O USO DE SIG PARA A GESTÃO DO CONTROLE DO MOSQUITO AEDES AEGYPTI NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA – MG

Engenheiro Agrônomo – Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU)

Pós-graduado em Ciências Ambientais – IFTM Campus Ituiutaba-MG

Francisco Benício Dantas de Goes Moura

Desenhista na empresa SAE (Superintendência de Água e Esgotos de Ituiutaba–MG)

Tutor no curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental Unopar Polo Ituiutaba-MG

Endereço: Rua Saul Ribeiro de Assis, 195, Setor Norte, Ituiutaba-MG – CEP: 38300-176; Telefone: 34 99764-0892; Email: fbdgm@hotmail.com.

Orientador: Prof. MSc. Jascon Hudson Inácio Ferreira – Curso de Eletrotécnica – IFTM Campus Ituiutaba; Email: jacson@iftm.edu.br.

 

RESUMO

A vigilância ambiental em saúde de Ituiutaba-MG age sobre os focos de dengue através do monitoramento, Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti, onde, os dados coletados podem dar origem a um SIG utilizando softwares e aplicativos livres.

Palavras-chave: dengue, softwares, SIG.

 

ABSTRACT

The health environmental monitoring of Ituiutaba-MG acts on dengue outbreaks through monitoring, Rapid Survey of Aedes aegypti Infestation Index, and the data collected may give rise to a GIS using free software and applications.

Keywords: dengue, softwares, GIS.

 

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos o homem vem explorando os recursos naturais para suprir suas necessidades básicas e, em contrapartida, poucas iniciativas são tomadas pelo poder público ou pela iniciativa privada para minimizar os danos causados ao ambiente.

Há pouco tempo presenciamos a deflagração de certas doenças endêmicas que se espalharam mundo afora, como o ebola e o zika vírus, ambas transmitidas por insetos que entram em contato com vários objetos, órgãos e tecidos de origem animal ou humana. Ainda nos falta educação e informação para controlar doenças que alastram com certa facilidade, como é o caso da dengue no Brasil.

Uma das alternativas para monitorar os casos de dengue, zika e chikungunya é a utilização de Sistema de Informação Geográfica (SIG). Diversas informações podem ser armazenadas e posteriormente correlacionadas em ambiente SIG. Nessa perspectiva Câmara (1993 apud Carvalho; Pinto; Facincani, 2014) ressalta que os SIGs são sistemas cujas principais características são: integrar, em uma única base de dados, informações espaciais provenientes de dados cartográficos, dados de censo e de cadastro urbano e rural, imagens de satélite, dados e modelos numéricos de terreno; combinar as várias informações, através de algoritmos de manipulação, para gerar mapeamentos derivados.

 A integração de Sistemas de Informação Geográficos, Sensoriamento Remoto, Aerofotogrametria e outras formas de mapeamento pode ser uma solução para a gestão dessa grande massa de dados, porém os softwares comerciais disponíveis no mercado demandam um alto valor de investimento, o que inviabiliza sua implantação em pequenos e médios municípios (OLIANI; PAIVA; ANTUNES, 2012).

Conforme informação do diretor do Departamento da Fazenda de Ituiutaba-MG, Sr. Maurício Borges Ferreira, a atual gestão municipal está implantando um sistema de georreferenciamento com informações referentes ao cadastramento imobiliário urbano, onde, em um futuro próximo o projeto se estenderá à Secretaria de Saúde de Ituiutaba visando o zoneamento da cobertura das áreas e micro áreas do programa Saúde da Família, o zoneamento de instalações e áreas de interesse da Saúde: PSF, postos de saúde, hospitais e UPAS, como também, o controle e identificação de endemias, como dispõe o contrato licitatório 111/2015, da implantação do Projeto.

