IMPACTO AMBIENTAL SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA NA LAGOA AZUL, PARINTINS/AM

Environmental impact on water quality in “Lagoa Azul”, in Parintins/AM

Edilson Barroso Gomes1

Cynara Carmo Bezerra2

Augusto Fachín Terán3

1 Doutorando em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/UEA). Docente do Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do Estado do Amazonas (CESP/UEA). Amazonas, Brasil.

E-mail: edilsonbarrosopin@hotmail.com

2 Doutora em Biotecnologia. Docente do CESP/UEA. Amazonas, Brasil. E-mail: cynara_carmo@yahoo.com.br.

3 Doutor em Ecologia. Professor do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Líder do GEPENCEF. Manaus, Amazonas, Brasil.

E-mail: fachinteran@yahoo.com.br.

RESUMO

No planeta um dos grandes problemas é a falta de água com qualidade para o consumo humano, o qual vem se agravando cada vez mais com o aumento da poluição que contamina oceanos, rios e lagos, inviabilizando o consumo da água e causando morte da vida aquática. O objetivo desta pesquisa foi avaliar os impactos ambientais sobre a qualidade da água, da “Lagoa Azul”, no bairro Itaúna II, do Município de Parintins – AM. Foi realizado levantamento sobre o bairro e a origem da Lagoa, através de entrevistas com moradores e autoridades. Foram coletadas 3 amostras de água a 1,5 metros da margem da lagoa, os quais foram analisadas no laboratório do Centro de Tratamento de água do Serviço Autônomo de Água de Parintins/AM. Este recurso hídrico vem sendo contaminado sistematicamente com lixo doméstico e dejetos humanos que são despejados por moradores que residem em suas margens desde 1999. No período chuvoso, torna-se uma área de risco por alagamento, pois não tem saneamento básico. As analises realizadas mostram que a água é inadequada para o consumo humano, pois tem presença de coliformes fecais e totais. Se não forem efetuadas ações para a melhoria deste ambiente pela prefeitura de Parintins, a comunidade local irá continuar exposta a doenças e endemias.

Palavras-chave: Poluição. Contaminação. Lagoa azul. Qualidade da água.

ABSTRACT

One of the major problems in the world is the lack of quality water for human consumption. This problem is becoming more and more aggravated by the increasing in pollution on oceans, rivers, and lakes, thereby making water consumption unfeasible and causing the death of aquatic life. The objective of this research was to evaluate the environmental impacts on the water quality of "Lagoa Azul" lagoon, in the Itaúna II neighborhood, in the municipality of Parintins - AM. A survey was carried out on the neighborhood and the origin of this lake, by mean of interviews with local residents and authorities. Three samples of water were collected at 1.5 meters from the lagoon margin, which were analyzed in the laboratory of the Water Treatment Center of the Autonomous Water Service of Parintins/AM. This water resource has been dumped by local residents around the lagoon since 1999. This is a risk area due to flooding, because there is no basic sanitation. Results of the analyzed water samples indicate that the water is unsuitable for human consumption, because the presence of fecal and total coliforms. If the city hall of Parintins does not take actions to improve the quality of this environment, the local community will remain exposed to endemics diseases.

Keywords: Pollution. Contamination. “Lagoa Azul” Lagoon. Water quality.



Introdução

A água é fundamental para a vida humana, se não houvesse água não existiria vida no nosso planeta, nesse sentido a poluição da água e sua escassez no mundo vêm causando muitas discussões. “A importância da água para os seres vivos reside no fato de todas as substâncias por eles absorvidas, e todas as reações do seu metabolismo, serem feitas por via aquosa. A água é quimicamente neutra, possui a propriedade de dissolver um número muito grande de substâncias químicas, facilitando assim sua penetração através das membranas celulares e o seu transporte por todo o organismo” (BRANCO, 1993, p. 16).

Chassot (1994) em seu livro, “A ciência através dos tempos”, fala sobre a importância da água para os povos antigos. Na China cinco mil anos antes de nossa era, foram construídos canais de irrigação para aumentar a produção agrícola, e os Romanos 40-103 d.C., utilizaram sua tecnologia para abastecer de água suas cidades e estabeleceram sistemas de eliminação de fezes com água corrente. Os problemas enfrentados por estes povos relacionados com a distribuição de água, poluição e esgotos, ainda são freqüentes nas cidades modernas.

