PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA SOBRE A FAUNA SINANTRÓPICA NO AMBIENTE ESCOLAR


Vanessa Fernanda da Silva Sousa1,4, Tony César de Sousa Oliveira1, André Bastos da Silva1, Danielle Barbosa Santos2 e Paulo Auricchio3


1. Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste.

2. Associação de Ensino Superior do Piauí.

3. Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella, Departamento de Biologia.

4. E-mail para correspondência: vanessa_fernandaSS@hotmail.com


RESUMO: Este estudo avaliou a percepção dos alunos do ensino médio de uma escola filantrópica em Teresina, Piauí, acerca da fauna sinantrópica presente no ambiente escolar. A pesquisa foi realizada no ano de 2014 e os dados foram obtidos através de uma entrevistas estruturadas. As análises foram realizadas de forma individual para uma melhor compreensão da problemática abordada. Os educandos demonstraram ter conhecimento sobre a fauna local e uma sensibilização sobre preservação dessa fauna dentro do ambiente escolar, uma vez que a escola possui uma extensa área verde, levando-os a associar a presença dessa diversidade com o ambiente favorável. Essa sensibilização facilita a elaboração de estratégias de conservação do meio ambiente, bem como a proteção dos recursos naturais e preservação do ambiente escolar, através de programas de educação ambiental.


PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental, Ambiente urbano, Conservação ambiental.


ABSTRACT: This study evaluated the perception of the high school students of a philanthropic school in Teresina, Piauí, about the synanthropic fauna present in the school environment. The research was carried out in the year 2014 and the data was obtained through structured interviews. Analyzes were carried out individually for a better understanding of the issues addressed. The learners demonstrated knowledge about the local fauna and awareness about the preservation of this fauna within the school environment, since the school has an extensive green area, leading them to associate the presence of this diversity with the favorable environment. This awareness facilitates the elaboration of strategies of conservation of the environment, as well as the protection of natural resources and preservation of the school environment, through environmental education programs.


KEYWORDS: Environmental education, Urban environment, Environmental conservation.


INTRODUÇÃO


O espaço urbano é formado a partir da ação do homem sobre o meio ambiente ao longo do tempo. Com isso surgiram grandes problemas ambientais que geralmente resulta na degradação do meio ambiente ou até na escassez dos recursos naturais em prol do desenvolvimento econômico da sociedade moderna, causando o desequilíbrio ecológico, a poluição do meio ambiente, a extinção da biodiversidade, o excesso de lixo, dentre outros (MARQUES NETO; VIADANA, 2006).

O desenvolvimento econômico, entretanto, deve estar assentado não apenas no ser humano, mas também na conservação da natureza. Para isso, estudos sobre as condições em que se encontra o meio ambiente vêm sendo conduzidos, ressaltando sempre a importância que as atitudes humanas possuem em relação ao ambiente e seus recursos, a fim de viabilizar a conservação da biodiversidade e o aproveitamento das potencialidades que esta oferece a partir de tomadas de decisão (MILANO, 1992).

A conscientização de cada indivíduo sobre o papel da diversidade biológica para o equilíbrio do ecossistema, tendo a oportunidade de conhecer e admirar a natureza, é extremamente importante, considerando o poder de tal conhecimento na influência positiva para o processo de conservação da diversidade biológica e assim diminuir a taxa de extinção de muitas espécies (MILANO, 1992). No ambiente urbano, ao contrário do que pode parecer, possui certa diversidade animal, a qual pode ser encontrada nas casas, ruas, jardins e escolas (DIAS, 2006).

A diversidade animal situada em ambientes urbanos compõe a chamada fauna sinantrópica, isto é, animais que se adaptaram à companhia do homem (SOARES et al., 2011). Esses ambientes, mesmo constantemente alterados pela ação humana, caracterizam-se como áreas potenciais para a sobrevivência da fauna sinantrópica e têm sido importantes espaços para a realização de atividades de educação ambiental (BRÍGIDO; HIRAO, 2011; MALINOWSKI; PENDIUK, 2012). Nesse sentido, este estudo objetivou avaliar a percepção de alunos sobre fauna sinantrópica, bem como da importância de sua preservação, que ocorre em um ambiente escolar no município de Teresina, Piauí.