 

AEDES AEGYPTI E AS DOENÇAS TRANSMITIDAS PELO INSETO

A dengue é uma arbovirose transmitida por vetores do gênero Aedes. Seu agente etiológico é um vírus RNA do gênero Flavivirus que pertence à família Flaviviridae. São conhecidos quatro sorotipos distintos (DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4) que podem causar desde infecções assintomáticas até formas mais graves, levando eventualmente ao óbito. O número estimado de pessoas que vive em países endêmicos é de 3,6 bilhões. Anualmente, o número de casos de dengue aproxima-se dos 100 milhões (MINISTÉRIO DA SAÚDE, p. 2, 2016).

O vírus Zika é um vírus recente, transmitido pelo mosquito que foi inicialmente identificado na Uganda, em 1947, em macacos Rhesus, através de uma rede de monitorização da febre amarela selvagem. Posteriormente, foi identificado em seres humanos, em 1952, no Uganda e na República Unida da Tanzânia (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2016).

A doença, que entrou no Brasil possivelmente em 2014, disseminou-se na Região Nordeste e está migrando para as Américas. Acredita-se que deva continuar rapidamente a se propagar, já que o principal vetor, o mosquito A. aegypti, está em período de franca disseminação em função das temperaturas elevadas do verão no hemisfério sul (NUNES et al. 2016).

A Chikungunya se caracteriza por quadros de febre associados à dor articular intensa e debilitante, cefaleia e mialgia. Embora possua sintomas semelhantes ao da dengue, chama a atenção a poliartrite/artralgia simétrica (principalmente punhos, tornozelos e cotovelos), que, em geral, melhora após 10 dias, mas que podem durar meses após o quadro febril (DONALISIO; FREITAS, 2015).

Em 2015, foram registrados 1.587.080 casos prováveis de dengue no país – casos notificados, incluindo todas as classificações, exceto descartados – até a semana epidemiológica 48 (04/01/15 a 05/12/15). Nesse período, a região Sudeste registrou o maior número de casos prováveis (997.268 casos; 62,8%) em relação ao total do país, seguida das regiões Nordeste (293.567 casos; 18,5%), Centro-Oeste (211.450 casos; 13,3%), Sul (53.106 casos; 3,3%) e Norte (31.689 casos; 2,0%) como é apresentado no gráfico 1. Foram descartados 574.682 casos suspeitos de dengue no período (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2015).

 

Gráfico 1 – Casos prováveis de dengue registrados no Brasil até a semana epidemiológica 48.

Fonte: Adaptado de Secretraria de Vigilância em Saúde, 2015.

 

De acordo com as anotações do Registro Diário do Serviço Antivetorial da Vigilância Ambiental em Saúde de Ituiutaba, no período de outubro a dezembro de 2015 foram registrados no Setor Norte da cidade 125 focos de A. aegypti, distribuídos ao longo de 34 das 43 quadras do bairro.

 

SISTEMA DE MONITORAMENTO DOS FOCOS DE DENGUE

O LIRAa (Levantamento Rápido do Índice de Infestação por A. aegypti) é um método amostral desenvolvido e adotado pelo Programa Nacional de Controle de Dengue (PNCD) do Ministério da Saúde, a partir de 2003, que monitora a densidade larvária por meio de indicadores (FERREIRA; MACHADO; GROSS MACHADO, 2014).

O índice LIRAa leva em consideração a percentagem de casas visitadas com larvas do mosquito A. aegypti. O município é dividido em grupos de 9 mil a 12 mil imóveis com características semelhantes. Em cada grupo, também chamado estrato, são pesquisados 450 imóveis (Dengue.org.br, p. 2, 2015). Como mostra a figura 1 os estratos com índices de infestação predial inferiores a 1% estão em condições satisfatórias, os que apresentam infestação de 1% a 3,9% estão em situação de alerta e aqueles com infestação superior a 4% constituem risco de surto de dengue.

 

 

 

Figura 1 – Resultado do LIRAa Nacional 2015 – Região Sudeste.

Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2015.

 

Ituiutaba, localizada no pontal do Triângulo Mineiro, aparece entre aqueles que apresentam estado de alerta quanto à presença de larvas do mosquito nos imóveis amostrados no levantamento conforme ilustrado na figura acima. A Vigilância Ambiental em Saúde de Ituiutaba realiza o LIRAa para o direcionamento de suas ações quanto ao controle dos focos do mosquito, que pode ser facilitado através de um SIG.