A proteção da qualidade e fornecimento da água doce, proteção dos oceanos e mares, está entre os grandes desafios da crise ambiental global, que vem sendo discutidos em vários congressos e conferencias internacionais, como por exemplo, a Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, África do Sul 2002 e Rio +10, com o objetivo de avaliar a situação ambiental e a prática do desenvolvimento sustentável para o mundo (RODRIGUEZ & SILVA, 2013).

O termo poluição das águas tem um duplo sentido, pois ele pode estar ligado à sujeira e a contaminação. Sujar tem um sentido muito mais ligado à aparência, à estética, do que a danos reais. Em nosso país o saneamento básico é caótico, em 2008 cerca de 18% da população brasileira estava exposta a riscos de contaminação por doenças devido à exposição da rede de esgoto (IBGE, 2008). As atividades humanas que contribuem com o Impacto Ambiental na qualidade da água dos rios, lagos, igarapés, mares, geralmente são provenientes da urbanização, descartes de resíduos como lixo, esgotos domésticos e sanitários e resíduos industriais (PASCOALOTO, 2012). Um claro exemplo de poluição da água é o rio Itanhém conhecido também como rio Alcobaça na Bahia/ Brasil, suas margens vem sofrendo com desmatamento para produção de eucalipto e pastagens, despejo de esgoto doméstico, indústrias e agrícolas, comprometendo a saúde das pessoas que dependem da água do rio para a sobrevivência (CUNHA & SANTOS, 2010).

Segundo dados da ONU, no inicio do século XXI aproximadamente 250 milhões de pessoas no mundo enfrentaram escassez crônica de água, e em menos de 30 anos este numero aumentará para três bilhões em 52 países. A crise da falta da água para consumo é tão grande, que este recurso já está sendo considerado como o tesouro do século XXI (PASCOALOTO, 2012).

Na Amazônia as populações vivem nas margens dos lagos, rios, igarapés e o esgoto doméstico ao ar livre é a principal fonte de contaminação e de proliferação de doenças. Esta região tem um grande potencial de água doce, porem vem ocorrendo com frequência o desperdício e contaminação dos rios e igarapés (FACHÍN-TERAN & PIZA, 2011).

Em Parintins-AM, cidade considerada uma ilha, localizada na margem do rio Amazonas, o abastecimento de água é realizado por poços artesianos e pelo Centro de Tratamento de água do Serviço Autônomo de Água (SAAE). A pesar disto, já tem falta de água em alguns bairros pela precariedade na rede de distribuição. Não existe um sistema de tratamento para o esgoto sanitário e para o lixo domestico, e a única lixeira publica não faz tratamento do lixo, causando a contaminação do solo e da água do lençol freático (FACHÍN-TERÁN & JACAÚNA, 2015).

Nesta cidade existe um corpo de água chamado de “Lagoa Azul” com presença humana em volta dela e que carece dos serviços básicos de saneamento ambiental. O nosso objetivo foi avaliar os principais impactos ambientais sobre a qualidade da água desta Lagoa.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa do tipo descritiva foi dividida em duas etapas:

No primeiro momento foi realizado levantamento de dados gerais sobre o bairro e sobre a origem da “Lagoa Azul” (fig. 1), através de entrevistas a moradores, autoridades e pessoas que na época participaram da invasão da área que mais tarde se tornaria o bairro de Itaúna II.

Na segunda etapa foram realizadas coletas de amostras de água (N=3). Cada uma das coletas foi efetuada em pontos distintos a 1,5 metros da margem da lagoa. O material coletado foi depositado e embalado em copo plástico e enviado para o laboratório do SAAE Parintins/AM, onde foi realizada a análise das amostras. No período de coleta verificamos que a Lagoa estava passando por um processo de limpeza de seu leito e organização de sua área.

Figura 1: Vista aérea da “Lagoa Azul”

Fonte: Secretaria do Meio Ambiente

Resultados e Discussão

O Bairro Itaúna II

Este bairro fundado em janeiro de 1995, é produto de uma invasão durante a gestão do Prefeito de Parintins, Senhor Raimundo Reis Ferreira. Tem como limites ao norte com o Bairro Itaúna l, a leste com o Bairro Paulo Corrêa, ao sul com Loteamento Tonzinho Saunier e a oeste com a Rodovia Parintins e Loteamento Jacareacanga. Tem uma área aproximada de 317.900.00 m2. A comunidade não dispõe de área para lazer, a não ser dois pequenos campos de futebol. Nas ruas sem asfalto são observadas acumulo de lixo, lama, esgoto e falta de iluminação pública. A segurança no bairro é quase inexistente.

