Em um dia útil, de manhã cedo: Papos & pautas

Allana Assunção1

Brenda Santana²



Sete da manhã, o despertador tocou. Acordamos com o barulho irritante do despertador, que ouvíamos todas as manhãs e levantamos. Espreguiçamos e nos dirigimos à janela para ver como estava o tempo. Era um belo dia de sol e à primeira vista parecia que ia ser um dia perfeito mesmo com um turbilhão de atividades para fazermos. Então demos início ao trabalho do componente “Território, Políticas Públicas e Participação Social”, no qual ficamos de fazer uma entrevista com um representante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável (CMDS). Contudo esbarramos na dificuldade de encontrar o referido conselho, para nossa perplexidade diante das informações obtidas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Prefeitura Municipal, como “ Ah, só existe o COMDEMA - Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente”, a cada telefonema as pessoas repetiam a mesma coisa. Assim as horas se passaram e o relógio girou tantas e tantas vezes que até perdemos as contas. Diante dessa situação, bateu aquela sensação de em que “buraco” nos enfiamos? Afinal, teríamos que mudar de tema? Mesmo pensando na possibilidade da possível troca, continuamos a procurar.

Mas, sabe aquele momento que resume perfeitamente estar no lugar certo, na hora certa? Então, este momento foi a manhã ensolarada de sexta-feira, na qual fomos começar o dia participando de uma Oficina de Agricultura Familiar na Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira- CEPLAC, em que estávamos conversando e entre um bate papo e outro, surgiu o assunto em como encontrarmos um representante do CMDS. De repente, um homem atrás de nós e logo se ouve: “Vocês querem saber sobre CMDS? ”. Prontamente respondemos que sim. Foi uma sorte tê-lo encontrado ali, pois ele faz parte do CMDS. Desenvolvemos uma conversa dinâmica por alguns minutos, na qual ele se apresentou como diretor de fomento a agricultura e pecuária, se identificando como “Joílson”, e assim se prontificou a ceder a entrevista. Logo, marcamos o dia para entrevistá-lo. Então, marcamos para encontra-lo no seu local de trabalho, na Secretaria de Agricultura, na segunda-feira à tarde. Mas, seguindo a disponibilidade do entrevistado, o encontro foi remarcado pelo próprio, para a terça-feira às 09:00h. Na manhã de terça-feira, assim como o combinado, nos dirigimos ao local, ao encontro do Joílson, com quem já vínhamos mantendo contato. Ao chegarmos no local da entrevista, deparamo-nos com uma mulher sentada na recepção.

Logo nos apresentamos e ela foi anunciar nossa chegada ao Joílson, de modo que levamos cerca de 3 minutos para que ele viesse prontamente nos receber. Fomos encaminhadas por ele até uma sala, localizada ao lado da entrada, a fim de nos apresentar para os demais funcionários que compõem a equipe da Secretaria de Agricultura.

Joílson é um dos ativistas que participam de colegiados em Teixeira de Freitas-BA, ele se considera um “amante” dos serviços públicos. Sua pele clara com traços de exposição ao sol, com rugas marcadas e seus cabelos lisos grisalhos e olhos castanhos se destacam com os seus traços acanhados. Não muito baixo, nem muito magro, com uma aparência de bondade passiva, de vivacidade de corpo, de ideia e de sentidos.

Cinquenta e cinco anos, que pareciam quarenta e cinco, sorriso entreaberto, recepcionava-nos com simpatia, resquícios de beleza e porte simples. Possuía a grande arte de falar de maneira suave, espiando-nos; reclinando-se então na cadeira com os braços cruzados em sinal de retrição, desembainhava um olhar afiado, e deixava-se estar. Em nenhum momento se gesticulava, ao tempo em que ele somente olhava, ora fixa, ora móbil. Os outros, que por ali passavam não sabendo do que se tratava, cumprimentava-nos e assim de forma disposta, Joílson nos apresentava à cada um.

Podíamos sentir uma enorme disponibilidade no andamento da entrevista e também nas falas do entrevistado. Traduzindo-se na forma e no conteúdo da conversa uma flexibilidade na organização do tempo, como um aspecto altamente positivo em nos receber.