 

GEOPROCESSAMENTO

Segundo Rizzatto; Melo (2015), o geoprocessamento tem grande importância na análise da geotopologia de um ambiente, investigando sistematicamente as propriedades e relações posicionais dos eventos e de entidades georreferenciadas em uma base de dados. Permite distinguir a identificação e classificação de entidades e eventos a distância, identificados por sensoriamento remoto e a cartografia digital, permitindo ter uma representação correta da realidade ambiental, garantindo a melhor interpretação das medições de uma extensão e direções espaciais.

Esta ferramenta analítica propõe de forma assistida, um auxílio no crescente contexto da análise de recursos naturais, transportes, comunicação, energia e planejamento urbano e rural (RIZZATTO; MELO, 2015). Neste contexto os dados vinculados à saúde podem ser utilizados em SIG, facilitando a tomada de decisão para o controle de vetores de doenças.

Permite distinguir a identificação e classificação de entidades e eventos a distância, identificados por sensoriamento remoto e a cartografia digital, permitindo ter uma representação correta da realidade ambiental, garantindo a melhor interpretação das medições de uma extensão e direções espaciais. Podendo ser aplicado para qualquer cidade ou estado, desde que sejam tratados os dados e correlacionados, sabendo que cada cidade terá o seu perfil. Afinal, permitem que se considerem ao mesmo tempo aspectos sociais, econômicos e ambientais, fornecendo subsídios para agilidade e confiabilidade na execução, controle e avaliação de políticas administrativas, em especial políticas de saúde pública (LIMA, 2014).

 

GEORREFERENCIAMENTO URBANO

Atualmente, com o auxílio de dados específicos de caracterização municipal, tais como informações relativas a setores censitários, imagens de satélite, fotos aéreas e base de dados geográficos previamente produzidos por empresas especializadas, podem-se identificar praticamente os problemas mais graves que um município apresenta, como falta de infraestrutura básica, crescimento urbano desordenado, zonas de risco para construção de edificações, entre outros (ANDRADE et al. 2007).

O georreferenciamento de um endereço, definido como o processo de associação deste a um mapa terrestre, pode ser efetuado de três formas básicas: associação a um ponto, a uma linha ou a uma área. O elemento geométrico resultante, associado a uma base de dados, é a unidade utilizada nos SIG (SKABA et al. 2004).

Segundo Skaba et al. (2004), o georreferenciamento dos eventos de saúde é importante na análise e avaliação de riscos à saúde coletiva, particularmente as relacionadas com o meio ambiente e com o perfil socioeconômico da população. Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), conjunto de ferramentas utilizadas para a manipulação de informações espacialmente apresentadas, permitem o mapeamento das doenças e contribuem na estruturação e análise de riscos socioambientais. Para estas análises é necessária a localização geográfica dos eventos, associando informações gráficas (mapas) a bases de dados de saúde, alfanuméricas (sistema capaz de codificar letras e números).

O georreferenciamento dos eventos de saúde é importante na análise e avaliação de riscos à saúde coletiva, particularmente as relacionadas com o meio ambiente e com o perfil socioeconômico da população (CAIXETA; SOUSA, 2007). Essa ferramenta auxilia os profissionais e setores responsáveis na tomada de decisão, buscando o melhor momento para realizar o combate ao mosquito transmissor da doença.

 

SOFTWARES E FERRAMENTAS APLICADAS NO GEOPROCESSAMENTO

Existem alguns softwares livres ao público disponíveis para download na rede mundial de computadores. São utilizados na aquisição e tratamento dos dados em Sistema de Informação Geográfica, destacando o Quantumgis, o Google Earth Pro e o MapIt – coletor de dados móveis.