MATERIAL E MÉTODOS


O trabalho foi realizado na Escola Santo Afonso Rodriguez, situada na cidade de Teresina, Piauí. Esta instituição, enquadrada na categoria filantrópica, possui convênio com os governos estadual e municipal e, atualmente, atende alunos nos ensinos fundamental e médio, bem como em cursos técnicos de recursos humanos e informática (ESAR, 2017).

Os dados foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas, complementadas por entrevistas livres e conversas informais (BERNARD, 2006). Trinta alunos matriculados no 2º ano do ensino médio participaram deste estudo. Antes do início da pesquisa, a temática e suas etapas foram apresentadas à escola a fim de esclarecer o público-alvo e entregar o termo de consentimento livre esclarecido para o preenchido pelos pais ou responsáveis.

Os tópicos abordados no formulário de entrevistas versavam sobre: frequência do aparecimento de animais na escola; animais mais abundantes; frequência de animais nas dependências da escola; atitudes dos alunos em relação aos animais; a opinião dos entrevistados acerca da preservação da fauna. Para análise dos resultados dos questionários aplicados com alunos foram construídas tabelas, onde através desses dados os foram confrontados e distribuídos e análises individuais para melhor compreensão da problemática abordada.


RESULTADOS E DISCUSSÃO


Quando questionados sobre a frequência que os alunos observam a presença de animais na área interna da escola, 70% afirmaram sempre, 26,6% às vezes e 3,3% raramente (Gráfico 1). Essa alta frequência de animais na área da escola, pode estar relacionada à existência de cobertura vegetal remanescente na área. Esta vegetação, apesar de fazer parte de uma área urbanizada com fluxo intenso de pessoas, constitui um ambiente propício à presença da fauna sinantrópica. Assim, ao contrário do que possa parecer, o ambiente urbano possui considerável diversidade animal, que pode estar presentes em casas, ruas, jardins e escolas (DIAS, 2006).


Gráfico 1: Frequência de ocorrência dos animais na área interna da escola

Fonte: autores.


Quando questionados sobre a presença de animais nas dependências da escola (e.g., salas de aula, corredores, banheiros), 60% dos entrevistados afirmaram haver a presença destes nestes locais e 40% afirmaram não perceber tal fato (Gráfico 2). Carmo et al. (2006) relatam que essas espécies sinantrópicas vêm se adaptando de forma significativa dentro do contexto urbano e estão cada vez mais estabelecendo áreas de povoamento dentro dos grandes centros.


Gráfico 2: Ocorrência de animais nas dependências da escola.

Fonte: autores.


Ao serem questionados sobre quais animais são frequentemente encontrados na área da escola, 83,3% citaram cachorro, 63,3% pavão e bode cada, 3,3% cupins, formigas, cavalo e jumento, todos com a mesma porcentagem. Pássaros correspondem a 26,6% das afirmações, galinha e aranha ambas com 16,6%, camaleão 13,3%, borboleta e gato a 6,6% cada (Gráfico 3). Soares et al. (2011) explicam que essa diversidade é possível pois zonas urbanas que oferecem recursos, como uma extensa área de vegetação, servem como regiões de transição, de deslocamento ou até permanente dessas espécies.


Gráfico 3: Animais citados pelos alunos como frequentes na escola.

Fonte: autores.


Foi questionado aos alunos sobre que atitudes eles tomam quando se depararem com animais na escola. 93,3% afirmaram apenas os observam, enquanto que 6,7% os matam ou os afugentam. Esse resultado demonstra uma aparente mudança no comportamento preservacionista das pessoas em relação aos animais. Isto pode estar relacionada à intensificação das discussões na sociedade sobre as questões ambientais, que vem levando a um aumento da sensibilização ambiental, motivado pela realização de uma série de eventos relacionados com o meio ambiente (LEITE; 2001).


Gráfico 4: Reação dos alunos ao se depararem com animais na escola

Fonte: autores.


Quando questionados sobre o grau de importância que atribuem à preservação da fauna, constatou-se que 100% dos entrevistados julgam importante o ato de preservar as espécies. Esta opinião é confirmada por Jacobi (2003), quando comenta que: “Há uma demanda atual para que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para assumir um papel mais propositivo, bem como seja capaz de questionar de forma concreta [...]” Por outro lado, percebe-se que muitas pessoas reconhecem a importância da preservação, mas que, no entanto, agem de maneira diferente. Nesse caso, tal comportamento aparenta ser inconcebível sob o enfoque ecológico (MEC, 2007).

