AULA PRÁTICA EM CAMPO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR NO CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE EM CURUÇÁ-PA.

Daniel Fernandes Rodrigues Barroso1, Josie Figueredo Barbosa2, Glauby do Rego Bezerra3, Enildo Charles Mendes Cardoso4



1Engenheiro Ambiental. Mestre em Ciências Ambientais. Instituto Federal do Maranhão – Campus Presidente Dutra. E-mail: daniel.rodrigues@ifma.edu.br Endereço: Rua 28 de Junho Sul, 104, Ap. 104, Centrinho, Presidente Dutra-MA. Telefone: (91) 99300-5903.

2Bióloga, Especialista em Gestão Educacional. Escola de Educação Tecnológica do Pará. E-mail: josie.barbosa@yahoo.com.br. Endereço: Rua Nova, 77, Abade, Curuçá-PA. Telefone: (91) 98403-3689.

3Engenheiro Ambiental. Especialista em Ordenamento Territorial Urbano. Escola de Educação Tecnológica do Pará. E-mail: glaubybezerra@yahoo.com.br. Endereço Rua Cantídio Guimarães, 362, Bairro: Centro, Curuçá-PA. Telefone: (91) 98865-2280.

4Graduando do Curso Tecnológico em Gestão Ambiental. FAMAC/UNOPAR. Diretor do Instituto de Desenvolvimento Socioambiental La no Mangue. E-mail: cardosoc17@yahoo.com.br. Endereço: Tv.: 15 de Novembro, 139, Centro, Curuçá-PA. (91) 99187-6360.


RESUMO:


O artigo apresenta a aula prática como ferramenta metodológica interdisciplinar no curso Técnico em Meio Ambiente de uma Escola Técnica do Pará. A importância da aula prática como ferramenta pedagógica no processo de ensino-aprendizagem foi perceba por alunos e professores ao observarem diferentes ambientes.


Palavras-chave: Aula prática; ferramenta pedagógica; processo de ensino-aprendizagem;


ABSTRAC:


The article presents the practical class as an interdisciplinary methodological tool in the Technical Course on the Environment of a Technical School in Pará. The importance of the practical class as a pedagogical tool in the teaching-learning process was perceived by students and teachers when observing different environments.


Key-words: Class pratical; tool pedagogical; teaching-learning process.




  1. INTRODUÇÃO


No contexto atual do ambiente escolar é muito comum observar professores desmotivados pela falta de interesse dos discentes nas aulas de geografia (CORDEIRO; OLIVEIRA, 2011) e outras disciplinas. Os autores citados concordam que o ambiente escolar no qual os alunos estão inseridos diariamente, a sala de aula, se transforma em algo monótono e cansativo. De acordo com Oliveira e Correia (2013), devem ser inseridas várias modalidades didáticas nas disciplinas, uma vez que, a variação das atividades pode ser mais atrativa para os alunos do ensino médio, aumentando com isso o interesse pelos conteúdos abordados e atendendo às diferenças individuais, pois cada aluno possui suas particularidades e até dificuldades de aprendizagem.

O processo de ensino e aprendizagem é muito complexo, o que exige o envolvimento tanto de docentes como de discente. Para tanto, é necessário haver uma sintonia somada a interesses e empenhos vindos de todo corpo formador do espaço escolar (SOUZA et al., 2016).

O professor em geral tem, a sua disposição, recursos didáticos diversos que podem auxiliar numa nova abordagem metodológica no processo de ensino-aprendizagem (CORDEIRO; OLIVEIRA, 2011). Mesmo assim, é necessário conciliar esses recursos pedagógicos com novas práticas de ensino aprendizagem. No curso Técnico de Meio Ambiente, as aulas práticas podem ser um forte aliado como recurso metodológico no processo de ensino-aprendizagem. Somam-se a isso, a riqueza interdisciplinar que podem ser inseridos em uma única aula-prática fora do ambiente escolar, contribuindo dessa forma para ampliar o horizonte de conhecimento teórico-prático dos discentes do Curso Técnico em Meio Ambiente, conforme reporta Silva e Oliveira-Junior (2016), em que afirmam que a aula de campo é uma prática metodológica usada por professores como forma de consolidar a teoria trabalhada em sala de aula nos livros didáticos. Segundo os mesmos autores, o contato dos discentes com o meio ambiente contribui no processo de ensino-aprendizagem na disciplina de geografia, pois proporciona a aprendizagem de temáticas essências.