De acordo com Fochi et al. (2015), o Quantumgis é um programa de Sistema de Informação Geográfica com código aberto e licenciado sob a Licença Pública Geral GNU. O QGIS, como também é chamado, é um projeto oficial da Open Source Geospatial Foundation (OSGeo). Pode ser utilizado em Linux, Unix, Mac OSX, Windows e Android, segundo o site QGIS.org.

Por tratar-se de um aplicativo baseado em uma biblioteca de código aberto, os usuários podem participar do processo de desenvolvimento do programa, escrevendo novas rotinas para as mais diversas aplicações relacionadas (OLIANI; PAIVA; ANTUNES, 2012).

De acordo com Gizmodo (2016), o Google Earth Pro traz alguns recursos diferenciais, tais como: medir a área de um polígono ou a altura de um edifício; criar vídeos; importar imagens com resolução mais alta que o próprio mapa; fazer geolocalização automática de imagens que você inserir no mapa; imprimir imagens em alta resolução (até 4800 x 3200 pixels); exibir dados demográficos, de loteamentos e trânsito nos EUA. Essas ferramentas podem ser utilizadas em qualquer localidade do globo terrestre.

MapIt é uma ferramenta desenvolvida para a coleta de dados para Sistemas de Informação Geográfica (SIG) com base em gps ou mapas. É uma ferramenta SIG móvel utilizado para coleta de dados no campo por profissionais da área ambiental ou que utilizam outros tipos de dados geográficos (GOOGLE, 2016).

 

MATERIAIS E MÉTODOS

A cidade de Ituiutaba está localizada na região do Pontal do Triângulo Mineiro no Estado de Minas Gerais, nas coordenadas 18º58’8” S e 49º27’54” W em uma altitude de 605 metros em relação ao nível do mar. O município apresenta uma área de 2.598.046 km2, aproximadamente 80 bairros e uma população de 103.945 habitantes (IBGE, 2016).

Ituiutaba tem um clima tropical. O verão tem muito mais pluviosidade que o inverno. Segundo a Köppen e Geiger o clima é classificado como Aw. 23.9 °C é a temperatura média em Ituiutaba. A média anual de pluviosidade é de 1352 mm (CLIMATE-DATA.ORG, 2016).

Para a realização deste trabalho contatou-se a Vigilância Ambiental em Saúde de Ituiutaba no mês de janeiro de 2016, para conhecer qual método utilizado para levantar o número de focos do mosquito A. aegypti, a fim de implantar um sistema de monitoramento através de SIG. Buscando uma melhor eficiência e rapidez na identificação dos focos do mosquito, facilitando a tomada de decisão quanto ao método de controle, este trabalho propõe que a Vigilância Ambiental em Saúde comece a utilizar os dados do georreferenciamento do município em um SIG, com ferramentas gratuitas e de fácil manuseio, para o controle dos focos do A. aegypti, observa-se que já é realizado o levantamento dos focos pelos agentes de controle de endemias, bastando que para isto seja feita uma adequação das anotações provenientes dos relatórios do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD) alimentando o novo sistema que será gerado.

Dessa maneira utilizaram-se os dados coletados pelos agentes de controle de endemias através do Registro Diário do Serviço do PNCD, referente ao último trimestre de 2015 no Setor Norte. Visualizam-se na figura 2 os dados advindos do relatório realizado no dia 18/12/2015 disponibilizado pela Vigilância Ambiental em Saúde de Ituiutaba.


Figura 2 – Registro diário do serviço antivetorial.

Fonte: do autor.

 

O Setor Norte foi selecionado na pesquisa devido à presença dos Córregos Pirapitinga, do Carmo e São José em seu entorno, que são historicamente conhecidos por serem de difícil acesso para realizar monitoramento e controle do mosquito e por ser uma área com alta incidência de focos segundo afirmação do coordenador da Vigilância Ambiental em Saúde, Sr. Antônio Carlos.

As informações provenientes do PNCD foram filtradas para apresentar na pesquisa apenas a data do levantamento, o número de focos encontrados e a quadra onde foi confirmado o foco de A. aegypti.

