropriação indevida do espaço. De acordo com Ivan C. Maglio, citado por Stipp et al (2004), os problemas ambientais nos centros urbanos do Brasil baseiam-se em duas diferentes ordens: a pobreza nas cidades, que afeta a maioria da população urbana, e os problemas decorrentes da concentração de atividades econômicas nessas áreas, principalmente em atividades ligadas às indústrias.

            Desta forma, os problemas ambientais urbanos estão relacionados tanto aos aspectos culturais, modo de vida e as relações interclasses, como ao processo de construção das cidades e as diferentes opções econômicas e políticas que influenciam na configuração do espaço. As áreas urbanas decorrentes da ocupação informal, onde a população vive às margens da sociedade, sem condições adequadas de infraestrutura, geram problemas socioambientais e situações de risco que prejudicam tanto o espaço físico como a saúde da população (GROSTEIN, 2001).

            De acordo com Grostein (2001, p.16), o crescimento informal dos centros urbanos causam problemas como “desastres provocados por erosão, enchentes, deslizamentos, destruição indiscriminada de florestas e áreas protegidas, contaminação do lençol freático ou das represas de abastecimento de água, epidemias e doenças provocadas por falta de umidade e falta de ventilação em moradias”. A proporção e frequência com que esses problemas ocorrem nas cidades evidenciam a relação existente entre o agravamento dos problemas socioambientais e os padrões e processos de expansão urbana da cidade informal.

            Porém, deve-se ter ciência de que os problemas ambientais mais graves em decorrência da ocupação do espaço pelo homem, ao contrário do que muitos pensam ou “pregam”, ocorrem nos países desenvolvidos. De acordo com Stipp et al (2004, p. 26), talvez os problemas ambientais mais graves como “o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, o esgotamento dos recursos naturais e a acumulação do lixo tóxico, são provocados pelas sociedades ricas e desenvolvidas, do que pelas sociedades pobres”.

            Portanto, se os países em desenvolvimento passarem a ter o mesmo nível de produção e consumo dos países desenvolvidos, os problemas ambientais se agravarão de tal forma que, mesmo que a população pare de crescer, não haverá recursos naturais disponíveis para a sobrevivência humana (STIPP et al, 2004).  Desta forma, evidencia-se que os problemas ambientais urbanos, tanto em menores como em maiores proporções, ocorrem em todas as sociedades, independente de seu grau de desenvolvimento socioeconômico.

            Neste contexto, o Brasil, enquanto país em desenvolvimento, também sofre com as consequências da ação do homem na natureza. O seu processo de urbanização ocorreu de forma desordenada, onde, devido ao seu vasto território, temos áreas com altas concentrações populacionais (como as regiões metropolitanas, por exemplo) e áreas com baixa densidade demográfica.

            A concentração populacional em algumas regiões mais desenvolvidas, como é o caso das regiões sudeste e sul do país, causaram graves problemas sociais, culturais e ambientais, resultantes da falta de oportunidades das diferentes classes sociais em absorver e adaptar-se aos impactos gerados pelo seu processo de desenvolvimento (STIPP et al, 2004). Desta forma, percebe-se que há uma ênfase maior nos aspectos econômicos das cidades, pois as questões socioambientais, tanto nas pequenas como nas médias e grandes cidades, não se alteram com o passar do tempo.

            Assim, torna-se necessário que a população conheça os problemas socioambientais que estão sendo gerados pela ocupação desordenada do espaço, e que os dados referentes a esses aspectos também sejam levados em consideração ao pensar os espaços urbanos. Para isso, há a necessidade de uma análise individualizada de cada problema ambiental urbano, pois a partir do momento em que toda a sociedade passar a entender como ocorre cada impacto ambiental é que essa passará a compreender o todo e conseguirá buscar caminhos para que suas cidades se tornem mais sustentáveis.

            Pensando nesses aspectos faz-se, a seguir, uma breve análise sobre alguns impactos ambientais gerados em áreas urbanas. Entre eles estão o desmatamento, a impermeabilização dos solos, a poluição das águas, a poluição do ar, a modificação dos ecossistemas, o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio e a produção exagerada de lixo.

