Revista Educação ambiental em Ação 33

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AS CIÊNCIAS AMBIENTAIS E A INTERDISCIPLINARIEDADE NO ÂMBITO DA PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL

Johnny Herberthy Martins Ferreira1, Maria do Socorro Lira Monteira2

1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

2 Professora Doutora do Departamento de Economia da UFPI e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI).



Resumo: O presente artigo objetiva refletir sobre as interfaces das ciências ambientais e da interdisciplinaridade no meio acadêmico brasileiro. Tendo em vista a intensificação das discussões em torno das ciências ambientais, novas teorias e métodos passam a influenciar a comunidade científica e sua forma de produzir conhecimento. Nesse contexto, a interdisciplinaridade vem se fortalecendo, na medida em que contempla a integração dos saberes, com toda a sua diversidade e complexidade, entendendo que as especificidades das diferentes áreas devem ser estudadas, porém integrando-as com outras áreas. A metodologia do estudo foi pesquisa bibliográfica e análise documental das áreas interdisciplinar e ciências ambientais da CAPES. Constatou-se que o Brasil tem conseguido inserir, de maneira interdisciplinar, o estudo das ciências ambientais como objeto da ciência e tecnologia. Ademais, a pesquisa e a pós-graduação na área das ciências ambientais, têm-se alavancado qualitativamente, apesar das dificuldades enfrentadas, especialmente, em função do dinamismo e complexidade da questão ambiental.



Palavras-Chave: Interdisciplinaridade. Ciências Ambientais. Pesquisa. Brasil.

Abstract: This article aims to reflect on the interfaces of the environmental sciences and interdisciplinarity in the Brazilian academic environment. In view of the intensification of discussions about the environmental sciences, new theories and methods are beginning to influence the scientific community and its way of producing knowledge. In this context, interdisciplinarity has been strengthened, insofar as it contemplates the integration of knowledge, with all its diversity and complexity, understanding that the specificities of the different areas should be studied, but integrating them with others. The methodology of the study was literary review and documentary analysis of the interdisciplinary areas and environmental sciences of CAPES. It was verified that Brazil has been able to insert, in an interdisciplinary way, the study of the environmental sciences as object of science and technology. In addition, research and graduate studies in environmental sciences have been qualitatively leveraged, despite the difficulties faced, especially due to the dynamism and complexity of the environmental issue.



Keywords: Interdisciplinarity. Environmental Sciences. Search. Brazil.

1. Introdução

Perante as discussões em torno das ciências ambientais e da interdisciplinaridade, novas teorias e métodos passam a influenciar a comunidade científica e sua forma de produzir conhecimento.

A interdisciplinaridade vem se fortalecendo, na medida em que contempla a integração dos saberes, com toda a sua diversidade e complexidade, entendendo que as especificidades das diferentes áreas devem ser estudadas, porém integrando-as com outras áreas.

Portanto, o presente artigo objetiva refletir sobre as interfaces da interdisciplinaridade e das ciências ambientais com o meio acadêmico brasileiro.

Para a elaboração do estudo utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica e a análise dos documentos das áreas da interdisciplinaridade e das ciências ambientais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

O artigo está estruturado em três subseções, além dessa introdução e das considerações finais. Na primeira discute-se o proêmio e conceitos relativos às ciências ambientais; na segunda debate-se a temática ambiental no âmbito da ciência e tecnologia no Brasil; e na terceira aborda-se a questão da interdisciplinaridade na pós-graduação brasileira.

2. As ciências ambientais: proêmio e conceitos

Consoante Leff (2012), a degradação ambiental se manifesta como sintoma de uma crise de civilização, marcada pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza, preconizado pelo modelo produtivista, impulsionado pelo culto ao crescimento econômico e nível de consumo desigual dentro e entre os diversos países dos continentes.

Destarte, “a discussão ambiental se tornou ao mesmo tempo criadora e criatura do processo de globalização”, participando também da construção da imagem da globalização planetária (PÁDUA, 2010, p.82).

Nesse contexto, Novaes (2003) explicita que em virtude dos padrões insustentáveis de consumo no mundo, as questões ambientais se apresentam como uma realidade cada vez mais discutida no âmbito da interdisciplinaridade.

Para Vieira e Moraes (2003), na problemática ambiental, os fundamentos teóricos de formas inovadoras da produção do conhecimento científico não poderão ser dissociados da prática interdisciplinar.