Efetuou-se a delimitação, pontuação e numeração de todas as quadras do Setor Norte de Ituiutaba por meio do Google Earth Pro, através dos ícones de Adição de polígono e Adição de marcador localizado na barra de ferramentas do software, tendo como referência o mapa da cidade, apresentado na figura 3, que foi disponibilizado pela Secretaria de Planejamento do município. Na criação dos polígonos de quadra, utilizou-se a cor laranja e os marcadores foram mantidos com a coloração pré-carregada pelo software, o amarelo.


Figura 3 – Mapa da cidade de Ituiutaba plotado em suporte de papel.

Fonte: do autor.

 

Para coleta de pontos com focos de A. aegypti, utilizou-se o aplicativo android MapIt – Coletor de dados móveis, sendo possível utilizar o gps on-line ou off-line no georreferenciamento das informações. Denominou-se cada camada com a data corrente do levantamento, variando entre os dias 12/11/2015, 16/11/2015, 17/11/2015, 16/12/2015, 17/12/2015, 18/12/2015, 21/12/2015, 22/12/2015 e 23/12/2015 como registrado nas anotações do PNCD. Ao serem configurados os atributos foi inserido às camadas o número da Quadra que varia de 01 a 43 e a identificação do Foco em Sim ou Não. Alterou-se a cor dos elementos (Focos), em cores distintas para cada camada. O Sistema de Referência de Coordenadas (SRC) utilizado na pesquisa foi o wgs 84 (world geodetic system 1984), SRC compatível com o Google Earth Pro e MapIt.

Após serem inseridos todos os 125 focos do levantamento no MapIt, os pontos foram exportados seguindo os seguintes passos: Gerenciar camadas; Selecionar camada; Acessar o menu superior opção exportar; Tipo de arquivo cartão SD e kml. A figura 4 mostra todo o caminho percorrido para exportação dos dados coletados no aplicativo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 4 – Captura da tela de smartphone, caminho até a exportação dos dados coletados no MapIt – coletor de dados móveis.

Fonte: do autor (2016).

 

Após a exportação, os dados foram descarregados da Pasta Export do aplicativo presente no disco interno do dispositivo, para o Google Earth Pro, em seguida foram inseridos os dados no software livre Quantumgis para representar a distribuição dos focos na área de estudo.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na confecção dos polígonos das quadras optou-se pela cor laranja dando destaque aos pontos e as quadras confirmadas com os focos. A figura 5 apresenta o resultado da delimitação e numeração das quadras do Setor Norte de Ituiutaba no Google Earth Pro.


Figura 5 – Delimitação e numeração das quadras do Setor Norte de Ituiutaba feita no Google Earth Pro.

Fonte: do autor (2016).

 

Na inserção dos pontos com focos utilizou-se o gps off-line, baseado nas anotações dos agentes de endemias que informam o número da quadra onde realizou-se o monitoramento. No caso de levantamentos realizados in loco recomenda-se o uso dos dados móveis do dispositivo android posicionando o usuário com alta precisão.

Uma vez localizado o foco na quadra, o setor responsável da vigilância ambiental em saúde decidirá se o controle será iniciado, seguindo o percentual de infestação ≥ 3,9% dos imóveis pesquisados, segundo metodologia estabelecida pelo LIRAa.

A figura 6 demonstra o resultado obtido no MapIt após serem coletados os 125 pontos com o gps off-line em um smatphone com plataforma android.


Figura 6 – Coleta de pontos com o uso do gps off-line.

Fonte: do autor (2016).

 

Nota-se na figura 6 que o ícone do gps, situado na parte superior esquerda da tela, está desabilitado, assim como o gps do dispositivo, ou seja, ambos dependem do funcionamento do outro para aquisição de alta precisão. Porém, é possível obter pontos precisos utilizando a mira, quando o usuário optar por utilizar o gps off-line sua posição geográfica será disponibilizada em graus decimais como mostrado na ilustração acima. A denominação 10+ apresentada no aplicativo significa que o local possui mais de 10 pontos, assim como a expressão 20+ representa mais de 20 pontos nessa região, sendo que ao ser fechada a imagem, aplicar o zoom, as expressões 10+ e 20+ darão lugar aos pontos inseridos (objeto circular colorido).