 

 

2.1 Desmatamento

 

            A ocupação da natureza no processo de urbanização geralmente acontece através da retirada da cobertura vegetal. O desmatamento, quando ocorre de forma inapropriada em prol do progresso e do desenvolvimento econômico, resulta em vários impactos ambientais.

            De acordo com Salati et al (2006), o desmatamento é o primeiro fator de destruição da biodiversidade, atingindo diretamente na redução de habitats de espécies animais e vegetais e indiretamente no aumento da produção de detrito orgânico e no aumento do efeito de borda. Esses dois últimos, podem resultar em queimadas e na morte de árvores jovens, que podem ser abafadas com a queda das árvores mais antigas.

            Entre os impactos ambientais ocasionados pelo desmatamento em áreas urbanas, pode-se considerar como principais as mudanças climáticas, a extinção de parte da fauna e da flora, a exposição dos solos, o assoreamento dos recursos hídricos, a contaminação das águas, a redução no fluxo de infiltração das águas da chuvas, bem como as inundações (MOTA 2003).

 

           

2.2 Impermeabilização dos solos

 

            A urbanização e sua consequente verticalização são as principais responsáveis pela impermeabilização dos solos. As escavações, os aterros e demais movimentos na terra para a construção de casas, edifícios, escolas, ruas, calçadas, etc., são fundamentais para a alteração no escoamento das águas superficiais e consequente aumento da erosão, bem como o assoreamento de rios e lagos (MOTA, 2003).

             Esses processos resultam na impermeabilização do solo, ocasionando sérios impactos ambientais, como a redução da recarga dos aquíferos e o aumento do escoamento da água. Estes fatores, aliados ao assoreamento dos recursos hídricos, resultam na ocorrência de inundações, acarretando perdas tanto nos aspectos sociais como econômicos e ambientais.

            A utilização do solo nos centros urbanos é realizada, muitas vezes, sem o devido cuidado com a drenagem natural das águas, o que resulta no aterramento das margens dos rios e dos lagos. Desta forma, torna-se comum nas cidades problemas de drenagem, os quais, aliados a impermeabilização do solo, resultam no aumento do volume de água escoada (MOTA, 2003).

 

 

2.3 Poluição das águas

 

            De acordo com Tucci (2004), o ciclo hidrológico sofre profundas alterações nos ambientes urbanos. Isso se deve principalmente á “alteração da superfície e a canalização do escoamento, aumento de poluição devido à contaminação do ar, das superfícies urbanas e do material sólido disposto pela população” (TUCCI, 2004, p.62).

            O homem é o principal responsável pela poluição das águas nos centros urbanos. Através da sua utilização para o consumo doméstico e outras atividades, ele devolve a água para o ambiente com resíduos líquidos, o que resulta na poluição. Outro fator que contribui para a contaminação das águas é a poluição do ar e do solo, pois quando ocorre à precipitação muitos resíduos existentes no ar e no solo infiltram até os lençóis freáticos (MOTA, 2003).

            Corroborando com as ideias de Mota (2003), vários são os fatores que poluem as águas superficiais e subterrâneas, entre as principais fontes de poluição das águas destacam-se: o lançamento de esgotos domésticos; lançamento de esgotos industriais; lançamento de águas pluviais; lançamento direto de resíduos sólidos e outras impurezas, etc.

            Todos esses fatores comprometem a qualidade da água nas cidades, colocando em risco a vida da população local, dos animais e do ambiente, isso se dá através de impactos ambientais e sociais, tais como os prejuízos para a saúde pública, redução do oxigênio dissolvido na água, assoreamento, danos ecológicos á vida aquática, entre outros (MOTA, 2003).

 

 

2.4 Poluição do ar

 

            A poluição do ar afeta o clima nas áreas urbanas de diversas formas. De acordo com Russo (2011), o balanço energético das áreas urbanas sofre interferência, pois os poluentes refletem, absorvem e dispersam radiação solar. Muitos poluentes são abundantes no ar das cidades pelo fato de servirem como núcleos de condensação, onde a umidade está substancialmente abastecida através da evaporação, dos veículos e dos processos industriais, os quais emitem grandes quantidades de vapor d’água.

