A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDA PELO PROGRAMA A ESCOLA VAI A MATA

Dados de identificação:
Responsável pelo trabalho: Candice Filipak Baldoni, Diretora Presidente do Instituto Floravida;

Pessoas envolvidas - responsáveis: Quatro: Stéfano Fais, Coordenador do Programa.Talita Cristina de Oliveira, Educadora Ambiental; Aline Praxedes Mesquita, Estagiária; Carolina Lins Pinto Caldeira, Estagiária.
Cidade: Botucatu-SP

Instituição: Instituto Floravida, Telefone: (14) 3811-3520 ramal 2090
E-mail:
instituto@floravida.org.br


Categoria e temática do trabalho: Ações/Práticas em sala de aula e/ou em contato com a natureza ou locais alternativos.



Apresentação:

O Programa A Escola Vai a Mata é um dos programas do Instituto Floravida - uma organização civil sem fins econômicos, de direito privado e caráter socioambiental, que possui a missão de contribuir com a transformação socioambiental das comunidades inseridas em suas iniciativas, promovendo a educação em defesa da vida.


Os objetivos dos projetos elaborados pelo Instituto Floravida visam desenvolver iniciativas de educação socioambiental transversais em saúde, meio ambiente e desenvolvimento local, fortalecendo a participação da sociedade civil, enquanto sujeitos proativos na construção de suas vidas e do coletivo. Os principais eixos temáticos dos projetos são:


• Saúde: Desenvolver processos educativos que fortaleçam a criticidade sobre as condições de saúde e cidadania.


• Meio Ambiente: Estimular a reflexão crítica sobre as intervenções humanas no meio ambiente, transformando os beneficiários em multiplicadores.


• Desenvolvimento Local: Elaborar e implementar programas que favoreçam o empoderamento das comunidades com sustentabilidade.


O Instituto tem um forte histórico de atuação nos municípios onde está localizada a sede, Botucatu (SP), e Parnaíba (PI), onde fica a filial, nas quais estão em execução 7 Programas, que conferiram ao Floravida as certificações de Utilidade Pública Nacional e CEBAS – Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, concedidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social.


O principal objetivo do Programa é desenvolver vivências sensibilizadoras e processos contínuos de Educação Ambiental crítica, a fim de contribuir para transformação positiva nas relações das pessoas com meio em que vivem.
O Programa “A Escola vai à mata” funciona na área de reserva legal pertencente ao Grupo Centroflora – Anidro do Brasil, localizado no município de Botucatu, região centro oeste do Estado de São Paulo.


Justificativa:


No atual modelo de desenvolvimento a relação do homem com a natureza está marcada pelo distanciamento. Como consequência, observamos a destruição e o esgotamento dos recursos naturais, a ameaça à diversidade cultural e ambiental, a desigualdade social, o consumismo desenfreado e o excesso de produção de lixo. Nesse contexto, nossa prática educativa busca contribuir com mudança no mundo e nas relações humanas através da educação. Nossas inspirações se baseiam na Ecopedagogia - que adota a Carta da Terra como norte e busca, de forma coletiva, uma abordagem local e a ressignificação da vida e das relações humanas, trazendo, enquanto proposta de aprendizagem, um novo sentir da vida, através da práxis e não somente da observação das questões de preservação ambiental, justiça social e consciência global. Acreditamos na mesma premissa afirmada por Gadotti que “Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral. A experiência própria é o que conta. Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma plantinha, caminhando pelas ruas da cidade ou aventurando-se numa floresta, sentindo o cantar dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não, observando como o vento move as plantas, sentindo a areia quente de nossas praias, olhando para as estrelas numa noite escura”. Assim, para uma prática efetivamente transformadora, os processos partem da concepção crítica como define Guimarães “a transformação da sociedade é causa e consequência (relação dialética) da transformação de cada indivíduo, há uma reciprocidade dos processos no qual propicia a transformação de ambos. Nesta visão, educando e educador são agentes sociais que atuam no processo de transformações sociais e nesse processo se transformam; portanto, o ensino teoria e prática, é práxis. Ensino que se abre para a comunidade com seus problemas socioambientais, sendo a intervenção nesta realidade a promoção do ambiente educativo e o conteúdo do trabalho pedagógico”.

