A RIQUEZA DE UM PAÍS



Nestes tempos de intensos movimentos migratórios é interessante parar e pensar um pouco sobre como a nossa memória é de curto prazo, e nos deixamos levar pelo “sempre foi assim”, “quem pode manda e quem tem juízo obedece”, e acrescento que deveria ser: obedecer enquanto precisa.

A riqueza, se você perguntar por uma definição dela, será sempre uma de ordem econômica. O rico tem riqueza e riqueza é traduzida como muito dinheiro, bens materiais, propriedades, fortunas em joias e obras de arte de valor. Até no dicionário Houaiss as outras definições aparecem lá no final, “conjunto dos recursos naturais, físicos, geológicos de uma terra, sua capacidade produtiva, fertilidade, fecundidade”.


Qual a nossa situação com relação à riqueza de nosso país tomando-se a definição do conjunto dos recursos naturais? Inicialmente temos que ela é traduzida em riqueza econômica e explorada como tal. Sem ser deste ou daquele lado, porque não existem lados existe a realidade da vida, sua transformação econômica sempre aconteceu.


Europeus quando aqui chegaram não vieram se não em busca de riquezas para explorar, e somos novos se compararmos com os civilizados que aqui viviam. Existiam civilizações bem mais antigas, que acabaram sendo vencidas pelas doenças e pela força. Ou mesmo pela exploração de valor dos nativos que colaboravam acreditando que estariam em vantagem.


Tivemos vários ciclos, com produção agrícola em terras não exploradas, isto é, ricas em nutrientes. Lembrando da infância e de outros contarem, não se comprava adubo para plantar, existia certa integração com a natureza. Anos mais tarde usou-se calcário para correção do solo, depois vieram adubos potentes, como diziam, que permitiria plantar mais, e, por consequência, vieram os venenos para combater as pragas.


Enfim, a exploração da riqueza sempre foi particular num mundo regido pelo capital e o privilégio de uns poucos é mantido sem o menor escrúpulo. Um mesquinho poderia dizer que eu estaria aqui sendo de esquerda e outras coisas mais. No entanto, o argumento é o seguinte: se estamos num mesmo país, dito soberano, onde o poder emana do povo e para o povo, não seriam todos coparticipantes da riqueza deste país?


Os capitalistas dirão que é preciso ser assim porque se gera empregos para as pessoas poderem viver. Mantém-se a ignorância porque se fizermos as contas de todos os desvios através da corrupção com relação à coisa pública se perceberá que não é bem assim. Um rico, reconhecido globalmente, bajulado por muitos até minutos antes de sua prisão como exemplo de sucesso, nada mais foi do que um corrupto, um assaltante da riqueza do país. Repito, a riqueza deve pertencer a todos os que ali vivem.


Claro, as pessoas do lugar onde uma riqueza é explorada se sentem bem. Os locais turísticos de grande fluxo ficam felizes pelo comércio forte e quando aumentam os assaltos e mortes vem procurar ajuda de toda a federação. Mas, fale em dividir sua riqueza com todos e você terá vozes espumando de raiva que não.


O caso de Mariana, com pessoas mortas e ninguém sendo criminalizado. Dizem que foi um acidente, as pessoas escolheram morar abaixo da barragem de lama. É isto? Penso que não, elas foram enganadas com algumas migalhas dos resultados e ficaram com o maior risco, perderam tudo e algumas, literalmente, perdendo a vida.


Existem as riquezas de um país? Seria esta talvez uma pergunta inicial que poderia levar a outra. Lembrando que os exemplos são vários, passando até pela isenção de impostos para as exportações de grãos, que atualmente empregam pouca mão de obra. Existe um país chamado Brasil que pertença a todos os brasileiros?


Esta pergunta é para pensar profundamente, enquanto quem está no poder continua explorando em benefício próprio, e isto, independe de qual grupo, porque na vida real, quando tudo é traduzido em termos financeiros, quem explora mais sempre será invejado pela maioria que faria o mesmo se estivesse lá.



Cláudio Loes

Especialista em Educação Ambiental