            Em decorrência disso, a tendência da precipitação é aumentar consideravelmente nas áreas urbanas. Outras consequências em decorrência da poluição do ar são os malefícios causados na população residentes nessas áreas, como é o caso do aumento significativo no número de doenças respiratórias durante os últimos anos (RUSSO, 2011).

            A poluição do ar é uma questão muito complicada, pois há muitas dificuldades de indentificar os reais efeitos dos contaminantes na saúde da população. A constante busca por uma solução conta obrigatoriamente com os mais diversos setores da sociedade, tanto no âmbito internacioanl como nacional.

            De acordo com Mota (2003), a poluição do ar depende principalmente de fatores como: as condições topográficas do meio, as características climáticas do meio e as fontes de emissão de poluição, onde variam os tipos de poluentes, o período de emissão e a quantidade que é emitida para o ar.

 

 

2.5 Modificações nos ecossistemas

 

            O processo de urbanização ocorre, muitas vezes, de forma agressiva ao ecossistema local. Provocando sua destruição total ou parcial, pode causar impacto tanto ás atividades do homem como a sobrevivência da fauna de da flora (MOTA, 2003).

            Diversos são os exemplos de degradação dos ecossistemas resultantes do processo de modernização. Entre eles estão à construção de aterros em áreas de mangues e a ocupação inadequada de dunas.

            As áreas de mangues são de extrema importância, pois “funcionam como estabilizadores dos sedimentos costeiros, mantendo as condições climáticas litorâneas, bem como desempenham o papel de exportador de matéria orgânica para o estuário” (MOTA, 2003, p.55). Desta forma a degradação dessas áreas implica em graves problemas ambientais, bem como transtornos para a população que vive no local e sobrevive de atividades como a pesca.

            Já a ocupação inadequada de dunas gera implicações como a desfiguração da paisagem e a diminuição da recarga de aquíferos. Por sua formação arenosa, as dunas conseguem infiltrar todas as águas da chuva, gerando importantes reservas subterrâneas em suas proximidades, porém, na medida em que essas áreas são ocupadas de forma imprópria o abastecimento dos aquíferos fica comprometido (MOTA, 2003).

 

           

2.6  Efeito estufa e destruição da camada de ozônio

 

            As atividades decorrentes da ação humana causaram impactos que afetam todo o planeta. A produção de gases, como o gás carbônico, os clorofluorcarbonos, o metano e os óxidos de nitrogênio, têm contribuído muito para o aumento do efeito estufa (MOTA, 2003).

            O efeito estufa, que segundo Mota (2003), pode ser entendido como a retenção de calor na superfície terrestre, causa graves consequências ambientais, dentre as quais se destacam: o desaparecimento de espécies da fauna e da flora, mudanças nas precipitações, o aumento do nível dos oceanos e consequente derretimento das calotas polares e o aumento gradativo das temperaturas do ambiente.

            Os clorofluorcarbonos também contribuem para a destruição da camada de ozônio, “eles são decompostos pela radiação ultravioleta do sol, liberando o cloro que destrói o ozônio” (MOTA, 2003, p.56). A destruição da camada de ozônio acarreta a intensificação dos raios ultravioletas na superfície terrestre causando danos como o aumento nos índices de câncer e catarata entre a população.

 

 

2.7 A produção exagerada de lixo

             

            Nas últimas décadas a população mundial teve um aumento considerável em relação ás décadas passadas. A população brasileira manteve o mesmo ritmo de crescimento mundial, sendo que em 2010 ultrapassou os 190 milhões de brasileiros (IBGE, 2017).

            Esse aumento populacional, sobretudo nas áreas urbanas, contribui para a produção exagerada de lixo. O lixo pode ser provindo de domicílios ou do comércio. O lixo doméstico no Brasil, de acordo com Mucelin et al (2008”, p.113), é composto por: “65% de matéria orgânica, 25% de papel, 4% de metal, 3% de vidro e 3% de plástico”.

            O consumismo exagerado, herdado do sistema capitalista, é o principal responsável pela atual produção de lixo. Esse gera graves problemas nas cidades, o seu acúmulo nas encostas, nos rios e em galerias pluviais, acarretam dificuldades como enchentes, poluição das águas e contaminação do solo.