Neste contexto, este trabalho objetiva apresentar a aula prática como ferramenta pedagógica interdisciplinar para os alunos do curso técnico de Meio Ambiente de uma Escola Tecnológica do Estado do Pará.

Como recurso metodológico deste trabalho, optou-se somente por descrever a aula prática, da qual os alunos participaram e bem como os assuntos interdisciplinares observados in loco, os quais foram objetos de discussão entre professores, alunos e instrutor da aula. Assim, concretizou a interdisciplinaridade durante a aula prática.


  1. METODOLOGIA

    1. DA AULA-PRÁTICA


A aula de campo ocorreu nos dias 20 e 27 de setembro de 2017 na comunidade rural de Água Boa, na zona rural do município de Curuçá-PA. A aula prática aconteceu mais especificamente em duas propriedades rurais na referida comunidade. Participaram da aula prática, cerca de 76 alunos do curso Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Tecnológica do Pará – EETEPA Profª Maria de Nazaré Guimarães Macedo. Além dos alunos, participaram três professores do corpo docente do curso técnico e o Diretor do Instituto Socioambiental Lá No Mangue que conduziu os alunos e professores durante todo o trajeto percorrido e explicou aos alunos os diferentes ambientes observados com a intervenção dos professores presentes.

O objetivo da aula prática era uma visita em uma nascente para observar a sua preservação e conservação. No entanto, a aula se estendeu para além dessa temática ambiental, e os alunos puderam vivenciar a interdisciplinaridade em uma única aula prática.



    1. DOS TEMAS INTERDISCIPLINARES


Durante todo o percurso da aula prática, os alunos passaram por diversos ambientes, tais como lagos artificiais abandonados outrora voltados para a prática da piscicultura, floresta secundária em estágio intermediário de regeneração, pequenos igarapés represados, agricultura convencional com sistema de irrigação e finalmente visitou-se a nascente, objeto da aula prática.


  1. RESULTADOS


O contexto interdisciplinar marcou a aula prática para os alunos do curso técnico em Meio de Curuçá-PA.

O primeiro ponto foi sobre o comportamento ético no ambiente escolar e fora do ambiente escolar, em que diretor do Instituto La no Mangue juntamente com os professores ressaltaram a importância do comportamento dos alunos durante a aula prática.


Foto 1. Orientação sobre o comportamento ético durante a aula prática.


No campo da ecologia, os alunos receberam ensinamentos sobre ecossistemas aquáticos lênticos e lóticos ao observarem os lagos artificiais abandonados, que foram palcos da criação de peixes no passado. Ao mesmo tempo, em que se explorou a temática dos padrões de qualidade de água superficial para diferentes ambientes: lênticos e lóticos. Os professores explicaram que ambientes lênticos e lóticos apresentam padrões diferenciados de qualidade de água para alguns parâmetros de acordo com a Resolução Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama nº 357/2005. De acordo com Ximenes e Crispim (2009), as aulas práticas de laboratório e de campo permitem que os discentes observem parâmetros biológicos e de identificação do local estudado, e que assim possam obter uma análise ambiental de modo a compreender as relações ecológicas e os impactos antrópicos presentes.



Foto 2. Explicação sobre ecologia aquática: ambientes lênticos e lóticos


Ao passar pela floresta secundária, os alunos receberam explicação sobre a importância da floresta para o ciclo hidrológico e para o equilíbrio ambiental do planeta.


Foto 3. Explicação sobre Floresta: Importância da floresta para o ciclo hidrológico e para o equilíbrio do planeta.


Durante o percurso, foi observado um igarapé que se encontrava represado com sacos cheios de areia (sarrafos) e nele continha um sistema de bombeamento de água para diferentes cultivos agrícolas. Esta situação chamou a atenção de todos que observaram imediatamente o represamento da água e a presença de derivados de petróleo no solo e água proveniente do motor. A contaminação do solo e água por derivados do petróleo foi debatida, assim como o represamento do igarapé que poderia causar desequilíbrios ecológicos devido ao alagamento de área marginais com vegetação e a decomposição da vegetação submersa, que poderia reduzir o oxigênio dissolvido da água daquele manancial, prejudicando dessa forma, a biota aquática. Ao mesmo, foi observado o impacto ambiental da presença de óleo combustível no solo e água, que podem alterar a química da água ou do solo. No outro trecho do mesmo igarapé, foi observado a disposição de mandioca para o processo de amolecimento. Nisto foi explicado sobre a produção de ácido cianídrico, que é tóxico para o ambiente e sua biota. Posteriormente, foram discutidas formas de minimização de tais impactos.