Ao serem descarregados os pontos no formato kml, as 9 camadas de monitoramento sobrepuseram a imagem georreferenciada do Google Earth Pro com a precisão esperada.

Figura 7 – Dados coletados no MapIt e descarregados no Google Earth Pro.

Fonte: do autor (2016).

 

Além da posição geográfica exata foram vinculadas todas as informações carregadas do MapIt, nome do monitoramento, descrição da camada inserida, número da quadra e confirmação do foco que estarão disponíveis sempre que o ponto amostrado for clicado com o mouse, como é apresentado na figura 7.

O arquivo kml é um formato usado para exibir dados geográficos em um navegador da Terra, que pode ser criado no Google Earth Pro e que pode ser lido como arquivo vetorial em softwares de SIG, em particular o Quantumgis.

Nos últimos anos, o Google Earth surgiu como uma alternativa bastante simples para se obter coordenadas geográficas desses pontos de controle sem a necessidade de levantamento em campo. No entanto, ainda não se tem um consenso geral sobre a precisão das coordenadas obtidas via Google Earth, e se essas informações podem ser utilizadas de forma confiável para o georreferenciamento, em escala urbana (LIMA; PALMA LIMA; RONS, p.34, [s. d]). Para trabalhos que requerem precisão razoável o Google Earth é uma excelente ferramenta, desde que sejam utilizados os mesmos sistemas de referência de coordenadas quando for importado um arquivo kml, a fim de diminuir a margem de erro dos pontos.

O aplicativo MapIt ainda possui funções que facilitam o serviço do usuário, a localização de focos específicos é uma delas. Acessando o elemento de qualquer camada e clicando sobre o mesmo, como por exemplo, Monitoramento 03, uma lupa surgirá na barra acima dando zoom ao ponto desejado.

Outra função muita utilizada é a fotografia, que permite respaldar as notificações emitidas aos proprietários dos imóveis onde for confirmado o foco de A. aegypti, por se tratar de uma prova pontual, localizando o imóvel com a foto da fachada e até mesmo de criatório de larvas do inseto transmissor da dengue. A figura 8 ilustra as funções de zoom ao ponto e fotografia disponibilizados no MapIt – Coletor de dados móveis.

Figura 8 – Funções de zoom e fotografia vinculadas ao ponto coletado no Mapit – coletor de dados móveis.

Fonte: do autor (2016).

 

Os dados vetoriais ao serem carregados no Quantumgis disponibilizam ao usuário um olhar global sobre qualquer variável estudada, pois, as feições e topologias de relevo, hidrologia e divisão em glebas o auxiliam na representação e interpretação de dados sobrepostos às imagens. É possível vincular às feições tanto raster (imagem aérea captada por sensor remoto), quanto complemento Google Hybrid para geolocalização dos pontos. Nesse contexto a figura 9 ilustra a representação cartográfica e distribuição dos focos de dengue no Setor Norte de Ituiutaba utilizando o complemento Google Hybrid no software livre Quantumgis.

Figura 9 – Representação cartográfica dos focos de dengue no Setor Norte de Ituiutaba.

Fonte: do autor (2016).

 

            A cartografia digital é uma das ferramentas que pode ser utilizada para representação dos dados em Sistema de Informação Geográfica. O SIG também possibilita que o usuário insira um volume maior de informações, promovendo facilidade e agilidade na sua busca. O usuário fica vulnerável as intempéries quando utiliza informações anexadas em mídias de papel, além da dificuldade em arquivar cada informação, ocupando maiores espaços e tempo dos colaboradores quando comparado à organização digital das informações.     Ao lançar os focos sobre o raster o gestor tem a noção da distribuição do foco e pode agir mais rapidamente no controle do A. aegypti.