Lagoa Azul

Está localizada no Bairro Itaúna II, rua Padre Luppino, nas proximidades da Escola “Luz do Saber”. Esta lagoa tem formato circular, medindo aproximadamente 100 metros de diâmetro e 3 m de profundidade no verão e aumentando de tamanho no inverno. Possui uma nascente de água doce, de cor azul na primeira percepção com a luz do sol. É habitada por peixes, aves, quelônios e jacarés. Segundo dados fornecidos pela Secretaria do Meio Ambiente, a Lagoa surgiu da necessidade de aumentar as nascentes de água, onde foram realizadas escavações pela empresa WP Construções LTDA (fig. 2). Com o passar dos anos o nível de água aumentou em função de novas escavações e erosão causada pelas chuvas de inverno (fig. 3). A lagoa recebe lixo doméstico, dejetos humanos e água de todas as partes do bairro Itaúna II e bairros vizinhos.

Figura 2: “Lagoa Azul” após a drenagem profunda

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente

Figura 3: “Lagoa Azul” com seu volume de água transbordando e alagando casas

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente

Problemas de Saúde

Na tabela 1, citamos os principais problemas encontrados decorrentes da falta de estrutura básica do Bairro Itaúna II, onde as principais vítimas são crianças e idosos. Estas duas faixas etárias são as mais expostas ao contato com o lixo nas ruas e proliferação de insetos, lama, poeira e água contaminada que usufruem para beber. As doenças mencionadas são adquiridas nas épocas de verão e inverno. Estas mesmas doenças também são encontradas com frequência nas famílias que residem nas proximidades da “Lagoa Azul”, onde a maioria das casas localizada nas suas margens são de palafita, madeira e cobertas de palha, carecendo de saneamento básico adequado, contribuindo com a proliferação de doenças no local. Segundo Tundisi (2011), as doenças de veiculação Hídrica em escala mundial causam a morte de centenas de milhares de pessoas por ano, mortes prematuras e de vidas produtivas, sendo mais comuns as provocadas por disenteria, febre, hepatite, malária e dengue.

Tabela 1: Doenças mais comuns dos moradores do Bairro Itaúna II


Época

Faixa etária

Doenças

Inverno

Verão

Crianças

Idosos

Catapora


X

X


Diabete

X

X



Diarreia

X

X

X

X

Dor de cabeça


X


X

Febre


X

X


Hanseníase

X

X



Hepatite

X



X

Infecção intestinal

X

X

X

X

Infecção respiratória


X

X

X

Micose

X

X

X

X

Pneumonia

X




Pressão alta


X


X

Tuberculose

X




Verminose

X

X

X

X

Fonte: Centro de Saúde Irmão Francisco Galianni, 2006

Contaminação da água na “Lagoa Azul”

A análise das três amostras revelou a presença de coliformes totais e coliformes fecais. A comprovação da contaminação da água da “Lagoa Azul” mostra o impacto ambiental ocasionado pela presença do homem naquela área. O fato dos moradores jogarem o lixo doméstico e fezes, sem dúvida é o principal fator que contribuiu para a situação de contaminação deste ambiente aquático (fig. 4). “A água da Lagoa Azul em Parintins não é propicia para o consumo humano devido estar contaminado por lixo doméstico e esgoto domiciliar Apesar de ser poluído, possui vida aquática com espécies de peixes como bodó, matrinxã, tamuatá e jacarés” (SILVA, 2017). Problema similar se apresenta em outra lagoa da cidade conhecida como “Lagoa da Francesa” que também apresenta ocupação irregular nas suas margens, com deposito de lixo domestico. Nos meses de verão geralmente fica seco apenas com um filete de água com esgoto proveniente das casas e embarcações e fica bem visível a poluição (FACHÍN-TERÁN & JACAÚNA, 2015).

Figura 4: “Lagoa Azul” contaminado por esgoto familiar.

Fonte: Fachín-Terán, 2010

Segundo Branco (1993, p. 43):

Os Coliformes fecais são bactérias que vivem, normalmente, nos intestinos de todas as pessoas. Eles não causam doenças pelo contrário, ajudam a nossa digestão e se alimentam simplesmente de alguns subprodutos desta. Mas eles existem em tão grande numero que, apesar de microscópicos, chegam a formar a maior parte do volume fecal. Cada ser adulto expele diariamente com suas fezes, um número situado entre 50 a 400 bilhões de bactérias coliformes.