Assim, Coimbra (2000, p.68) relata que “o meio ambiente, que resulta da interação da sociedade humana com os ecossistemas terrestres, é uma realidade histórica, social, plurifacetada e, por conseguinte, uma realidade interdisciplinar”.

Ressalta-se que a temática ambiental vem ocupando novos espaços que ultrapassam as discussões acadêmicas e profissionais. Passa a envolver o conjunto dos atores sociais e precisa consolidar-se principalmente na educação formal.

A educação tem papel central na efetivação de comportamentos compatíveis com a preservação ambiental. Neste sentido, a incorporação da dimensão ambiental nos programas do ensino formal deve incluir uma revisão dos conteúdos programáticos e o tratamento de temas de forma transversal, reunindo diferentes disciplinas com o objetivo de dar início a práticas interdisciplinares (DIAS, 2004, p. 113).

Por conseguinte, o trabalho sobre interdisciplinaridade e meio ambiente deve ser comprometido com um fazer social, indo além do ensinar e interferindo no cotidiano e na produção do conhecimento (FAZENDA, 1995).

3. Ciências ambientais na pauta da ciência e tecnologia no Brasil

A sociedade vem desenvolvendo iniciativas para resolver os problemas ambientais. No Brasil, as ciências ambientais passaram a concorrer espaço com as outras áreas de conhecimento, mesmo ainda com escassez das experiências com equipes multidisciplinares de ensino e de pesquisa na área ambiental (PHILIPPI JÚNIOR, 2000).

A partir dos anos de 1990, o subprograma de ciências Ambientais no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) trouxe o objetivo de “induzir a geração e a consolidação da base científica e tecnológica necessária para a efetiva inserção da dimensão ambiental no processo de desenvolvimento tornando-o sustentável” (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.3).

Nesse sentido, é que o referido autor entende que ocorre impulso para se desenvolver um modelo sistêmico das ciências ambientas no Brasil, com a compreensão do meio ambiente envolvido com outras áreas de conhecimento que permita criar, adaptar e transferir tecnologia para melhoria da qualidade ambiental.

O PADCT foi delineado para contribuir para a superação dessas dificuldades uma vez que, impondo uma metodologia de base interdisciplinar e uma perspectiva pluridimensional da realidade ambiental, necessariamente estará induzindo a formação ou a consolidação de grupos de ensino, pesquisa e desenvolvimento em ciência e tecnologia em questões ambientais (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p. 5).

Fundado em 1984, “O PADCT é uma das atividades que integram a área de atuação do Ministério da Ciência e Tecnologia e tem como finalidade formular e desenvolver projetos em ciência e tecnologia” (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.5). É um instrumento de estímulo ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia e também para enfatizar a interação universidade-indústria-centros de pesquisa. Tem participação de instituições públicas e provadas e três grandes agências de financiamento executoras: a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos).

O PADCT passou por três fases, PADCT I (1985-1990), PADCT II (1991-1996) e PADCT III (1997-2002). Na primeira fase foram financiados projetos em química e engenharia química, geociências e tecnologia mineral e outras áreas; na segunda fase as ciências ambientais foram acrescentadas e na terceira o foco foi para Ciência e Tecnologia, desenvolvimento tecnológico e suporte setorial (PHILIPPI JÚNIOR, 2000).

A análise de Philippi Júnior (2000) destaca os esforços da comunidade da área das ciências ambientais e das articulações com as demais áreas do conhecimento, para que as ciências ambientais integrassem-se ao sistema nacional da ciência e tecnologia. É uma base para o aprofundamento epistemológico no sentido de integrar os vários conhecimentos com as questões ambientais e, ajuda no desenvolvimento da visão pluridimensional e abrangente das ciências ambientais aliadas às práticas da interdisciplinaridade na ciência e tecnologia.

Como consequências, o referido autor cita o surgimento de editais de projetos de pesquisa e de cursos de pós-graduação stricto sensu, ligados às ciências ambientais nos anos de 1990, para criação, mobilização e consolidação de competência técnico-científica. Depois, 1992, novos editais buscavam estimulavam a geração de conhecimentos científicos e o desenvolvimento de tecnologias em meio ambiente. Posteriormente estimularam-se projetos integrados de pesquisa e pós-graduação direcionados geração de conhecimento científico e tecnologia ambiental. Por último, formação de recursos humanos.

Os resultados vêm se consolidando do ponto de vista teórico e prático, com indução de um tratamento científico e tecnológico nos estudos ambientais e formação de recursos humanos na área para atuarem com metodologias interdisciplinares em uma percepção de ambiente integrado.