            Segundo Mucelin et al (2008, 113), os problemas ambientais que envolvem o lixo são de difícil solução, pois a grande maioria das cidades do país “apresenta um serviço de coleta que não prevê a segregação dos resíduos na fonte”. Nessas cidades o que se percebe é a disposição final inadequada do lixo, onde muitas vezes são utilizados como descartes lugares como margens de rios, beiras de estradas e lotes baldios.

 

 

3. Planejamento urbano rumo às cidades sustentáveis

 

            As questões ambientais no espaço urbano só passaram a ter visibilidade a partir das décadas de 1980 e 1990. Essa visibilidade só ocorreu devido aos fóruns internacionais realizados pelas Nações Unidas (GROSTEIN, 2001).

            Entre a conferência de Vancouver, que ocorreu em 1976, e a de Istambul, ocorrida em 1996, algumas preocupações relacionadas ás áreas urbanas surgiram nos discursos. Preocupações essas relacionadas à aplicação do conceito de sustentabilidade nas cidades e a crença de que o Estado, através da construção de conjuntos habitacionais, poderia atender a população que não tinha recursos necessários para uma habitação digna, diminuindo assim os impactos causados por essa parcela da população ao ambiente (GROSTEIN, 2001).

            A Conferência do Rio de Janeiro ou ECO 92, de acordo com Sachs (1999), foi à motivadora para muitas transformações socioeconômicas e ambientais do planeta, como o surgimento dos ministérios do meio ambiente em quase todos os países e o aparecimento da sociedade organizada como terceiro poder ao lado do Estado e das empresas, tornando a discussão sobre sustentabilidade de uso comum. Na questão que envolve as áreas urbanas, foi constatado que, três quartos do crescimento da população urbana mundial na década de 1990 haviam ocorrido em cidades de países em desenvolvimento, o que evidenciou a pobreza urbana e a consequente degradação ambiental (GROSTEIN, 2001).

            Atualmente, as questões ambientais, juntamente com as econômicas, sociais, físico-territoriais e administrativas, também são consideradas ao realizar o planejamento urbano dos municípios. Verifica-se que a simples visão de ordenação e equipamento do espaço foi deixada de lado (MOTA, 2003).

            O planejamento urbano deve ser realizado com base na concepção de desenvolvimento sustentável, que de acordo com Mota (2003, p.22), ao citar a Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, deve ser entendido como “aquele que atende ás necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atendem ás suas próprias necessidades”.

            A sustentabilidade de um ambiente urbano baseia-se em dois aspectos principais. O primeiro refere-se à proteção e restauração dos processos biológicos que ainda persistem dentro do próprio ambiente urbano, e o segundo diz respeito aos problemas que as cidades causam nos recursos aquáticos, terrestres e atmosféricos da biosfera, pois são com esses recursos que a biosfera se mantém (MOTA 2003).

            Portanto, para garantir a sustentabilidade em áreas urbanas faz-se necessário o planejamento adequado de aspectos que envolvem desde o sistema de transporte, a conservação de energia, a reciclagem de materiais, até o controle da poluição do ar e da água (MOTA, 2003). Assim justifica-se a necessidade de se levar em consideração os todos os aspectos físicos e naturais da região, pois são esses aspectos que determinarão as oportunidades e restrições do uso humano do local.

            De acordo com Roelofs, citado por Mota (2003), as cidades devem alcançar os seguintes objetivos para que se tornem de fato sustentáveis: viabilidade cultural, saúde, processo participativo, justiça social, redução de substâncias tóxicas, redução de resíduos e a conservação dos recursos naturais. Desta forma, é necessário que, ao se pensar em áreas urbanas, considere-se o sistema como um todo, reconhecendo que a natureza e seus infinitos recursos fazem parte desse sistema.

            Assim, podemos dizer que construir cidades mais sustentáveis é uma tarefa complexa, que necessita de recursos públicos e privados, porém, não é impossível. Basta a integração social, econômica e ambiental nestas áreas, as quais devem integrar-se também aos outros sistemas existentes.

 

           

4. Conclusões

 

            Diante das discussões apresentadas sobre os impactos ambientais urbanos no Brasil e os caminhos para cidades mais sustentáveis, verifica-se a importância da discussão do tema diante do cenário mundial da atualidade. Nota-se que os caminhos adotados na formação e manutenção das cidades, baseados no consumismo e acumulação de capital, tornaram-as insustentáveis.