Foto 3. Explicação sobre o represamento do igarapé e disposição de óleo sobre solo e água.


Ao se deparar com o sistema de agricultura convencional, os professores e o diretor do instituto explicaram o sistema ali presente. O sistema de consórcio de culturas, o sistema de monocultura e o sistema de irrigação. Ao se observar o uso de madeira como tutor vivo na cultura da pimenta-do-reino, foi observado a perda de madeira com essa prática agrícola e por outro lado, foi também explorado a temática agroecológica para essa cultura, ao se mencionar que as estacas de madeira poderiam ser substituídas por tutores vivos. Outra sugestão foi a transformação do sistema convencional para o sistema agroflorestal (SAF) com a implantação de espécies frutíferas e madeireiras.

Por último, foi feita a visita à nascente objeto da aula. Os presentes puderam observar a preservação da nascente ainda em fragmento florestal em bom estado de conservação. Mencionou-se a 12.651/2012, sobre o Código Florestal como instrumento legal de proteção das nascentes e bem como a área de 50 m de raio de preservação permanente para as nascentes conforme determinação legal.


Foto 4. Aula de observação da nascente.


Foi ainda observado a disposição inadequada de resíduos sólidos, conforme pode ser visto na foto 5 e neste momento, o tema de gestão de resíduos sólidos foi abordado com os alunos participantes da aula.


Foto 5. Disposição inadequada de resíduos sólidos.


Diante de tudo que foi observado, o último tema que foi explorado na aula prática foi a Educação Ambiental como caminho para a gestão do meio ambiente.

Finalmente, após a visita nas propriedades, os alunos puderam compartilhar de momentos de lazer, com banhos nos rios e práticas esportivas.


  1. CONCLUSÃO


A aula prática proporcionou aos alunos do ensino técnico em Meio Ambiente uma visão interdisciplinar do ambiente visitado. Auxiliado por docentes com diferentes visões acadêmicas e práticas, foi possível explorar as diferentes disciplinas do curso técnico em Meio ambiente, tais como: Legislação Ambiental, Agroecologia, Educação Ambiental, Ética profissional, Estudo de Impacto Ambiental, Química Ambiental, Recursos Hídricos, Ciclo Hidrológico e Bacias Hidrográficas e Conservação de Nascentes.

Para além da visão ambiental, alunos e professores perceberam importância da aula prática como ferramenta pedagógica no processo de ensino-aprendizagem. Foi possível observar durante a aula prática, que o meio ambiente é na verdade um laboratório natural que pode e deve ser inserido no currículo escolar não somente dos cursos técnicos em meio ambiente como também na grade curricular do ensino regular, considerando a transversalidade da temática ambiental.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CORDEIRO, J.M.P.; OLIVEIRA, A.G. de. A aula de campo em geografia e suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem na escola. Revista Geografia, Londrina-PA. v. 20, nº 2, p.99-114, 2011.


OLIVEIRA, A.P.LIMA de.; CORREIA, M.D. Aula de campo como mecanismo facilitador do Ensino-aprendizagem sobre os Ecossistemas Recifais em Alagoas. ALEXANDRIA: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.6, n.2, p. 163-190, 2013.


SILVA, A. F. da.; OLIVEIRA-JUNIOR, R.J. de. Aula de campo como prática de ensino-aprendizagem: sua importância para o ensino da geografia. In.: Encontro Nacional dos Geógrafos: A construção do Brasil: Geografia, ação política e democracia. 18, São Luís, 2016.


SOUZA, C.A. et al. Aula de campo como instrumento facilitador da aprendizagem em geografia no Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Fundação CECIERJ: Rio de Janeiro, 2016.


XIMENES, M.; CRISPIM, M.C. A aula prática em Ecologia III como fonte de aprendizagem significativa. Encontro de Iniciação à Docência, 11, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.