Estes materiais fecais são perigosos quando são despejados nos esgotos e na maioria das vezes caem nos rios e lagos conduzidos pela chuva e podem servir de fontes de microorganismos patogênicos responsáveis por doenças como a cólera e a febre tifóide e outras doenças que podem afetar o sistema gastrointestinal. (BRANCO, 1993).

A presença de coliformes totais é produto da presença de materiais em decomposição como plantas, peixes, restos de comida e animais que podem possuir diversos tipos de bactérias nocivas ao nosso organismo. Quanto à presença em esgotos, estes coliformes produzem altas demandas de oxigênio e quando despejados em grandes volumes nos rios, roubam oxigênio ocasionando a mortandade de peixes e exalando odores fétidos da anaerobiose (BRANCO, 1993).

A Constituição Federal, em seu art. 225, afirma que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações”. Desafortunadamente a lei maior de nosso país não se fez cumprir na realidade da “Lagoa Azul”.

Considerações Finais

A “Lagoa Azul” no decorrer dos anos passou por várias alterações no seu espaço físico e biológico. As principais transformações foram: aumento do volume da água, drenagem, lixo doméstico e lançamento de materiais fecais pelos moradores que vivem nas margens, início do saneamento básico, asfaltamento de algumas ruas de acesso ao local, limpeza do lixo da lagoa e trabalho de sensibilização a alunos e moradores do bairro Itaúna II.

A contaminação da água da “Lagoa Azul” é visível e comprovada pela análise da qualidade da água, que apontou coliformes fecais e totais reprovando a água para o consumo e higiene pessoal. Mesmo assim, os moradores, principalmente crianças brincam dentro da lagoa e algumas famílias retiram os peixes e o usam como alimento.

A pesquisa mostrou algumas doenças comuns no bairro Itauna II, nas próximas a “Lagoa Azul”, e estas mesmas enfermidades estão relacionadas com as doenças que estão acontecendo em escala mundial como disenteria, infecções intestinais e vermes. Outro grande problema são as doenças que afetam principalmente crianças prematuras, podendo levar a óbitos.

As leis de preservação ambiental existem, mas são desconhecidas pelos moradores, talvez pela falta de informação sobre os prejuízos causados pela poluição da água. É necessário realizar junto aos moradores, ações de sensibilização e conscientização. Nas escolas deve ser aberto o debate sobre esta problemática nas diferentes disciplinas que compõem o currículo, usando o tema transversal meio ambiente.

Referências

BRANCO, Samuel Murgel. Água: origem, uso e preservação. 12 ed. Editora Moderna: São Paulo, 1993.

CHASSOT, Attico. A Ciência através dos tempos. Editora Moderna: São Paulo, 1994.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL (Texto copilado ate a Emenda Constitucional nº 95 de 15/12/2016) Art. 225. Disponível em: <https://www.senado.gov.br/atividade/const/con1988/con1988_15 12.2016/art_2_.asp>. Acesso em: 19 nov. 2017.

CUNHA, Andréia Heringer da; SANTOS, Raqueline Brito dos. Análise Microbiológica da água do rio Itanhém em Teixeira de Freitas - BA. Revista Biociências, UNITAU, v.16, n.2, 2010.

FACHÍN-TERÁN, Augusto; JACAÚNA, Carmen Lourdes Freitas Dos Santos. Alfabetização Ecológica em espaços educativos utilizando o tema da água. Editora UEA: Manaus, 2015.

FACHÍN-TERÁN, Augusto; PIZA, Adriana Araújo Pompeu. Kit mergulhe mais fundo: uma metodologia para o ensino-aprendizagem sobre os recursos hídricos em espaços não formais. Ciência em Tela, v.4, n.1, 2011.

IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizaca/livros/liv45351.pdf>. Acesso em: 22 nov.2017.

PASCOALOTO, Domitila. Tópicos em Recursos Hídricos: Uma abordagem para professores do Ensino Fundamental e Médio na Amazônia. Manaus, 2012.

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Vicente da Silva. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: Problemática, tendência e desafios. 3 ed. Editora UFC: Fortaleza, 2013.

SILVA, Glauciane Sousa da. A Lagoa Azul como espaço educativo não formal para a alfabetização Ecológica de estudantes das séries do Município de Parintins. Dissertação. 2017. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia) Universidade do Estado do Amazonas. Parintins-AM, 2017.

TUNDISI, José Galizia. Recursos Hídricos no Século XXI. Oficina de textos: São Paulo, 2011.