            O pensamento de desenvolvimento apenas atrelado ao aspecto econômico resultou em vários problemas de outras ordens nas cidades. Entre eles destacam-se os impactos ambientais resultantes da ação do homem no ambiente.

            Os principais problemas ambientais nos centros urbanos originaram-se do uso inapropriado dos recursos naturais. Verifica-se que ambos se inter-relacionam, ou seja, considerando que o ambiente é um organismo, e que cada elemento depende de outros para sua existência, é fato que, ao explorar um elemento e comprometer sua qualidade no ambiente, o homem estará interferindo em todo o sistema.

            Toda ação do homem é resultante de uma ou mais necessidades impostas pelo capital. Devido a forma como se deu a organização econômica e social do nosso país, muitas pessoas se tornaram marginalizadas pelo processo, por isso se veem obrigadas a garantir sua subsistência muitas vezes em locais inapropriados e utilizar de forma indevida os recursos naturais.

            Porém, constata-se que existem outros caminhos a serem percorridos pelas populações das cidades. Há a necessidade de um olhar mais apurado por toda a sociedade sobre os recursos disponíveis.

            Se existem alguns fatores que são essenciais para a vida humana nos centros urbanos, como é o caso do ar puro, da água potável, de um solo propício, de alimentos de qualidade e de pessoas com quem possam conversar, esses devem ser preservados por todos. É de extrema urgência uma tomada de consciência por toda a sociedade, para que ambos consigam garantir a sua existência e das gerações futuras.

            Deve-se deixar para trás a visão adotada por muitos países em desenvolvimento, os quais tentam, sem êxito, seguir modelos impostos pelos países ricos. Esse modelo de desenvolvimento, baseado na economia, já comprovou sua ineficiência. Não existem fórmulas ou caminhos traçados que possam ser seguidos por todas as sociedades. Cada cidade tem suas especificidades, e essas devem ser consideradas ao se fazer um planejamento urbano.

            Somente através da percepção por toda a sociedade humana sobre os impactos ambientais nos centros urbanos, é que essa conseguirá encontrar meios de livrar-se de tais problemas. É através da percepção e do desejo de mudança que conseguiremos alcançar um desenvolvimento sustentável nos centros urbanos, tantos no âmbito nacional como internacional.

 

           

5. Referências

 

GROSTEIN, M. D. Metrópole e Expansão Urbana: a persistência de processos insustentáveis. Metrópole Transformações Urbanas Revista Fundação Seade, São Paulo, v. 15, 2001.

 

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Senso populacional de 2010 – dados preliminares. Disponível em: www.ibge.gov.br , acessado em: 08 de maio de 2017.

 

MOTA, S. Urbanização e meio ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 3 ed. 2003.

 

MUCELIN, C. A.; BELLINI, L. M.. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano. Revista Sociedade & Natureza, v. 20, p. 111-124, 2008.

 

NUCCI, J. C. Análise sistêmica do ambiente urbano, adensamento e qualidade ambiental. São Paulo:  Revista PUC SP Ciências Biológicas e do Ambiente. v.1. n. 1. P.73-88, 1999.

 

RUSSO, P. R. Poluição Atmosférica: refletindo sobre a qualidade ambiental em áreas urbanas. CLIMAGEO – UFJR, 1999, Disponível na internet: www.cidade.usp.br/educar2003/mod6/arquivos/02.doc, acessado em: 13 de novembro de 2011, ás 22:40 horas.

 

SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI. In Cadernos de desenvolvimento e meio ambiente. Nº 1, Curitiba: Ed. UFPR, 1999.

 

SALETI, E; SANTOS, A.A.; KLABIN, I. Temas Ambientais Relevantes. Estudos Avançados, v. 20(56), p. 1-2, 2006.

 

STIPP, M. E. F.; STIPP, N. A. F. Análise Ambiental em Cidades de Pequeno e Médio Porte. Geografia (Rio Claro), Londrina, v. 13, n. 02, p. 23-36, 2004.

 

TUCCI, C. E. M. Gerenciamento Integrado das Inundações Urbanas no Brasil.