Baseando-se no campo da educação ambiental comunitária (MATAREZI et al., 2003, p. 204), busca promover uma reaproximação dos participantes com o meio ambiente nos seus aspectos naturais, sociais, culturais e históricos, e assim estimulando uma reflexão crítica das interações históricas entre a sociedade, o indivíduo e o lugar onde se vive. É desta maneira que o programa “A Escola vai à Mata” atua por meio de vivências em grupo, onde as pessoas experimentam diferentes situações e conhecem alguns ambientes pedagógicos como o viveiro de mudas, horta orgânica e jardim medicinal, onde podem re-significar a importância do sentir, estimulando e enaltecendo os sentidos: o tato, olfato, paladar e audição e também contextualizar essas questões na realidade em que vivem. Dentro desse contexto, as atividades relacionadas a trilhas demonstram-se um instrumento educacional riquíssimo e diferenciado, que gera ganhos afetivos, cognitivos e de habilidades que levam à mudanças positivas de valores, princípios e atitudes. (MATAREZI, 2000/2001 e 2004). As trilhas se apresentam como uma ferramenta de tornar o conhecimento interessante, contextualizado e real. O contato com a natureza é o elemento motivador para dar encanto e interesse pelas atividades desenvolvidas, no entanto é necessário conduzir os encontros da melhor maneira possível, de forma a alcançar finalidades educativas, por meio de experiências práticas. Nestas caminhadas pode-se trabalhar as relações “Eu – Meio Ambiente”, “Eu – O Outro” e “Eu – Comigo Mesmo” de forma vivencial e reflexiva. Portanto, ultrapassa em muito a dimensão de atividade apenas de sensibilização. A metodologia aplicada nas vivências é adaptada aos diferentes sujeitos, grupos participantes, ambientes, recursos disponíveis e, principalmente, ao contexto e seus objetivos pedagógicos. Justamente por representar uma gama de possibilidades é que se torna necessário uma sólida fundamentação teórica para que a proposta possa ser disseminada dentro da perspectiva crítica, emancipatória e transformadora da educação ambiental. (MATAREZI, 2000/2001).



Justificativa de Público

Em nossas ações, a educação ambiental baseia-se, sobretudo, nos princípio do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global: “A educação é um direito de todos; somos todos aprendizes e educadores”. desta forma, o programa atende todas as faixas etárias a partir de 4 anos. A maior parte de seu público alvo é proveniente da cidade sede, no entanto está aberto ao atendimento de toda a região. Geralmente esse público é constituído por escolas municipais, estaduais e federais, também contando com escolas particulares e grupos organizados, como orfanatos, creches e projetos sociais.
A partir de 2016 o Programa deu ênfase ao trabalho contínuo com grupos pouco acolhidos por projetos de Educação Ambiental:



Idosos: Grupos atendidos em parceria com os CRAS (Centro de Referência de Assistência Social);


Pessoas com deficiência: Grupos atendidos em parceria com a APAE-Botucatu;


Adolescentes: Grupos atendidos em parceria com a Afrape (Associação Fraternal Pelicano) e Adolescer.



Desenvolvimento:


Relato de como surgiu a ideia:


Nossa história começa no ano de 2000 quando os colaboradores do grupo Centroflora de Botucatu, Sidir da Silva Junior e Ciro Croce iniciaram ações de incentivo a reciclagem de resíduos sólidos e conservação da natureza. Destas atitudes surgiram os primeiros projetos: o Coleta Legal, que estimulava, por meio de premiações, a separação e entrega dos resíduos sólidos; o A Escola vai a Mata que desenvolvia trilhas de sensibilização com a natureza;
Em 2002, o Instituto Floravida ganhou uma sede na Unidade II do Grupo Centroflora em Botucatu, em meio a um fragmento de transição de Cerrado e Mata Atlântica, e nos consolidamos como organização socioambiental sem fins econômicos. Assim, em outubro nascia o Instituto Floravida, criado e mantido pelo grupo Centroflora com o objetivo de fomentar o desenvolvimento socioambiental das comunidades locais.


A partir daí o Programa A Escola Vai à Mata manteve-se atuante.Com o passar dos anos, muita coisa mudou para que o Programa se alinhasse aos principais documentos norteadores da educação ambiental e para que atendesse públicos pouco focados na educação ambiental desenvolvida no município como idosos e APAE.