  Corroborando com o que foi discorrido Lima et al. (2011) diz que, produtos de sensoriamento remoto possibilitam estudar e monitorar os ambientes terrestres. Na área de saúde pública, por exemplo, podem ser obtidas a partir da interpretação dessas imagens várias informações (espécies de vegetação, tipo de cultura agrícola, padrões de uso do solo urbano, habitat de vetores e hospedeiros, etc.) que estão relacionadas com surtos de doenças (Chagas, febre amarela, dengue, etc.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

  Observou-se nesta pesquisa que é possível utilizar tecnologia e informações pontuais para que faça um monitoramento preciso, fácil e de baixo custo dos focos dengue na zona urbana.

  A opção por utilizar um dispositivo android no georreferenciamento dos pontos foi a demonstração de que é possível conciliar uma tecnologia altamente aplicada no geoprocessamento com outra utilizada no cotidiano das pessoas, facilitando a absorção do conteúdo pelo público.

Todas as informações inseridas no formato de pontos no aplicativo MapIt foram exportadas e transmitidas com fidelidade e precisão ao serem descarregadas em formato kml no Google Earth Pro.

A mesma imagem aérea georreferenciada (raster) utilizada no MapIt é utilizada no software da Google, o que facilita a identificação do local onde são inseridos e exportados os pontos.

O Sistema de Informação Geográfica (SIG) pode ser implantado em qualquer município, independentemente do tamanho ou estrutura, pois existem softwares e aplicativos livres ao acesso do público. Porém é indispensável que se implante um banco de dados que atenda à demanda do usuário e que esteja associado a pontos georreferenciados, e que através deste estudo aja um controle mais efetivo dos focos da doença, visando expandir a identificação destes ao longo da cidade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ANDRADE, Guilherme Agostinho Pletikoszits de; SANTANA, Sheyla Aguilar de; MOURA, Ana Clara Mourão; PATROCÍNIO, Zenilton; PATROCÍNIO, Álex Moreira do. Desenvolvimento de aplicativos de geoprocessamento para Planos Diretores Municipais em Minas Gerais, Brasil. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 2007, p. 5075-5082.

 

CAIXETA, Daniel Mathias; SOUSA, Fernando Gomes de. A Utilização de Ferramentas e Técnicas de Geoprocessamento na Identificação e Análise das Áreas de Maior Ocorrência de Casos de Dengue em Goiânia-GO. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, 2007, p. 2373-2379.

 

CARVALHO, Elisângela Martins de; PINTO, Sérgio dos Anjos Ferreira; FACINCANI, Edna Maria. Aplicações do geoprocessamento para atualização de dados geológicos. OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.6, n.17, 2014, p. 74-90. Disponível em:< http://www.observatorium.ig.ufu.br/pdfs/6edicao/n17/4.pdf>. Acesso em: 24 de outubro de 2016.

 

CLIMATE-DATA.ORG (2016). Clima: Ituiutaba. Disponível em:< http://pt.climate-data.org/location/24901/>. Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

DENGUE.ORG.BR (2015). Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti LIRAa. Disponível em:< https://www.dengue.org.br/dengue_levantamento_municipi

os.pdf>. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

 

DONALISIO, Maria Rita; FREITAS, André Ricardo Ribas. Chikungunya no Brasil: um desafio emergente. Revista Brasileira de Epidemiologia, 2015, p. 283-285.

 

FERREIRA, Eliezer Alves; MACHADO, Gilnei; GROSS MACHADO, Cristina Buratto. Levantamento rápido do índice de infestação por Aedes aegypti (LIRAa) da zona oeste de Londrina/PR para o período 2010 – 2013. Anais do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, Vitória:UFES/AGB, 2014.

 

FOCHI, Deison Antonio Taufer; CORAZZA, Rosana; MESACASA, Letícia; MELO, Natália Gonçalves. Utilização de ferramentas de geoprocessamento para a delimitação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) no município de Passo Fundo, segundo o Novo Código Florestal (Lei 12.651-2012). VI Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental Porto Alegre, 2015, p. 1-5.