Ao lado da formação de recursos humanos e da geração de novos conhecimentos, essa oportunidade se estendeu também ao apoio ao desenvolvimento da tecnologia ambiental no sentido de incentivar o estudo, a pesquisa e o aperfeiçoamento de métodos de diagnósticos e técnicas do processo produtivo em condições de serem utilizadas para manter, corrigir ou recuperar a qualidade ambiental (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.4).

A ideia é que a partir de um ambiente alterado pela ação humana é necessário o desenvolvimento da ciência e a tecnologia para a sustentabilidade ambiental; permitindo uma metodologia epistemologicamente avançada para provocar a integração disciplinares que foram construídas.

Ressaltam-se ainda os desdobramentos na área que permitiram surgir os padrões de qualidade estabelecidos pela ISO 14.000 e suas relações com a série ISO 9.000 que se incorporaram nas rotinas do comércio globalizado e mudanças nas exigências de negociações multilaterais.

Não sem razão é possível concluir que o Subprograma de Ciências Ambientais cumpriu o seu papel ao impulsionar novas abordagens para a análise da questão do meio ambiente, estimulando mudanças significativas na mentalidade e na cultura de grupos de ensino e pesquisa, e o rompimento das fronteiras que as confinavam entre os muros de uma disciplina. Tais mudanças puderam ser percebidas tanto pela posterior formação de equipes multidisciplinares e multi-institucionais, como pela constatação das iniciativas em busca de práticas interdisciplinares (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.8-9).

Destaca ainda o autor que os Seminários de Acompanhamento e Integração de Projetos ajudam a comungar os conhecimentos, avaliação de projetos e identificar os mecanismos mais apropriados de gestão multi-institucionais integrados com a comunidade científica.

A busca do subprograma de ciências ambientais visava à interdisciplinaridade na formulação e desenvolvimento de projetos em ciência e tecnologia, diante da realidade brasileira de grandes diferenças econômico-sociais, políticas ou culturais. Inclusive a pós-graduação deveria ter esse enfoque.

[...] geração de conhecimento científico através de projetos de pesquisa básica que requer a definição dos níveis da interdisciplinaridade das propostas, de modo a possibilitar o tratamento integrado do tema escolhido. Ou, então, no exemplo do apoio ao desenvolvimento tecnológico através de projetos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia ambiental, quando deve ser especificada a maneira pela qual a metodologia e os procedimentos adotados para a pesquisa atenderão a abordagem interdisciplinar (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.11).

Vale ressaltar ainda que as questões ambientais apresentam limites de ordem conceitual e grupos que ainda não conseguem integrar-se na proposta interdisciplinar. Assim a proposta passou a pautar-se em “[...] aprendizado de uma abordagem global de um dado problema ambiental, envolvendo a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade, o que tem como implicação a aproximação, o diálogo e a fusão das diferentes disciplinas” (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.12).

O PADCT vem contribuindo para a geração de núcleos interdisciplinares em todo o país, estimulando novas propostas metodológicas e, em função da formação e postura pouco interdisciplinar dos pesquisadores em geral, exige-se a integração de universidades, governos, empresas e sociedades para construção da interdisciplinaridade. Assim “[...] consciência socioeconômica-ambiental-política de todos os atores sociais, na busca de soluções práticas viáveis para os problemas ambientais” (PHILIPPI JÚNIOR, 2000, p.14).

E a interdisciplinaridade é foco na pós-graduação, como relata-se na subseção seguinte.

4. A questão da interdisciplinaridade na pós-graduação brasileira

Pode-se afirmar que a pós-graduação no Brasil é o principal lócus da produção científica do país. Entre os fatores que colaboram com esse processo, destaca-se o fato de que a grande maioria dos pesquisadores e dos recursos de financiamento à pesquisa está vinculada a programas de pós-graduação (OLIVEIRA; ALMEIDA, 2011).

Na literatura, evidencia-se que o MEC procura viabilizar a abordagem ambiental nas universidades em diferentes disciplinas. A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) orienta o tratamento interdisciplinar e transversal da questão. Isso é uma maneira de colocar a interdisciplinaridade na academia.

No Brasil, as pesquisas em Educação Ambiental, realizadas em Cursos de Pós-Graduação de diferentes Instituições de Pesquisa em Educação Ambiental, Ensino Superior, têm sido produzidas em diferentes programas vinculados a diversas áreas de conhecimento, tais como: Agronomia; Arquitetura e Urbanismo; Biologia (especialmente Ecologia); Ciências Sociais; Direito; Economia e Administração; Educação; Engenharias; Geologia ou Geociências; Geografia; História; Medicina e Saúde Pública; Veterinária (FRACALANZA et. al, 2008, p.3).