O Escola é pioneira nesse tipo de atuação na cidade de Botucatu, e hoje é uma referência regional em desenvolvimento de educação ambiental, atendendo crianças, jovens, adolescentes e idosos. Em 2016 o Programa ampliou sua atuação e passou a realizar projetos contínuos e críticos de educação ambiental em parceria com outras instituições como AFRAPE (Associação Fraternal Pelicano), APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Ainda em 2016, o Programa desenvolveu um Projeto Político Pedagógico para nortear teórico e metodologicamente suas ações.


Passos de Aplicação

Durante o ano de 2017 desenvolvemos atividades de educação ambiental em dois eixos principais: (a) Trilhas Pontuais e (b) Processo Contínuos.


Trilhas pontuais

Agendamento de visitas; questionário prévio com as instituições visitantes para verificar as expectativas e conhecer melhor o público alvo.

Planejamento da atividade de acordo com o questionário prévio.

Desenvolvimento da Trilha: recepção, brincadeiras, práticas de cultivo no viveiro pedagógico, trilhas ecológicas no espaço de ecótono e jardim de medicinais; lanche; avaliação com os envolvidos e avaliação com a instituição.


Processos contínuos:


Realização de diagnósticos participativos com rodas de conversa, questionários.
Instrumentalização e debate e reflexão acerca dos temas levantados em diagnóstico – filmes, leituras, brincadeiras, jogos, atividades artísticas;


Promoção de atividades de reflexão, debates e contextualização - diálogos e rodas de conversa, depoimentos e análises dos educandos;


Realização de atividades práticas - práticas no viveiro pedagógico, elaboração composteira, prática de horta orgânica; jardinagem; elaboração de material audiovisual.


Construção coletiva e participativamente intervenções onde os educandos exerçam o papel de educadores, multiplicadores e transformadores;


Construção uma intervenção direta com a comunidade escolar e/ou do entorno - a estratégia e a forma devem surgir da linguagem do educando flexível a linguagem do público a ser atingido. Pode variar de uma conversa reivindicadora junto ao poder público até a produção de um material audiovisual ou impresso, ou qualquer outra forma de intervenção organizada pelo coletivo por uma causa justa e necessária.


Realização da Intervenção; Avaliação.


A intervenção deve ter como protagonistas os educandos. O educador
atua como orientador e parceiro deste processo. Um incentivador. A intervenção deve atender ao desejo dos educandos de transformar a realidade em que vivem. O educador terá trabalhado ao longo do processo no sentido de apoiar a identificação destas questões, a instrumentalização, a mediação do debate e reflexão e, por fim, a realização da intervenção.


- Avaliação:


Painel de satisfação (quantitativo);


Conversa/ entrevista com a turma (qualitativo): O que você aprendeu hoje? O que isso tem a ver com a sua vida? O que mudou em você depois desta visita?
Entrevista com educadores e instituições parceiras.

Registros fotográficos e relatórios descritivos com objetivo, metodologia e avaliação das atividades desenvolvidas.


Resultados


Desde a sua concepção até hoje, o Programa já recebeu mais de 21.000 visitantes e nos últimos anos tem atendido uma média de 1.700 pessoas anualmente, nas visitas pontuais.


Nos processos contínuos são 4 parcerias firmadas e satisfeitas com o processo desenvolvido: Programa Adolescer, AFRAPE (Associação Fraternal Pelicano), APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) – grupo de idosos.



Conclusão


A educação ambiental faz-se necessária na atual realidade planetária. É preciso envolver ações reflexivas, práticas, críticas e interventivas para sua boa atuação e envolvimento de diversas faixas etárias e realidades sociais para atingirmos a tão sonhada transformação da relação do homem com o meio que vive. Nossa atuação deve basear-se na construção de respostas para as perguntas inquietantes “de onde viemos e para onde vamos?”, sempre partindo do ponto que viemos, estamos e iremos juntos.




Referências Bibliográficas:


BRASIL, Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Disponível em http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/trat_ea.pdf


GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. 4. ed. São Paulo: Peirópolis, 2003.


GUIMARÂES, Mauro. Por uma educação ambiental crítica na sociedade atual. Margens, Abaetetuba, V.7 N. 9, p.11-22, SET, 2013


MATAREZI, José. Despertando os sentidos da educação ambiental Arisingthesensesaboutenvironmentaleducation. 2006


Organização das Nações Unidas– ONU.
Carta da Terra, 2000.