 

GIZMODO (2016). Google Earth Pro está disponível de graça; veja o que você pode fazer com ele. Disponível em<:http://gizmodo.uol.com.br/google-earth-pro-gratis>. Acesso em: 25 de maio de 2016.

 

GOOGLE (2016). Map It - Coletor de dados SIG.  Disponível em:< https://play.google.com/store/apps/details?id=com.osedok.gisdatacollector&hl=pt-br>. Acesso em: 27 de outubro de 2016.

 

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2016). Cidades@. Disponível em:< http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/ perfil.php?lang=&codmun=313420>. Acesso em: 27 de novembro de 2016.

LIMA, Thyago Anthony Soares. Espacialização cartográfica da dengue e estudo de correlação entre dengue e indicadores socioeconômicos e ambientais na cidade de Maceió-AL. Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto – GEONORDESTE, Aracaju, 2014.  

 

LIMA, Renato da Silva; PALMA LIMA, Josiane; RONS, Nívea Adriana Dias. Precisão aceitável? A utilização do Google Earth para obtenção de mapas viários urbanos para SIG. INFOGEO, nº57. Disponível em:< http://www.rslima.unifei.edu.br/download1/ArtigoInfoGEO.pdf>. Acesso em 08 de dezembro de 2016.

 

MINISTÉRIO DA SAÚDE (2016) – SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Critérios para orientar o processo de decisão para introdução da vacina contra dengue no Programa Nacional de Imunizações (PNI) - Relatório do Grupo de Trabalho do Ministério da Saúde. Disponível em:. Acesso em: 08 de dezembro de 2016.

 

NUNES, Magda Lahorgue; CARLINI, Celia Regina; MARINOWIC, Daniel; KALIL NETO, Felipe; FIORI, Humberto Holmer; SCOTTA, Marcelo Comerlato; ZANELLA, Pedro Luis Ávila; SODER, Ricardo Bernardi; COSTA, Jaderson Costa da. Microcefalia e vírus Zika: um olhar clínico e epidemiológico do surto em vigência no Brasil. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, 2016, p. 230-240.

 

OLIANI, Luiz Octávio; PAIVA, Caio; ANTUNES, Alzir Felippe Buffara. Utilização de softwares livres de geoprocessamento para gestão urbana em municípios de pequeno e médio porte. IV Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da geoinformação. Recife, 2012, p.001–008.

 

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. (2016). Doença do vírus Zika. Disponível em: . Acesso em: 10 de julho de 2016.

 

RIZZATTO, Fernando Kendy Aoki; MELO, Gabriel Maurício Peruca de. Importância do geoprocessamento aplicado na análise dos impactos ambientais. III Encontro de Pós-Graduação e IX Encontro de Iniciação Científica – Universidade Camilo Castelo Branco. 2015. Disponível em:< http://universidadebrasil.edu.br/epginic2016/edicoes_anteriores/files/2

015/EPG/Multidisciplinar/559%20-%20Fernando%20Kendy%20Aoki%20Rizzatto.pdf>. Acesso em: 25 de outubro de 2016.

 

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE - MINISTÉRIO DA SAÚDE. (2015). Resultados LIRAa Nacional 2015. Disponível em:< http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/dezembro/03/LIRAa-NACIONAL-2015-Vers--o-II.pdf>. Acesso em: 20 de maio de 2016.

 

SKABA, Daniel Albert; CARVALHO, Marilia Sá; BARCELLOS, Christovam; MARTINS, Paulo Cesar; TERRON, Sonia Luiza. Geoprocessamento dos dados da saúde: o tratamento dos endereços. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2004, p. 1753-1756.

 

LIMA, Suely Franco Siqueira; FLORENZANO, Teresa Gallotti; MORAES, Elisabete Caria; COSTA, Dilene Fernandes Machado da. Sensoriamento remoto no estudo da dengue com alunos do ensino fundamental. Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, 2011, INPE p. 3400. Disponível em:< http://www.dsr.inpe.br/sbsr2011/Files/s0328.pdf>. Acesso em 08 de dezembro de 2016.