Para Fracalanza et al. (2008), a prática educativa relacionada à questão ambiental no Brasil enfrenta graves desafios. Por um lado, tem a responsabilidade de constituir quadros aptos a encarar a gestão dos sistemas naturais, mirando uma sociedade sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações e; de outro lado, defronta-se com a necessidade de formar cidadãos aptos a compreender e enfrentar a atual crise ambiental.

A partir da década de 90, os estudos sobre percepção têm adquirido significado e relevância nas políticas públicas e na implantação de suas ações, principalmente quando se tratam dos problemas relacionados ao meio ambiente, transformações e mudanças de atitudes e condutas das comunidades (GUIMARÃES, 2003).

A literatura evidencia que a partir da segunda metade dos anos 90, concretizou-se também a institucionalização da educação ambiental em diferentes departamentos de pós-graduação (REIGOTA, 2001). Em consonância com o referido autor, a temática ambiental presente na produção brasileira é muito variada. Essa temática ampla e genérica é definida como “degradação ambiental”, “crise ambiental”, “problemas socioambientais”, “alterações ambientais globais”, etc.

Em 2009, a CAPES, no documento de área da avaliação, faz uma discussão acerca da interdisciplinaridade no seu próprio contexto, acerca do estímulo para o avanço da ciência e da tecnologia e também acerca dos desafios dos programas de pós-graduação na área.

A interdisciplinaridade no contexto da CAPES passa a ter maior destaque quando é introduzida em 1999 a área multidisciplinar, nomeada a partir de 2008 como interdisciplinar, no âmbito da pós-graduação. Isso ocorreu pela necessidade de se dar conta de novos problemas e diálogos não só entre disciplinas próximas, mas entre disciplinas de áreas diferentes (CAPES, 2009).

Dessa forma, a interdisciplinaridade é tratada como desafio para o avanço da ciência e tecnologia devido ao fato de que numa proposta de pós-graduação interdisciplinar espera-se que a geração de conhecimento e qualidade de recursos humanos formados seja maior que a soma das contribuições individuais das partes envolvidas (CAPES, 2009).

Entende-se por Interdisciplinaridade a convergência de duas ou mais áreas do conhecimento, não pertencentes à mesma classe, que contribua para o avanço das fronteiras da ciência e tecnologia, transfira métodos de uma área para outra, gerando novos conhecimentos ou disciplinas e faça surgir um novo profissional com um perfil distinto dos existentes, com formação básica sólida e integradora (CAPES, 2009, p. 7).

Nesse âmbito, pela sua natureza transversal, a interdisciplinaridade se coloca como espaço singular ultrapassando os limites do conhecimento disciplinar e dele se distinguindo, por estabelecer pontes entre diferentes níveis de realidade, diferentes lógicas e diferentes formas de produção do conhecimento (CAPES, 2009). Com isso, a interdisciplinaridade busca uma interseção entre diferentes disciplinas para que sejam formados novos conhecimentos de forma mais dinâmica e integrada com a realidade.

Para Oliveira e Almeida (2011), dentro do contexto da expansão da pós-graduação, no Brasil é possível detectar que a década de 1990 foi marcada por um movimento de concepção de novos programas e cursos dentro da perspectiva interdisciplinar. Esse movimento originou-se em diversos grupos de pesquisadores, a maioria deles vinculados primeiramente a programas disciplinares, preocupados com a investigação do conhecimento que extrapolasse as fronteiras da disciplinaridade.

No entanto, os programas de pós-graduação encontram desafios nesse aparato interdisciplinar. Dentre eles destaca-se a necessidade de “promover a abertura para o enfrentamento de novas perspectivas teórico-metodológicas de pesquisa, ensino e inovação que conduzam para além do paradigma predominantemente na ciência tradicional” (CAPES, 2009, p. 7).

Esse é o desafio mais contundente dos programas de pós-graduação na área interdisciplinar. É necessária a inovação no que concerne a novas metodologias capazes de aglutinar diferentes disciplinas e apresentar uma nova forma de pesquisa com foco em diferentes conhecimentos capazes de recriá-los a partir de uma abordagem interdisciplinar.

