A vovó do careca e a sustentabilidade social que beneficia o planeta Terra

Luciana Ribeiro

Escrever a história da vovó do Careca é uma honra pedagógica para mim, que sou neta, pois acompanhei um pouco de sua carreira cidadã, a qual vencera aos oitenta e oito anos de idade, deixando para nós um rico legado de vida e uma família com oito filhos,trinta e quatro netos, quarenta e um bisnetos e seis tataranetos. E com muita felicidade, todos podem dizer: vovó Maria e o vovô Benedito”, que é o Careca de fato, souberam posicionar-se como pessoas guerreiras, dignas e queridas diante de um mundo marcado pelo capitalismo e pelo egoísmo humano.

Prefiro chamar de vovó do Careca, pois suas virtudes humanísticas veem dentro do vovô também, como o amor e a solidariedade exercidos para abençoar a família, os amigos e os desconhecidos; todavia, lembro que faltando aproximadamente cinco anos para ela morrer, pude vê-la com um sorriso no rosto e me dizer surpreendentemente: Luciana, se eu morrer hoje, vou morrer feliz, pois conquistei tudo que eu queria, ajudei minha família, meus amigos e só de gente que ajudamos a receber suas aposentadorias foram mais de doze pessoas...” (fragmentos do diálogo que tive com a vovó do Careca).

Refletindo sobre o potencial solidário dos meus avós, os quais ajudaram muitas pessoas no seu sustento financeiro e social, fico admirada de relembrar a vivência deles em Minas Gerais, pois a vovó cursou até a quarta série na escola, numa época em que os estudos para as mulheres de baixa renda era um desafio árduo e penoso, ou seja, precisava ter ousadia e muita coragem para vencer na vida.

Dizia a vovó do Careca: A paciência é a mãe da prosperidade...” uma consideração verdadeira, pois caminharam com passos humildes e com muita paciência para plantarem boas ações vistas por meio da colheita de seus frutos, como, por exemplo, a sua família, que sempre foi considerada um alicerce social que a ajudou construir tudo na vida, então o amor foi uma essência preciosa para fundamentar seus projetos.

Ficou gravado nas minhas lembranças, que um certo dia, a vovó fazendo um de seus biscoitos deliciosos, fez um desabafo comigo: “menina, para vencer na vida foi muito difícil e para ter a estabilidade que tenho hoje, precisei aprender a fazer crochet em cima do muro escondida do meu pai...” continuou dizendo que para enfrentar o preconceito e o medo, era necessário teimar um pouquinho para ter seu próprio sustento. Fiquei toda arrepiada com sua coragem e com sua perseverança!

A visão futurística da vovó Careca com os jovens da família mostra-nos sua garra, seu vigor, seu talento empreendedor e sua boa vontade para ajudar os netos e os mais novos a montarem seus empreendimentos, inclusive eu, para me formar na faculdade, dando-nos, assim, a satisfação de termos uma independência financeira e social; Era, portanto, uma visionária e acreditava que o conhecimento acadêmico podia melhorar a história do nosso Brasil.

Pesquisando sobre a história de minha avó querida e contextualizando-a com estudos acadêmicos de Leonardo Boff, lembrei-me do breve diálogo que tive com ele em 2014, quando veio a Brasília para o lançamento do livro: “Encontros e Caminhos”, lançado com o apoio do Ministério Meio Ambiente, o qual frisou veemente: O evento sobre a educação em ecologia e meio ambiente nos mostra a urgência da educação se recriar face à situação de risco da Terra: especialmente o cuidado e a responsabilidade por tudo que existe e vive...”

Refletindo sobre a seriedade das palavras de Leonardo Boff, vejo o quanto a sustentabilidade social e ambiental no Brasil são menosprezadas pelos gestores públicos, ou seja, vemos, todos os dias, nos jornais e nas televisões a falta de zelo pelas crianças, pelos idosos, pelos encarcerados que vivem nas penitenciárias, o destrato com o meio ambiente, etc. Esses problemas resultam, portanto, da falta de amparo das políticas públicas que geram empregos, de moradias e das providências necessárias que assegurem os direitos humanos; infelizmente, convenhamos, a situação realmente é tenebrosa e desoladora.

A vovó do Careca viveu muito feliz com o vovô Benedito, sempre agradecidos a Deus por tudo que tinham, pois expandiram ao máximo suas boas ações sociais, deixando-nos uma bela lição de vida real, capaz de mobilizar e motivar a existência de outras pessoas e de seus projetos, os quais carecem da atenção do poder público, para viverem uma vida digna num planeta Terra que precisa ter mais amor, justiça, políticas públicas que viabilizem o cumprimento dos compromissos mencionados na Agenda 21 (plano que propõem metas de curto, médio e longo prazo, convidando governos e sociedade para unirem forças e resolverem problemas sociais e ambientais no Brasil) e lembrando que temos em nosso país outros acordos que moralizam o zelo pela vida humana e pelo meio ambiente.

Seguem algumas fotos da vovó do Careca com a nossa família para relembrarmos sua bonita jornada de vida ética e solidária:

Foto:Último aniversário da vovó do Careca

*Observação importante:

Vovó Maria faleceu no dia 16/12/2008

Vovô Benedito faleceu no dia 1/9/2017