Foi questionado ainda sobre o grau de importância acerca do conhecimento da fauna para os entrevistados. Dos entrevistados, 83,33% consideram o conhecimento sobre a fauna muito importante e 16,66% razoavelmente importante, sendo o nulo o valor dos que consideram pouco ou mesmo sem importância tal conhecimento (Gráfico 5). Este resultado confirma o que muitos autores afirmam sobre a importância do conhecimento. Segundo Jacobi (2003), isso envolve a necessidade de aumentar a disseminação de práticas na sociedade que sejam fundamentadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora.


Gráfico 5: Importância de conhecimento da fauna

Fonte: autores.


CONCLUSÕES


Através do questionário percebeu-se que os alunos têm consciência sobre a importância da preservação das espécies para o ambiente e que conhecer mais sobre a fauna da escola mudaria suas atitudes com relação ao meio e consequentemente seu modo de percebê-las, facilitando o processo de preservação e conservação das espécies.

Portanto, diante a tais resultados, torna-se viável a elaboração de estratégias de conservação do meio ambiente, bem como a proteção dos recursos naturais e preservação do ambiente escolar, através de programas de Educação Ambiental. Essas ações instigam os discentes a criarem responsabilidade sobre seus atos, no que diz respeito ao meio no qual estão inseridos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BERNARD, H. R. Research methods in anthropology: qualitative and quantitative approaches. Oxford: Altamira Press, 4th. ed., 2006. 803p.

BRÍGIDO, N. M.; HIRAO, H. A Praça Victor Civita e o desenvolvimento sustentável: uma avaliação do uso, apropriação e imaginário. TÓPOS, v. 5(2), p. 9-20, 2011.

CARMO, A. U. ; UCCI, A. P.; FERNANDES, D.; FRARE, G. F.; OLIVEIRA, H. C.; BARBOSA, J. H.; SCHLINDWEIN, M. N.; MELLO, M. C. Levantamento Preliminar da Avifauna do Parque Ecológico do Basalto no Município de Araraquara – SP. Revista UNIARA, Araraquara, SP, v. 17/18, n.2006, p. 257-266, 2006.

DIAS, G. F. Atividades interdisciplinares de educação ambiental: práticas inovadoras de educação ambiental. 2ª ed. ver. apl. e atual. São Paulo: Gaia, 2006. 224 p.

ESAR - Escola Santo Afonso Rodriguez. A história da Escola Santa Afonso Rodriguez (ESAR). 2017. Disponível em: .http://www.esar.org.br/institucional/historia/ Acessado em: 30/05/2017.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, 2003.

LEITE, A. L. T. A. Educação ambiental: curso básico à distância. 2ª ed. amp. 5 v. Brasília: MMA, 2001. 396 p.

MALINOWSKI, R.; PENDIUK, F. Praça 29 de Março – resgate histórico sob o enfoque da educação e percepção ambiental na cidade de Curitiba-PR. Revista de Divulgação Científica e Cultural do Isulpar, v. 1(4). 2012.

MARQUES NETO, R.; VIADANA, A. G. Abordagem biogeográfica sobre a fauna silvestre em áreas antropizadas: o sistema Atibaia-Jaguari em Americana (SP). Uberlândia: Sociedade & Natureza, v.18, n. 35. P. 5-21, 2006.

MEC, Ministério da Educação. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: UNESCO, 2007. 243 p.

MILANO, M. S (org.). A estratégia global da biodiversidade: diretrizes de ação para estudar, salvar e usar de maneira sustentável e justa a riqueza biótica da Terra. Fundação O Boticário de Proteção à natureza, 1992. 232p.

SOARES, S. C.; RUIZ, C. M.; ROCHA, D. V.; JORGE, K. M.; SENKOWSKI, S. T. V.; FILHO, H. O; JÚNIOR; C. A. O. M. Percepção dos Moradores de Goioerê - PR, sobre a Fauna Silvestre Urbana. Arquivos do MUDI, v.15, p. 17-30, 2011.