Com isso, os programas da área exigem uma gradual adequação nos critérios para sua análise, acompanhamento e avaliação, tendo por objetivo a interdisciplinaridade como nova filosofia na produção de conhecimento e na formação de recursos humanos (CAPES, 2009).

Dessa forma, a CAPES (2009) apresenta conceitos, critérios e diretrizes que norteiam o processo de avaliação adotado pela Coordenação de Área Interdisciplinar da CAPES – CAInter. Isso para que os programas de pós-graduação efetivem de forma precisa formas de construção de conhecimentos, a partir da interdisciplinaridade, capazes de formar profissionais com um perfil diferenciado.

Diante dos desafios da interdisciplinaridade,

Há que se considerar que o processo de gradual incorporação de práticas interdisciplinares por grupos de pesquisa e por programas de pós-graduação encontra espaço cada vez maior e demanda por ações cada vez mais afirmativas para sua adoção, tendo em vista os desafios que se colocam em relação tanto aos problemas de caráter socioambiental como à urgência da adoção de princípios associados aos interesses do desenvolvimento do País em bases sustentáveis (PHILIPPI JÚNIOR et al, 2013, p.20).

Em 2011 foi inserida, no contexto da pós-graduação da CAPES, a área de Ciências Ambientais. A introdução nessa nova área, segundo a CAPES (2013, p.1):

Decorreu da necessidade de se dá conta da complexidade dos problemas ambientais, face à indissociabilidade entre sistemas antrópicos e naturais que emergem no mundo contemporâneo, muitas vezes decorrente do próprio avanço dos conhecimentos científicos e tecnológicos, baseados em uma construção do saber notadamente disciplinar. A natureza complexa da problemática ambiental pede diálogos não só entre disciplinas próximas, dentro da mesma área do conhecimento, mas entre disciplinas de ciências diferentes, bem como com outras formas de saberes, oriundas de culturas heterogêneas. Daí a relevância, de novas formas de produção do conhecimento. Diante disso, desafios teóricos e metodológicos colocam-se para as ciências ambientais.

Dessa forma, a Área de Ciências Ambientais não é o somatório entre as ciências, na realidade, é intrínseca a ela, à sua origem, à abordagem interdisciplinar. Nessa direção, trata-se mais uma abordagem de construção de conhecimento partindo de uma problemática ambiental que se pretende compreender e entender (CAPES, 2013).

A Área de Ciências Ambientais foi estruturada a partir de migrações de outras áreas de avaliação. Inicialmente, foi composta por cursos de Pós-Graduação relacionados com as questões ambientais e que estavam alocados na Área Interdisciplinar.

Segundo os dados da CAPES (2013), a área de ciências ambientais conta com 80 Programas, totalizando 100 cursos. Desde a sua criação, a Área vem crescendo significativamente, com maior participação da região Sudeste.

Nessa direção, Philippi Júnior et al (2013) consideram que a consolidação da área de ciências ambientais é um importante vetor para o desenvolvimento de pesquisa e ensino de pós-graduação direcionados aos interesses de uma sociedade mais justa e voltados à obtenção de elementos de sustentabilidade que acarretem avanço das condições ambientais e de vida das comunidades, com base nas diferentes complexidades, variadas regiões e distintas demandas.

5. Considerações Finais

As ciências ambientais advêm de um processo histórico que se intensificou a partir dos anos de 1960, quando a questão ambiental é inserida nos debates em eventos internacionais, chamando a atenção de governantes, iniciativa privada, sociedade civil e da comunidade científica.

Os conceitos e métodos aplicados nas ciências ambientais, a exemplo da interdisciplinaridade, têm colaborado para criar experiências e ações na busca de conhecimentos e transformações da realidade de forma qualitativa do ponto de vista do meio ambiente.

O Brasil já conseguiu inserir o estudo das ciências ambientais como objeto da Ciência e Tecnologia e a pesquisa e pós-graduação na área tem-se alavancado qualitativamente, apesar das dificuldades enfrentadas, especialmente, em função do dinamismo e complexidade da questão ambiental.

O aumento dos trabalhos de pesquisa em Ciências Ambientais revela a existência de um grupo crescente de pesquisadores no Brasil preocupados com a realidade e o futuro do planeta. É necessário compreender a relevância da expansão dessa produção, principalmente quanto à crescente contribuição para a formação crítica de cidadãos que rotineiramente vivem problemas de interesse difuso e coletivo. Como resultado desse processo, tem-se a perspectiva do surgimento de novas linhas de pesquisa, bem como processos de ensino-aprendizagem e métodos de investigação.

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