O local em que fomos realizar a entrevista, chama a atenção, a decoração era um pouco esquisita, nem moderna, nem rústica. Podemos notar que as dimensões arquitetônicas da secretaria de agricultura trazem um aspecto de casa antiga e um ambiente rural. As árvores e plantas demonstravam ainda mais sobre aquele espaço, construído de forma a “acolher” agricultores.

Joílson se demostrou bem engajado com as causas que ele defende. Mas, por acaso se lembram daquela fábula? Contada pelo Tom Jobim. Relatando sobre o beija-flor que tentava apagar um incêndio sozinho na floresta, enquanto os outros bichos fugiam, porque acreditava que assim estava fazendo a sua parte. Pois é, essa não é uma boa história. Joílson aponta justamente a necessidade de fortalecer os laços dos diversos colegiados, derivada da teoria das necessidades, em poder prestar um grande serviço à sociedade.

Quando se discute políticas dentro do território municipal, se trata de um processo mais curto. Então o conselho municipal tem essa prerrogativa de discutir políticas públicas do município [...] o colegiado é formado também pelos conselhos municipais e outras entidades também ligadas à área da agricultura familiar. Esse envolvimento é importante porque existem políticas públicas hoje que são direcionadas do estado para o município e passa pelo colegiado, automaticamente nós temos que informar essa parceria com o colegiado do CMDS.[...] (Joílson)

Em vários momentos pessoas transitavam pelo espaço em que estávamos realizando a entrevista. Os três sentados diante de uma grande mesa de madeira, em um espaço de comum acesso à todas as salas, que se localizavam ao redor. Cada um que entrasse, saísse ou simplesmente passasse por ali em um tempo diferente todos se intercruzavam, como se as diversas formas do tempo transcorrer pudessem se apresentar simultaneamente sem que isso representasse um problema.

Em um momento da entrevista, deparamo-nos com uma atenção dirigida ao papel do poder público municipal em agir diante da situação da efetividade dos conselhos. Em geral, um contentamento com os rumos e a realidade da política municipal atual, um desgosto frente a uma realidade apresentada na antiga gestão municipal:

Porque as outras gestões deixavam, por conta do ônus político. Porque muitas vezes quando você vai fazer interferência com uma pessoa, você acha que vai perder o voto e você não pode pensar assim. Você precisa trabalhar a educação no sistema, então você precisa se adequar, porque muitas vezes é a falta de informação”. (Joílson)

A entrevista teve uma duração de aproximadamente quarenta minutos. Onde Joílson se disparou a falar o tempo todo; contudo, suas falas e o pouco de silêncio, que casualmente seguiam-nas, “preenchiam” a entrevista com densidade. O silêncio não aparecia como um vazio à espera de uma próxima fala, parecia ser o único desfecho possível após o conteúdo narrado. Era uma expressão tão importante quanto a fala.

Enfim, em todos os sentidos apresentados pelo entrevistado, a participação social sempre aparece condicionada ao uso da efetividade e dos colegiados, tornando-os produtivos a uma ação que validaria não só a experiência, mas que a tornaria útil. E o que essa entrevista nos apresenta é na forma como estão organizados em termos de protestos, desabafos, de omissões políticas, de frustrações sociais, de experiências de vida, da cidadania e além. Assim, a maneira encontrada por nós de como o entrevistado lida com a participação nas políticas públicas, trata-se da busca por resultados no território.

A entrevista encerrou-se “naturalmente”. Após ouvirmos os relatos de Joílson e fazermos as (poucas) perguntas que nos pareciam pertinentes, ele se encaminhou para o seu fim. Não foi interrompido bruscamente. Aliás, quando julgávamos que ele chegaria ao final e decidimos por fazer alguns questionamentos, a entrevista se prolongou, isto é, o “bate papo” continuou a acontecer espontaneamente por mais alguns minutos, sendo finalizada (e não interrompida).

1 Allana Assunção de Brito e Souza, graduada no Bacharelado Interdisciplinar em pela Universidade Federal do sul da Bahia. (allanabritto@gmail.comm) Tel.: 77-988020108, Rua Aguas Claras,1495-Monte Castelo CEP: 45990-009, Teixeira de Freitas-BA.


² Brenda Santana de Souza , graduada no Bacharelado Interdisciplinar em pela Universidade Federal do sul da Bahia.( brendasdsouza18@gmail.com), Rua Aguas Claras,1495-Monte Castelo CEP: 45990-009, Teixeira de Freitas-BA.